segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Os outros, os que padecem 
De doenças mais ou menos dramáticas,
Os que sofrem e que ainda assim
Sustentam o sorriso e a vontade
De respirar. Os outros, que se levantam
Em cada dia apesar da incerteza e da fome
Sempre possível, os que persistem,
Os que ultrapassam a desilusão
De serem eles próprios inúteis. Os outros,
Razoáveis, atrevidos, ousados, gente
A ir dando resposta à agonia toda
Que enche o mundo. E felizes, os outros.
Felizes sem razão, apenas por viverem,
Por se acomodarem à ilusão.
Os que vão por aí sem se queixarem,
Sem incomodarem com as suas dores e frustrações.
Os que limpam a cara antes de sair
Para não agredirem os outros com lágrimas.
Os culpados, os inocentes, os tão
Inseguros de tudo, os outros, todos os outros,
Sofrendo e respirando e tentando alegrias,
Gente a experimentar dor e alegria e sangue
Dentro do corpo. E os dementes,
Que já não sabem da própria desilusão,
Os que se arrastam
Automaticamente, isolados do mundo,
Demasiado outros. Os que não vivem,
Os que já morreram.


Rui Almeida



"O essencial na vida não é convencer ninguém, nem talvez isso seja possível. O que é preciso é que eles sejam nossos amigos. Para tal, seremos nós amigos deles. Que forças hão-de trabalhar o mundo se pusermos de parte a amizade?"

Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo.

Da Vida e da Morte

«A ideia de que todos os homens são iguais acarreta consequências muito perigosas. E perversas. Sobretudo porque todos os homens são diferentes ou muito diferentes. E nem são iguais perante a lei, nem iguais perante o mercado ou a publicidade, nem iguais perante a natureza, ou sequer iguais perante Deus. O único local onde essa igualdade pode estipular-se e observar-se é na teoria. Mas jamais na prática, e está aí a história de séculos para atestá-lo e as várias experimentações igualitárias. Há, todavia, uma excepção prática onde essa igualdade se verifica: perante a morte.Há, quer se queira quer não, uma indústria da morte neste planeta. Que é talvez a indústria mais sofisticada, desenvolvida e em acelaração nos últimos cem anos. Ontem, perante as balas e explosivos dos carniceiros de serviço, os homens foram todos iguais.»

domingo, 20 de dezembro de 2015

"Ser velho não é algo que me agrade, a perda da força física, da beleza, a fragilidade não me agradam nada. Ferem o meu narcisismo. Não vou dizer que é bom. É mentira. Ser velho é uma merda. Perdem-se os amigos. Todos os meus amigos morreram e agora eu é que tenho que aturar as viúvas deles."

 Helder Macedo


« - Não te ajoelhes, não estendas as mãos para me abraçar os joelhos. Eu não tenho joelhos! Não comeces os teus lamentos para me tentares comover! Eu não tenho coração! Sou um bloco de granito negro, não há mão nenhuma que possa imprimir-se em mim. Tomei a minha decisão: Vou incendiar Sodoma e Gomorra!»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 239

«A minha vontade é um abismo. Se a pudésseis olhar de frente o terror invadir-vos-ia.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 239

« - «Tomei a minha decisão», na tua boca, Senhor, significa: vou matar!»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 238

AQUI NÃO HÁ DEUS


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 238

''num bater de pálpebras''

Woman With Scarred Leg, 1976



« - Senhora Alma quero que te dispas. - Senhor, como é possível que me peças uma coisa dessas? Tenho vergonha. - Senhora Alma, não pode existir nada entre nós a separar-nos, nem o mais leve véu. É necessário, portanto, Senhora, que te dispas. - Eis-me, Senhor, estou nua, leva-me!»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 236

Deus incendiar-me-á


«(...), lá onde Deus sopra como um vento escaldante, e aí no despir-me-ei e Deus incendiar-me-á.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 235

«(...), ardia em desejos de chegar as montanhas desertas, nuas, que se viam na minha frente, andar, andar, nada mais ver que o Sol, a Lua e as pedras.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 235

cascas de laranja

«Punham as mãos no fogo e esfregavam o rosto e o peito. Os homens começaram a dançar e as mulheres uivavam.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 235

