sábado, 17 de agosto de 2024

Bob Dylan - Visions of Johanna


Ain't it just like the night to play tricks when you're tryin' to be so quiet?We sit here stranded, though we're all doin' our best to deny itAnd Louise holds a handful of rain, temptin' you to defy itLights flicker from the opposite loftIn this room the heat pipes just coughThe country music station plays softBut there's nothing, really nothing to turn offJust Louise and her lover so entwinedAnd these visions of Johanna that conquer my mind
In the empty lot where the ladies play blindman's bluff with the key chainAnd the all-night girls they whisper of escapades out on the "D" trainWe can hear the night watchman click his flashlightAsk himself if it's him or them that's insaneLouise, she's all right, she's just nearShe's delicate and seems like the mirrorBut she just makes it all too concise and too clearThat Johanna's not hereThe ghost of 'lectricity howls in the bones of her faceWhere these visions of Johanna have now taken my place
Now, little boy lost, he takes himself so seriouslyHe brags of his misery, he likes to live dangerouslyAnd when bringing her name upHe speaks of a farewell kiss to meHe's sure got a lotta gall to be so useless and allMuttering small talk at the wall while I'm in the hallHow can I explain?It's so hard to get onAnd these visions of Johanna, they kept me up past the dawn
Inside the museums, infinity goes up on trialVoices echo this is what salvation must be like after a whileBut Mona Lisa musta had the highway bluesYou can tell by the way she smilesSee the primitive wallflower freezeWhen the jelly-faced women all sneezeHear the one with the mustache say, "Jeez, I can't find my knees"Oh, jewels and binoculars hang from the head of the muleBut these visions of Johanna, they make it all seem so cruel
The peddler now speaks to the countess who's pretending to care for himSayin', "Name me someone that's not a parasite and I'll go out and say a prayer for him"But like Louise always says"Ya can't look at much, can ya man?"As she, herself, prepares for himAnd Madonna, she still has not showedWe see this empty cage now corrodeWhere her cape of the stage once had flowedThe fiddler, he now steps to the roadHe writes ev'rything's been returned which was owedOn the back of the fish truck that loadsWhile my conscience explodesThe harmonicas play the skeleton keys and the rainAnd these visions of Johanna are now all that remain

recoveiro

“Por um lado sou um dos escritores mais conceituados e lidos da atualidade, por outro ninguém me compreende”

John Ashbery

Daniel Jonas, poeta, dramaturgo e tradutor



 

Canícula

«Aliás, neste último livro, há uma personagem (aliás, duas: o peregrino chorão e uma rua, a Duarte Belo à Bica) que é uma construção de um anti-turista que se desdobra num intenso monólogo dramático sobre as suas explosões interiores, intensamente ficcionais. É um psicodrama interior de alguém que se passeia como uma câmara pela cidade.»

Fonte: https://observador.pt/2017/04/20/daniel-jonas-o-antiquado-que-e-o-mais-alto-da-poesia-portuguesa/

''Todas as leituras contagiam os seus leitores. Não tenho é a certeza se fui eu que as procurei, se foram elas que me encontraram. Nesse sentido, elas poderão apenas acusar uma familiaridade estética, na esteira de um discípulo que busca os seus mestres. O discípulo será prévio ao seu mestre, neste caso.''


Fonte: https://observador.pt/2017/04/20/daniel-jonas-o-antiquado-que-e-o-mais-alto-da-poesia-portuguesa/

''Daniel Jonas , o antiquado que é o mais alto da poesia portuguesa''

''Lá no alto onde vive (no Porto) também não se esforça para descer ao circo dos eventos literários, não procura os media, não gosta de falar ao telefone. De resto, a sua vida quotidiana como professor, tradutor e pai de dois filhos não lhe deixa grande espaço “nem vontade” para pertencer a grupos ou famílias, cultivar discípulos, andar a ler poesia em eventos.''


