“As emoções são cada vez mais intensas. Logo de seguida impõe-se “A Primavera”, também de Botticelli, e é este o momento de Eduardo Lourenço falar do Renascimento como forma ideal do destino. Se o Renascimento, diz, “se converteu num mito pictórico do Ocidente, não o deve apenas ao génio plástico das suas criações, mas à visão que nelas se plasmou, que não foi e não é outra que não seja a reinvenção do paraíso. Em versão florentina, a “Primavera” de Botticelli. Em versão veneziana, a “Vénus de Urbino” de Tiziano. Temos aí todo o percurso que vai do Adão e Eva expulsos do Paraíso, de Masaccio, a esta metamorfose do amor divino em erótica mais ou menos platónica. Mas também do amor antigo em paradigma de todos os amores futuros”
Ao deter-se em frente ao quadro de Botticelli numa espécie de religiosidade contemplativa, deteta-se um especial brilho vertido sobre a face de Eduardo Lourenço. Há pouca luz na sala. Ao fundo, uns técnicos do museu trabalham numa nova foto de um óleo de Hugo van der Goes. A “Primavera” enfeitiça. Lourenço fixa-se na deusa das flores, ao lado de Vénus, e deixa as mãos numa quietude comprometida, suspenso da beleza daquele rosto imbuído de uma feminilidade extrema. O corpo do ensaísta petrifica na sua imobilidade, mas tudo quento nele é espírito divaga pela sensualidade contida naquela cena. Mesmo se tivesse todas as manhãs do mundo para a contemplar, jamais conseguiria beber por inteiro o arco-íris de sensações, sentidos e sentimentos nela contidos.”
Valdemar Cruz “Eduardo Lourenço e o regresso à inocência nos Uffizi em Florença”, in The Economist, Outono 2010, p.
sábado, 24 de outubro de 2015
O Espelho Imaginário Pintura, Anti-Pintura, Não-Pintura, 1981 Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda
“Penso que muitos de nós entendem ter uma dívida para com Eduardo Lourenço. Eu tenho. Uma dívida das que não se pagam, que assenta mais numa consciência ética que num dever mensurável em diferença ou quantidade. O mínimo que se pode dizer é que ele nos tem dado tudo o que um ser humano pode dar aos seus contemporâneos: reflexão contante e partilhada, empenho afectivo e sensibilidade às emoções, cometimento do cidadão desperto que nunca enjeita solicitações, mesmo se incómodas, para se manifestar; e, sobretudo – e de que forma! – um ensino que é exemplo e é prática de agir pensando, ou de pensar agindo.
Devemos-lhe, fundamentalmente, ao longo de meio século, ter-nos vindo ajudando a pensar, a ver melhor as coisas – e essa lição colhi-a num dos seus livros menos conhecidos e mais fascinantes, O Espelho Imaginário, no qual faz do discurso sobre o visual um suporte para a consideração de que a arte é parte integrante e inalienável do social. Com um pensamento que se apoia em mestres, e nos faz pressupor que sem o conhecimento os clássicos a vida é pouca, ele cria o seu próprio modelo, que é o de uma filosofia colhida na generalidade das Ciências Humanas, em que arte e comportamento não se dissociam.”
Maria Alzira Seixo “Lourenço, espelho de contemporâneos (poesia, riso e sociedade)” in Relâmpago, revista de poesia, n.º 22, 4/2008, pp.145-46.
Devemos-lhe, fundamentalmente, ao longo de meio século, ter-nos vindo ajudando a pensar, a ver melhor as coisas – e essa lição colhi-a num dos seus livros menos conhecidos e mais fascinantes, O Espelho Imaginário, no qual faz do discurso sobre o visual um suporte para a consideração de que a arte é parte integrante e inalienável do social. Com um pensamento que se apoia em mestres, e nos faz pressupor que sem o conhecimento os clássicos a vida é pouca, ele cria o seu próprio modelo, que é o de uma filosofia colhida na generalidade das Ciências Humanas, em que arte e comportamento não se dissociam.”
Maria Alzira Seixo “Lourenço, espelho de contemporâneos (poesia, riso e sociedade)” in Relâmpago, revista de poesia, n.º 22, 4/2008, pp.145-46.
