terça-feira, 20 de outubro de 2009
Devora-me, luz que gritas na sombra!
Devora-me, luz que gritas na sombra!
Ilumina-me estas mãos feitas de pedra;
sangra os meus versos de amor e, tão
somente neles, deita-te para dormir.
Seguirei por estas linhas tortas,
para dançar junto à tua cintura;
dar-te-ei uma maçã, para abrirmos
num dia de Sol, e fecharei
todas as portas que a Morte abre
para receber o teu corpo.
Ilumina-me estas mãos feitas de pedra;
sangra os meus versos de amor e, tão
somente neles, deita-te para dormir.
Seguirei por estas linhas tortas,
para dançar junto à tua cintura;
dar-te-ei uma maçã, para abrirmos
num dia de Sol, e fecharei
todas as portas que a Morte abre
para receber o teu corpo.
sábado, 17 de outubro de 2009
O Temor da Morte
I
Que a morte me desmembre em outro, e eu fique
Ou o nada do nada ou o de tudo
E acabo enfim esta consciência oca
Que de existir me resta.
Sinto um tropel esfuziante e quente
De propósitos-sombras, e de impulsos
Transbordando do cálix da consciência
Para cima da vida...
II
....só um sentimento
De desejar eterna inquietação,
Ambição vaga de fechar os olhos
E vaga esp'rança de não mais abri-los.
Ânsia cansada de não mais viver;
Meu cérebro esvaído não lamenta
Nem sabe lamentar. Tumultuárias
Ideias mistas do meu ser antigo
E deste, surgem e desaparecem
Sem deixar rastos à compreensão.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Já deslumbradas, vãs, incoerentes
Amargas,[vagas] desorganizações
Que nem deixam sofrer. Vem pois, oh Morte!
Sinto-te os passos!Sinto-te! O teu seio
Deve ser suave e ouvir o teu coração
Como uma melodia estranha e vaga
Que enleva até ao sono e passa o sono.
Nada. Já nada [passa] - nada, nada...
Vai-te, Vida!
III
Ah, o horror de morrer!
E encontrar o mistério frente a frente
Sem poder evitá-lo, sem poder...
IV
Gela-me a ideia de que a morte seja
O encontrar o mistério face a face
E conhecê-lo. Por mais mal que seja
A vida e o mistério de a viver
(...)
Fernando Pessoa
in Poemas Dramáticos
Edições Ática
Que a morte me desmembre em outro, e eu fique
Ou o nada do nada ou o de tudo
E acabo enfim esta consciência oca
Que de existir me resta.
Sinto um tropel esfuziante e quente
De propósitos-sombras, e de impulsos
Transbordando do cálix da consciência
Para cima da vida...
II
....só um sentimento
De desejar eterna inquietação,
Ambição vaga de fechar os olhos
E vaga esp'rança de não mais abri-los.
Ânsia cansada de não mais viver;
Meu cérebro esvaído não lamenta
Nem sabe lamentar. Tumultuárias
Ideias mistas do meu ser antigo
E deste, surgem e desaparecem
Sem deixar rastos à compreensão.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Já deslumbradas, vãs, incoerentes
Amargas,[vagas] desorganizações
Que nem deixam sofrer. Vem pois, oh Morte!
Sinto-te os passos!Sinto-te! O teu seio
Deve ser suave e ouvir o teu coração
Como uma melodia estranha e vaga
Que enleva até ao sono e passa o sono.
Nada. Já nada [passa] - nada, nada...
Vai-te, Vida!
III
Ah, o horror de morrer!
E encontrar o mistério frente a frente
Sem poder evitá-lo, sem poder...
IV
Gela-me a ideia de que a morte seja
O encontrar o mistério face a face
E conhecê-lo. Por mais mal que seja
A vida e o mistério de a viver
(...)
