sábado, 6 de julho de 2019






gargalhar

“Ninguém tem o direito de se comportar comigo como se me conhecesse”

Robert Walser
''Sabe porque não me tornei um escritor de sucesso?Quero dizer-lhe: é que não possuía um instinto social suficientemente desenvolvido. Não representei o suficiente para agradar à sociedade. Olhe que foi mesmo assim! Hoje vejo-o claramente. Entreguei-me demasiado aos meus prazeres pessoais. Sim, é verdade, sempre tive a tendência para me tornar uma espécie de vagabundo e quase não lutei contra ela. Esse lado subjetivo irritou os leitores d’ Os Irmãos Tanner. Para eles o escritor não deve perder-se na subjetividade. Acham pretensioso levar tão a sério a sua pessoa. Como está enganado o escritor que supõe que o mundo se interessa pelos seus assuntos privados. A minha estreia literária gerou logo a impressão de que os bons burgueses me aborreciam, de que não os achava bons o suficiente. E eles nunca o esqueceram. Consideraram-me sempre um zero à esquerda, um inútil. Deveria ter misturado nos meus livros um pouco de amor e de tristeza, de solenidade e de aprovação.” [ Robert Walser a Carl Seelig]''

''acossado pelo desejo de desaparecimento''

quartos alugados

Robert Walser e Kafka



''Os seus universos pareciam convergir de tal modo que quando Kafka publica os primeiros textos na revista Hyperion, muitos pensaram tratar-se de um pseudónimo de Walser a ponto de o editor ter que vir a público confirmar que Kafka existia mesmo. Já Walser nunca conheceu ou leu Kafka, não gostava que lhe dissessem que era admirado por este, nem que aludissem ao facto de que a sua escrita tinha admiradores e que era famoso. Tais ideias horrorizavam-no e, numa das conversas agora publicadas, Seelig escreve: “Nunca esquecerei uma manhã de Outono em que fomos a pé de Teufen a Speicher, atravessando um nevoeiro espesso como algodão. Disse-lhe que a sua obra literária duraria talvez tanto tempo como a de Gottfried Keller  [escritor suíço muito admirado por RW]. Estacou de súbito e, como que preso ao chão, olhou-me com extrema gravidade. Respondeu que, se eu queria preservar a sua amizade, nunca mais lhe repetisse semelhantes elogios. Ele, Robert Walser, era um zero e queria ser esquecido.”
 “sem Walser, Kafka jamais teria visto a luz do dia”

Escritor Elias Canetti

A viagem de inverno de Robert Walser

''Na família de homens estranhos, crepusculares, da qual fazem parte Kafka, Pessoa ou Bartleby, Robert Walser permanece o mais inexplicável.''



Ver aqui.

Robert Walser fotografado por Carl Seelig no asilo psiquiátrico de Herissau onde viveu durante 23 anos

crânio nazi

domingo, 30 de junho de 2019

estética presencista

«uma verdadeira revolução política é também uma poética»
“Diz-se Revolução
 o Movimento de um Corpo que,
descrevendo uma curva fechada,
passa sucessivamente pelos
mesmos Lugares”».

''viagem por mapas auto-biográficos''

sábado, 29 de junho de 2019

« O nu da mulher foi puríssimo até ao momento em que enfiaram uma liga liga na coxa.»


Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 79

«Mas, lá em baixo, ainda se dividem as doenças em morais e imorais, confessáveis e inconfessáveis. Para mim as enfermidades são simplesmente curáveis.»


Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 79

«A dor e a agonia não têm nacionalidade.»


Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 79

Maria Lamas, Jovem mãe da Castanheira, Serra da Estrela

''a Mulher ajoelhada/ferida que arrasta a perna machucada anda em direção ao centro, segurando a perna com a mão''

Quadro Guernica, Pablo Picasso
''O que vocês pensam que seja um artista? Um imbecil feito só de olhos, se é pintor, ou de ouvidos, se é músico, ou de coração em forma de lira, se é poeta, ou mesmo feito só de músculos, se se trata de um pugilista? Muito ao contrário, ele é ao mesmo tempo um ser político, sempre alerta aos acontecimentos tristes, alegres, violentos, aos quais reage de todas as maneiras.