Photo by Cecil Beaton, 1956


«E se não tivesse havido o coração quente duma mulher teria permanecido estendido no túmulo, eternamente. A salvação do homem esteve por um fio, dependeu de um grito de amor.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 234

«Hoje, como há dois mil anos, a vida está novamente em decomposição, mas os problemas que agora perturbam o equilíbrio do espírito e do coração são mais complexos e a sua solução mais difícil e sangrenta.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 232/3

«O mar faiscava, vivamente agitado, (...)»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 232

''edredões imundos''


«Fechei Homero, beijei a mão do antepassado imortal mas não ousei levantar a cabeça e olhá-lo de frente, olhos nos olhos. Diante dele tinha vergonha, medo, porque sabia que naquele momento estava a traí-lo»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 231

«(...), esmagava folhas de tabaco, limpava o pó de cima dos móveis; de manhã à noite, sentia-me sempre dominado por coisas desagradáveis e inúteis.»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 128

«À noite, o medo envolvia-me como uma nuvem de frio: vinha do canto da cozinha, onde, diante dos ícones sombrios, ardia uma vela durante todo o tempo.»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 122

''olhos encarquilhados''


«Algumas gotas de água tombavam do telhado e as lágrimas caíam, também, nos meus olhos.»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 119

«(...), nos momentos em que o coração se apertava com uma suave tristeza, sem razão definida, em que as pequenas ofensas do dia que acabava vinham ensombrá-lo e afligi-lo, eu tentava compor as minhas próprias orações;»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 117

contrassenso

«Eva iludiu o próprio Deus.»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 107

"Morrer assim,
como eu o vi morrer então -,
o Amigo qur atirou divinamente
relâmpagos e olhares à minha escura juventude:
arrogante e profundo,
um bailador na batalha -,


entre guerreiros o mais jovial,
entre vencedores o mais difícil,
erguendo-se, um destino sobre o meu destino,
duro, reflectindo o passado e o futuro .,

tremendo porque venceu,
exultando porque venceu morrendo...,

mandando enquanto morria
- e mandou que aniquilassem...

Morrer assim,
como eu o vi morrer então:
vencendo, aniquilando..."

-"Poemas"
- Nietzsche
- Tradução. Paulo Quintela

«Nunca antes nem depois vi qualquer pessoa enervar-se tão rápida e facilmente como ela, desatando depois a mostrar uma paixão lamurienta acerca de tudo e de todos.»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 103

«(...), olhou para a minha obra e disse para o marido:
-Dá-lhe uma boa chicotada!
Mas o patrão, conciliador, observou:
- Isto não é nada; eu mesmo quando comecei não fazia coisa melhor...
   Assinalou com um lápis vermelho as deformações existentes na fachada e deu-me outra folha de papel.
  -Vamos, recomeça! Vais desenhar sempre até chegares a fazer bem...»

Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 101

disformidade

És demasiado asseada. Falta-te a sujidade!


« - Que o diabo te faça em pequenos farrapos!»


Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 96

saraquitar

"Quando se viaja sozinho
pelas imagens que perduram
as evocações ganham um modo tão real
A mancha ténue dos arbustos
indica o caminho para o regresso
que nunca há
o mar ficou de repente perto
sobre esta praia travámos lutas
para as quais só muito depois
encontramos um motivo
era à pedrada que nos defendíamos
do riso mas inocente
ou de um amor
Mas aquilo que nunca esquecemos
deixa de pertencer-nos e nem notamos
Estamos sós com a noite
para salvar um coração"
-"De Igual Para Igual"
- José Tolentino Mendonça

Dia e noite te procurei…


Dia e noite te procurei
sem encontrar o sítio onde cantas.
Procurei-te pelo tempo acima e pelo rio abaixo.
Perdeste-te por entre as lágrimas.
Noite atrás de noite te procurei
sem encontrar o sítio de onde choras
porque sei que estás chorando.
Basta olhar-me num espelho
para saber que estás a chorar e me choraste.


Apenas tu salvas o pranto
e de um mendigo obscuro fazes,
pela tua mão, rei coroado.




em Mágica, selecção e tradução de Ricardo Marques, Lisboa: Língua Morta, 2011, p. 34.
Citadinos


Como os buracos de um crivo, apertadas,
As filas de janelas; empurrando-se,
As casas tocam-se de perto, erguendo-se
Pardas e inchadas como estrangulados.

