domingo, 20 de agosto de 2017

“Ama-se por memória”

 Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
Poema de canção sobre a esperança
I
Dá-me lírios, lírios,
E rosas também.
Mas se não tens lírios
Nem rosas a dar-me,
Tem vontade ao menos
De me dar os lírios
E também as rosas.
Basta-me a vontade,
Que tens, se a tiveres,
De me dar os lírios
E as rosas também,
E terei os lírios —
Os melhores lírios —
E as melhores rosas
Sem receber nada.
A não ser a prenda
Da tua vontade
De me dares lírios
E rosas também.
II
Usas um vestido
Que é uma lembrança
Para o meu coração.
Usou-o outrora
Alguém que me ficou
Lembrada sem vista.
Tudo na vida
Se faz por recordações.
Ama-se por memória.
Certa mulher faz-nos ternura
Por um gesto que lembra a nossa mãe.
Certa rapariga faz-nos alegria
Por falar como a nossa irmã.
Certa criança arranca-nos da desatenção
Porque amámos uma mulher parecida com ela
Quando éramos jovens e não lhe falávamos.
Tudo é assim, mais ou menos,
O coração anda aos trambulhões.
Viver é desencontrar-se consigo mesmo.
No fim de tudo, se tiver sono, dormirei.
Mas gostava de te encontrar e que falássemos.
Estou certo que simpatizaríamos um com o outro.
Mas se não nos encontrarmos, guardarei o momento
Em que pensei que nos poderíamos encontrar.
Guardo tudo,
(Guardo as cartas que me escrevem,
Guardo até as cartas que não me escrevem —
Santo Deus, a gente guarda tudo mesmo que não queira,
E o teu vestido azulinho, meu Deus, se eu te pudesse atrair
Através dele até mim!
Enfim, tudo pode ser…
És tão nova — tão jovem, como diria o Ricardo Reis —
E a minha visão de ti explode literariamente,
E deito-me para trás na praia e rio como um elemental inferior,
Arre, sentir cansa, e a vida é quente quando o sol está alto.
Boa noite na Austrália!
17-6-1929
Álvaro de Campos – Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. – 106.

E O MEU CORAÇÃO JÁ NÃO BATE

E o meu coração já não bate
Na minha voz, de alegria e tristeza.
Acabou...E o meu canto galopa
Para a noite vazia, onde tu já não estás.


Anna Akhmatova. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 80

I Tell a Fly

''álbum narrativo sobre migrações e fronteiras, sobre a forma como todos somos estrangeiros, bárbaros, ao olhar de alguém.''

sábado, 19 de agosto de 2017


''O que conquistamos internamente modificará a realidade externa."


Plutarco

medo do fracasso

OU fome de sucesso

terça-feira, 15 de agosto de 2017

''faz mais quem quer do que quem pode''

diz o povo, e diz com razão

Papel d' Arroz

sensación de vacío


«As cidades da morte,»

Alexei Gastev. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 74

ADEUS, MEU AMIGO, ADEUS

Adeus, meu amigo, adeus,
Querido amigo, que trago no coração.
A separação predestinada
Para mais tarde promete novo encontro.

Adeus, meu amigo, sem aperto de mão nem palavras,
Não lamentes e não haja dor nem pena, -
Nesta vida morrer não é nada de novo,
Mas também nada de novo é viver.




* Este poema foi encontrado junto do cadáver do poeta. Foi, sem dúvida, o seu último poema.


Velemir Khlebnikov. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 69
«Não acordes aquele que esgotou todos os sonhos,
Não perturbes aquele que não se realizou, -
Demasiado cedo o sofrimento e o cansaço
Encheram totalmente a minha vida.»


Velemir Khlebnikov. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 67

«Agora já não quero sofrer mais.
É tempo de lavar o coração confuso.»


Velemir Khlebnikov. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 65
«Estou pronto a pôr a minha melhor gravata 
Ao pescoço de qualquer vadio.»


Velemir Khlebnikov. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 65
«E enterrar-me-ão sem me lavarem
Ao som dos cães a ladrar.»



Velemir Khlebnikov. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 64

«Como deve ser triste viver sem poesia»

Velemir Khlebnikov. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 62

«Lançando flores no coração»

Velemir Khlebnikov. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 56

''bugiganga lírica''

'Muita 
            porcaria 
                             pode ser escrita em livros!'




