sábado, 24 de outubro de 2015


«IGOR - A palavra êxtase é de origem grega. Significa deixarmo-nos sair de nós mesmos.
O HOMEM MASCARADO - A tua erudição enfastia-me.»


José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 73

O mistério da tua boca.


«A INTERLOCUTORA (grande plano, a câmara filma-a por detrás, virada para o rosto do Narrador) - O mistério da tua boca. Deixa de a utilizar para contar histórias e dá-me um beijo.»


José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 73

«Conheço a tua elocução e conheço-te a ti.»

José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 64

a altura tonal da tua voz

« - A tua pulsação e a tua pressão sanguínea inquietavam-me. Pensei que poderias precisar de mim.»

José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 63

«Os cotovelos colados ao corpo, (...)»

José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 60
"Domingo pardo e sem gente
a não ser uns vultos rápidos
lisos sobre a rua
Cortinas agressivas, campainhas,
trote de cavalo, buzina,
«Vais lá hoje?», saltos a correr, jornais...
Além uma janela com as portas de vidro e as de pau cruzadas.

É cedo...
Por isso agora lentamente,
absortamente,
os primeiros anjos aparecem
e simples, nem mais sujos nem mais limpos,
vão a percorrer um campo de visão e vidro...
De quando em quando param...
as mãos espalmam-se-lhes baixas,
brancas oscilando
com um dedo a menos...
outros passos... costas... asas... e uma esquina.

Só os primeiros anjos
são anjos verdadeiros, totais...
Os outros que passarem
já encontram lembranças de hoje nos meus olhos...
E não poderão ter asas."

-"Post- Scriptum II"
- Jorge de Sena

Eduardo Lourenço fala sobre Jorge de Sena


O Labirinto da Saudade. Psicanálise Mítica do Destino Português, 1978 Lisboa, Publicações D. Quixote

“É essa reconciliação com a imagem de nós próprios que Eduardo Lourenço nos vem propor em Labirinto da Saudade. Imagem que temos de redescobrir primeiro, sem a distorcer, hiperbolizar ou diminuir, para nos reencontrarmos como povo numa hora em que a perplexidade e a confusão podem tornar Portugal “impensável e invisível”. Bem alto e obsessivamente proclama-se ali em vários tons: “Chegou o tempo de nos vermos tais quais somos, o tempo de uma nacional redescoberta das nossas verdadeiras riquezas, potencialidades, carências, condição indispensável para que algum dia possamos conviver connosco mesmos com um mínimo de naturalidade. (p.80). O livro apresenta um discurso crítico sobre as imagens que forjámos de nós mesmos. Essa imagiologia engloba tanto a imagem condicionante do agir colectivo – o nosso “esquema corporal” – como os inúmeros retratos delineados e impostos na consciência comum por aqueles que mais determinam as perspectivas da autognose colectiva. Artistas, poetas, romancistas e historiadores. A imagiologia portuguesa que o autor nos oferece, centra-se quase exclusivamente sobre imagens de origem literária e, em particular, sobre aquelas que, na época moderna, “alcançaram uma espécie de estatuto mítico, pela voga, autoridade e irradiação que tiveram ou continuam a ter” (p.14) […] Eduardo Lourenço elabora com mestria o “discurso crítico” das sucessivas imagens literárias, até aqui apresentadas, da maneira de ser português. Através dessa análise crítica não assistimos apenas a uma pura dissecação da imagologia portuguesa nas suas diferentes inflexões; somos iniciados também a uma espécie de enteroscopia delicada das qualidades imponderáveis deste Portugal perdido no labirinto de si mesmo. […] Pensados e escritos fora de Portugal, os textos deste livro beneficiaram, sem dúvida, do distanciamento do seu autor, para lá do aparente excesso de fixação na temática agitada. Essa circunstância ajudou Eduardo Lourenço a ajuizar, com mais sangue-frio intelectual, o reverso dos fenómenos e das situações vividos no Portugal distante. […] Por todo o mundo de questões que levanta, o livro de Eduardo Lourenço tem sido qualificado como um dos mais importantes publicados sobre Portugal, de 1974 para cá. Não hesitamos em reconhecer-lhe idêntica importância, e em salientar, além disso, a sua flagrante actualidade num momento em que o ser e o destino de Portugal a todos nos preocupam e constituem objecto de reflexão de alguma “intelligentzia” que escapa à abulia e ao demissionismo suicidário”.
 