Pablo Picasso.
“No, la pintura no está hecha para decorar las habitaciones. Es un instrumento de guerra ofensivo y defensivo contra el enemigo.”

Pablo Picasso, sobre Guernica.
''Ainda quando pequeno desenhava pombas, bonecas, cavalos, árvores e as touradas que costumava assistir com o pai.''

sobre Pablo Picasso

O ARTISTA PABLO PICASSO

''Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno Maria dos Remedios Cipriano de la Santissima Trinidad Ruiz y Picasso nasceu em Málaga, Espanha, em 25 de outubro de 1881. Picasso era o sobrenome de sua mãe e os demais nomes que dão extensão ao seu nome de baptismo fazem referência e homenagem a avôs, tio, pai e padrinho do artista. No entanto, foi como Pablo Picasso que ficou conhecido.''

intertextualidade

narrativa proletária

'' os romanceiros de 30''


“consciência do subdesenvolvimento”

''O que fez do cinema novo um fenómeno de importância internacional foi justamente o seu alto nível de compromisso com a verdade; foi o seu próprio miserabilismo, que, antes escrito pela literatura de 30, foi agora fotografado pelo cinema de 60; e se antes era escrito como denúncia social, hoje passou a ser discutido como problema político. (ROCHA, 2004, p. 65)''

“Estética da fome” // “Estética da violência”

Glauber Rocha

'' a máscara da bondade, as iniquidades, injustiças e opressões do subdesenvolvimento''

«É fácil constatar que a mesma pessoa que recusa, como demasiadamente brutal a aplicação de uma norma legal, e que se presta, por gentileza, a favorecer uma pretensão irregular, encare com insensibilidade notável a mortalidade infantil ou a fome endémica. Assim, a violência é ideologicamente distorcida para dar a impressão de que não exista. (CANDIDO, 1969, p. 416)»
'' A arte é muitas vezes uma solução, um cavalo de Tróia, um pincel que ajuda a retratar e a apagar ditaduras. O seu poder é imenso, ainda que contraditório. A arte pode ser um meio e um fim, pode redimir e condenar. Pode ser um instrumento de subversão e um veículo de consenso, uma expressão de liberdade e rosto do totalitarismo.''
''só se tem uma vida privada quando se dorme. O padrão de um regime totalitarista, é que todas as áreas da vida, e da arte têm de ser controladas, porque são todas perigosas e são''

dito por chefe do partido trabalhista nazi

"Le blé" (ao lado de "Le sel") 
em IMAGES PORTUGAISES, ed. Secretariado da Propaganda Nacional, s.d. (1939), prefácio de António Ferro. in 4º, 72 p.

''Realismo e utopia; cultura popular e cultura erudita''

mimetismo provinciano

círculos intelectuais

“boom literário latino-americano”

 Mario Vargas Llosa, Gabriel García Marquez e Julio Cortázar.

''nas brumas do pós-guerra''

''Um vampiro de longas barbas''

Concórdia

negociante de arte


''campa condigna''

''campos de morte''

LUTADOR com suástica

Max Schmeling


1892, Max Nordau

Médico, activista sionista e co-fundador da Organização Sionista Mundial.

inferioridade racial

estética extremada

obliquamente



Like the beat, beat, beat of the tom-tom
When the jungle shadows fall
Like the tick, tick, tock of the stately clock
As it stands against the wall
Like the drip, drip, drip of the raindrops
When the summer shower is through
So a voice within me keeps repeating you, you, you
Night and day, you are the one
Only you beneath the moon or under the sun
Whether near to me or far
It's no matter, darling, where you are
I think of you
Night and day, day and night, why is it so
That this longing for you follows wherever I go?
In the roaring traffic's boom
In the silence of my lonely room
I think of you
Night and day, night and day
Under the hide of me
There's an, oh, such a hungry yearning burning inside of me
And its torment won't be through
'Till you let me spend my life making love to you
Day and night, night and day
Night and day
Under the hide of me
There's an, oh, such a hungry yearning burning inside of me
And its torment won't be through
'Till you let me spend my life making love to you
Day and night, night and day