Engalfinhadas umas nas outras vejo
No carro eléctrico as duas fachadas
De gente, descarregando olhares, caladas,
E cresce o emaranhado do desejo.

As paredes são finas como a pele,
Todos me ouvem quando choro, ou então
É como um berro a conversa ciciada:

Emudecidos, em caverna fechada,
Sem ninguém que lhes toque, olhe para eles,
Todos estão longe e sentem: solidão.

em A Alma e o Caos - 100 poemas expressionistas, selecção, tradução, introdução e notas de João Barrento, Lisboa: Relógio D' Água, 2001, p. 53.

Embriaguez


Sob o salgueiro onde se enleia a hera,
procuramos refúgio da intempérie.
A envolver-nos os ombros um capote.
Em torno de ti cercam-te os meus braços.


Mas não. No abraço as plantas
não se entontecem de hera, mas de embriaguez.
Estendamos então este capote
sob nós em toda a amplidão.




em Doutor Jivago, de Boris Pasternak, tradução de Augusto Abelaira (romance) e de Moura Pimenta (poemas), Porto: Público, colecção Mil Folhas, 2002, p. 569.

Um poema de Vergílio Ferreira

Só eu o sei, e porque mo disseste?
A minha responsabilidade agora é horrível.
Recebi o teu aviso, tínhamos o céu já preparado
com a noite que lhe competia e o seu absoluto de limpidez,
com o absoluto de um destino.
E havia estrelas novas, fabricadas de propósito,
como a alegria de uma criança a quem vestiram de preto.
Há Inverno à nossa volta com o frio da nossa humildade
e acendemos o lume para estarmos mais perto de nós.
E encomendou-se um pouco de neve para a celebração do início.
E bebeu-se um vinho intenso até à ternura por nós mesmos,
para a vida caber toda dentro da nossa comoção.
Tudo isto tinha que ver com o tencionado encantamento
e o que se combinou ser a esperança, a propósito de tu vires
e confirmares a esperança de que a trouxesses contigo.
No fundo da noite, há o silêncio dos homens,
que é de quem já disse tudo e é altura de tu dizeres.
Tudo isto é muito triste, não sei se fazes ideia.
Como é que eu vou poder agora explicar-lhes?
Vê-los erguer para mim os olhos necessitados,
todos junto da porta à espera que batas à porta?
Tudo fora já experimentado nas combinações possíveis,
não talvez de se ser feliz, mas de ser plausível pensá-lo.
Não, não vou agora dizer-lhes que nunca mais irás voltar,
que a fábula se esgotou e é altura de serem homens,
na desgraça miserável de serem maiores do que eles,
na pequena glória portátil de não serem menores do que eles.
Mas não, não vou dizer-lhes, estava eu bem arranjado.
Corriam-me à pedrada ou pregavam-me no madeiro,
que é o que te estão já preparando,
com pregos e martelo nos bolsos,
quando for a altura de esgotares, como os políticos, a esperança
que tinhas prometido,
e aguardarem até ao ano que a trouxesses outra vez.
Porque, enfim, sem esperança,
como diabo se há-de viver?
Estou só e muito enrascado
com o segredo horrível que me anunciaste.
Não o digo a ninguém. Perder a esperança, sim, mas devagar.
Aliás, mesmo a mim, que sou razoavelmente um homem forte,
é um bocado difícil de engolir
essa coisa trágica, nefanda e absolutamente despropositada
de nunca mais voltares, definitivamente,
nunca mais
nunca mais…





em Conta-Corrente 2, Lisboa: Bertrand Editora, 3ª edição, 1990, pp. 340-341.

''Os pobres são muito pobres para morrer.''

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

"Perdoas o medo como
quem se abstrai de uma agulha.
O soro flui pelos teus olhos
fechados,
ainda que reluzam,
absorve-se no teu sangue como
um panfleto siciliano,
não viste,
não ouviste,
sanaste dentro de ti o cancro
que lentamente te soprará - dente de leão -
os cabelos."