Fernando Pessoa
in Poemas Dramáticos
Edições Ática
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Tinha um corpo de
lua
pelo lado da cor e do frio
em desiquilíbrio no fio da faca
do orgasmo
Maria Teresa Horta
in Os Anjos
Litexa, 1983
lua
pelo lado da cor e do frio
em desiquilíbrio no fio da faca
do orgasmo
Maria Teresa Horta
in Os Anjos
Litexa, 1983
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São os anjos
apenas
com o corpo dos homens
num corpo de mulher
e um ligeiro crepitar
de asas
na altura dos ombros.
Maria Teresa Horta
in Os Anjos
Litexa, 1983
apenas
com o corpo dos homens
num corpo de mulher
e um ligeiro crepitar
de asas
na altura dos ombros.
Maria Teresa Horta
in Os Anjos
Litexa, 1983
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sexta-feira, 16 de outubro de 2009
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Apreensões (1860)
Quando as nuvens flutuando sobre recuados montes
Tempestuosas ondulam no tardio Outono sombrio,
E o horror invade o ensopado vale,
E o pináculo cai estrondoso na cidade,
Medito nas dores do meu país -
A tempestade irrompendo da vastidão do Tempo
Na mais bela esperança do mundo ao mais ignóbil crime do homem
(unida.
O lado obscuro da Natureza agora atento -
(Ah, exclamação optimista de desencanto plena) -
Uma criança pode ler o taciturno cume
D´aquela solitária e negra montanha.
Com brados as correntes descem os desfiladeiros,
E tempestades formam-se sob a tempestade por nós sentida:
A cicuta agita-se na viga, o carvalho na quilha.
Herman Melville
in Poemas
Assírio & Alvim, 2009
Tradução de Mário Avelar
Tempestuosas ondulam no tardio Outono sombrio,
E o horror invade o ensopado vale,
E o pináculo cai estrondoso na cidade,
Medito nas dores do meu país -
A tempestade irrompendo da vastidão do Tempo
Na mais bela esperança do mundo ao mais ignóbil crime do homem
(unida.
O lado obscuro da Natureza agora atento -
(Ah, exclamação optimista de desencanto plena) -
Uma criança pode ler o taciturno cume
D´aquela solitária e negra montanha.
Com brados as correntes descem os desfiladeiros,
E tempestades formam-se sob a tempestade por nós sentida:
A cicuta agita-se na viga, o carvalho na quilha.
Herman Melville
in Poemas
Assírio & Alvim, 2009
Tradução de Mário Avelar
Para que venham
Uma vela, mais não. A sua luz ténue
é mais adequada, mais brando te assombras
quando vierem do Amor, quando vierem as Sombras.
Uma vela, mais não. Para não ter hoje à noite
a alcova grande iluminação. Dentro do enleio inteiro
e da sugestão, e com a pouca luz -
assim no enleio hei-de ter visões
para que venham do Amor, para que venham as Sombras.
Konstandinos Kavafis
in Poemas e Prosas
Relógio d´Água, 1994
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis
é mais adequada, mais brando te assombras
quando vierem do Amor, quando vierem as Sombras.
Uma vela, mais não. Para não ter hoje à noite
a alcova grande iluminação. Dentro do enleio inteiro
e da sugestão, e com a pouca luz -
assim no enleio hei-de ter visões
para que venham do Amor, para que venham as Sombras.
Konstandinos Kavafis
in Poemas e Prosas
Relógio d´Água, 1994
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis
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Teatro de Sídon (400 d.C.)
Filho de cidadão íntegro - sobretudo, formoso
adolescente de teatro, apreciado de vários modos,
às vezes componho em língua grega
versos assaz audaciosos, que faço circular
muito às escondidas, claro - deuses! para que não os vejam
os vestidos de pardo, os parlantes de moral -
versos do prazer excelente, encaminhado
para amor estéril e desaprovado.