«Inverosímil, dizias?
José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 55
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
"Não perguntem nada: as razões são longas.
Não perguntem nada: as razões são tristes.
Não perguntem nada: nós estamos contra.
E talvez perdidos.
E talvez perdidos."
-"Os Quatro Cantos do Tempo"
- David Mourão- Ferreira
- Guimarães Editora, 1963 (1a edição)
Não perguntem nada: as razões são tristes.
Não perguntem nada: nós estamos contra.
E talvez perdidos.
E talvez perdidos."
-"Os Quatro Cantos do Tempo"
- David Mourão- Ferreira
- Guimarães Editora, 1963 (1a edição)
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domingo, 18 de outubro de 2015
"O Actor" de Herberto Hélder:
O actor acende a boca. Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor pôe e tira a cabeça
de búfalo.
De veado.
De rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora.
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor pôe e tira a cabeça
de búfalo.
De veado.
De rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora.
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.
O que rutila, o que arde destacadamente
na noite, é o actor, com
uma voz pura monotonamente batida
pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca
e retira
o adjectivo da coisa, a subtileza
da forma,
e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã com sua
divagação de maçã.
Fabrica peixes mergulhados na própria
labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.
na noite, é o actor, com
uma voz pura monotonamente batida
pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca
e retira
o adjectivo da coisa, a subtileza
da forma,
e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã com sua
divagação de maçã.
Fabrica peixes mergulhados na própria
labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.
Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus, e
dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor.
Como a unidade do actor.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus, e
dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor.
Como a unidade do actor.
O actor é um advérbio que ramificou
de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente
do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,
e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.
de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente
do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,
e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.
Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção
da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto.
Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com sua ossada de base,
com suas tantas janelas,
as ruas -
o actor com a emotiva publicidade.
Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.
O actor transforma a própria acção
da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto.
Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com sua ossada de base,
com suas tantas janelas,
as ruas -
o actor com a emotiva publicidade.
Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.
Em estado de graça. Em compacto
estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomina.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.
estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomina.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.
O actor em estado geral de graça.
Herberto Hélder
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«ALLMERS (lentamente, com um olhar duro) Daqui por diante, deve haver sempre uma barreira entre nós.»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 207
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«RITA (em tom de reprovação) Tu não devias ter semeado a dúvida no meu espírito.»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 204
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« E agora aquilo a que chamamos sofrimento, luto, é apenas remorso, o remorso que nos rói. Nada mais.»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 204
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 204
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«Roído por uma dor dilacerante...»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 196
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«Ela atraiu-o para o abismo.»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 192
coutada
nome feminino
1. terra defesa
2. mata onde se criava caça para os reis e senhores ou seus convidados
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Diário de Cefaleia
[sábado à noitinha]
Acolher a dor antes dos trinta revela-se amoral,
i.e., ninguém prepara o tormento,
a inaptidão generalizada faz-nos pares,
senhorios deste condomínio de osso,
insuportável e tornado crónico.
Acolher a dor antes dos trinta revela-se amoral,
i.e., ninguém prepara o tormento,
a inaptidão generalizada faz-nos pares,
senhorios deste condomínio de osso,
insuportável e tornado crónico.
Que se foda a terapêutica, enfermo; fé na resiliência.
(inédito.)
Cláudia Lucas Chéu
sábado, 17 de outubro de 2015
«Em mim, também; coisa nenhuma
pudera até então ser entendida.»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 149
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«Agora são lumes o que escorre?
Ou céu parado e nervo
entrega a tua boca?»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 147
Ou céu parado e nervo
entrega a tua boca?»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 147
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«Agora eu estou em ti e tu em mim.»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 146
«tu sentas-te ao meu lado e o trigo reverdece.»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 140
''mas tanto, por tão pouco, e acabou.''
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 134
«Se dia, porque dia, como dia,
se agora, mas ainda, com que foi,
palavras, cumprimento, anoitecia,
mas nada, porque nada, porque dói.»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 134
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Tu tens uma natureza terrivelmente ciumenta
«RITA Se eu descobrir que te sou indiferente, que tu já não me amas como dantes.
ALLMERS Mas Rita: qualquer relação humana muda com o passar dos anos. É uma lei à qual todos estamos submetidos.