Vladimir Ilitch Lenin. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 44
Pesou
           o mundo




Vladimir Ilitch Lenin. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 40
«(...)


                                 deitado
cobriu
             os olhos cansados
como se
            o seu coração 
                                        sob as palavras estivesse exausto,
como se
                 a sua alma
                                       se arrastasse sob as frases.
Mas eu sabia
                          que aqueles olhos
                                                              captavam
verdadeiramente
                                   tudo 
                                             o que se dizia - »





Vladimir Ilitch Lenin. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 40

Grete Stern. Sem título, 1949


''mulheres de consolo''

escravas sexuais do exército Japonês na II Guerra Mundial
«Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.»

Fernando Pessoa


«A noite traz-me a sensação do abismo!»



Soledade Summavielle. Tempo Inviolado. Edição da Autora, Lisboa, 1977., p. 61

«Não importam os olhos marejados
De dores e nostalgias.»


Soledade Summavielle. Tempo Inviolado. Edição da Autora, Lisboa, 1977., p. 57

«E numa só palavra digo tudo.»



Soledade Summavielle. Tempo Inviolado. Edição da Autora, Lisboa, 1977., p. 53

«Dizendo Amor, não sei dissociar-te»



Soledade Summavielle. Tempo Inviolado. Edição da Autora, Lisboa, 1977., p. 53

Inverno e Solidão



Soledade Summavielle. Tempo Inviolado. Edição da Autora, Lisboa, 1977., p. 43

Horas doridas


Soledade Summavielle. Tempo Inviolado. Edição da Autora, Lisboa, 1977., p. 41

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Hand crossed lovers


vivissecção


nome feminino
dissecção praticada num animal vivo, para estudo

''violência fria''

«ondulação da água escura»


Marguerite Yourcenar. Mishima ou a Visão do Vazio. Relógio D'Água, 1ª edição, Lisboa., p. 31

«A célebre cena em que o rapaz e a rapariga encharcados pela chuva se despem e aquecem separados pela lareira feita de ramos secos, ultrapassa em pouco a verosimilhança num país onde o nu quotidiano, por exemplo, nos banhos em que participam os dois sexos, se manteve como tradição nos meios que não sofreram demasiado a influência ocidental.»



Marguerite Yourcenar. Mishima ou a Visão do Vazio. Relógio D'Água, 1ª edição, Lisboa., p. 30

Jacqueline Lamba dans un aquarium II - 1934 by Rogi Andre


«O ventre parecia fazer esforços para vomitar.»

«(...) o nosso mal-estar nasce de uma incerteza»

Marguerite Yourcenar. Mishima ou a Visão do Vazio. Relógio D'Água, 1ª edição, Lisboa., p. 25

O Mar da Fertilidade

O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar

comer avidamente

sábado, 12 de agosto de 2017


I'm So Lonely



I watch the tides roll in I stood there and watch them roll away again Thinkin' about that woman
Oh, that I loved I'm so lonely Oh, I'm so lonely I'm so lonely I could die Why was man made for love When love is so hard to find And I'm still searching For that love of mine I'm so lonely, babe Oh, I'm so lonely now Oh, I'm lonely Oh, I'm lonely I could die Yeah, I never like this In my life before And how long it's gonna last Lord, I just don't know I tell you I'm lonely, Father Oh, I'm some kind of lonely Right now Oh Lord, I'm lonely Oh, I'm so lonely Oh Lord, I could die I'm alone And I'm tired And I'm lonely And I'm real tired now I'm living my way across the water I'm looking way across the water now And all I see is darkness all around I can't see nothing but darkness around that water Oh my Lord Oh Lord, don't you know I'm lonely
reouvéssemos

pirómanos

malcasada

''pedagogos confucianos''

domingo, 6 de agosto de 2017

“A velhice é um outono, rico de frutos maduros; é também um inverno estéril, do qual se evocam a frieza, as neves, as geadas. Tem a serenidade das belas noites. Mas a ela também é atribuída a tristeza sombria dos crepúsculos “