Compositores: Cole Porter
Jorge Guerra, 1966 (Col. Fundação Gulbenkian)

sexta-feira, 28 de junho de 2019

quinta-feira, 27 de junho de 2019

[...] as imagens cinematográficas são frases de prosa. Uma imagem que se fixa um pouco mais demoradamente na tela, é um substantivo com adjetivo. Um primeiro plano é um ponto exclamativo, e de facto os primeiros planos ociosos irritam como toda ênfase inútil. A câmera procede como uma máquina de escrever. Mas uma ‘leitura’ demasiadamente tecnicista de um filme, como é aquela adoptada hoje das revistas especializadas, penso que seja frustrante. (CATALANO, 1975, p. XI, )

“[...] le immagini cinematografiche sono delle frasi di prosa. Un’immagine che si ferma un po’ più a lungo sullo schermo, è un sostantivo con aggettivo. Un primo piano è un punto esclamativo, e infatti i primi piani oziosi irritano come ogni sottolineatura inutile. La macchina da presa procede come una macchina da scrivere. Ma una ‘lettura’ troppo tecnicista di un film, come è quella adottata oggi dalle riviste specializzate, penso sia deludente”.

composição fílmica

''abolindo o ego ''

''indissociabilidade entre crítica e história da literatura.''

Paula Regina Siega

Antonio Candido, Eduardo Lourenço e Lino Micciché: a literatura brasileira no circuito da recepção externa do Cinema Novo
«Formulada por Hans-Robert Jauss, a estética da recepção surge no âmbito dos estudos literários e filológicos desenvolvidos na Escola de Constança (Alemanha), nos anos 1960. Ocupando o campo da leitura e dando continuidade à teoria hermenêutica de Hans Georg Gadamer, Jauss (1969; 1988; 1989) dá ulterior desenvolvimento à ideia de experiência estética, à qual conjuga o conceito de horizonte de expectativas, identificando, em ambos, os agentes de formação de um determinado texto ou evento artístico. Desse ponto de vista, no momento do contato com a obra (experiência estética), a reação do receptor dependerá em larga medida de seu horizonte de expectativas, ou seja, do conjunto de conhecimentos prévios (para o qual contribuem experiências estéticas anteriores) que orientarão o seu julgamento crítico. Na teoria jaussiana, portanto, o significado de uma obra literária não se esgota nas intenções autorais ou no texto, mas é dado de vez em vez pela interação entre texto-leitor, situados historicamente. Daí, a conclusão de que as transformações nos modos de percepção estética não dependem somente das obras ou do “gênio”, pois ainda que estes possam alterar um determinado paradigma artístico, a sua aceitação vai depender também do horizonte de expectativas dos receptores, sujeito a contínuas modificações. »

Paula Regina Siega

Antonio Candido, Eduardo Lourenço e Lino Micciché: a literatura brasileira no circuito da recepção externa do Cinema Novo

segunda-feira, 24 de junho de 2019

domingo, 16 de junho de 2019



«No amor verdadeiro, a comunhão dos corpos realiza-se como o coito das flores, como as bodas dos insectos.»

Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 74

guarda-roupa cultural

«Meu irmão segue um regime de solidão para higiene do espírito: impelido pela necessidade de conhecer todos os homens, afastou-se de todos e observa-os de longe; eu, para não conhecer nenhum, para não me afeiçoar a nenhum, procuro aproximar-me de todos. E, desse modo, o solitário misantropo e a irrequieta vagabunda acharam-se de acordo sobre o mesmo ponto, chegando a duas conclusões simétricas e equivalentes; não ver ninguém para conhecer todos, e ver todos para não conhecer ninguém.»

Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 73

''(...) mergulhar na multidão para dominar a própria dor''


Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 72

«Explico-te: sou mulher: forte, como mulher, forte para reagir, forte para me defender; mas fraca para reagir contra mim mesma, fraca para me defender da minha melancolia.»

Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 72

''(...) enrolou um cigarro entre as palmas e acendeu-o numa brasa.''


Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 72


«Há uma canção que diz: ''À rapariga cigana que se enamorar de um homem de outra raça é como uma pomba errante que procura pousar na ponta de um punhal. Não consegue suster-se e o ferro trespassa-lhe o coração.''»

Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 71

«Calava a cada passo, pois sabia a graça das pausas e o valor musical do silêncio.»

Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 71

''(...), um jovem que parava, para beijá-la, nas zonas de penumbra,''

Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 71

''solitário vendedor de postas de peixe com gosto de azeite e fumaça''


Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 70

sábado, 15 de junho de 2019

''escritores caquéticos e leitosos''


Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 67

domingo, 9 de junho de 2019


cidade-mar

«Com seu lençol de neve, o inverno for chegando,
Cada postigo fecharei com férreos elos
Para noite erguer meus mágicos castelos.
Hei de sonhar então com azulados astros,
Jardins onde a água chora em meio aos alabastros,
Beijos, aves que cantam de manhã e à tarde,
E tudo o que no Idílio de infantil se guarde.
O Tumulto, golpeando em vão minha vidraça,
Não me fará mover a fronte ao que se passa,
Pois que estarei entregue ao voluptuoso alento
De relembrar a Primavera em pensamento
Em um sol na lama colher, tal como quem, absorto,
Entre as ideias goza um tépido conforto »

Baudelaire
''Em a Paisagem (BAUDELAIRE, 2012, p. 305), ao descrever o cenário urbano, a voz poética nos permite fitar a Paris de então: a quietude das igrejas e a suavidade dos campanários contrastam com a correria dos operários absortos no trabalho braçal na fábrica:

«Quero, para compor os meus castos monólogos, / Deitar-me ao pé do céu, assim como os astrólogos, / E, junto aos campanários, escutar sonhando / Solenes cânticos que o vento vai levando. / As mãos sob meu queixo, só, na água-furtada, / Verei a fábrica em azáfama engolfada.»''

“Só a obra sobra, o resto soçobra”, disse um poeta.

matança civil


«Que marítimos abismos ou que rios ignoram
esta lúgubre guerra? Que mar não foi manchado
 pelo massacre dos Dáunios?
   Que costa não está suja com o nosso sangue?»

Horácio
 «(...)no meio de tanta mortandade causada por um contínuo de guerras e batalhas fratricidas. »

divindades femininas

Almo Sol, que em teu refulgente carro
 o dia fazes surgir e escondes, e que um outro
 embora o mesmo sempre renasces, possas tu    
 nada maior ver do que a urbe de Roma.

 Horácio, Cântico Secular (Carmen Saeculare), 9-12

consciência virgiliana

«Esta cidade floresceu durante muitos anos, até que Mezêncio a submeteu ao seu império soberbo e às suas armas cruéis. Para quê recordar as abomináveis chacinas e as selvagens proezas deste tirano? Que os deuses as façam recair sobre a sua cabeça e a da sua descendência! Ele unia cadáveres a viventes, juntando mãos com mãos e bocas com bocas, tortura medonha, e fazia-os perecer assim, de uma morte lenta, escorrendo sangue e pus em um doloroso amplexo! Mas, um dia, os cidadãos, cansados das atrocidades deste louco, levantam-se em armas, cercam-no a ele e à sua casa, matam os cúmplices e lançam fogo ao  palácio. Ele conseguiu escapar, no meio daquela mortandade, e refugiou-se nas terras dos Rútulos, sob a protecção das armas de Turno, que lhe dá defesa e hospitalidade.»
«Aqui estão os que, enquanto a vida durava, odiaram os irmãos, os que levantaram a mão contra o pai e os que defraudaram um cliente, e aqueles que descobriram riquezas e as guardaram só para si e não deram uma parte aos seus (estes são a maior parte); e aqueles que foram mortos por causa de um adultério, os que seguiram armas ímpias e não temeram trair os juramentos feitos aos seus senhores que [aqui] esperam a sua pena. (....). Aí está sentado, e eternamente estará, o infeliz Teseu; e Flégias, o mais desventurado de todos, adverte e testemunha, em alta voz, através das sombras: ‘Pela força do exemplo, aprendam a respeitar a justiça e a não desprezar os deuses.’ Este vendeu a pátria por ouro e impôs-lhe um tirano; promulgou leis e, por dinheiro, anulou-as; aquele assaltou o tálamo da filha e consumou um himeneu interdito. Ousaram todos um acto monstruoso e dessa ousadia se gozaram.»

teia intratextual

arqui-inimiga

traição política

o lugar da alienação do poeta

O homem fez, o homem desfez.

 «Pois que é Roma senão os Romanos? Não se trata aqui de pedras, ou de traves, de grandes edifícios ou de extensas muralhas. Tudo isto fora construído de modo que um dia haveria de ruir. Quando o homem construiu, colocou pedra sobre pedra, quando destruiu, derrubou pedra após pedra. O homem fez, o homem desfez.»