Fonte: https://observador.pt/2017/04/20/daniel-jonas-o-antiquado-que-e-o-mais-alto-da-poesia-portuguesa/

 « É triste sermos nós até para nós.
Bater-se sempre à mesma porta que era antes.
Nem sei por vezes o que sinto. É um pavor
que vem de dentro, inodoro gás
do centro que se insinua indistinto,
e dura a vigília que me dura
e já nem sei o que velo eu por vezes,
que velo já cansaço e só olvido.
Tudo é triste mesmo quando não é.
O fim do Verão é triste se no meio,
e no princípio então não dura nada.
A cada fim de tarde na volta da praia
há um princípio de dia e de tarde sem volta
levado como um barco no horizonte argiloso
para o adro onde se enterram os dias.
O que foi feliz foi-o sob alguma sombra
e cada onda ensombra outra onda
e o tombo que déramos era o último que daríamos
e o riso o último antes do choro.
Eu olho a chuva e ela é triste.
É tudo triste em vez de só ser.»


Daniel Jonas. Cães de Chuva. Assírio & Alvim, Porto Editora.2021 , p. 30


 

''lã virgem''

Daniel Jonas. Cães de Chuva. Assírio & Alvim, Porto Editora.2021 , p. 29

«É preciso beber pela alma. Como as rosas.»

Daniel Jonas. Cães de Chuva. Assírio & Alvim, Porto Editora.2021 , p. 29

Às vezes tudo é triste, mesmo o que não é.

Às vezes tudo é triste, mesmo o que não é.
Fingir-se estar com gente em frente à gente que não nos vê
e assobiar a solidão para o lado,
para aquela mesa além.
E quando a solidão se vai mais solidão se tem.
É fruste crer-se grande e ter de grande
um pouco, um tanto, um pouco mais,
levar com a raiva dos pequenos
e compartir com os magros a magreza do mundo.
Ao pé do rio tudo é mais tristonho.
É tudo entediante por princípio.
O fátuo mundo passa como se soubesse aonde vai
e todo o mundo crê caber algures
e ir aonde caiba e lhe cabe.
Fria é sempre a sopa dos pobres.
Sofrer por passatempo a vida de outros
e querer poupar-se as costas
onde se escreve ao escravo a pena de chicote
aquilo que não se lê mas se sente
e assim passar por outro
o que afinal de si não passa 
o centro de onde há o tudo o que não há
e assumir que tudo é senhor da sua alma.
Que ilusão aliviar o jugo alheio
o próprio corpo levado às próprias costas!

Daniel Jonas. Cães de Chuva. Assírio & Alvim, Porto Editora.2021 , p. 28

 « que mínima gente vem por aí à volta e aperta aperta

que nem se pode respirar,

gente que não precisa de oxigénio nem pensamento,

nem de uma só palavra que brilhe

que vá ao fundo da luva como a mão presta,

grande parte do povo não usa mão nenhuma

nem guarda nada de cabeça.»


 Herberto Helder. Letra Aberta. Poemas inéditos escolhidos por Olga Lima. Porto Editora, 2016., p. 19


Photographer Mira Heo 

 « todas as noites quando me deito,
penso um pensamento cobarde:
que eu morra durante o sono »


 Herberto Helder. Letra Aberta. Poemas inéditos escolhidos por Olga Lima. Porto Editora, 2016., p. 17

'' a fé, a coisa cega''

Herberto Helder. Letra Aberta. Poemas inéditos escolhidos por Olga Lima. Porto Editora, 2016., p. 15

«Não sei se escreva antes uns poemas que pràqui tenho

num canto da cabeça,»


 Herberto Helder. Letra Aberta. Poemas inéditos escolhidos por Olga Lima. Porto Editora, 2016., p. 14

''sôbolos rios que vão desaguando nas trevas,''

Herberto Helder. Letra Aberta. Poemas inéditos escolhidos por Olga Lima. Porto Editora, 2016., p. 13

 « enquanto pelos dias que mal tocavas

com sapatos de carne leve, e 

ias

deixando para trás o barulho dos passos indistintos,

e a tua sombra,

e o ar rasgado

e o punho em brasa contra a tua cara »


 Herberto Helder. Letra Aberta. Poemas inéditos escolhidos por Olga Lima. Porto Editora, 2016., p. 10/11

'' o objecto na luz dos dias imperecíveis''

 Herberto Helder. Letra Aberta. Poemas inéditos escolhidos por Olga Lima. Porto Editora, 2016., p. 10


 Photographer Vicente Manssur

 «O cão, talvez o cão que cheira o estrume
e lambe as feridas, queira a minha vida.
Talvez ele me ladre.»

