terça-feira, 4 de março de 2025

SANGUE NO ASFALTO

           Sangue no asfalto

Atravesso a azul noite da solidão
Envolto em ténues irradiações de pura emoção
Corpos desprendem gemidos mutilados
Em excêntricas posições espalhados
Pedaços de chapa vidros escacados
E um mundo de sensações medo horror
Fundem-se num sensual cheiro a morte e a dor

 
           Sangue no asfalto

Percorro ansioso os destroços no alcatrão
Abrasado em palpitações de pura paixão
Segurando um crânio já estilhaçado
No escuro de dois chorões agachado
Nutre-se de miolos o deus desnudado
Solto algumas imprecações contra o ladrão
E procuro outra azul noite - solidão

          Sangue no asfalto

Adolfo Luxúria Canibal. No rasto dos duendes eléctricos (Poesia 1978-2018). Porto Editora, 2019., p. 17

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