 August. De urb. Exc.6.6. Trad. de Urbano, Carlota M. (2010) Agostinho, O “De excidio Vrbis”e outros sermões sobre a queda de Roma. Coimbra, CECH., 79

“Foi a minha primeira morte”

«Pois julgais, irmãos, que a cidade se mede pelos seus muros e não pelos seus cidadãos? », perguntava Santo Agostinho, pouco tempo depois do saque de Roma em 410, tentando consolar os Romanos perante a devastação causada pelas tropas de Alarico.

domingo, 26 de maio de 2019

''close-ups, instantâneos do dia-a-dia''

''O termo alemão Zeitgeist é hoje usado em diferentes línguas para designar o clima cultural, intelectual e moral de uma dada época, literalmente, o espírito do tempo. Na idade moderna, dada a persistência da ideia do progresso, uma das maiores dificuldades em captar o espírito de uma dada época reside em identificar as continuidades com épocas anteriores, quase sempre disfarçadas de descontinuidades, inovações, rupturas. O que permanece de períodos anteriores é sempre metamorfoseado em algo que simultaneamente o denuncia e dissimula e, por isso, permanece sempre como algo diferente do que foi sem deixar de ser o mesmo. As categorias que usamos para caracterizar uma dada época são demasiado toscas para captar esta complexidade, porque elas próprias são parte do mesmo espírito do tempo que supostamente devem caracterizar a partir de fora. Correm sempre o risco de serem anacrónicas, pelo peso da inércia, ou utópicas, pela leveza da antecipação.''
''o paradigma moderno é um paradigma em que a ciência é dominante, a sociedade comporta-se em função da ciência. ''
''o nosso tempo é um tempo de transição, isto é, um tempo em que há ainda uma distância entre o modo de viver e aquilo que são as descobertas da ciência, um tempo em que o social ainda não acompanha o científico.''

Boaventura de Sousa Santos

sábado, 25 de maio de 2019




«Eu fui um dos troféus da tua galeria...De resto, que te interessa o valor intrínseco daquilo que possuis? Importa sim, que os outros saibam que és possuidor de coisas valiosas...»

Natália Correia. D. João e Julieta. Prefácio de Armando Nascimento Rosa. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote., Lisboa, 1999., p. 42
«A sociedade não tem competência para resolver o problema íntimo de cada um.»

Natália Correia. D. João e Julieta. Prefácio de Armando Nascimento Rosa. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote., Lisboa, 1999., p. 40

''azedumes domésticos''

incauto

« EDMUNDO: Minha querida... As causas perdidas sempre foram da sua simpatia. A sociedade tem os seus direitos e exerce-os por vezes cruelmente. Todo aquele que desafia o seu equilíbrio está irremediavelmente condenado.»


Natália Correia. D. João e Julieta. Prefácio de Armando Nascimento Rosa. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote., Lisboa, 1999., p. 39

«Os assassinos têm por vezes sensibilidade apurada: o cheiro a morte causa-lhes náuseas. O João nunca teve paciência para colher os frutos da sua própria devastação.»

Natália Correia. D. João e Julieta. Prefácio de Armando Nascimento Rosa. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote., Lisboa, 1999., p. 38

«Não há obras de génio sem o cunho pessoal da assinatura.»

Natália Correia. D. João e Julieta. Prefácio de Armando Nascimento Rosa. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote., Lisboa, 1999., p. 38
« EDMUNDO: V. classifica de escandalozinho da rua duas vidas irremediavelmente perdidas?»

Natália Correia. D. João e Julieta. Prefácio de Armando Nascimento Rosa. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote., Lisboa, 1999., p. 37
«Policromia ingénua...Fadiga do berrante e sinfonia histérica de pássaros estúpidos.»