Lídia Jorge. O Livro das Tréguas. Poesia. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 2019.,p. 26

''escrita sincopada''

 «Anjo nítido, sentado na cadeira onde me sento
ouço a tua escrita sincopada, e é perfeita. Teus terminais
de asas tocam o teclado e nada é pobre, feio, errado.»


Lídia Jorge. O Livro das Tréguas. Poesia. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 2019.,p. 24

 '' sem asas, sem roupa, sem pão, sem mesa.

Como se fosse filho de ninguém.''



Lídia Jorge. O Livro das Tréguas. Poesia. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 2019.,p. 23

IDADE DO BRONZE

 Não tenho dúvida de que os primitivos textos
falavam verdade - Antigamente, muito antigamente
Deus calçava os tamancos no meio dos campos
e fazia a sua justiça.

O mal , se acontecia, vinha para bem fazer. 
O bem, por recompensa. O enforcado tinha cedido ao aceno
do demónio e a mulher parida, se morria entre dores aflitivas
era por não ter rezado - Nessa malha de justiça
a vida era perfeita.

Deus retirava o seu calçado, munia-se de trovões
e arremetia directamente contra os que diziam puros
mas não praticavam a misericórdia devida.
Por mau olhado, valia arrancar olhos e fígado.
O céu sabia tudo.

Agora estamos mal - dizem alguns.
Homens de todas as cidades levantam-se do chão
calçam e descalçam os tamancos e imitam o antigo Deus
na perfeição, riem alto. O céu não sabe de nada.

Estamos sós.



Lídia Jorge. O Livro das Tréguas. Poesia. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 2019.,p. 22


 

 «Eu maquilhei o meu rosto para disfarçar
os punhais que existem sobre a mesa.»

Lídia Jorge. O Livro das Tréguas. Poesia. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 2019.,p. 19

«Às aves nada temos para lhes ensinar.»

Lídia Jorge. O Livro das Tréguas. Poesia. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 2019.,p. 17

 «Que batalha é esta, a dos pássaros reunidos ao pôr do Sol
antes da hora do amalho?»

Lídia Jorge. O Livro das Tréguas. Poesia. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 2019.,p. 17

''revelar o lugar dos ninhos.''

Lídia Jorge. O Livro das Tréguas. Poesia. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 2019.,p. 16

 ''Os peixes saltavam das ondas e quando exibiam
as escamas, formavam-se nuvens de todas as cores.
Vinham os vendavais e faziam a cama às gaivotas.
Desses ovos nasciam pássaros desajeitados
que afagávamos entre as nossas mãos.''

Lídia Jorge. O Livro das Tréguas. Poesia. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 2019.,p. 14

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

 

                                  Bushidô muzan (A Tragédia do Bushidô, 1960) de Eitarô Morikawa

 « A linha do mar medirá qualquer queda.
Estas garças coroam-me a cabeça.»

Daniel Jonas. Cães de Chuva. Assírio & Alvim, Porto Editora.2021 , p. 23

Tudo é triste mesmo o que é feliz.

 
«Tudo é triste mesmo o que é feliz.
Todas as coisas evocam um fracasso de outra coisa.
Tudo o que há é como se não houvesse sido ainda.
Tome-se como exemplo os dias de Verão
que o cerce vento barbeia,
 a vaga percussão inútil
no vazio desamparado das piscinas»


Daniel Jonas. Cães de Chuva. Assírio & Alvim, Porto Editora.2021 , p. 21

 

« Sempre há quem não te conheça e não conhecesses.»

Daniel Jonas. Cães de Chuva. Assírio & Alvim, Porto Editora.2021 , p. 21

 


Bruno Barbey | Portugal (1992)

“Photography is the only language that can be understood anywhere in the world.” - Bruno Barbey⁠⁠




Domingo a tarde - 1965


"Jorge, dirige o departamento de Hematologia do Instituto de Oncologia de Lisboa. Um dia, chega Clarisse, que sofre de leucemia em estado avançado. Apaixonam-se. Jorge tenta salvá-la. Clarisse morre, apesar de todos os esforços de Jorge - que, cada vez mais desencantado, prossegue os seus trabalhos, com experiências de rotina, que sabem serem inúteis... 

