Mostrar mensagens com a etiqueta António Ramos Rosa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta António Ramos Rosa. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 19 de julho de 2021

 Tudo será construído no silêncio, pela força do silêncio, mas o pilar mais forte da construção será uma palavra. Tão viva e densa como o silêncio e que, nascida no silêncio, ao silêncio conduzirá. 

 António Ramos Rosa

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

O Funcionário Cansado

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só

Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado de um dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?

Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música.
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma noite só comprida
num quarto só

António Ramos Rosa

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

"Onde é que,
o centro,
onde se respira.
a cama limpa
ao corpo inteiro e nu.
Onde é a fome e o braço toca
o esplendor.
Respira o ventre,
a vela incha
ao sol e ao mar sem fim.
Onde é aqui,
a fome nua,
a árvore exacta
no centro
da alegria,
a luz e o olhar
aberto ao mar.
Onde é onde
a mão sabe
a carícia da anca
e a língua fabrica
o seu sabor a sol.
Onde o fogo acende
o pulso do poema."
-"Antologia Poética"
- António Ramos Rosa

domingo, 13 de setembro de 2015

''o jardim é um estremecimento''

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 265
O DEUS NU(LO)

1988

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 255

sábado, 12 de setembro de 2015

« O poema é um arbusto que não cessa de tremer.»

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 231
A mão

                    prolonga

                                              o pulso

quando

                                   a água ondula


António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 182
O ar                              passa

a t r a v  é  s     d a s    p a l  a v  r  a  s

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 181

«afundo-me como um osso no silêncio dos ossos»

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 152

«Não te construo, constróis-me, construo-te,»

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 84
«uma respiração feliz ombro a ombro
um caminhar sem solidão na noite.»

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 78

«São restos de tabaco e de ternura rápida.»

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 43

«A fadiga substitui-lhe o coração
as cores da inércia giram-lhe nos olhos.»


António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 37
(...)

«O tempo das palavras
numa circulação sombria como um poço
de ecos incontrolados
de timbres inesperados
como moedas de sangue cunhadas numa noite
demasiado curta e com luar de mais »



António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 33

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

«e dou-te as inflexões das sílabas do tempo
com a paciência dos dedos e dos dentes
para que neste exercício da paixão acordes nua»


António Ramos RosaFicção. Edições Nova Renascença, 1985., p. 20
«Há um massacre de insectos no metal negro do teu
                                                                               [sangue»

António Ramos RosaFicção. Edições Nova Renascença, 1985., p. 18
«Não é a dança ainda
mas é como se fosse começar.»


António Ramos RosaFicção. Edições Nova Renascença, 1985., p. 11
Sei que alguém escreveu: «a impregnação de um sangue
oculto antes da ferida que abre a superfície.»


António Ramos Rosa. Ficção. Edições Nova Renascença, 1985., p. 11

terça-feira, 5 de maio de 2015

DREAMING OF YOU


"De súbito
como do alto do estio
nós estamos no aqui.
Cada coisa que vemos é feliz
e nós somos o seu silêncio
ou o seu nome.
O clamor tornou-se voz
e o silêncio claro
equivalente a um fundo azul liso.
Luz lúcida
excepcional
sobre as errantes raízes
lenta portadora de uma água visível."
-"Horizonte a Ocidente"
- António Ramos Rosa

segunda-feira, 6 de abril de 2015

INCLINAÇÃO NATURAL



"A fatalidade consiste
em não depender de nós não desesperar
embora possamos às vezes fazer o gesto necessário
para sairmos de uma sombra asfixiante
Outras vezes o dia amanhece como um barco de vidro
e a transparência aligeira-nos os músculos e as veias
O inesperado surge com a leveza do que já nem sonhávamos
e de novo podemos erguer a coluna da delicada confiança
ou projectar no dia a diagonal do desejo de ser
o que não poderíamos ser mas que seremos ainda que não sendo

O que é em si não é para nós
embora possamos apropriar-nos dele
e ser para nós um símbolo
uma palavra
um momento de contemplação
Mas o arco do seu ser
ultrapassa-nos
e deixa-nos atrás da sua presença inteira

Nós sentíamos os ramos do fogo nas veias
como um peixe lascivo
e a nossa perspectiva é conduzi-lo a uma forma ainda em gestação
para que ele irradie
ocupando o espaço com a indolência felina do seu volume verde"

-"Deambulações Oblíquas"
- Ramos Rosa
Powered By Blogger