Natália Correia. D. João e Julieta. Prefácio de Armando Nascimento Rosa. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote., Lisboa, 1999., p. 33

''euforia íntima''

«JOVEM LOURO (Efeminado, snob, wildeano)»

Natália Correia. D. João e Julieta. Prefácio de Armando Nascimento Rosa. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote., Lisboa, 1999

terça-feira, 21 de maio de 2019

ne.vei.ra



Sweet suicide release me
From all of this pain
Another night of torment
Never sunshine always rain
And it never helps the kindness
That people try to show
Just makes it feel more tragic
Release me let me go
I am drowning in the greyness
Suffocating in this grief
Tell me my life is not mine to take
Go ahead, call me a thief
And it never helps the kindness
That people try to show
Just makes it feel more tragic
Release me let me go
I'm drowning in the pain
That my life does make
Broken spirit broken soul
No more can I take
I'm drowning in the moonbeams
The blackest night
Reflecting a glass
I give up the fight
Swallowed up
With no air to breathe
Broken by your words
How they deceive the poisoned by revenge
And bitter spite
I don’t care if you're right
Don't care if you're wrong or right
There the water it beckons me
An early grave that waits for me

Sweet suicide release me
Release me let me go

''musgo rasteiro''

Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 46

''áridas ervas sem caule''

Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 46
« - De quem és incompreendida?
- Da minha família. É por isso que ando a vaguear pelo mundo. Eu sou infeliz: por isso me aproximei de ti, que não és feliz.»


Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 45


« Não posso suportar as senhoras da minha categoria e da minha idade, porque todas são artificiais, porque, ouvindo-as, julga-se que têm almas espirálicas, psiques labirínticas, a tragédia de serem incompreendidas.»

Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 45


« Que linguagem cabalística! - gracejou Mélita. - Fazes-me lembrar o senador do nosso hotel, que todas as noites amarra um chumbinho a cada fio da barba e dorme sentado para não perder o ar catedrático durante o sono. Ofendi-te? Perdoa-me. Quando me conheceres melhor compreenderás. Adoro os ingénuos. E procuro-os, nas minhas vagabundagens: mas encontro poucos. Às criaturas excepcionais tornam-se tão comuns que encontrar um ser comum é caso excepcional: todos tomam ares de complicados, de cépticos. Os cépticos divertem-se por um momento; mas depois do primeiro paradoxo não os tolero mais.»


Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 45

«Anémicas lagartixas, espichadas sobre os rochedos mornos, segundo as prescrições de helioterapia, fugiam para as suas tocas.»

Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p.8

«Minha mãe dizia que tenho os olhos na ponta dos dedos, como o caracol os tem nos cornos.»

Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 42

« - Simpático, aquele empacotador de cadáveres!»

Pitigrilli. A virgem de 18 quilates. Tradução de João Santana. 1ª Edição: Agosto de 1973, Editorial Minerva., p. 41

Genealogia da governação

'' a longue durée do capitalismo e do colonialismo''

globalização neoliberal

providência societal

sociedade-providência

"Entendo por sociedade-providência as redes de relações de interconhecimento, de reconhecimento mútuo e de entreajuda baseadas em laços de parentesco e de vizinhança, através das quais pequenos grupos sociais trocam bens e serviços numa base não mercantil e com uma lógica de reciprocidade semelhante à da relação de dom estudada por Mareei Mauss",

terça-feira, 7 de maio de 2019

''humana morte''

egóico

Carlos Ferreiro e Luís Miguel Cintra em Quem Espera por Sapatos de Defunto..

metamorfose ensimesmada''

melancolia niilista

«há certas expedições na vida que já não permitem o regresso.»

''tempo estético Kierkegaardiano''

''ansiedade edipiana''


''brilhantismo frívolo''

''amoralidade''

«Os deuses tornaram-se doenças.»

''salazarenta periferia nacional''

mundanismo

pécora

pé.co.ra
ˈpɛkurɐ
nome feminino
1.
cabeça de gado
2.
pejorativo, coloquial mulher de  notaprostituta
3.
regionalismo pejorativo rapariga leviana

poeticidade

Em O Terror e a Miséria no III Reich, em 1974. Luís Miguel Cintra


´´teatro-dentro-do-teatro''

trans-histórico

''produção dramatúrgica nataliana''

«A tragédia de D. João está no supremo poder
de seduzir, de que ele próprio foi a maior vítima.
Em nenhum amor matou a sede.
De mulher em mulher, com outros d'ideia em
ideia, ele era, essencialmente, um homem bêbado
de Deus como Espinosa.»