Observações: "Domingo à Tarde utltrapassa imediatamente as dificuldades surgidas na adaptação e, na sua concepção estética, na sua novidade formal, até na sua ousadia, vai bem mais longe do que, no plano literário, o romance de Fernando Namora. Ainda com uma forte componente experimental, é obra fria, neutra, dominada pela morte que persegue a personagem do médico no seu trabalho do Instituto de Oncologia, e fornece a Macedo amplas oportunidades para revelar o seu interesse pelo mundor - ele também, figura em certa medida, marginal e de gostos esotéricos - conseguiu dominar, melhor do que os outros, certas deficiências técnicas e, servindo o livro, deu dele uma adaptação que à generalidade do público pareceu singularmente escorreita." 

João Bénard da Costa, in Histórias do Cinema, Sínteses da Cultura Portuguesa, Europália 91, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa

gramíneas selvagens

«É isto um homem ou um calafrio?»

Daniel Jonas. Cães de Chuva. Assírio & Alvim, Porto Editora.2021 , p. 18

 « Eu estou triste como um cais apodrecido.»

Daniel Jonas. Cães de Chuva. Assírio & Alvim, Porto Editora.2021 , p. 16

''lúrida manhã''

Daniel Jonas. Cães de Chuva. Assírio & Alvim, Porto Editora.2021 , p. 11

desponsamus te, mare.

 Daniel Jonas. Cães de Chuva. Assírio & Alvim, Porto Editora.2021 , p. 11

Verdes Anos

 Verdes Anos (1963) de Paulo Rocha

 

                                              A Tragédia do Bushidô (Bushidô muzan, 1960)

''Um rancho de varinas''

 José Almada Negreiros. Nome de Guerra. Livros RTP. Editorial Verbo. p. 42

 «Estava sem um pensamento, sem uma recordação, sem uma esperança, vazio, seco. O frio entrava-lhe no peito. »

José Almada Negreiros. Nome de Guerra. Livros RTP. Editorial Verbo. p. 41

''Sem beleza faleço.''

 Pedro Paixão

BREVE MANUAL PARA JARDINEIROS INQUIETOS

 Evite
jardins onde as valsas não sobrevivem
e pessoas onde as flores não germinem.

Rui Xerez de Sousa

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

 ''Se não fosse o sentimento de culpa, não teríamos um único escritor.''


            John Cassavetes: Uma Mulher sob Influência, de 1974. “Há tempos, só as mulheres adoecem”

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

“O grito da cigarra ergue a tarde a seu cimo e o perfume do orégão invade a felicidade. Perdi a minha memória da morte da lacuna da perca do desastre. A omnipotência do sol rege a minha vida enquanto recomeço em cada coisa. Por isso trouxe comigo o lírio da pequena praia. Ali se erguia intacta a coluna do primeiro dia – e vi o mar reflectido no seu primeiro espelho”

Sophia Mello Breyner Andresen, “Ingrina”, incluído no livro Geografia (1967)

sinedoquezona

Cinema Japonês

 

Os primeiros filmes de 1960, e suas respectivas datas de estreia, de cada um dos seis cineastas que integram a Shôchiku Nûberu bâgu

Fonte: https://apaladewalsh.com/2023/10/a-tragedia-do-bushido-estetica-da-crueldade/

 ''(...) produtividade da indústria japonesa, apenas no ano de 1960, seis cineastas diferentes filmaram, só nesse ano, 11 filmes que instauraram a linha Nûberu bâgu da Shôchiku: Osamu Takahashi jogando com as convenções do género policial com Kanojo dake ga shitte iru (Only She Knows, 1960) e Shisha to no kekkon (Marriage with the Dead, 1960); Nagisa Ôshima com os explosivos Seishun zankoku monogatari (Contos Cruéis da Juventude, 1960), Taiyô no hakaba (The Sun’s Burial, 1960) e Nihon no yoru to kiri (Noite e Nevoeiro no Japão, 1960); Kijû Yoshida com os escalpelizantes exercícios de desencanto social Rokudenashi (Good-for-Nothing, 1960) e Chi wa kawaiteru (Blood is Dry, 1960); Masahiro Shinoda com os heterogéneos Koi no katamichi kippu (One Way Ticket to Love, 1960) e Kawaita mizûmi (Dry Lake, 1960); Tsutomu Tamura com o seu niilista e claustrofóbico Akunin shigan (Volunteering for Villainy, 1960) e, finalmente, Eitarô Morikawa com A Tragédia do Bushidô, estreado no penúltimo mês do ano e o último filme da linha.''

