segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

HÃO-DE DIZER
Da minha cidade o pior que os homens hão-de dizer é o seguinte:
Afastaste as criancinhas do sol e do orvalho,
E dos reflexos que sob o vasto céu se insinuavam na erva,
E da chuva temerária; puseste-as entre paredes
A trabalhar, abatidas e asfixiadas, em troca de pão e salários,
A comer pó pela garganta e a morrer de coração vazio
Por uns trocos de ordenado nalgumas, poucas, noites de sábado.


Carl Sandburg
(tradução de Vasco Gato)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

"Les amants réguliers"



«Os homens fizeram as suas abluções com a água do poço e rezaram em silêncio.»


Tahar Ben JellounDe olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 264

«Como diz o filósofo, é preciso que o coração se desfaça ou se torne de bronze.»


Tahar Ben JellounDe olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 263

«Nenhum clarão apareceu para apaziguar uma consciência perturbada. Nenhuma mão veio poisar no meu ombro. Torno a partir mudada. A descoberta das raízes é uma prova difícil. Como teria podido suspeitar a sua gravidade? Já não sou uma criança maravilhada com a vida. Tenho a certeza que o meu homem partiu. Ele tinha-me prevenido. Eu não acreditava. Encorajara-me a fazer aquela peregrinação. Devia saber que esse choque ia fazer-me reflectir melhor do que todos os discursos que ele me fazia. Descobri o fracasso, e as minhas lágrimas não servem de nada.»


Tahar Ben JellounDe olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 261

teoria do desenraizamento

EM BUSCA
"Nenhum jardim, nenhum olhar os prende.
Intactos nas paisagens onde chegam
Só encontram o longe que se afasta,
As aves estrangeiras que os trespassam,
E o seu corpo é só um nó de frio
Em busca de mais mar e mais vazio."

 Sophia de Mello Breyner Andresen. Obra poética 1.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O último dia

Estava o dia nublado. Ninguém se resolvia
soprava um vento ligeiro: «Não é o grego é o
siroco» disse alguém.
Alguns ciprestes esguios cravados na encosta e o
mar
cinzento com lagoas luminosas, mais além.
Os soldados apresentavam armas quando começou a chuviscar.
«Não é o grego é o siroco» a única resolução que
se ouviu.
Todavia sabíamos que na alba seguinte não nos restaria
mais nada, nem a mulher bebendo ao nosso lado o sono
nem a memória de que fomos homens alguma vez,
mais nada na alba seguinte.

«Este vento traz à mente a primavera» dizia a amiga
caminhando a meu lado olhando para longe «a primavera
que de repente caiu no inverno perto do mar fechado.
Tão inesperadamente. Passaram tantos anos. Como vamos
morrer?»

Uma marcha fúnebre vagueava por entre a chuva miudinha.
Como morre um homem? Estranho ninguém refletiu
nisso.
E os que pensaram nisso era como memória de crónicas
velhas
da época dos cruzados ou da - em Salamina - batalha
naval.
Todavia a morte é algo que é feito; como morre
um homem?
Todavia alguém ganha a sua morte, a sua própria morte,
que não pertence a nenhum outro
e este jogo é a vida.
Baixava a luz sobre o dia nublado, ninguém se
resolvia.
Na alba seguinte não nos restaria nada; tudo entregue;
nem sequer as nossas mãos;
e as nossas mulheres trabalhando para outros nos fontanários e
os nossos filhos
nas pedreiras.
A minha amiga cantava caminhando a meu lado
uma canção amputada:
«Na primavera, no verão, escravos...»
Lembrávamo-nos de mestres anciãos que nos deixaram
órfãos.
Uma casal passou a conversar:
«Fartei-me do crepúsculo, vamos para casa
vamos para casa acender a luz.»




Yorgos Seferis, "Poemas escolhidos" (de Diário de Bordo I
tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratisinis 
© Relógio d'água 


«Saio de um sonho para entrar num pesadelo,
como quem entra numa porta errada
e sente que devia arrepiar caminho
e que as forças lhe faltam
e lhe falta a coragem
ou apenas a vontade de acordar.
O que eu queria era sumir-me,
desaparecer de vez,
mas sem fazer o que o João Carlos fez.
Deixar-me simplesmente adormecer
e acordar do outro lado.»


Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 171

«Ele repousa, o morto, um
de tantos que nós,
que respiramos,
carregamos
sem disso darmos conta,
ele repousa
em qualquer cama
de qualquer quarto
desta ou de qualquer casa,
ele repousa
longo e frio,
só e frio,
grave e fino
como todos aqueles que,
tranquilos,
dos nossos olhares se retiraram
e de nós,
cautelosos,
se resguardam.

