segunda-feira, 31 de março de 2025
A CARÊNCIA
não conheço a história do fogo.
Mas creio que a minha solidão deveria ter asas.
Alejandra Pizarnik
Father John Misty - She Cleans Up
Saw the future that awaits us just before Good Friday eve
Figured the wages of salvation were a little too steep
Said no one's fucking with my baby
Lord, and got armed to the teeth
Cleaning up
Clean up
She cleans up
Scarlett drives the Scottish countryside inside of a white van
Oh, I dreamt about it last night, and it did my whole day in
Undid something man, I'm never gonna touch that shit again
Clеaning up
She cleans up
Cleaning up
Hallelujah, women, they got me confused with him, oh no
I get just how this thing ends
Hallelujah, baby, I know who butters my bread
The condition of the silk kimono that didn't come cheap
Now, did you sit down in a crime scene?
Just don't look between your knees
Man, it's certainly a look, did she at least get the movie?
Cleaning up
She cleans up
Cleaning up
I spent a hundred bucks on gas, baby, let's just have a good time
How do you atone for your son now the rabbit's got the gun?
She ain't joining you for dinner, been on the menu too long
Cleaning up
She cleans up
Cleaning up
Hallelujah, guess we gave the karmic wheel a spin, oh yeah
I know just how this thing ends
The aggrieved becomes aggressor and we do it all again
Take it from a demon that the devil don't protect his friends
Take it from a demon, he'll never work in this town again
Take it from a demon, he'll make sure an angel goes down next
The misogynist's daughter made him rethink what he said
I know just how this thing ends
She has trouble reconciling pops with the things that she read
Hundred billion babies born every millennium, oh no
I know just how this thing ends
Man, I hope nobody messes with the wrong rejected men, oh
Sure your politics are perfect with the gun against your head
I know just how this thing ends
It's a good thing God gave us someone on whom we can depend to
Clean up
Fundamental
testa quando vomitamos, de olhos fechados.
Tudo o resto é uma ida à Loja do Cidadão.
Nuno Costa Santos. Morrer é Nada nas Mãos. Edição Companhia das Ilhas
Frida Kahlo disse a Diego Rivera:
“Não te peço um beijo,
nem que me peças perdão quando erras.
Não te peço que me abraces nos meus dias de dor,
nem que me digas que sou linda,
mesmo que seja mentira.
Não te peço palavras bonitas,
nem que me ligues só para dizer que sentes a minha falta.
Não te peço que reconheças tudo o que faço por ti,
nem que te importes quando me afogo em silêncio.
Não te peço que me apoies nas minhas decisões,
nem que escutes as histórias que trago no peito.
Não te pedirei nada,
nem mesmo que fiques ao meu lado.
Porque se preciso pedir…
então eu não quero mais.”
Frida Kahlo
domingo, 30 de março de 2025
Chelsea Wolfe - Feral Love
Your eyes black like an animal
Deep in the water
Run from the one who comes to find you
Wait for the night that comes to hide
Black like an animal
Crossing the water
Lead them to die
We press for the water, press for the river, press for the pain
We press for the water, we press for the water
Job
O you wind rose of torment!
In ever changing directions of the tempests;
Yet your south is loneliness,
Where you stand is the navel of pain.
Your eyes are sunk deep into your skull
Like cave-dwelling doves in the night
Brought out blind by the huntsman,
Your voice is silenced
From asking too many whys,
To the worms and the fishes your voice has gone.