Fonte: https://apaladewalsh.com/2023/10/a-tragedia-do-bushido-estetica-da-crueldade/

eletroconvulsoterapia

 


Belarmino (1964) de Fernando Lopes

''paixões assolapadas ''

''era digital e rebarbativa''

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Xerém com Ovas de Bacalhau Panadas

 ''Em casa, nunca faltava a pequena mó, destinada a moer o milho para o xerém, bem como a barrica, onde se guardava o figo torrado, “alimento de inverno e que, na falta de peixe, serve de conduto”.

Algarve

ONATA DE OUTONO (1978)

 ONATA DE OUTONO (1978), um dueto entre duas grandes atrizes, Ingrid Bergman e Liv Ullmann, inesquecível na cena da noite em que se enfrentam filmadas por Ingmar Bergman, “porque os rostos nunca foram tão alma, nunca se escavou tão dentro das pessoas” (João Bénard da Costa)

















La fontaine de sang


Le vin de ses vaisseauxAu rythme de son cœurCoule et donne à boireÀ des bouches au hasard
Mille et une personnesDes amis, des amantsViennent boire impunémentDes gorgées de son sang
Des hommes, les hommes, ces hommesGastrolâtres et gourmandsViendront dévaliserLa fontaine de sang
Des hommes, les hommes, ces hommesGastrolâtres et gourmandsViendront dévaliser touteLa fontaine de sangSa fontaine de sang
Viendront dévaliser touteLa fontaine de sangSa fontaine
La ration des enfantsEst gobée librementL'insatiable parentA tué ses enfants
La fontaine tarie, elleRetrouvera la vieUne fois que ses ennemisNe seront plus de son temps

Compositores: Alexis Delong / Nicolas Subrechicot / Pierre Cheguillaume / Zaho de Sagazan

Ribeira de Seda

estado sombrio de alma

azimutes

quinta-feira, 8 de agosto de 2024


 

Mojo Pin


Uh-uh, ah-ah, ah, uh-uhOh-oh, ah-ah, ah-ahUh, uh-uh, uh, uhOh-oh, uh-uh
I'm lying in my bedThe blanket is warmThis body will never be safe from harmStill feel your hair, black ribbons of coalTouch my skin to keep me whole
Oh, if only you'd come back to meIf you laid at my sideWouldn't need no mojo pinTo keep me satisfied
Don't want to weep for youDon't want to knowI'm blind and tortured, the white horses flowThe memories fireThe rhythms fall slowBlack beauty, I love you so
Oh, precious, precious silver and goldAnd pearls in oyster's fleshDrop down we two to serve and pray to loveBorn again from the rhythmScreaming down from heavenAgeless, ageless, I'm there in your arms
Don't want to weep for youI don't want to knowI'm blind and tortured, the white horses flowThe memories fireThe rhythms fall slowBlack beauty, I love you soSo, so, soSo
Oh, the welts of your scorn, my love, give me moreSend whips of opinion down my back, give me moreWell it's you I've waited my life to seeIt's you I've searched so hard for
Don't want to weep for youDon't want to knowI'm blind and tortured, the white horses flowThe memories fireThe rhythms fall slowBlack beauty, I love you so, soBlack, black, black beauty
Compositores: Gary Michael Lucas / Jeffery Buckley

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

                   

                                                               Actor Giovanni Funiati
 

'' cara de pau-santo''

Alberto Pimenta. Ilhíada. Edições do Saguão., p. 83



« - ele há de facto pessoas muito estranhas, diz a Rosa;
ele alguma coisa fez! traz decerto na consciência...
-então, e a rapariga ... - rapariga é só um dizer!
- ó homem, ela só traz leite no púcaro!
- algum conselho de médico;
- capaz...

sim, ele de resto parece que nem come, todos ao
domingo de fartos de o convidar, mas ele
ao domingo até sai, e na ilha festa com o cabrito!
aonde vai ninguém sabe; também não interessa,
interessam questões sadias, que idade terá ele?»