In Ribeiro da Silva “À procura da nossa imagem no Labirinto da Saudade”, Brotéria – Agosto-Setembro 1979.
“As emoções são cada vez mais intensas. Logo de seguida impõe-se “A Primavera”, também de Botticelli, e é este o momento de Eduardo Lourenço falar do Renascimento como forma ideal do destino. Se o Renascimento, diz, “se converteu num mito pictórico do Ocidente, não o deve apenas ao génio plástico das suas criações, mas à visão que nelas se plasmou, que não foi e não é outra que não seja a reinvenção do paraíso. Em versão florentina, a “Primavera” de Botticelli. Em versão veneziana, a “Vénus de Urbino” de Tiziano. Temos aí todo o percurso que vai do Adão e Eva expulsos do Paraíso, de Masaccio, a esta metamorfose do amor divino em erótica mais ou menos platónica. Mas também do amor antigo em paradigma de todos os amores futuros” 

Ao deter-se em frente ao quadro de Botticelli numa espécie de religiosidade contemplativa, deteta-se um especial brilho vertido sobre a face de Eduardo Lourenço. Há pouca luz na sala. Ao fundo, uns técnicos do museu trabalham numa nova foto de um óleo de Hugo van der Goes. A “Primavera” enfeitiça. Lourenço fixa-se na deusa das flores, ao lado de Vénus, e deixa as mãos numa quietude comprometida, suspenso da beleza daquele rosto imbuído de uma feminilidade extrema. O corpo do ensaísta petrifica na sua imobilidade, mas tudo quento nele é espírito divaga pela sensualidade contida naquela cena. Mesmo se tivesse todas as manhãs do mundo para a contemplar, jamais conseguiria beber por inteiro o arco-íris de sensações, sentidos e sentimentos nela contidos.” 

Valdemar Cruz “Eduardo Lourenço e o regresso à inocência nos Uffizi em Florença”, in The Economist, Outono 2010, p.

O Espelho Imaginário Pintura, Anti-Pintura, Não-Pintura, 1981 Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda

“Penso que muitos de nós entendem ter uma dívida para com Eduardo Lourenço. Eu tenho. Uma dívida das que não se pagam, que assenta mais numa consciência ética que num dever mensurável em diferença ou quantidade. O mínimo que se pode dizer é que ele nos tem dado tudo o que um ser humano pode dar aos seus contemporâneos: reflexão contante e partilhada, empenho afectivo e sensibilidade às emoções, cometimento do cidadão desperto que nunca enjeita solicitações, mesmo se incómodas, para se manifestar; e, sobretudo – e de que forma! – um ensino que é exemplo e é prática de agir pensando, ou de pensar agindo. 

Devemos-lhe, fundamentalmente, ao longo de meio século, ter-nos vindo ajudando a pensar, a ver melhor as coisas – e essa lição colhi-a num dos seus livros menos conhecidos e mais fascinantes, O Espelho Imaginário, no qual faz do discurso sobre o visual um suporte para a consideração de que a arte é parte integrante e inalienável do social. Com um pensamento que se apoia em mestres, e nos faz pressupor que sem o conhecimento os clássicos a vida é pouca, ele cria o seu próprio modelo, que é o de uma filosofia colhida na generalidade das Ciências Humanas, em que arte e comportamento não se dissociam.” 


Maria Alzira Seixo “Lourenço, espelho de contemporâneos (poesia, riso e sociedade)” in Relâmpago, revista de poesia, n.º 22, 4/2008, pp.145-46.

Poesia e Metafísica Camões, Antero, Pessoa, 1983 Lisboa, Sá da Costa Editora


«Inverosímil, dizias?