-"A Fábrica"
- Vasco Gato
"Portugal ou se reformará política, intelectual e moralmente ou deixará de existir. Mas a reforma, para ser fecunda, deve partir de dentro e do mais fundo do nosso ser colectivo: deve ser, antes de tudo, uma reforma dos sentimentos e dos costumes"
- Antero de Quental, "Expiação", 1890.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015


90 palavras da língua portuguesa que você (quase de certeza) não conhece

Aceiro – 1. Relativo ao aço ou que tem as propriedades do aço. 2. Forte, agudo, penetrante. 3. Operário que trabalha em aço.

Adentado – Mordido.

Admistão – Acto de ajuntar, misturando.

Aprestos – Materiais necessários para fazer alguma coisa.

Asseidade – Religião. Atributo divino fundamental, que consiste em existir por si próprio.

Asnidade – Ignorância.

Assetado – Ferido ou morto com instrumento de incisão.

Atoarda – Notícia vaga; balela, boato.

Atuado – Aquele cujo procedimento foge ao comum, ao esperado.

Babiaque – Nome comercial da casca da árvore-da-goma-arábica.

Bricolagem – Combinação de elementos extraídos de obras distintas.

Carraspana – Bebedeira.

Cércea – Aparelho, nas estações de estrada de ferro, que determina o máximo volume que a carga de um trem pode atingir.

Chapim – 1. Calçado de sola grossa, para mulheres. 2. Sapatinho elegante.

Cioso – 1. Que tem ciúme; ciumento. 2. Zeloso, cuidadoso. 3. Interessado em virtude de afeição extrema.

Colédoco – Canal pelo qual a bílis se derrama no intestino.

Custódio – Aquele que guarda, defende ou protege.

Codesso – Arbusto ornamental que fornece madeira castanho-esverdeada, própria para marcenaria de luxo, e tem propriedades melíferas.

Coreuta – Cada um dos membros do coro, no teatro clássico; corista.

Corifeu – Mestre do coro, na tragédia e comédia antigas, o qual exercia a função de principal representante do povo e de intermediário entre os coreutas e as personagens principais.

Desamar – Perder a afeição a alguém.

Desapuro – Falta de cuidado ou esmero.

Descalabro – 1. Grande dano ou perda; ruína. 2. Desgraça, derrota

Dessiso – Falta de juízo, de bom senso, de siso.

Eclampse – Grave doença convulsiva que se manifesta nas mulheres grávidas.

Ecmnesia – (Medicina) Esquecimento de todos os fatos ocorridos de certa época em diante.

Epistase – (Medicina) Interrupção de secreções ou excreções, como as do sangue, por exemplo.

Espaventado – Assustado, espantado.

Estacada – Lugar fechado para brigas e torneios.

Exaurir – Desgastar lentamente as próprias reservas físicas ou económicas.

Gematria – Sistema criptográfico que consiste em atribuir valores numéricos às letras.

Glosar – 1. Comentar, anotar, explicar. 2. Censurar, criticar. 3. Suprimir ou anular (parte de conta ou orçamento). 4. Desenvolver um verso (um mote).

Guapo – (RS) 1. Animoso, corajoso, ousado, valente. 2. Muito bonito, elegante.

Humifuso – Que se dispõe sobre o solo, rasteiro.

Humílimo – Diz-se de quem é extremamente simples, modesto.

Igarité – Canoa amazônica de grande porte, com toldo.

Isabel – Cavalo de cor branco-amarelada.

Improbo – Árduo, exaustivo.

Ínsua – Pequena ilha formada por algum rio.

Intensar – Intensificar-se.

Lacónico – Conciso no falar ou no escrever.

Lerna – Grande depressão na terra.

Lunático – Diz-se daquele homem volúvel, inconstante, nervoso.

Menorá – 1. Candelabro sagrado, com sete braços, um dos símbolos do antigo templo judeu de Jerusalém. 2. Candelabro com variável número de braços, usado principalmente no serviço religioso do judaísmo.

Merca – Aquilo que se compra.

Mesmamente – Sem nenhuma alteração.

Mote – Tema, assunto.

Nacela – Espécie de cesta ou barca, na parte inferior de um aeróstato ou de um balão, destinada a tripulantes e passageiros.

Necator – (Zoologia) Verme parasito de homens e de animais.