Alberto Pimenta. Ilhíada. Edições do Saguão., p. 78

 '' toalha molhada de lágrimas, cadeira molhada, dedos molhados, 

dilúvios ''


Alberto Pimenta. Ilhíada. Edições do Saguão., p. 74

''La Gallina Ciega''

''El que no ve la belleza está condenado a destruirla.»


“O que há de bom em uma pintura nunca é pintado.”

«Quem não vê a beleza está condenado a destruí-la. A beleza não é o que acreditam aqueles para quem não é algo vital. Quem não vê não sente falta e confunde. Quem não vê, irá destruí-lo sem saber o que é.»

Tudo é água da mesma nascente, a música, a poesia, o seu ritmo, o seu porquê, tudo isso influencia tudo o que você faz. Como um autorretrato inconsciente. “

Golucho, pintor espanõl

Rewind



 

''Deus, Labor et Constantia''

''A Liberdade e só a Liberdade''

And the times never right when you’re losing a soul

 

The summer breeze, the days were longMeadow haze so callowly, those child eyesI used to feel the feelingsLove that I once said I’d never rileThe burden of life… just won’t leave us aloneAnd the times never right… when your trading the sunAll the love of generationsGenerations gone for reasons, that I knowBut all the times I’ve lost my wayCrept inside, tried not to swayLike pebbles on the shoreThe burden of life… just won’t leave us aloneAnd the times never right… when we’re trading the sunSo all the fire, the fear, the whyThe wisdom why you want it nowNo Answers… are thereNo Answers… of whyCos the burden of life just won’t leave us aloneAnd the times never right when you’re losing a soul


Burden Of Life
Canção de Beth Gibbons

sábado, 3 de agosto de 2024

''Eu não via mais minha mãe. A trança ainda queimava. O quarto estava cheio de fumaça. Eles mataram você, disse minha mãe. Nós não nos enxergávamos mais de tanta fumaça que havia no quarto. Eu ouvia seus passos perto de mim. Tateava por ela com os braços esticados. De repente ela enganchou sua mão magra em meu cabelo. Sacudia minha cabeça. Eu gritava. Arregalei os olhos. O quarto girava. Eu estava deitada numa esfera de flores brancas despetaladas e estava presa. Então tive a sensação de que a casa caía e se esfarelava no chão. O despertador tocou. Era sábado de manhã, cinco e meia.''

Sempre a mesma neve e sempre o mesmo tio (2011)

 Herta Müller


 

“labirintos do medo”

''cunho autobiográfico ou autoficcional''

''a paisagem dos despossuídos”

''obsessão, manipulação, desejo e repressão''

 “Eu não posso colocar a minha cabeça em um cofre, preciso continuar vivendo com isso. Vivi mais de trinta anos em uma ditadura, não vou poder separar totalmente todas as coisas do círculo problemático que trouxe comigo. E isto provavelmente não mudará apesar de viver agora no ocidente, pois experiências se acumulam e aprender é relacionar uma coisa com outra” 

Herta Müller

 “Aquilo que levianamente se denomina história também era para cada um da minha família, desde o nazismo, passando pelos anos 1950, o lado noturno da garganta. Cada um deles foi convocado pela história, tinha de alistar-se junto à história como vilão ou como vítima. E da dispensa da história nenhum deles saiu incólume. Meu pai anestesiava seu tempo como soldado da SS na bebedeira. Minha mãe se debatia com a careca morta de fome que ela fora como deportada, minha avó venerava a mala do acordeão, meu avô não largava seus blocos de recibos. Em cada um deles colidiam coisas na cabeça que jamais deveriam encontrar-se. Só fui realmente compreender como esses meus familiares se ressentiam desses danos quando eu mesma havia topado com a falta de saída. Só então eu sabia que com um assalto profundo demais todos os nervos ficam sobrecarregados para sempre. Que essa sobrecarga se afirma nos dias posteriores, que até mesmo recorre ao tempo anterior a ela. Ela não muda somente as coisas posteriores, mas também as anteriores que não teriam nada a ver com a fenda na vida, caso não houvesse a fenda. Tudo é magnetizado por essa ruptura, na cabeça toda e na vida toda nada mais se separa dela. O que havia antes da fenda se apresenta depois como se já tivesse estado aí escondido e por isso não fora reconhecido, já então um prenúncio inequívoco da perda posterior, um prólogo levianamente ignorado.''