José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 55

dia ensolarado

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

"Não perguntem nada: as razões são longas.
Não perguntem nada: as razões são tristes.
Não perguntem nada: nós estamos contra.
E talvez perdidos.

E talvez perdidos."

-"Os Quatro Cantos do Tempo"
- David Mourão- Ferreira
- Guimarães Editora, 1963 (1a edição)

domingo, 18 de outubro de 2015


«O homem da máscara veneziana acende um cigarro. Leva-o aos lábios de cartão. Um eclipse de fumaça branca liberta-se.»

José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 49

«Morrer de Amor em 1880 em S. Miguel.»


"O Actor" de Herberto Hélder:


O actor acende a boca. Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor pôe e tira a cabeça
de búfalo.
De veado.
De rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora.
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.
O que rutila, o que arde destacadamente
na noite, é o actor, com
uma voz pura monotonamente batida
pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca
e retira
o adjectivo da coisa, a subtileza
da forma,
e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã com sua
divagação de maçã.
Fabrica peixes mergulhados na própria
labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.
Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus, e
dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor.
Como a unidade do actor.
O actor é um advérbio que ramificou
de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente
do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,
e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.
Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção
da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto.
Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com sua ossada de base,
com suas tantas janelas,
as ruas -
o actor com a emotiva publicidade.
Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.
Em estado de graça. Em compacto
estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomina.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.
O actor em estado geral de graça.

Herberto Hélder

«ALLMERS   (lentamente, com um olhar duro)   Daqui por diante, deve haver sempre uma barreira entre nós.»

Henrik IbsenPeças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 207

USA. Tulare, California. 2014. Birds. Tulare has a population of 59,278 and 21.4% live below the poverty level. Matt Black is the 2015 recipient of the W. Eugene Smith Memorial Award



«RITA (em tom de reprovação)    Tu não devias ter semeado a dúvida no meu espírito.»

Henrik IbsenPeças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 204
« E agora aquilo a que chamamos sofrimento, luto, é apenas remorso, o remorso que nos rói. Nada mais.»


Henrik IbsenPeças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 204

«Roído por uma dor dilacerante...»


Henrik IbsenPeças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 196

«Ela atraiu-o para o abismo.»

Henrik IbsenPeças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 192

«A vida, a existência, o destino não podem ser completamente desprovidos de sentido.»