Konstandinos Kavafis
in Poemas e Prosas
Relógio d´Água, 1994
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis
adolescente de teatro, apreciado de vários modos,
às vezes componho em língua grega
versos assaz audaciosos, que faço circular
muito às escondidas, claro - deuses! para que não os vejam
os vestidos de pardo, os parlantes de moral -
versos do prazer excelente, encaminhado
para amor estéril e desaprovado.
Konstandinos Kavafis
in Poemas e Prosas
Relógio d´Água, 1994
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis
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terça-feira, 13 de outubro de 2009
«Um tão inexplicável excesso de mágoa absurda, uma dor tão desolada, tão órfã, tão/metafisicamente/minha, (...)»
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
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Livro do desassossego
«O homem vulgar, por mais dura que lhe seja a vida, tem ao menos a felicidade de a não pensar. Viver a vida decorrentemente, exteriormente, como um gato ou um cão - assim fazem os homens gerais, e assim se deve viver a vida para que possa contar a satisfação do gato e do cão.
Pensar é destruir. O próprio processo do pensamento o indica para o mesmo pensamento, porque pensar é compor. Se os homens soubessem meditar no mistério da vida, se soubessem sentir as mil complexidades que espiam a alma em cada pormenor da acção, não agiriam nunca, não viveriam até. Matar-se-iam de assustados, como os que se suicidam para não ser guilhotinados no dia seguinte.»
Pensar é destruir. O próprio processo do pensamento o indica para o mesmo pensamento, porque pensar é compor. Se os homens soubessem meditar no mistério da vida, se soubessem sentir as mil complexidades que espiam a alma em cada pormenor da acção, não agiriam nunca, não viveriam até. Matar-se-iam de assustados, como os que se suicidam para não ser guilhotinados no dia seguinte.»
Fernando Pessoa
in Livro do Desassossego, 1ª parte
Livros de bolso europa-améria
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Penumbra
É com saudade que te (re)lembro ó mestre!
Tantas foram as manhãs de sol, a voz, o acorde dessas aprendizagens que não tinham fim, mesmo quando, terminava o tempo de aula no anfiteatro.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
«Não sei o que quero ou o que não quero. Deixei de saber querer, de saber como se quer, de saber as emoções ou os pensamentos com que ordinariamente se conhece que estamos querendo, ou querendo querer. Não sei quem sou ou o que sou. Como alguém soterrado sob um muro que se desmoronasse, jazo sob a vacuidade tombada do universo inteiro. E assim, vou, na esteira de mim mesmo, até que a noite entre e um pouco do afago de ser diferente ondule, como uma brisa, pelo começo da minha impaciência de mim.
Ah, e a lua alta e maior destas noites plácidas, mornas de angústia e desassossego! A paz sinistra da beleza celeste, ironia fria do ar quente, azul negro enevoado de luar e tímido de estrelas.»
Fernando Pessoa
in Livro do Desassossego 1ª parte
Livros de bolso europa américa
Ah, e a lua alta e maior destas noites plácidas, mornas de angústia e desassossego! A paz sinistra da beleza celeste, ironia fria do ar quente, azul negro enevoado de luar e tímido de estrelas.»
Fernando Pessoa
in Livro do Desassossego 1ª parte
Livros de bolso europa américa
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Antes de Começar*
O BONECO - Já por várias vezes fomos os dois juntos dentro da mesma algibeira!...
A BONECA - É verdade!...Nesse tempo não sabia que tu eras como eu...
O BONECO - É verdade!...nem eu!...e podíamos ter falado tanto, dentro da algibeira!...Fartei-
me de puxar por ti!...
A BONECA - Eu não sabia que eras tu!
O BONECO - Era eu!
A BONECA - Porque não me disseste ao ouvido?
O BONECO - Eu não sabia que tu ouvias!
A BONECA - Pois ouvia!
O BONECO - E tu nunca te aborrecias de estar sempre na posição em que o Homem te tinha dei-
xado?
A BONECA - Punha-me a pensar...Pensei muito! Pus por ordem todas as coisas que aconteceram
comigo...Sei tudo de cor...