(Beauvoir, Simone).
«escadarias de água para o coração»

ousio

Solidão povoada

violentação semântica

sábado, 5 de agosto de 2017


Jigai - ritual de suicídio feminino

Estando o esventramento reservado aos homens samurais, às mulheres era concedido o direito ao jigai.[18][44] Mulheres pertencentes a famílias aristocráticas, esposas de samurais e principalmente guerreiras onna-bugeisha, cometiam suicídio não pelo estripar do seu ventre, mas cortando as veias jugulares com um só golpe, usando um punhal como um tantō ou kaiken. Os motivos eram semelhantes aos seguidos pelos homens que cometiam seppuku, e no jigai, este deveria ser cometido para preservar a dignidade ou provar a fidelidade da mulher. Tal ato remonta ao século IX, e era o caminho a seguir pelas mulheres da alta classe militar japonesa.[45] Assim, muitas recorriam a esta prática não somente quando estavam impossibilitadas de cumprir uma obrigação, como também em casos em que estava eminente um ato violento de estupro. O jigai era comum em casos de acompanhamento do seu senhor ou marido na morte, mesmo quando estes eram condenados à própria execução. Nestes casos, o jigai só poderia ser feito com autorização do senhor, e desta forma, a mulher não poderia cometer o tão honroso suicídio sem uma prévia permissão. Noutro aspecto o suicídio feminino se fazia diferente ao do homem, e este encontra-se na própria forma litúrgica do ritual. Enquanto o homem abria o abdómen para "desnudar a sua alma", evidenciando a sua dignidade e honra, a mulher introduzia a lâmina de uma tantō na garganta ou no coração.[46]
O ritual feminino era contudo, menos elaborado e não se fazia necessário de um kaishakunin. Antes de cometer o suicídio, a mulher mantinha as suas pernas unidas — amarrando os tornozelos um ao outro — para evitar que na queda as mesmas se abrissem deselegantemente, expondo as suas partes íntimas.
cortar as veias jugulares com um só golpe
rigorosa abnegação e lucidez

Ritual Suicida Japonês


“Sais de casa porque a morte te agita
transpiras pelo empregado de mesa
que lê Balzac, tens ambições literárias
razões, enfim, para andar mal vestido
despenteado com um saco na cabeça
para que se diga ali vai a poesia portuguesa.”
“Quem nunca hesitou na paragem do 28 / e pensou: ali via a metáfora da minha vida.”
“Bebo uma bica por dia, às vezes bebo-a fria
depois disto bem que podia morrer, diga-se
com as mãos ao redor de um pescoço amigo
quero dizer, de um livro. Tenho o carácter
objectivo de uma incompetência para a vida.”
“De resto, tenho uma perninha no bem e outra no mal
e mijo no meio, é honesto imaginar-me assim. ”

Máquina de pendurar existências, o amor

ramillete de rosas

"¿Puede un hombre sonreír cuando contempla a la mujer más triste del mundo?"

La depresión de Venus

quinta-feira, 3 de agosto de 2017


«Desnudas-te cinzenta e angustiada
Em frente dos meus olhos solitários.»


Soledade Summavielle. Tempo Inviolado. Edição da Autora, Lisboa, 1977., p. 21

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

terça-feira, 1 de agosto de 2017

«Se morreres em pensamento todas as ma-
nhãs, já não terás medo de morrer»

Hagakure
Tratado Japonês do século XVIII
«Se o sal perder o sabor,
como poderemos voltar a dar-lho?

O Evangelho, segundo S. Mateus



“Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde eu nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que meus pais faziam antes que eu nascesse, e toda essa lengalenga tipo David Copperfield, mas, para dizer a verdade, não estou com vontade de falar sobre isso.”


J. D. Salinger, do livro “O apanhador no campo de centeio”. [tradução Álvaro Alencar, Antônio Rocha e Jório Dauster]. 18ª ed., Rio de Janeiro: Editora do Autor, 2012.

‘O apanhador no campo de centeio’, de J. D. Salinger


O apanhador no campo de centeio‘ é um clássico da literatura americana. Lançado em 1951, a saga de Holden Caulfield inspirou uma geração de jovens da era anterior ao rock.
Holden Caulfield, o adolescente protagonista de “O apanhador no campo de centeio”, diz a certa altura que queria ser surdo-mudo, pois “desse modo não precisava ter nenhuma conversa imbecil e inútil com ninguém”



“Encontrava na ponta da língua as velhas palavras, tais como haviam sido escritas. Elas me ligavam aos antigos séculos onde os astros brilhavam exactamente como hoje. E este renascimento e esta permanência me davam uma impressão de eternidade. A terra parecia-me fresca tal qual nas primeiras idades e este instante se bastava. Eu estava ali, olhava as a nossos pés os tectos com telhas, banhados de luar, sem motivo, pelo prazer de os ver. Esse desinteresse tinha um encanto pungente.
– Eis o privilégio da literatura. As figuras se deformam, empalidecem. As palavras, nós levamos connosco.”