Job, you have wept through all the watches of the night
But some day the star sign of your blood will
Outshine all the rising suns.
os lutos das ofensas e desamores
«(...), comparecem as famílias e os seus dramas, os fantasmas do desejo, as invocações da preferência, os lutos das ofensas e desamores, »
Maria Velho da Costa. Casas Pardas. 4ª Edição. Prefácio de Manuel Gusmão. Publicações Dom Quixote., p. 20
Há uma mulher a morrer sentada
Uma planta depois de muito tempo
Dorme sossegadamente
Como cisne que se prepara
Para cantar
Ela está sentada à janela. Sei que nunca
Mais se levantará para abri-la
Porque está sentada do lado de fora
E nenhum de nós pode trazê-la para dentro
Ela é tão bonita ao relento
Inesgotável
É tão leve como um cisne em pensamento
E está sobre as águas
É um nenúfar, é um fluir já anterior
Ao tempo
Sei que não posso chamá-la das margens
Amo-te no intenso tráfego
Amo-te no intenso tráfego
Exponho-te a vontade
O lugar que só respira na tua boca
Ó verbo que amo como a pronúncia
Da mãe, do amigo, do poema
Em pensamento.
Com todas as ideias da minha cabeça ponho-me no silêncio
Dos teus lábios.
Molda-me a partir do céu da tua boca
Porque pressinto que posso ouvir-te
No firmamento.
sexta-feira, 28 de março de 2025
Agora escrevo...
Rodasse ou não a roda
Rodasse ou não a roda encabrestada
Do que chamamos desvario atento
Ao apenas lado lacrimal
Da nossa história clínica passada
Um par de hormonas celestiais cruzadas
No interior do calafrio esse
A palavra cortisona calculada
Como te ouvira suspenso por um fio
Último pássaro canto ou desafio?
José Afonso (2022). Obra poética. Lisboa: Relógio D’Água, p. 278
Canção de Outono
Padre António Vieira, Sermão do Espírito Santo.
"Sou composta por urgências, minhas alegrias são intensas, minhas tristezas...'absolutas', me entupo de ausências, me esvazio de excessos, não caibo no estreito, só vivo nos extremos..."
Clarice Lispectorquarta-feira, 26 de março de 2025
terça-feira, 25 de março de 2025
domingo, 23 de março de 2025
fraqueza.
CANÇÃO
Dois lírios gémeos a despontar,
Duas borboletas sobre uma flor:
Felizes os que podem contemplar.
"Agora a morte é diferente,
facilitaram-nos o desespero, a angústia
tem já ar condicionado. Em vez
dos bancos de jardim, por certo demasiado
rudes, temos enfim lugares amplos
onde apodrecer a miséria simples do corpo.
Que incalculável felicidade a de percorrer
galerias de nada tresandando a limpeza
e segurança. Aí se abandonam jovens
rebanhos sentados sorrindo ao
vazio palpável, ou ferozmente no meio
dele. Revezam-se - mas quase diríamos
que são os mesmos ainda, exaustos
de contentamento. Dêmos pois as boas-vindas a esses
heróis do betão consagrado. Só eles nos fazem
acreditar no advento do romantismo cibernético.
É doce a merda que nos sepulta
e o cancro que um dia destes nos matará
há-de ser muito limpo, quase ecológico".
Manuel de Freitas
domingo, 16 de março de 2025
Dá-me a tua mão
Dá-me a tua mão,
prolongue mais a tua
- para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.
Dá-me a tua mão, companheira,
até o Abismo da Ternura
sexta-feira, 14 de março de 2025
A hora dos zorzais
quinta-feira, 13 de março de 2025
marks a buried treasure.
On the path, my father stands.
A beautiful, beautiful day.
The gray poplar blooms,
centifola blooms,
and milky grass,
and behind it, roses climb.
I have never been
more happy than then.
I have never been more
happy than then.
To return is impossible
and to talk about it, forbidden—
how it was filled with bliss,
that heavenly garden."
Arseni Tarkovski
In: "The Mirror" (Andrei Tarkovski)
Mulheres e Revolução
quarta-feira, 12 de março de 2025
terça-feira, 11 de março de 2025
segunda-feira, 10 de março de 2025
domingo, 9 de março de 2025
« Sempre que estou profundamente triste e penso que vou morrer, ou tão nervosa que não consigo adormecer, ou apaixonada por alguém que não irei ver durante uma semana, colapso e digo a mim própria: «Vou tomar um banho quente.»