O BONECO - Conta, conta o que sabes!...
A BONECA - Só há uma coisa que eu não sei e que também aconteceu comigo...
O BONECO - O que foi?
A BONECA - Não sei explicar a razão por que são tão pequenas as pessoas que vêm todas as
noites ver o espectáculo!...
O BONECO - (Ri.) São assim tão pequenas porque ainda não chegaram a grandes...As pessoas pequenas chamam-se crianças.
A BONECA - Isso não sabia eu...Era a única coisa que eu não tinha sido capaz de compreender!...Via umas pessoas maiores e outras mais pequenas, e não sabia a razão.
O BONECO - Ah! Ah! Ah!
A BONECA - Naturalmente estás-me a enganar?...
O BONECO - Não te estou a enganar, não...estou a rir-me do que terás para contar se não sabias
que as pessoas antes de serem grandes começam por ser pequeninas!...(Ri.)
Almada Negreiros
in Antes de Começar
Colecção Baratinha, Raiz Editora, 1995
A BONECA - É verdade!...Nesse tempo não sabia que tu eras como eu...
O BONECO - É verdade!...nem eu!...e podíamos ter falado tanto, dentro da algibeira!...Fartei-
me de puxar por ti!...
A BONECA - Eu não sabia que eras tu!
O BONECO - Era eu!
A BONECA - Porque não me disseste ao ouvido?
O BONECO - Eu não sabia que tu ouvias!
A BONECA - Pois ouvia!
O BONECO - E tu nunca te aborrecias de estar sempre na posição em que o Homem te tinha dei-
xado?
A BONECA - Punha-me a pensar...Pensei muito! Pus por ordem todas as coisas que aconteceram
comigo...Sei tudo de cor...
O BONECO - Conta, conta o que sabes!...
A BONECA - Só há uma coisa que eu não sei e que também aconteceu comigo...
O BONECO - O que foi?
A BONECA - Não sei explicar a razão por que são tão pequenas as pessoas que vêm todas as
noites ver o espectáculo!...
O BONECO - (Ri.) São assim tão pequenas porque ainda não chegaram a grandes...As pessoas pequenas chamam-se crianças.
A BONECA - Isso não sabia eu...Era a única coisa que eu não tinha sido capaz de compreender!...Via umas pessoas maiores e outras mais pequenas, e não sabia a razão.
O BONECO - Ah! Ah! Ah!
A BONECA - Naturalmente estás-me a enganar?...
O BONECO - Não te estou a enganar, não...estou a rir-me do que terás para contar se não sabias
que as pessoas antes de serem grandes começam por ser pequeninas!...(Ri.)
Almada Negreiros
in Antes de Começar
Colecção Baratinha, Raiz Editora, 1995
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quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Conto
Aborrecia-se um Príncipe porque apenas se dedicara ao aperfeiçoamento das
generosidades vulgares. Do amor, ele esperava espantosas revoluções, e suspei-
tava de que as suas mulheres podiam dar-lhe mais do que uma complacência
coroada de céu e luxo. Queria ver a verdade, a hora do desejo e da satisfação
essenciais. Fosse ou não fosse, isto, uma aberração mística, ele assim o quis.
Dispunha, pelo menos, de largos poderes humanos.
Todas as mulheres que possuíra foram assassinadas. Que estrago no jardim da
beleza! Sob o sabre, elas abençoaram-no. Não encomendou novas mulheres. - As
mulheres reapareceram.
Matou todos aqueles que o seguiam quando vinha da caça ou das libações . -
Todos o seguiam.
Divertiu-se a degolar animais raros. Mandava incendiar os palácios. Precipi-
tava-se sobre as pessoas e cortava-as às postas. - A multidão, os tectos de ouro,
os belos animais subsistiam.
Podemos extasiar-nos na destruição, rejuvenescer na crueldade! O povo não
murmurou. Ninguém ofereceu o concurso de uma opinião.