Henrik IbsenPeças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 191

manhosices

panhonhice

Ora, neste nosso tempo de ruídos, grunhidos e seringas palrantes há, mais que a tendência, o imperativo categórico de considerar que dizer muito, palrar carradas de tanto, entornar-se por inúmeros púlpitos, palcos e pedestais, é dizer alguma coisa e é ser muito livre a todas as horas e minutos. Confunde-se liberdade com mera incontinência crónica; mascara-se opinião com mero despejo; trafica-se a mais gritante ignorância e, não raro, a mais rotunda falta de educação ou resquício de vértebra moral como sendo expressão de alguma coisa. Na verdade, a expressão duma ausência não exprime coisa nenhuma nem significa nada que seja. Assim sendo, não é livre nem deixa de o ser: pura e simplesmente, não é. É zero ou abaixo disso. E todavia, protagoniza, às escâncaras, o mais ubíquo dos fenómenos actuais, com devido patrocínio, impingência e promoção de meia dúzia de agências globosas. Mais até que avanço desbordante, adquire já contornos de enxurrada. "Podeis dizer tudo o que vos apeteça, desde que não digais coisa nenhuma", constitui o lema. É a cultura do solta-aleive como antídoto para a sempre indesejável inflamação da inteligência. Castra-se hoje a mente através da saturação noticiosa, como dantes se procurava exaurir através da escassez. Só que com bem maior perversidade e eficácia. A vítima da logocastração dispensa até torcionários sempre dispendiosos: automutila-se. Acaba esterilizada no seu próprio verbo hipersalivado. Sucumbe ao seu próprio vesúvio emissor. Enquanto palra, não pensa. Enquanto debita, não reflecte. Enquanto pasta notícia, ou gargareja sensação, ou cospe palpite, não digere (nem, vagamente, assimila). Quanto mais imerge no palanfrório desatado, mais se impermeabiliza a qualquer tipo de ponderação, equilíbrio ou ideia. Em bom rigor, nem opiniões ostenta, porque, à falta de esqueleto próprio, nem cabide ortopédico tem onde pendurá-las. Se tanto, resume-se ao esfregão mental, à amálgama de desperdícios de plantão a óleos, sordidezes e gorduras de garagem ou estação de serviço mediática. Porque se não despeja, convencem-no todos os dias, não existe. Mas se não absorve, pior ainda: não tem.
Contudo, este primado da quantidade não impera apenas no universo mediático: a própria literatura, a música, as artes enfim, também já cumprem os seus preceitos campeões. Ainda mais formatada e passevitada que a "expressão jornalística" anda a "expressão artística". Confundem-se até, expressão política, jornalística, artística e até científica, num puré uníssono, numa papa milupa comum. Cumprem o mesmo critério editorial: os mesmos que determinam quem escreve nos jornais ou aparece nas televisões, condiciona e filtra quem escreve nos romances, nos compêndios e CDs, ou seja, quem é catapultado nas editoras e embandeirado nos media. Mas não se pense que são apenas os donos do harém quem torce e distorce a seu bel-prazer: os próprios eunucos policiam-se, emulam-se, lambuzam-se, envazelinam-se, promovem-se e catam-se uns aos outros. No fundo, tudo se degrada doravante a mera xaropada publicitária, e não é apenas o jornal que se relaxa a pasquim imarcescível: é a própria linguagem literária (onde podemos incluir a "científica", na sub-cave) que estiola ao nível da mera bacoralalia efervescente de slogans, receitas, telegramas e anedotas. De tal modo que, se a ficção mediática raramente excede a prosopopeia ranhosa, já a literária, por seu turno, sem vergonha nem remorso, desalambica-se pelo algeroz duma contínua onomatopeia dodot.



às escâncaras


coutada


nome feminino
1. terra defesa
2. mata onde se criava caça para os reis e senhores ou seus convidados

parlapatão

Diário de Cefaleia


[sábado à noitinha]
Acolher a dor antes dos trinta revela-se amoral,
i.e., ninguém prepara o tormento, 
a inaptidão generalizada faz-nos pares,
senhorios deste condomínio de osso,
insuportável e tornado crónico.
Que se foda a terapêutica, enfermo; fé na resiliência.

(inédito.)

Cláudia Lucas Chéu


sábado, 17 de outubro de 2015



«Em mim, também; coisa nenhuma
pudera até então ser entendida.»


Pedro TamenRetábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 149
«Agora são lumes o que escorre?
Ou céu parado e nervo
entrega a tua boca?»


Pedro TamenRetábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 147

«Agora eu estou em ti e tu em mim.»


Pedro TamenRetábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 146

«tu sentas-te ao meu lado e o trigo reverdece.»


Pedro TamenRetábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 140

« - Amor, é amar.»


Pedro TamenRetábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 139

Desires in the dark


''mas tanto, por tão pouco, e acabou.''


Pedro TamenRetábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 134

«Se dia, porque dia, como dia,
se agora, mas ainda, com que foi,
palavras, cumprimento, anoitecia,
mas nada, porque nada, porque dói.»



Pedro TamenRetábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 134

«ALLMERS (aproxima-se dela)   Rita! Eu suplico em nome da tua felicidade e da minha, não te entregues a maus pensamentos.»

Henrik IbsenPeças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 188

Tu tens uma natureza terrivelmente ciumenta


«RITA    Se eu descobrir que te sou indiferente, que tu já não me amas como dantes.
ALLMERS   Mas Rita: qualquer relação humana muda com o passar dos anos. É uma lei à qual todos estamos submetidos.
RITA      Eu não! Nem tu. Não quero saber de mudanças em ti. Não quero, já disse, Alfred! Quero conservar-te só para mim.
ALLMERS  (com um olhar preocupado)   Tu tens uma natureza terrivelmente ciumenta.»