(Herta Müller. Se nos calamos, tornamo-nos incômodos- se falamos, tornamo-nos ridículos. In: O rei se inclina e mata, p.99-100)

quarta-feira, 31 de julho de 2024


 

 «A explicação dos seus múltiplos amantes era a de uma companhia para de noite.»

José Almada Negreiros. Nome de Guerra. Livros RTP. Editorial Verbo. p. 49

''O tédio esmagava-a na solidão.''

José Almada Negreiros. Nome de Guerra. Livros RTP. Editorial Verbo. p. 49

«O sono para ela era cair fulminada pelo excesso e pela fadiga. Apenas acordava, tudo lhe era hostil em redor. Os móveis do quarto, o vestido que despira ao deitar e que ficara metade no chão e metade na cadeira, os sapatos distantes um do outro, o chapéu na maçaneta da cama, as recordações da véspera, o sol a querer por força entrar pelas frinchas, o movimento da cidade que se ouvia lá fora, o dinheiro espalhado no mármore do toilette, o estômago, a bronquite, tudo, tudo contra ela, tudo lhe gritava, a uma, a mesma palavra: Guerra!»

José Almada Negreiros. Nome de Guerra. Livros RTP. Editorial Verbo. p. 48

 «Ele tinha deixado passar a vez natural de todas as suas idades. Não foi criança na idade de ser criança, não foi selvagem na idade de ser selvagem, não foi violento na idade de ser violento, não errou em todas as idades de errar, por culpa da sua educação em que o quiseram levar a bom fim, mas na qual ficou, afinal, encalhado a meio da vida!»

José Almada Negreiros. Nome de Guerra. Livros RTP. Editorial Verbo. p. 45

Toward Water

Bad Girls Go to Hell


                                       
                                     Bad Girls Go to Hell: Directed by Doris Wishman (1965)

 ''Havia uma grande lacuna na sua vida, e sentia-se apartado do resto do mundo, como se tivesse crescido a maré e ele ficasse no mar em cima de um rochedo sem ligação com a terra. Ele estava efectivamente na idade de juntar-se. Ia muito seguro no que pensava e bem atento, por isso soube agarrar uma ideia feliz que lhe veio de repente:

- A mulher!''


José Almada Negreiros. Nome de Guerra. Livros RTP. Editorial Verbo. p. 39

''O Antunes reconhecia que a sua imaginação estava doente. Esta doença era a falta de companheira da sua vida. Era o que lhe dizia hoje a realidade.
O Antunes decidia fazer convergir todos os seus passos num único fito: a escolha da sua companheira. O motivo desta resolução estava na lembrança do que era a sua vida ultimamente, sem progresso, sem explicação, parada, inútil, nula. A causa desta estagnação era a falta de uma companheira. ''

José Almada Negreiros. Nome de Guerra. Livros RTP. Editorial Verbo. p. 38/9

 ''Entre ele e a mulher nua e a sua educação punha uma distância que não era destruída pelo desejo da carne. A sua educação obriga-o a uma posição vertical, com os braços bem juntos ao corpo, a cabeça direita e os olhos em frente, para ser um homem diferente de um animal!''

José Almada Negreiros. Nome de Guerra. Livros RTP. Editorial Verbo. p. 38

 ''(...) perder o medo era ganhar o conhecimento da vida''

José Almada Negreiros. Nome de Guerra. Livros RTP. Editorial Verbo. p. 38


 Self-portraits by Mira Heo

MARTÍRIO

Estou desejosa de que chegue Novembro, os dias de chuva, a geada, tudo que não seja este Verão interminável.

Frederico García Lorca. A Casa de Bernarda Alba. Publicações Europa-América, Lisboa, p. 83


"Eu acho que, nos tempos que correm, estamos a viver umas épocas muito parecidas, muito estranhas, com o regresso dos populismos, nacionalismos, guerras religiosas em que parece que estamos na Idade Média e este texto é atual"

João Botelho



''piranhas-metálicas''

Natália Correia. Antologia Poética. Organização, selecção e prefácio Fernando Pinto do Amaral. 4ª Edição. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2019., p. 194

«MARTHA  Claro. «Sem misturas, não há tonturas.»

Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 28

 

casaco assertoado
casaco de trespasse


 

Colour Grey Poem by Herta Müller

 1.

I grow time, beans, the colour gray
And stitch the shadows of a dying day
They make a woman, rather a girl
Lost in the ocean like a grain of pearl
The swans of Coole fly over me
Will they rest for a while by me!
Maybe it's my turn now.
Deep in the frost where my eyes shall never go
The leopard will print his paw
And with a sudden leap break free
All the chimes of poetry
Maybe it's my turn now.
The rough beast was never born
Though we devised a cage for his morn
Maybe it's my turn now.
I have a tale to tell I shall also ring the bell
When you start believing
When you start hearing
Maybe it's my turn now.

2.
These days I don't think of you
But after the soot covers me
I begin to wonder where those
Evenings have gone, those wanderings
In the spacious lawns of enchantment
That smacked of no design, though
We were bent on making a sense
The early birds get their worms
I lie in the tireless ticking of my old watch
Counting the bits of frozen blood,
Listening to the worms
That are in all of us
Then I begin to crawl towards the womb
That threw me off a long way back
And look for the dark, the black hole
To suck me up.

3.
I was nice to him
He was nice to me
Only
Our doors, our windows
Kept closed
Lest we smell each other.

Translated into English by Roger Woodhouse

A terra das ameixas verdes / Herta Müller

CORO DOS ÓRFÃOS


Nós, órfãos,
Queixamo-nos do mundo:
Deceparam nosso ramo
E lançaram-no ao fogo –
Transformaram em lenha quem nos protegia –
Nós, órfãos, jazemos nos campos da solidão.
Nós, órfãos,
Queixamo-nos do mundo:
Na noite nossos pais brincam conosco de esconde-esconde –
Por detrás das negras dobras da noite
Fitam-nos seus rostos,
Falam suas bocas:
Fomos lenha seca na mão de um lenhador –
Mas nossos olhos tornaram-se olhos de anjos
E olham para vós,
Por entre as negras dobras da noite
Eles olham –


Nós, órfãos,
Queixamo-nos do mundo:
Pedras tornaram-se nosso brinquedo,
Pedras têm rostos, rostos de pai e mãe,
Não murcham como flores, não mordem como bichos –
E não ardem como lenha seca quando lançadas no forno –
Nós, órfãos, queixamo-nos do mundo:
Mundo por que nos tiraste as ternas mães
E os pais que dizem: Tu te pareces comigo!
Nós, órfãos, não nos parecemos com ninguém mais no mundo!
Ó Mundo,
Nós te acusamos!

Nelly Sachs, German–Swedish poet

EM MEU QUARTO


Em meu quarto,
onde fica minha cama
uma mesa uma cadeira
o fogão
o universo está ajoelhado como em toda parte
para ser salvo
da invisibilidade –
Eu traço uma linha
escrevo o alfabeto
pinto o lema suicida na parede
de onde brotam imediatamente os renascimentos
já prendo as constelações à verdade
então a terra começa a martelar
a noite se afrouxa
desprende-se
dente morto da dentadura –

Nelly Sachs, German–Swedish poet

Burden Of Life

A VÓS, QUE CONSTRUÍS A NOVA MORADA


Há pedras como almas.

Rabbi Nachman


Quando levantares de novo tuas paredes –
Fogão, catre, mesa e cadeira –
Não os enfeites com tuas lágrimas, os que partiram
Que não mais habitarão contigo
Na pedra
Nem na madeira –
Senão haverá choro no teu sono
No curto sono que ainda tens de dormir.
Não suspires ao estenderes teu lençol –
Senão misturam-se teus sonhos
Com o suor dos mortos.
Ah, paredes e utensílios
São sensíveis como harpas eólicas
E como um campo onde viceja tua dor,
E sentem o que em ti é parente do pó.
Constrói enquanto escorre a clepsidra
Mas não chores os minutos que correm
Junto com o pó
Que encobre a luz.


Nelly Sachs, German–Swedish poet
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