Uma noite, galopava ele altivamente, saiu-lhe ao caminho um Génio de uma
beleza inefável, inconfessável, até!Da sua fisionomia e do seu porte nascia a
promessa de um amor complexo e múltiplo, de uma felicidade inexprimível,
insuportável, até! O Príncipe e o Génio aniquilaram-se provavelmente na saú-
de primordial. Como poderiam ter sobrevivido? Juntos, tiveram de morrer.
Mas o Príncipe faleceu no seu palácio, muitos anos depois. O Príncipe era o
Génio. O Génio era o Príncipe.
Falta ao nosso desejo música sábia.
Jean-Arthur Rimbaud
in Iluminações
Estúdios Cor
generosidades vulgares. Do amor, ele esperava espantosas revoluções, e suspei-
tava de que as suas mulheres podiam dar-lhe mais do que uma complacência
coroada de céu e luxo. Queria ver a verdade, a hora do desejo e da satisfação
essenciais. Fosse ou não fosse, isto, uma aberração mística, ele assim o quis.
Dispunha, pelo menos, de largos poderes humanos.
Todas as mulheres que possuíra foram assassinadas. Que estrago no jardim da
beleza! Sob o sabre, elas abençoaram-no. Não encomendou novas mulheres. - As
mulheres reapareceram.
Matou todos aqueles que o seguiam quando vinha da caça ou das libações . -
Todos o seguiam.
Divertiu-se a degolar animais raros. Mandava incendiar os palácios. Precipi-
tava-se sobre as pessoas e cortava-as às postas. - A multidão, os tectos de ouro,
os belos animais subsistiam.
Podemos extasiar-nos na destruição, rejuvenescer na crueldade! O povo não
murmurou. Ninguém ofereceu o concurso de uma opinião.
Uma noite, galopava ele altivamente, saiu-lhe ao caminho um Génio de uma
beleza inefável, inconfessável, até!Da sua fisionomia e do seu porte nascia a
promessa de um amor complexo e múltiplo, de uma felicidade inexprimível,
insuportável, até! O Príncipe e o Génio aniquilaram-se provavelmente na saú-
de primordial. Como poderiam ter sobrevivido? Juntos, tiveram de morrer.
Mas o Príncipe faleceu no seu palácio, muitos anos depois. O Príncipe era o
Génio. O Génio era o Príncipe.
Falta ao nosso desejo música sábia.
Jean-Arthur Rimbaud
in Iluminações
Estúdios Cor
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
O que poderia o teu sorriso impor-me
que a Noite me não desse, ela que aqui quase com
mas assim esforço o coração, corro torrencial, e nunca
o espaço tem bastante.
in Esboços, Fragmentos e Primeiras
Versões das Elegias de Duíno
Editorial Inova Limitada
que a Noite me não desse, ela que aqui quase com
[começo tímido na minha face
começa e acaba - onde? onde? Em ti eu cessaria;mas assim esforço o coração, corro torrencial, e nunca
o espaço tem bastante.
[ Paris, Março de 1913.] (392)
in Esboços, Fragmentos e Primeiras
Versões das Elegias de Duíno
Editorial Inova Limitada
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poetas alemães,
Rainer Maria Rilke
terça-feira, 22 de setembro de 2009
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Frases
Quando o mundo estiver reduzido a
um só bosque negro para os nossos quatro
olhos espantados - a uma praia para duas
crianças fiéis - a uma casa musical para
a nossa clara simpatia - encontrar-vos-ei.
Quando só haja aqui um velho solitário,
belo e calmo, rodeado de um «luxo
inaudito» - a vossos pés estarei.
Quando eu assumir a vossa ânsia
toda - seja eu aquela que vos estran-
gula - e estrangular-vos-ei.
um só bosque negro para os nossos quatro
olhos espantados - a uma praia para duas
crianças fiéis - a uma casa musical para
a nossa clara simpatia - encontrar-vos-ei.
