«Mas contar acalma a alma,
limpa os enconsos da casa,
arruma o disforme e o amargo,
o doentio, o perturbado
pela memória da morte que me assalta
até que reparo numa porta entreaberta,
gente passa, não pára, quero entrar,
escancaro a porta com raiva
e é o que eu esperava, é ela
que me aguardava, oferta fácil, ela
na cama obscenadamente aberta, e contudo
que desilusão ou desespero
me entram na pele
e me agoniam? Que vasca, que terror, que
tédio?
Dispo-me, e ela pede que a mão magoe,
parece fatigada, ferida no sexo,
(...)»
Almeida Faria. Vozes da Paixão. Teatro. Editorial Caminho, 1998, Lisboa., p. 36/7