Henrik IbsenPeças escolhidas 1. O pequeno Eyolf. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 186/7

«ALLMERS (encolhe os ombros)    De que vale exigir, Rita? O coração tem que ser livre para poder entregar-se.»

Henrik IbsenPeças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 184

««A felicidade, quando chega de repente, é como as chuvas de Primavera.»

Henrik IbsenPeças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 181

passeiozinho


«BORGHEIM    Ah! A Senhora conduz o seu marido com rédea curta.
RITA                      Não abdico dos meus direitos. E depois, tudo tem um fim.»

Henrik IbsenPeças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 179

homem bem-apessoado

Natalia LL, Mirror, 1964, black and white photograph on photographic paper, courtesy the artist and lokal_30


«Eu quero criar na alma dele o sentimento da felicidade.»

Henrik IbsenPeças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 178

«EYOLF   Diga-me, Tia, a Tia não acha que ela tem um nome estranho, a mulher dos ratos?
ASTA         As pessoas chamam-lhe assim porque ela anda pelos campos e pelas praias a expulsar os ratos.
ALLMERS    Acho que o verdadeiro nome dela é Sra. Lupus.
EYLOF          Lupus é lobo em latim!»


Henrik IbsenPeças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 169

«GIOVANNA (compreende que dormira apoiada no vizinho - '' I'm so sorry.'' (Com um sorriso doce, entre a afirmação e a interrogação.) ''You were not here when I fell asleep..''

JEAN (mentindo) - ''And you were not so close to me when I  fell asleep myself. It's amazing. We met in dreams befores we spoke to each other.''


José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 20


«A mão da mulher, branca, de unhas polidas e dedos longos, quase roça a do homem. Ele consegue, sem a acordar, que as suas mãos se toquem. (Plano americano dos dois.) O contacto fá-la estremecer, mas ela não se afasta. Pelo contrário, aperta-se mais contra ele.»



José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 19

Natalia LL, Post-consumer Art, 1975, colour photograph on paper, 50.5 x 60.5 cm, the collection of the Museum of Contemporary Art in Krakow (MOCAK)



«Todas as coisas são um centauro. Se assim não fosse o mundo apodreceria, estéril e inerte.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 278
«O espírito é uma ave carnívora que jamais cessa de ter fome, que devora a carne e a faz desaparecer, assimilando-a.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 277

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

''justificas-te choramingando''

« - Cheguei ao fim e no fim de cada caminho encontrei sempre o abismo.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 261

Romy Schneider in Boccaccio 70


''haustos primaveris''

«Deus é um estremecimento; uma doce lágrima.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 255

inane


1. que não contém nada no interior; vazio; oco
2. figurado vão; baldado
3. figurado fútil

iluminações nocturnas


«Passam fome e nunca comem até à saciedade (...)»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 253
«Espasmo, ou esperma? Gozo, ou juízo? Os meus segredos, ou a nossa ciência colectiva?»

José Morais. A beleza e a felicidade. Fantasia Científica. Campo das Letras, Porto, 2003., p. 13

desobediência exemplar

«Uma história é apenas a máscara de outra história, portanto a máscara de outra máscara. O homem retira a sua máscara. Outra máscara aparece por baixo da primeira.»

José Morais.

pertinácia

«Esta garganta sem árvores (...)


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 249

"Soube, então, Margarida, que não te podia escrever mas jurei enterrar as minhas cartas junto à raiz das roseiras porque «pelas raízes das roseiras», segundo um do segredos de Alice, «passa o mensageiro»."

-"Na Casa de Julho e Agosto"
- Maria Gabriela Llansol

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

(...)

«condena os nossos pés, esmaga-nos, acaba.»


Pedro TamenRetábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 115

«                                               É nas unhas mais sujas
que o espelho nos reflecte e nos abate o medo.»


Pedro TamenRetábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 113

«(...)
no verde-mar dos dedos,
na loucura dos medos,
na perfeição do ramo está a pedra.»