Quando só haja aqui um velho solitário,
belo e calmo, rodeado de um «luxo
inaudito» - a vossos pés estarei.
Quando eu assumir a vossa ânsia
toda - seja eu aquela que vos estran-
gula - e estrangular-vos-ei.
------
Quando somos muito fortes - quem
foge?muito alegres - quem cai no ridí-
culo? Quando somos muito maus, que
fariam de nós?
Alindai-vos, dançai, desatai a rir.- Eu
nunca poderia atirar o Amor pela janela.
(...)
Jean-Arthur Rimbaud
in Iluminações
Estúdios Cor
Tradução Mário Cesariny
Quando somos muito fortes - quem
foge?muito alegres - quem cai no ridí-
culo? Quando somos muito maus, que
fariam de nós?
Alindai-vos, dançai, desatai a rir.- Eu
nunca poderia atirar o Amor pela janela.
(...)
Jean-Arthur Rimbaud
in Iluminações
Estúdios Cor
Tradução Mário Cesariny
sábado, 19 de setembro de 2009
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
18
Água apressada que corre - sem memória -,
que a terra distraída bebe,
duvida, só por um instante, na minha mão vazia,
lembra-te!
Claro e rápido amor, indiferença,
quase ausência que corre,
entre teu excesso de ficar e de partir,
tem arrepios de permanência.
Rainer Maria Rilke
in Frutos e Apontamentos
Relógio D´Água, 1996
que a terra distraída bebe,
duvida, só por um instante, na minha mão vazia,
lembra-te!
Claro e rápido amor, indiferença,
quase ausência que corre,
entre teu excesso de ficar e de partir,
tem arrepios de permanência.
Rainer Maria Rilke
in Frutos e Apontamentos
Relógio D´Água, 1996
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quinta-feira, 17 de setembro de 2009
(a influência da poesia sobre a nossa vida interior)
"Ela pode nos tornar de tempos em tempos mais conscientes dos sentimentos profundos e anónimos que constituem o substrato de nosso ser no qual penetramos raramente, porque nossas vidas são sobretudo, uma evasão constante de nós mesmos."
Thomas Stearns Eliot
Thomas Stearns Eliot
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Thomas Stearns Eliot
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
A Máscara
«Tira essa máscara de ouro ardente
E olhos de esmeralda.»
«Oh não, meu amor, atreves-te demasiado
A ver se um coração é selvagem e sábio,
Sem ser frio.»
«Só quero ver o que houver para ver,
O amor ou o engano.»
«Foi a máscara o que ocupou a tua mente,
E fez bater o teu coração,
Não o que está por detrás.»
«Mas a não ser que sejas minha inimiga
Devo inquirir.»
«Oh não, meu amor, deixa tudo ser como é;
Que importa, se entretanto houver fogo
Em ti e em mim?»
W. B. Yeats
in Uma Antologia
Assírio & Alvim, 1996
E olhos de esmeralda.»
«Oh não, meu amor, atreves-te demasiado
A ver se um coração é selvagem e sábio,
Sem ser frio.»
«Só quero ver o que houver para ver,
O amor ou o engano.»
«Foi a máscara o que ocupou a tua mente,
E fez bater o teu coração,
Não o que está por detrás.»
«Mas a não ser que sejas minha inimiga
Devo inquirir.»
«Oh não, meu amor, deixa tudo ser como é;
Que importa, se entretanto houver fogo
Em ti e em mim?»