Netsuquê – Pequeno objecto esculpido em madeira ou marfim, ou trabalhado em metal, e atravessado por orifícios, usado pelos japoneses como adorno para prender uma pequena bolsa ou sacola à faixa do quimono.

Obvenção – Provento, receita ou lucro eventual. Antigo tributo que se pagava aos eclesiásticos pela sua manutenção.

Ossatura – Esqueleto.

Otimates – Cidadãos influentes, poderosos por nobreza ou dinheiro.

Pasigrafia – 1. Sistema de escrita que pode ser compreendido por leitores de diferentes línguas nativas, como no caso de línguas internacionais que fazem uso de notação musical ou de símbolos matemáticos. 2. Qualquer língua escrita artificial que pode ser entendida internacionalmente.

Pegadilha – Discussão acalorada, alteração.

Pelegrine – Capa longa.

Pengó – 1. Tolo. 2. Sujeito mal vestido. 3. Coxo.

Pérvio – Que dá passagem; transitável, franco, patente.

Pingadeira – 1. Negócio que vai rendendo sempre aos poucos. 2. Despesa continuada.

Psichê – 1. Grande espelho móvel e inclinável montado numa armação. 2. Móvel de toucador, com grandes espelhos e muitas gavetas.

Rebombar – Ressoar fortemente.

Recepisse – Escrito em que se declara ter recebido papéis, documentos, dinheiro, etc.

Rechaçar – Fazer retroceder, opondo resistência; repelir; rebater.

Reproche – Censura.

Rumorejo – Ruído brando e confuso.

Safo – Desembaraçado.

Sanguino – Que causa a morte ou efusão de sangue. Cor tirante a vermelho.

Senescente – Aquilo que vai envelhecendo.

Sextante – Arco de sessenta graus.

Sicário – Assassino pago para cometer todo tipo de crimes. Matador profissional.

Socancra – Diz-se de pessoa que faz as coisas de maneira oculta e silenciosamente. Diz-se também de pessoas sonsas. Isto é, pessoas que dizem que não sabem, mas sabem.

Surtar – Entrar em crise psicótica.

Taifa – Designação comum ao pessoal subalterno das especialidades de cozinheiro, barbeiro, padeiro e arrumador (copeiro, camaroteiro, etc.).

Tonsura – Corte circular, rente do cabelo, na parte mais alta e posterior da cabeça, que se faz nos clérigos; cercilho, coroa.

Ubertoso – Fértil, fecundo.

Urbígena – Pessoa que nasceu na cidade em relação à pessoa que chega à cidade.

Undívago – Aquilo que vaga sobre as ondas; flutívago.

Voejo – Pó que se levanta da farinha quando ela é agitada.
Ver aqui
"Onde é que,
o centro,
onde se respira.
a cama limpa
ao corpo inteiro e nu.
Onde é a fome e o braço toca
o esplendor.
Respira o ventre,
a vela incha
ao sol e ao mar sem fim.
Onde é aqui,
a fome nua,
a árvore exacta
no centro
da alegria,
a luz e o olhar
aberto ao mar.
Onde é onde
a mão sabe
a carícia da anca
e a língua fabrica
o seu sabor a sol.
Onde o fogo acende
o pulso do poema."
-"Antologia Poética"
- António Ramos Rosa

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Mary Ellen Mark: Portrait of Mona in Lace Lying in Bed 1976



«De repente, no silêncio, ouve-se a chuva.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 337
«Não há mãos de mulher para a minha fadiga.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 337

verde-cúprico

«Havia em mim Alguém que nunca me esqueceu.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 334

Ninfeáceas

meiguice

Central Park, 1967



«        A MORTE

Tu que beijaste tantas...

D.JOÃO

Ouvia a Tua voz em milhares de gargantas.»



António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 327

« A Morte, para mim, tem olhos de andorinha.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 325

de.mu.dar

«D. JOÃO
Há uma febre de beijar mais fundo.

D. ELVIRA
Não sei o que tu tens, não sei...Tu és como as crianças, meu amor, que partem as bonecas para ver, para ver como são, que têm por dentro...

D. JOÃO
E não há por dentro...É como em sonho. E quanto mais o sei, mais o procuro. O que me interessa nas mulheres, tu sabes, é o que elas ignoram, e possuem. (...)»




