segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Os outros, os que padecem 
De doenças mais ou menos dramáticas,
Os que sofrem e que ainda assim
Sustentam o sorriso e a vontade
De respirar. Os outros, que se levantam
Em cada dia apesar da incerteza e da fome
Sempre possível, os que persistem,
Os que ultrapassam a desilusão
De serem eles próprios inúteis. Os outros,
Razoáveis, atrevidos, ousados, gente
A ir dando resposta à agonia toda
Que enche o mundo. E felizes, os outros.
Felizes sem razão, apenas por viverem,
Por se acomodarem à ilusão.
Os que vão por aí sem se queixarem,
Sem incomodarem com as suas dores e frustrações.
Os que limpam a cara antes de sair
Para não agredirem os outros com lágrimas.
Os culpados, os inocentes, os tão
Inseguros de tudo, os outros, todos os outros,
Sofrendo e respirando e tentando alegrias,
Gente a experimentar dor e alegria e sangue
Dentro do corpo. E os dementes,
Que já não sabem da própria desilusão,
Os que se arrastam
Automaticamente, isolados do mundo,
Demasiado outros. Os que não vivem,
Os que já morreram.


Rui Almeida

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