W. B. Yeats
in Uma Antologia
Assírio & Alvim, 1996
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William Butler Yeats
Princípios de Novembro de 1910
«Mas esquecer não é a palavra que convém aqui...A memória deste homem não sofreu mais do que a sua força de imaginação. Quanto a remover montanhas, nem a sua memória nem a sua imaginação o podem; este homem, é necessário reconhecê-lo, mantém-se fora do nosso povo, fora da nossa humanidade, não cessa de ser esfomeado, só o instante lhe pertence, o instante ininterrupto da calamidade, instante que não é seguido de nenhuma faísca, de nenhum momento de reconforto;há apenas sempre uma mesma coisa: as suas dores, mas no mundo inteiro nenhuma outra coisa que se possa fazer passar por remédio, não há mais solo do que aquele que podem cobrir as suas mãos, tem portanto menos do que o trapezista do Music- Hall, para o qual se tomou o cuidado de estender uma rede acima do solo».
Franz Kafka
in Antologias De Páginas Íntimas
Guimarães Editores
sábado, 12 de setembro de 2009
O meu olhar escurece sempre que fechas a porta,
a mais sombria partida que o meu coração não aguenta.
a mais sombria partida que o meu coração não aguenta.
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dedicatória,
Liliana Jasmim Gonçalves,
poesia
Desço o Oriente até encontrar o poente do sol nos teus olhos,
bordo a febre que me habita o coração, perco os dias só neste cansaço.
[ A minha mão que escreve começou a tremer há dias...]
Descrente e enforcado no meu corpo doente,
tornei-me poeta sonâmbulo, e, aqui tenho notado que já não espero alento.
Tudo o que me rodeia entristece o meu peito, e o revólver que aperto entre os dedos
é um desassossego dentro do meu monólogo de acesos tambores
espero...
por uma certa quantidade de atrito.
Ocupo-me com o absurdo das horas vagas.
Não mudo o braço direito para o meu lado esquerdo
onde o chá de barbas de milho arrefece ao pé da lareira
quase apagada - e, diz-me quem sabe, que o tempo
é uma aragem: passa e só tardiamente damos conta que passou.
Acendo o cigarro que se alimenta do fumo dessas comédias dos mortos vivos.
Oiço no café, as explosões da segunda guerra mundial, cristalizada nos olhos dentados de vazio -
negrume aflição - e, são tantas as estátuas de mármore sentadas à espera de movimento;
por dentro, quem sabe o que choram, o que dizem,
o que gritam? Sabê-lo arruinaria a minha alma cansada de aspirar cansaço...
Deito-me na nuvem da noite e finjo encontrar a luz saciada de lugares.
No estreito desfiladeiro, analiso os homens miseráveis até ao fundo
e, por isso, a minha mão que escreve começou a tremer há dias...
caiu o lenço que conhecia a lágrima de esperança.
bordo a febre que me habita o coração, perco os dias só neste cansaço.
[ A minha mão que escreve começou a tremer há dias...]
Descrente e enforcado no meu corpo doente,
tornei-me poeta sonâmbulo, e, aqui tenho notado que já não espero alento.
Tudo o que me rodeia entristece o meu peito, e o revólver que aperto entre os dedos
é um desassossego dentro do meu monólogo de acesos tambores
espero...
por uma certa quantidade de atrito.
Ocupo-me com o absurdo das horas vagas.
Não mudo o braço direito para o meu lado esquerdo
onde o chá de barbas de milho arrefece ao pé da lareira
quase apagada - e, diz-me quem sabe, que o tempo
é uma aragem: passa e só tardiamente damos conta que passou.
Acendo o cigarro que se alimenta do fumo dessas comédias dos mortos vivos.
Oiço no café, as explosões da segunda guerra mundial, cristalizada nos olhos dentados de vazio -
negrume aflição - e, são tantas as estátuas de mármore sentadas à espera de movimento;
por dentro, quem sabe o que choram, o que dizem,
o que gritam? Sabê-lo arruinaria a minha alma cansada de aspirar cansaço...
Deito-me na nuvem da noite e finjo encontrar a luz saciada de lugares.
No estreito desfiladeiro, analiso os homens miseráveis até ao fundo
e, por isso, a minha mão que escreve começou a tremer há dias...
caiu o lenço que conhecia a lágrima de esperança.
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