RITA Eu não! Nem tu. Não quero saber de mudanças em ti. Não quero, já disse, Alfred! Quero conservar-te só para mim.
ALLMERS (com um olhar preocupado) Tu tens uma natureza terrivelmente ciumenta.»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 186/7
«Eu quero criar na alma dele o sentimento da felicidade.»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 178
«EYOLF Diga-me, Tia, a Tia não acha que ela tem um nome estranho, a mulher dos ratos?
ASTA As pessoas chamam-lhe assim porque ela anda pelos campos e pelas praias a expulsar os ratos.
ALLMERS Acho que o verdadeiro nome dela é Sra. Lupus.
EYLOF Lupus é lobo em latim!»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 169
«GIOVANNA (compreende que dormira apoiada no vizinho - '' I'm so sorry.'' (Com um sorriso doce, entre a afirmação e a interrogação.) ''You were not here when I fell asleep..''
JEAN (mentindo) - ''And you were not so close to me when I fell asleep myself. It's amazing. We met in dreams befores we spoke to each other.''
José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 20
«A mão da mulher, branca, de unhas polidas e dedos longos, quase roça a do homem. Ele consegue, sem a acordar, que as suas mãos se toquem. (Plano americano dos dois.) O contacto fá-la estremecer, mas ela não se afasta. Pelo contrário, aperta-se mais contra ele.»
José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 19
«Todas as coisas são um centauro. Se assim não fosse o mundo apodreceria, estéril e inerte.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 278
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«O espírito é uma ave carnívora que jamais cessa de ter fome, que devora a carne e a faz desaparecer, assimilando-a.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 277
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 277
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sexta-feira, 16 de outubro de 2015
« - Cheguei ao fim e no fim de cada caminho encontrei sempre o abismo.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 261
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 261
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«Deus é um estremecimento; uma doce lágrima.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 255
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inane
1. que não contém nada no interior; vazio; oco
2. figurado vão; baldado
3. figurado fútil
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«Passam fome e nunca comem até à saciedade (...)»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 253
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«Esta garganta sem árvores (...)
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 249
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quinta-feira, 15 de outubro de 2015
(...)
«condena os nossos pés, esmaga-nos, acaba.»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 115
«condena os nossos pés, esmaga-nos, acaba.»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 115
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« É nas unhas mais sujas
que o espelho nos reflecte e nos abate o medo.»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 113
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versos soltos
«(...)
no verde-mar dos dedos,
na loucura dos medos,
na perfeição do ramo está a pedra.»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 96
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I
Agora muitos montes; e o rio
se levanta e corre nos intervalos
dos gestos. Saber sentir o frio
de todos os ribeiros é amá-los.
Agora é ir correndo os dedos
pela pele; abrir o peito
a todos os cuidados e segredos,
amar-me já refeito.
Agora perder tudo; ter aberta
a carne de aventura naufragada.
Agora receber e estar alerta,
agora ter razão na mão molhada.
Agora desnudar a lama certa
e esperar vê-la escorrida e bafejada.
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 95
se levanta e corre nos intervalos
dos gestos. Saber sentir o frio
de todos os ribeiros é amá-los.
Agora é ir correndo os dedos
pela pele; abrir o peito
a todos os cuidados e segredos,
amar-me já refeito.
Agora perder tudo; ter aberta
a carne de aventura naufragada.
Agora receber e estar alerta,
agora ter razão na mão molhada.
Agora desnudar a lama certa
e esperar vê-la escorrida e bafejada.
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 95
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«Não há montanhas se não há palavras.»
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 83
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verso solto
[Eu creio que esta mulher dormiu descoberta
Num dia em que nevava.
Uma escama de neve escorregou-lhe para a boca
E assim no seu seio foi concebido o menino.]
[Toma cuidado, então, senhora, porque se sabe
Que, nascido o menino, quando o sol lhe der
Se voltará em líquido.]
(De um mistério medieval inglês)
Num dia em que nevava.
Uma escama de neve escorregou-lhe para a boca
E assim no seu seio foi concebido o menino.]
[Toma cuidado, então, senhora, porque se sabe
Que, nascido o menino, quando o sol lhe der
Se voltará em líquido.]