Pedro TamenRetábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 96

I

Agora muitos montes; e o rio
se levanta e corre nos intervalos
dos gestos. Saber sentir o frio
de todos os ribeiros é amá-los.

Agora é ir correndo os dedos
pela pele; abrir o peito
a todos os cuidados e segredos,
amar-me já refeito.

Agora perder tudo; ter aberta 
a carne de aventura naufragada.
Agora receber e estar alerta,

agora ter razão na mão molhada.
Agora desnudar a lama certa
e esperar vê-la escorrida e bafejada.


Pedro TamenRetábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 95

«Não há montanhas se não há palavras.»


Pedro TamenRetábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 83
[Eu creio que esta mulher dormiu descoberta
Num dia em que nevava.
Uma escama de neve escorregou-lhe para a boca
E assim no seu seio foi concebido o menino.]


[Toma cuidado, então, senhora, porque se sabe
Que, nascido o menino, quando o sol lhe der
Se voltará em líquido.]

(De um mistério medieval inglês)

''mar que nós sujámos''


Pedro TamenRetábulo das Matérias (1956-2001). Gótica, 2000, Lisboa., p. 65

Rosal

Fotograma do filme ''Young couple'', projecto ''An impossible wardrobe for the invisible'' (2011) LARA TORRES



«  GARRETT
(...) Já nos conhecemos da embaixada. Estava de verde e com fitas pretas no cabelo. Também nos pulsos tinha fitas pretas. ''A que veste de verde com a sua beleza se atreve'', pensei eu.

AMORIM
Quem são?

GARRETT
Ele, não sei. Ela não me é desconhecida. Uma mulher bonita nunca é uma desconhecida.»



Agustina Bessa-LuísGarret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 103
«MARIA
Não me trate por filha do coração nem por adorada filha da minha alma. São mimos a mais que me parecem humilhações.

GARRETT
Porquê, Maria? Que posso fazer se quando tosses é a mim que me dói o peito?

MARIA
Não gosto de tanto amor. Ele esconde arrependimento.»


Agustina Bessa-LuísGarret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 87
«Eu não me levo muito a sério. É a melhor maneira de viver.
Aquele que se leva a sério está sempre numa situação de inferioridade perante a vida.»


Agustina Bessa-Luís

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

terça-feira, 13 de outubro de 2015

|| pensamentos ||


"Quando surge um verdadeiro génio, reconhecêmo-lo por este sinal: os imbecis congregam-se todos contra ele."
"Ninguém deve ter vergonha de dizer que errou; é uma forma de dizer que nos tornámos mais sábios do que eramos antes"
"Somos suficientemente religiosos para nos odiarmos, mas não o suficiente para nos amarmos uns aos outros."

-"Pensamentos"
- Jonathan Swift

«O ar cheirava a frutos apodrecidos, a incenso e a suor humano, pesado, repugnante.»



Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 243

«Há muitas inquietações que te consomem, és muito exigente, fazes muitas perguntas, torturas o coração.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 242

segunda-feira, 12 de outubro de 2015


«RUBEK   Não fazes a menor ideia de como funciona a cabeça de um artista.
MAJA         Não sei como funciona a minha própria cabeça.
RUBEK  (continua imperturbável)   Nós, artistas, vivemos num ritmo, Maja...Por exemplo: vivi toda uma existência nos poucos anos em que tu e eu nos conhecemos. Descobri que não encontro felicidade no prazer ocioso. Para mim - e para os da minha espécie - a vida não é isso. Eu devo trabalhar e criar uma obra e depois outra - até ao fim da minha morte. (Procurando a melhor forma:) É por isso que já não posso continuar contigo, Maja...Já não só contigo.»


Henrik IbsenPeças escolhidas 1. Quando nós, os mortos, despertamos. Edições Cotovia, Lda, Lisboa, 2006., p. 46

«                                                                   SOTO MAIOR
Este homem é capaz de fazer chorar as pedras.»


Agustina Bessa-LuísGarret O Eremita Do Chiado. Guimarães Editores, 1998, Lisboa., p. 75

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