Ele repousa, o morto,
sob o selo de cera
da sua face morta,
talvez no mesmo leito
em que comigo me deito e,
sem conseguir dormir,
converso de mim para mim
nos meus lençóis de linho,
mortalhas
entre as quais
os amantes se abraçam,

(...)»



Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 168

(...)

«Ele repousa, o morto, ensanguentado,
tendo à direita da vista
a bala e o seu buraco
e a arma ainda quente
fumegando pólvora preta.»


Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 167

''nuvem sombreada''

ladainha

''sete punhais de prata espetados no coração''



(Relâmpagos violentos, trovões de fazer tremer as paredes)


e um relâmpago rachou a velha pedra
entre a estátua e a sua espada,
entrando pela pedra dentro,
arrastando-me com ele
para a longínqua loucura
dum profundo amor nocturno,
para o sonho onde entrei
naquela única vez
e do qual não regressei
nem sei se regressarei.


Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 137

«Para mal dos meus pecados,
sou daquelas que sofrem
de cada vez que tocam 
ou lhes tocam
nas chagas do passado.
Quem como eu
sofreu tanto em pequena,
tarde ou nunca se endireita.
Mas enquanto aqui estiver
sou obrigada a disfarçar,
a fingir que não é nada comigo,
a não dar parte de fraca.»



Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 125

«Será que só desejo o meu desejo
ou o desejo de qualquer mulher?»



Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 119
MOISÉS (sem lhe ligar)

Nem brinque com a rapariga,
não a desencaminhe, que ela
coitada já sofreu na vida.


Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 118

“This is the end 
Beautiful friend 
This is the end 
My only friend, the end.” 

- The Doors, "The End"

domingo, 28 de dezembro de 2014


ANDRÉ

Estás farto de saber que não precisas
desses rituais feudais comigo.


Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 114
MOISÉS

Pode chamar-me velho
mas não me chame cego,
que eu vejo até o que não quero.



Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 113

"84 Charing Cross Road"


zunzuns




«(Sai devagar sem dizer nada a André, enquanto a luz perde intensidade e um distante crepitar do incêndio aumenta, com gritos entrecortados pelo estalar das labaredas, por golpes de machado, pelo estrondo de troncos derrubados, por frases soltas de gente em luta contra o fogo; André, sozinho e com ar adoentado ou deprimido, senta-se numa cadeira em cujas costas encosta a cabeça; quando os ruídos de fogo e da luta contra ele diminuem, fecha os olhos durante uma pausa mais ou menos longa.»



Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 110
MARINA

Até parece
que foge de me encarar,
e eu pràqui fico
fechada nesta casa,
neste cheiro a decadência,
a bolachas há muito abandonadas em armários,
a compotas azedas e maçãs poentas,
doces borolentos,
reposteiros comidos pela traça,
alcatifas, arcas, corredores
imensos e carpetes gastas,
quartos abobadados e alcovas baixas,
crucifixos,
quadros escuros sem cor,
de molduras esfoladas...


Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 109

(Arminda, como se nem desse pela saída de André, termina o relato olhando o público, como se não falasse para ninguém)

ARMINDA

Quando sonhei
Já Samuel partira
sem me dizer para onde ia,
e ali me deixou
alagada em abandono e solidão,
seminua entre caóticos lençóis,
o sol lá fora alto
depois dessa noite de álcool
em que o meu desespero acumulado
extravasara.
Durante dias, ainda
me perseguiu uma distante,
fosca,
tremente
e fugidia
imagem,
a face de Samuel fixando-me atenta
e calada na difusa luz do quarto.»




Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 99

noites de geada


« ANDRÉ (atrás dela)

E se me deixasses dar-te 
o meu beijo matinal?

PIEDADE
Tenha juízo, menino.

ANDRÉ
Sonhei esta noite contigo.

PIEDADE
O menino é um felizardo,
que eu nem tenho tempo
para sonhar.

ANDRÉ
 Os sonhos não têm
nada que ver com o tempo,
têm que ver mas é
com os nossos desejos.»



Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 86

Textos Dramáticos


Peças de Regina Guimarães e Saguenail em parceria:
editado e levado à cena pela CTB em 1996

http://issuu.com/helastre/docs/__sis_triste/1

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014



«FILIPE - A minha mulher não perde nunca uma ocasião de me colocar mal.
A CONSCIÊNCIA DE FILIPE - Não reparaste que envelheceu de repente, como se a asa da morte a tivesse tocado?
FILIPE - Sempre foi uma histérica, uma exagerada que já teve de ser internada duas vezes.»