(De um mistério medieval inglês)
''mar que nós sujámos''
Pedro Tamen. Retábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 65
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« GARRETT
(...) Já nos conhecemos da embaixada. Estava de verde e com fitas pretas no cabelo. Também nos pulsos tinha fitas pretas. ''A que veste de verde com a sua beleza se atreve'', pensei eu.
AMORIM
Quem são?
GARRETT
Ele, não sei. Ela não me é desconhecida. Uma mulher bonita nunca é uma desconhecida.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 103
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«MARIA
Não me trate por filha do coração nem por adorada filha da minha alma. São mimos a mais que me parecem humilhações.
GARRETT
Porquê, Maria? Que posso fazer se quando tosses é a mim que me dói o peito?
MARIA
Não gosto de tanto amor. Ele esconde arrependimento.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 87
Não me trate por filha do coração nem por adorada filha da minha alma. São mimos a mais que me parecem humilhações.
GARRETT
Porquê, Maria? Que posso fazer se quando tosses é a mim que me dói o peito?
MARIA
Não gosto de tanto amor. Ele esconde arrependimento.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 87
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«Eu não me levo muito a sério. É a melhor maneira de viver.
Aquele que se leva a sério está sempre numa situação de inferioridade perante a vida.»
Agustina Bessa-Luís
Aquele que se leva a sério está sempre numa situação de inferioridade perante a vida.»
Agustina Bessa-Luís
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quarta-feira, 14 de outubro de 2015
terça-feira, 13 de outubro de 2015
|| pensamentos ||
"Quando surge um verdadeiro génio, reconhecêmo-lo por este sinal: os imbecis congregam-se todos contra ele."
"Ninguém deve ter vergonha de dizer que errou; é uma forma de dizer que nos tornámos mais sábios do que eramos antes"
"Somos suficientemente religiosos para nos odiarmos, mas não o suficiente para nos amarmos uns aos outros."
-"Pensamentos"
- Jonathan Swift
- Jonathan Swift
«O ar cheirava a frutos apodrecidos, a incenso e a suor humano, pesado, repugnante.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 243
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 243
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«Há muitas inquietações que te consomem, és muito exigente, fazes muitas perguntas, torturas o coração.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 242
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segunda-feira, 12 de outubro de 2015
«RUBEK Não fazes a menor ideia de como funciona a cabeça de um artista.
MAJA Não sei como funciona a minha própria cabeça.
RUBEK (continua imperturbável) Nós, artistas, vivemos num ritmo, Maja...Por exemplo: vivi toda uma existência nos poucos anos em que tu e eu nos conhecemos. Descobri que não encontro felicidade no prazer ocioso. Para mim - e para os da minha espécie - a vida não é isso. Eu devo trabalhar e criar uma obra e depois outra - até ao fim da minha morte. (Procurando a melhor forma:) É por isso que já não posso continuar contigo, Maja...Já não só contigo.»
Henrik Ibsen. Peças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 46
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« SOTO MAIOR
Este homem é capaz de fazer chorar as pedras.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 75
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«(...) Levo a maior parte da vida no meu quarto, de roupão e chinelas de moiro, deitado no sofá, lendo pouco mas folheando muitos livros velhos.
AMORIM
É um bom retrato. Nem precisa de retoques. Garretismo puro.»Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 74/5
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«DEPUTADO
Está a ser incoerente.
SOTO MAIOR
Os homens apaixonados são incoerentes.
BORJACA
E ridículos. Eu, quando namorava a minha senhora, fartei-me de ser ridículo e não me importava.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 73
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«Às vezes os escritores escondem-se nas confissões doutro sexo para dizer as verdades mais dolorosas.»
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 72
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 72
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vate
nome masculino
1. indivíduo que faz vaticínios; profeta
2. poeta
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«(...) São má companhia os homens tristes. Tu sempre foste um homem triste. Até aos vinte anos devias ser triste como a noite.
GARRETT
Aos vinte anos já eu tinha reumatismo. O reumatismo é a tristeza dos ossos, não é uma doença. »
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 66
GARRETT
Aos vinte anos já eu tinha reumatismo. O reumatismo é a tristeza dos ossos, não é uma doença. »
Agustina Bessa-Luís. Garret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 66
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