Para além do “ser ou não ser”dos problemas ocos,
O que importa é isto:
Penso nos outros.
Logo existo. (Ferreira, 1990a:338)
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sábado, 4 de novembro de 2017
sábado, 15 de março de 2014
VIVER SEMPRE TAMBÉM CANSA!
Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azul,
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O mundo não se modifica!
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros,
como máquinas verdes;
As paisagens também não se transformam!
Não cai neve vermelha!
Não há flores que voem!
A lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua!
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são homens!
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação!
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos;
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigaram-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano,
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima de um divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte!
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer, com teu sorriso
onde há um coração em melodia:
«Matou-se esta manhã!
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela!»
E virias, depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a morte, ainda menina, no meu colo!
Maio, 1931
José Gomes Ferreira in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 312/13
O sol é sempre o mesmo e o céu azul,
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O mundo não se modifica!
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros,
como máquinas verdes;
As paisagens também não se transformam!
Não cai neve vermelha!
Não há flores que voem!
A lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua!
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são homens!
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação!
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos;
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigaram-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano,
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima de um divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte!
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer, com teu sorriso
onde há um coração em melodia:
«Matou-se esta manhã!
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela!»
E virias, depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a morte, ainda menina, no meu colo!
Maio, 1931
José Gomes Ferreira in Adolfo Casais Monteiro. A Poesia da ''Presença''. Círculo de Poesia. Moraes Editores, Lisboa, 1972., p. 312/13
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domingo, 28 de julho de 2013
sábado, 27 de agosto de 2011
POETA MILITANTE
«POETA MILITANTE é a viagem do século vinte em mim. Ou melhor: o testemunho poético - a princípio involuntário - da aventura da sombra de um anti-herói que perdido nos meandros dos caminhos exíguos do tempo, atravessou em bicos de pés os segundos, os minutos, as horas, as semanas, os anos de quase todo um século, mais preocupado com as coisas vulgares do quotidiano nos cafés, nas ruas, nas praias, no campo, do que com os acontecimentos merecedores no futuro de longos tratados de volumosos que me inspiraram muitas vezes apenas poema e meio.
De quando em quando, grito. Grito muito. Berro. Apaixono-me. Calo-me. (Que outro protesto poderia fazer senão com o silêncio, quando rebentou a primeira infame bomba atómica?) Amo. Odeio, torço pescoços de fantasmas. E sobretudo denuncio. E espanto-me. Do que afinal sempre espantou os poetas dos séculos de sempre. De haver injustiças e estrelas.
Enfim, quando os homens pisaram a lua, dormi profundamente toda a noite como um anjo sem insónias.»
José Gomes Ferreira. Poeta Militante 1.º Volume. Obra Poética Completa. Círculo de Poesia. Moraes Editores, 3.ª edição, Lisboa, 1977
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terça-feira, 23 de agosto de 2011
domingo, 20 de junho de 2010
«Quis fazer um gesto. Impossível. Baixar as mãos. Não pôde. Experimentou dar um passo. Em vão. Era como se o prendessem à terra garras de âncora.
Mas só quando um pardal lhe veio construir um ninho nos braços é que João Sem Medo compreendeu com espanto que estava metamorfoseado em árvore.»
José Gomes Ferreira. Aventuras de João Sem Medo. (1963, 1989, Herdeiros de José Gomes Ferreira, Publicações Dom Quixote), Leya, SA, 2009, 2ª ed, Lisboa, p. 24
Mas só quando um pardal lhe veio construir um ninho nos braços é que João Sem Medo compreendeu com espanto que estava metamorfoseado em árvore.»
José Gomes Ferreira. Aventuras de João Sem Medo. (1963, 1989, Herdeiros de José Gomes Ferreira, Publicações Dom Quixote), Leya, SA, 2009, 2ª ed, Lisboa, p. 24
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quarta-feira, 16 de junho de 2010
-Bem sei que podem perseguir-me, arrancar-me os olhos, torcer-me as orelhas, transformar-me em lagarto, em morcego, em aranha, em lacrau! Mas juro que não hei-de ser infeliz PORQUE NÃO QUERO.
E João Sem Medo continuou a subir o caminho árduo, resoluto na sua pertinácia de ocultar o medo - a única valentia verdadeira dos homens verdadeiros.
José Gomes Ferreira. Aventuras de João sem medo. (1963, 1989, Herdeiros de José Gomes Ferreira, Publicações Dom Quixote), Leya, SA, 2009, 2ª ed, Lisboa, p. 17
E João Sem Medo continuou a subir o caminho árduo, resoluto na sua pertinácia de ocultar o medo - a única valentia verdadeira dos homens verdadeiros.
José Gomes Ferreira. Aventuras de João sem medo. (1963, 1989, Herdeiros de José Gomes Ferreira, Publicações Dom Quixote), Leya, SA, 2009, 2ª ed, Lisboa, p. 17
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É PROIBIDA A ENTRADA
A QUEM NÃO ANDAR
ESPANTADO DE EXISTIR
José Gomes Ferreira. Aventuras de João sem medo. (1963, 1989, Herdeiros de José Gomes Ferreira, Publicações Dom Quixote), Leya, SA, 2009, 2ª ed, Lisboa, p. 10
A QUEM NÃO ANDAR
ESPANTADO DE EXISTIR
José Gomes Ferreira. Aventuras de João sem medo. (1963, 1989, Herdeiros de José Gomes Ferreira, Publicações Dom Quixote), Leya, SA, 2009, 2ª ed, Lisboa, p. 10
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segunda-feira, 7 de junho de 2010
CAFÉ/XXII
Bati com o pé no deserto
e não nasceu uma fonte...
Toquei numa rocha
e não se cobriu de açucenas...
Beijei uma árvore
e o enforcado não ressuscitou...
Amaldiçoei a paisagem
e não secaram as raízes...
Digam-me lá: para que diabo serve ser poeta?
(Os santos são mais felizes.)
e não nasceu uma fonte...
Toquei numa rocha
e não se cobriu de açucenas...
Beijei uma árvore
e o enforcado não ressuscitou...
Amaldiçoei a paisagem
e não secaram as raízes...
Digam-me lá: para que diabo serve ser poeta?
(Os santos são mais felizes.)
José Gomes Ferreira
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