Sylvia Plath. A Campânula de Vidro. Relógio D'Água. Tradução e Posfácio de Mário Avelar, 2016., p. 26quinta-feira, 6 de março de 2025
quarta-feira, 5 de março de 2025
terça-feira, 4 de março de 2025
“Isto não é um país, é um sítio mal frequentado”
José Cardoso Pires
Poema de Carnaval
Retrato
Lânguido como os Persas,
Entre estrelas e círios
Cristão só nas conversas.
Árabe no sossego,
Africano no ardor;
No corpo, Grego, Grego!
Homem seja onde for.
Romano na ambição,
Oriental no ardil,
Latino na paixão,
Europeu por subtil:
Homem sou, homem só
(Pascal: «nem anjo nem bruto»):
Cristãmente, do pó
Me levanto impoluto.
E a loucura com asas do seu povo.
Terra
Quanto a palavra der, e nada mais.
(…)
Se o mar é fundo e ao fim deixa passar…
Uma antena da Europa a receber
A voz do longe que lhe quer falar…
(…)
Terra nua e tamanha
Que nela coube o Velho-Mundo e o Novo…
Que nela cabem Portugal e a Espanha
E a loucura com asas do seu povo.
Miguel Torga
Não têm pressa o sol e a lua: certos.
Ter pressa é crer que a gente adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não: não tenho pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente onde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não onde penso.
Só me posso sentar onde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras.
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra
cousa,
E somos vadios do nosso corpo.
Alberto Caeiro/Fernando Pessoa
ESTADOS FASCISTAS DA MENTE E A SUA CONDIÇÃO ADESIVA
PODERIA FALAR-TE DO AMOR, ESSA COISA
cinzenta e tenebrosa que faz sorrir
as criancinhas - mas não,
prefiro falar-te dum campo com erva
verde, muita erva muito
verde e com árvores
azuis onde à noite vai morrer
o vento. (...)»
''As flores por vós assim trazidas irão ser sacrificadas.''
Adolfo Luxúria Canibal. No rasto dos duendes eléctricos (Poesia 1978-2018). Porto Editora, 2019., p. 42
É TÃO CURTA A VIDA, MEU AMOR
e tão infinita a morte,
e seios e braços e mãos e ventre e ancas
e vulva e rabo e coxas e pés e sexo e tudo
mas tudo
BELO
No fim, virão os bichos
lagartos
comer-nos!...
Adolfo Luxúria Canibal. No rasto dos duendes eléctricos (Poesia 1978-2018). Porto Editora, 2019., p. 31Eu sou irmão da solidão
e com ela mantenho incestuosa relação.
SANGUE NO ASFALTO
Sangue no asfalto
Envolto em ténues irradiações de pura emoção
EU AMEI-TE...
Algumas horas desse amor estão ainda a arder;
Mas não deixes que isso te faça sofrer,
Não quero que nada te possa inquietar.
O meu amor por ti era um amor desesperado,
Tímido, por vezes, e ciumento por fim.
Tão terna, tão sinceramente te amei,
Que peço a Deus que outro te ame assim.
domingo, 2 de março de 2025
«(...), tive de me consolar a mim própria em pensamento.»
Olga Tokarczuk. Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos. Tradução do polaco Teresa Fernandes Swiatkiewicz. Edição Cavalo de Ferro. 1ª Edição, 2019., p. 11
« Se, naquela noite, tivesse consultado as Efemérides para saber o que se passava no céu, não teria mesmo ido para a cama. Mas, em vez disso, caí num sono profundo, com a ajuda de um chá de lúpulo, que acompanhei com dois comprimidos de valeriana. »
Olga Tokarczuk. Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos. Tradução do polaco Teresa Fernandes Swiatkiewicz. Edição Cavalo de Ferro. 1ª Edição, 2019., p. 5