Simone de Beauvoir, no livro “A mulher desiludida”. [tradução Helena Silveira e Maryan A. Bon Barbosa]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.


“Sempre olháramos longe. Seria necessário aprender a viver o dia-a-dia? Estávamos sentados lado a lado sob as estrelas, tocados pelo aroma cipreste, nossas mãos se encontravam; o tempo havia parado um instante. Iria continuar a escorrer. E então? Sim ou não, poderia ainda trabalhar? Minha raiva contra Filipe se esfumaria? A angústia de envelhecer me retomaria? Não olhar muito longe. Longe seriam os horrores da morte e dos adeuses. Seria a dentadura, a ciática, as enfermidades, a esterilidade mental, a solidão em um mundo estranho que não compreenderíamos mais e que prosseguiria seu curso sem nós. Conseguiria não levantar os olhos para esses horizontes? Quando aprenderia a percebê-los sem pavor? Nós estamos juntos, é a nossa sorte. Nós nos auxiliaremos a viver essa derradeira aventura da qual não retornaremos. Isso no-la tornará tolerável? Não sei. Esperemos. Não temos escolha.”


Simone de Beauvoir, no livro “A mulher desiludida”. [tradução Helena Silveira e Maryan A. Bon Barbosa]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
“A perpétua juventude do mundo me deixa sem ar. Coisas que eu amei desapareceram. Muitas outras me foram dadas.”

Simone de Beauvoir,
no livro “A mulher desiludida”. [tradução Helena Silveira e Maryan A. Bon Barbosa]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
“Comprei flores, frutos, caminhei a esmo. Ser aposentado e ser um rebotalho parece quase a mesma coisa. A palavra me congelava. Espantava-me a extensão de meus lazeres. Estava errada. O tempo, às vezes, parece custar a passar mas eu me arranjo. E que prazer viver sem obedecer ordens, sem constrangimento! Há ocasiões em que me assombro. Lembro-me do primeiro posto, de minha primeira classe, as folhas mortas que rangiam sob os passos no outono provinciano. Então, o dia da aposentadoria — distante de mim um lapso de tempo duas vezes mais longo ou quase, que minha vida anterior — me parecia irreal como a própria morte. E eis que há um ano ele chegou. Passei outras barreiras, porém fluidas. Esta tem a rigidez de uma cortina de aço.”


Simone de Beauvoir, no livro “A mulher desiludida”. [tradução Helena Silveira e Maryan A. Bon Barbosa]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

“O segundo sexo”

marco teórico do feminismo no século XX, publicado em 1949

Simone Beauvoir

“Penso que amar, de facto, não é querer possuir, mas que amar seja querer criar elos com o outro ser que não são de possessão, no mesmo sentido de possuir uma roupa ou o que comemos.” 

 Simone Beauvoir

domingo, 30 de julho de 2017


«Demos assim à língua até ao escurecer - »

Vladimir Mayakovsky. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 35

LILI*

    Em vez de uma carta.
(Lílitchka! Vmésto pis'má)


O ar roído de fumo.
O quarto -
capítulo do inferno de Kruchonykh**
Recordo -
atrás desta janela,
frenético,
pela primeira vez acariciei as tuas mãos.
Hoje estás aqui sentada,
o coração blindado.
Mais um dia
e expulsas-me,
talvez me insultes.
Na antecâmara turva, longo tempo não sobre,
quebrado por tremuras, o braço na manga.
Fugirei,
lanço o meu corpo à rua.
Selvagem,
enlouqueço,
despedaçado pelo desespero.
Não é preciso isso,
minha querida,
minha querida,
vem-me dizer agora adeus.
De todas as maneiras,
o meu amor -
um peso na verdade -
estará sempre contigo
para onde quer que vás.
No último grito, deixa
a queixa amarga das ofensas.
Se um boi está exausto do trabalho -
irá chafurdar na água fria.
Além do teu amor
não há mar
para mim,
mas no teu amor as lágrimas não descansam.
O elefante cansado procura a calma -
deita-se, majestoso, na areia ardente.
Além do teu amor
não há sol para mim,
e não sei onde estás agora nem com quem.
Se fosse poeta aquele que assim torturas,
ele
a amada por oiro e por glória trocaria,
mas para mim
nem um só sino é alegre,
além do que soa no teu nome amado.
E no vazio não me lançarei,
e não tomarei veneno,
e não quero encostar o revólver à testa.
Sobre mim,
além do teu olhar,
não tem poder a lâmina de nenhum punhal.
Amanhã terás esquecido,
que te  coroei,
que a alma em flor o amor queimou,
e que o vento dos dias vãos de carnaval
despenteará as páginas dos meus livros...
Das minhas palavras as folhas secas
saberão parar
a alma ansiosa?
Deixa ao menos
que a minha última ternura cubra
os teus passos que se vão.