Fernanda de CastroA espada de Cristal. Edição da Sociedade Portuguesa de Autores. 1ª edição, Lisboa, 1990., p. 60

«PAULA - Ah, não, desta vez não conseguirás intimidar-me!
A CONSCIÊNCIA DE PAULA - Porque tremes então? Estás pálida, exausta, envelheceste desde ontem.
PAULA - Admiras-te? Nunca me deste um momento de liberdade, detestas que seja feliz!
A CONSCIÊNCIA DE PAULA - Chamas felicidade a essa inquietação, a esse mal estar, a essa espécie de desejo triste?
PAULA - Gosto dele e ele gosta de mim.
A CONSCIÊNCIA DE PAULA - Bem sabes que não é bastante.
PAULA - Talvez, mas estava farta, farta de silêncio e de solidão!
A CONSCIÊNCIA DE PAULA - Saiste de casa sem dizer uma palavra, sem deixar, sequer, duas linhas a despedir-te.
PAULA - A despedir-me de quem? A quem tenho de dar satisfações?
A CONSCIÊNCIA DE PAULA - A mim, pelo menos.»


Fernanda de CastroA espada de Cristal. Edição da Sociedade Portuguesa de Autores. 1ª edição, Lisboa, 1990., p. 44/5

«FILIPE - Imaginei-te tanto, sonhei-te tanto, que não te realizo ainda na terra, mas no espaço, como um pássaro no céu...E tenho medo que as asas te cresçam e que fujas da gaiola, de todas as gaiolas...

PAULA - Não tenho asas, meu pobre Filipe...Se fugir é a pé, que é como quem diz de comboio ou de camionete.

FILIPE - (apertando-a nos braços e beijando-a) Vês como é bom rir, dizer tolices?»



Fernanda de CastroA espada de Cristal. Edição da Sociedade Portuguesa de Autores. 1ª edição, Lisboa, 1990., p. 39/40


«FILIPE - (furioso) Cuidadinho, Francisca, a paciência tem limites! Se não podes estar calada, vai para a cozinha e fala com os tachos e com as panelas! Ouviste?»


Fernanda de CastroA espada de Cristal. Edição da Sociedade Portuguesa de Autores. 1ª edição, Lisboa, 1990., p. 36

toleima


«PAULA - Tenho medo, Filipe...medo de acordar amanhã com mais uma amargura, mais uma repugnância, e náusea de ti e de mim...Já não sei o que digo, tudo se confunde na minha pobre cabeça. Perdoa, mas nada posso contra esta horrível sensação...Tenho medo, medo da noite, medo do silêncio, medo das sombras...

FILPE - (pegando-lhe na mão e levando-a como uma criança) Vamos, amanhã já não haverá sombras.»


Fernanda de CastroA espada de Cristal. Edição da Sociedade Portuguesa de Autores. 1ª edição, Lisboa, 1990., p. 26

FILIPE - Cuidado a ferida é ainda recente, não a faças sangrar.


Fernanda de CastroA espada de Cristal. Edição da Sociedade Portuguesa de Autores. 1ª edição, Lisboa, 1990., p. 25

terça-feira, 23 de dezembro de 2014


«Mas contar acalma a alma,
limpa os enconsos da casa,
arruma o disforme e o amargo,
o doentio, o perturbado
pela memória da morte que me assalta
até que reparo numa porta entreaberta,
gente passa, não pára, quero entrar,
escancaro a porta com raiva
e é o que eu esperava, é ela
que me aguardava, oferta fácil, ela
na cama obscenadamente aberta, e contudo
que desilusão ou desespero
me entram na pele
e me agoniam? Que vasca, que terror, que
tédio?
Dispo-me, e ela pede que a mão magoe,
parece fatigada, ferida no sexo,
(...)»



Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 36/7
«sufocado de angústia, desejo, sentimentos
não meus, sentimentos de quem?
Sentimentos sem nome nem sujeito
na nocturna barafunda que me vai
por dentro da cabeça.»

Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 36


«tu tornaste palpável toda a tua ambição,
por isso foste forte até bem velho
e de repente,
ao subires as escadas nesse teu firme passo,
tiveste uma tontura e um desmaio
e, por um raivoso desconsolo no olhar
quando as palavras te faltavam,
vi que ias morrer,
que morrias arrogante e rápido,
sem dar parte de fraco,
e as tuas vaidades e apetites mundanais,
os teus cavalos e mulheres,
tudo passou, meu velho,
não volta e não sei
se te valeu a pena.»



Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 34

estevas - sargaço - rosmaninho


«Noites há
em que nele sinto
o cheiro a morte
e só descanso quando
a luz da madrugada
assusta e afasta
os meus fantasmas.»


Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 30
«Vieram acordar-me,
numa manhã como esta,
abriram só a fisga da janela
e disseram:

- a tiavó morreu
-qual tiavó?
- a louca

e neste seu único vinha todo
o alívio, o desprezo, o desamor.


Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 28
NATAL DE 1971
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em ser-se concebido,
em de um ventre nascer-se,
em por de amor sofrer-se,
em de morte morrer-se,
e de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
e torturados são
na crença de que os homens
devem estender-se a mão?

Jorge de Sena

Nocturno

"Os que nascem de noite
e, entre osso, vigiam
o fogo
os que olham os astros
e, oprimidos, respiram
em cavernas
os que vão viver apesar
da escuridão e nos olhos
a luz clandestina
acendem
os que não sonham, os que nascem
de noite
não vieram brincar: seu peito
guarda uma só palavra"

Poesia Brasileira do Século XX: dos modernistas à actualidade.

Carlito Azevedo/ Augusto Massi/ Manoel de Barros/ PauloLeminski/ Hilda Hilst/ Ferreira Gullar/ Haroldo de Campos/ Drummond de Andrade/ João Cabral de Melo Neto 

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014


PAULA - Ah, como seria maravilhoso esquecer, fechar a memória à chave e deixar cair a chave no fundo do lago! Mas tenho na cabeça um relógio que não pára, que constantemente dá horas...Horas de pensar, horas de lembrar, horas de sofrer...(passa a mão pela cabeça e pelos olhos) Estou cansada. Nunca vi uma noite assim, toda branca e azul.
FILIPE - (pegando-lhe na mão) Tens as mãos frias...



Fernanda de Castro. A espada de Cristal. Edição da Sociedade Portuguesa de Autores. 1ª edição, Lisboa, 1990., p. 11

domingo, 21 de dezembro de 2014

"Eu não sou eu nem o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro"

 Mário de Sá-Carneiro, 7, Fevereiro de 1914.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014



”Most people do not really want freedom, because freedom involves responsibility, and most people are frightened of responsibility.”


― Sigmund Freud, Civilization and Its Discontent

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014


«É a sua loucura que me reaproximou mais dele. A sua loucura e a sua dor.»

Tahar Ben JellounDe olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 253
«Amar é conhecer tudo do outro e aceitá-lo, ou, pelo contrário, ter a ilusão de saber tudo do outro e querer mudá-lo?, Ele pretende que não o amo porque não o compreendo. Faço tudo para o contrariar, isso impede-o de dormir profundamente. Contrariando-o, sacudo os seus anos  de solidão e egoísmo. Infelizmente, reage mal. Enerva-se, pragueja, grita, diz palavras grosseiras, toma calmantes de noite, escreve cartas de ruptura, queixa-se e geme permanentemente.»



Tahar Ben JellounDe olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 241

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

«Coração de pedra»

Há a morte.



«Há a morte. Mas ela não se demora nunca nestes lugares. Rapta ora uma criança, ora um velho. Os outros, deixa-os em paz, sem mesmo lhes fazer um sinal, sem lhes murmurar uma pequena música rangida. Levanta-se o corpo, lava-se e embrulha-se num lençol branco, depois coloca-se na própria terra rezando. Tudo se passa muito depressa. Apaga-se aquela passagem funesta e continua-se como se a  vida estivesse cheia de surpresas.»



Tahar Ben JellounDe olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 231

''um pedaço de espelho posto na borda da janela''

No one ever loved



«A fome é isso: bater-se com toda a força por uma coisa de nada.»

Tahar Ben JellounDe olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 220

«Foi assim que aprendi a brincar com as serpentes e os escorpiões. É muito difícil. É preciso fazer gestos precisos sem ter medo. O prazer consiste em impedir o escorpião de picar, ao desarmá-lo. Uma vez que esteja cansado, põe-se numa tigela com água e assiste-se ao seu afogamento.»



Tahar Ben JellounDe olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 220

boca cheia de pó

«só este vento violento e furioso é capaz de me dar asas.»


Tahar Ben JellounDe olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 217

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