António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 319


                                                  Beija-a nos olhos e na boca, muito, com um virtuo-
                                                  sismo de fadiga, triste.



António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 315

«Cheira à gangrena lírica do Outono.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 315

«Os meus olhos não cansam de beber-te.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 313

«Afiava os meus nervos com requinte. E afinal - imenso tédio, tédio. Parecia que se dançava em folhas secas. Nem, por esmola, um instantinho de terror, um só.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 311

«E aborreci-me, aborreci-me, aborreci-me. Havia teias de aranha na minha alma.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 311

«Antes o cheiro da névoa que o da carne.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 302

« - Excuse, Sir, my old brains are troubled.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 298


«Morrer, diz a Antologia grega, é ser iniciado. Mas para a sensibilidade moderna, que os séculos de cristianismo hiperestesiaram, morrer é sentirmo-nos morrer a cada instante, olharmo-nos no supremo espelho em que não há possível narcisismo: a Morte. A iniciação começa deste lado.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 298

«O sentido da morte é o instinto de viver feito consciência: sem ele, não há vida interior. Vive-se sem viver: morre-se sem morrer: no fundo é o mesmo.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 297

«Moral de poetas é a moral das mães: um filho não é nunca criminoso.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 297

Nothing can we call our own but death.

SHAKESPEARE


Bem nossa, só a morte.

|| uma árvore na solidão ||

Photograph by Ed De Long, 1958


«Deita-se o sol devagarinho, sobre as pétalas.»



António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 291

''Morte e Deus''


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 291

«Tens um crime de amor ante os teus olhos.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 290

«Nunca houve tantas mãos a querer tirar-ma.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 286

«O vosso amor adormecera tudo.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 285

«Vai-me doer na minha carne, muito.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 283

«A morte bebe os ruídos. Tudo é cinza.»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 282

domingo, 13 de dezembro de 2015

«Vivo como um homem assombrado, um homem que um relâmpago habitou...»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 281

Peguei na caneta e pus-me a escrever para me acalmar, para criar.



« A minha cabeça estava cheia desta visão da ressurreição, uma ligeira febre, muito doce, inchava-me as pálpebras e o sangue batia-me violentamente nas têmporas. E como acontece quando sopra um vento forte e as nuvens se dispersam, se reagrupam, mudam de forma, se transformam em homens, animais e navios, também em mim, inclinado como estava diante do fogo, com todo o meu espírito soprando, sentia que a visão se desmembrava, se transformava e fazia surgir rostos de homens vestidos de paixão e de vento. E, dentro em pouco, esses rostos ir-se-iam tornar mais ténues, rarefazendo-se como o fumo na minha cabeça a não ser que viessem, tímidas e incertas a princípio, depois mais impetuosas e seguras, as palavras consolidando o que não conseguia consolidar-se. Compreendera. O vento fecundante que soprara no meu coração trouxera o seu fruto, um embrião se formara e agora esforçava-se para surgir à luz. Peguei na caneta e pus-me a escrever para me acalmar, para criar.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 228

«Voltei a ouvir de novo o meu coração a chorar.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 227

«Está um sol de morte.»

António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 277

«Dá-me os teus olhos a beijar. Eu quero-os...»

António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 275

Figure in Motion.


« DINIS

É o vento, Isa, não te assustes. Está um ar encinzeirado, um ar de queima. Já bóiam nuvens mortas pelo ar.

ISABEL

É o vento que quer a Primavera...O bobo disse, sabe. Ele adivinha. Tem mil-braços de chama; há-de levá-la...


Quer esconder-se nele.»




António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 273
«  DINIS

Está um ar de febre. As árvores sufocam. Ih!... O que vão de pétalas no ar...E a dança das flores martirizadas...

O BOBO

É um deboche do vento com mil virgens...E no mês das novenas... (...)»



António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 273

''as rosas do milagre''

António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 271

«Tens olhos de criança que vê a Morte, e quer brincar com ela e lhe sorri. »


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 270

«Tu és, a um sol de morte, o meu pomar...»


António Patrício. Dinis e Isabel. Teatro Completo. Assírio & Alvim. Lisboa, 1982., p. 270
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