Vladimir Mayakovsky. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 28-30




* Lília Brik

(...)

«Jura
que não pode suportar uma vida sem estrelas!
E depois
passeia angustiado
mas fingindo-se calmo.»


Vladimir Mayakovsky. Antologia da Poesia Soviética. Tradução directa do russo, selecção, prefácio e notas de Manuel de Seabra. Editorial Futura., Lisboa, 1973., p. 27

domingo, 23 de julho de 2017

sexta-feira, 21 de julho de 2017


«Existem valentias que são malignas (...)»

Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 208

imunidade narcísica

«Consideramos que se deve cativar o amor do outro, com amor e afecto, nunca com esforço, submissão ou despersonalização, (...)»


Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 207

emoções INGOVERNÁVEIS

ansiedades EDIPIANAS
Relações Tipo CLAUSTROS

Supereu patológico

''objecto capturado pela inferioridade''

Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 189
«(...), é urgente colocar no objecto o que não é aceite no próprio Self, pelo que a ausência do outro pode ser também mais avassaladora porque implica a confrontação com o vazio interno e com a falta de amor.»


Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 189

''projecção das partes indesejadas do próprio Self no outro''

Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 181

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Fotografia: Edgar Martins

«Desde a sua invenção que a fotografia contribui decisivamente para consolidar a morte como tema visual, ou melhor, como um eixo intrincado de imagens, imaginações e imaginários, que atravessam vários domínios da ciência e da cultura. Esta constelação de imagens de Edgar Martins reforça não só a convicção de que as imagens fotográficas são produtos de um meio (técnico e cultural), mas também que a experiência de cada imagem fotográfica é igualmente um produto de nós próprios, do nosso corpo como um meio vivo de imagens.”

Link: https://www.lensculture.com

apropriações

'' imaginação da morte''

cartas de suicidas

solilóquio


nome masculino

1. fala que alguém dirige a si próprio, monólogo
2. LITERATURA, TEATRO recurso literário ou dramático em que uma personagem fala consigo mesma, expressando de forma lógica o que se passa na sua consciência

Paula Rego in Estoril, Portugal, with her son Nick Willing, in 1961. Photo José Figueiroa Rego


“Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e outros Interlúdios''

 projecto, fotógrafo Edgar Martins

segunda-feira, 17 de julho de 2017

''retiradas narcísicas''

engolfamento

Trust yourself and you will be your own best friend.

(Confia em ti e serás a tua maior amiga)

Vic Willing para Paula Rego


«O amor, esse, tão ansiado e nunca encontrado!»

Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 178

sonhos estéreis

relações parasita

«São relações muitas vezes com carácter parasitário em que o objectivo é sentir que se é objecto de desejo, em que há uma antecipação do sexual face ao relacional, onde o contacto corporal jamais reflecte o envolvimento emocional e afectivo, criando-se relações com proximidade ilusórias constituindo-se como verdadeiros ataques à intimidade; »


Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 176/7

''promessa encantatória''

''ciclo de desilusões e renovadas ilusões''


ilusão - desilusão - nova ilusão

Círculo vicioso narcísico descrito por Svrakic


Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 174

refúgio psíquico

«O indivíduo age, deste modo, em acordo com o seu objecto interno: succionador, insaciável e devorador, gerador de inseguranças e de incerteza do afecto.»


Isabel Mesquita. Disfarces de Amor. Relacionamentos Amorosos e Vulnerabilidade narcísica. Isabel Mesquita. Climepsi Editores, Lisboa, 2013., p. 172

e.ro.to.ma.ni.a

ilusão delirante de ser amado
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