António Patrício, Serão Inquieto

fragilidade democrática

“Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual” 

( Artigo 13º da Constituição da República Portuguesa).
Fotografia Paulo Pimenta
''A fragilidade das democracias aumenta à medida em que o poder económico, social e a riqueza fica cada vez mais concentrado, enfraquecendo a mobilidade e a inclusão social e hipotecando o futuro das próprias democracias.''

segunda-feira, 6 de maio de 2019

«Sempre me revoltei perante as normas instituídas. A sociedade cobriu o meu corpo com lama e fome. Mas a sua lama e a sua fome não me mataram. Pelo contrário. Quanto mais atiravam lama sobre o meu mísero corpo mais forte me tornava, no meu sentimento de piedade perante todos nós, os miseráveis.»

Giovanni Segantini, pintor italiano

domingo, 5 de maio de 2019

«BERNARDO - Li algures que os pássaros tinham obsessões, que às vezes se matavam sem que houvesse uma explicação aparente.

AMÉLIA - É como as pessoas. Por vezes, aparecem homens enforcados nas suas próprias casas quando nada o fazia prever. Os jovens que se atiram das pontes para os rios.

BERNARDO - Mas aí talvez seja o desespero.

SUSANA - Muitos casos são por causa de paixões ou pessoas sozinhas.»



Jaime Rocha. Casa de Pássaros. Publicações Dom Quixote. Sociedade Portuguesa de Autores., Lisboa, 2001., p. 36
«Mãe distraída, talvez mesmo desatenta, Sophia deixava as ralações mundanas com vestuários e refeições para as criadas, encarregadas de levar as crianças à escola para que pudesse dormir até tarde. De tal forma que era comum ouvir Luísa, a empregada minhota de sempre, alardear com ironia a falta que fazia à família: «Se não fosse eu, nesta casa comiam-se versos.»

Sobre Sophia Mello Breyner Andresen

antirregime

''pureza inexcedível''

''rosas encarnado escuro''

''muros de camélias''

manias de octogenária

  “O cinema de José Álvaro Morais é habitado por um imaginário onde perpassam marinheiros dançantes ou em correria, como se estivessem perpetuamente atrasados para qualquer embarque, aqui e ali em tintas de comédia musical (uma alusão a um certo Jacques Demy, mas também a algum do modernismo pictórico de José de Almada Negreiros); a velha Lisboa da Costa do Castelo e da Baixa, que se vem espreguiçar no Tejo doméstico entre Alcântara e o Mar da Palha, e que para ele era um mar; personagens masculinas de vocação sexual incerta, ou claramente bissexuais, redesenhando de modo declaratório o mundo dos afectos; e uma busca de identidade miscigenada como a dele (originalmente filho-de-família provinciano, vindo para Lisboa para estudar medicina, e depois europeizado e cosmopolitizado pelo cinema) (…) E é também um cinema pontuado por um bom humor à Truffaut, o bom humor destinado a tourner en dérision, a tornar irrisório aquilo mesmo de que se ocupa — o bom humor discreto e parco de quem conhece o valor de sorrir do que faz, sem no entanto se desmerecer ou apoucar.”

João Maria Mendes 

''permanência granítico''

“portuguesidade”


“Ma Femme Chamada Bicho”(1976) retrata a pintora Vieira da Silva

Filme de José Álvaro Morais

''aspectos ambíguos e plurívocos ''

''intertextualidade ou doce promiscuidade ''

"Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço"(1970), de João César Monteiro

valores populistas no espaço televisivo

minimal

sábado, 4 de maio de 2019

Fotografia Leonel de Castro, do projeto Almas

Francisco José : Olhos Castanhos



Letra e música: Alves Coelho
Teus olhos castanhos
de encantos tamanhos
são pecados meus,
são estrelas fulgentes,
brilhantes, luzentes,
caídas dos céus,
Teus olhos risonhos
são mundos, são sonhos,
são a minha cruz,
teus olhos castanhos
de encantos tamanhos
são raios de luz.

Olhos azuis são ciúme
e nada valem para mim,
Olhos negros são queixume
de uma tristeza sem fim,
olhos verdes são traição
são crueis como punhais,
olhos bons com coração
os teus, castanhos leais.

teatro radiofónico

« AMÉLIA - É a filha dos mistérios, sempre a esconder coisas à tua mãe!»

Jaime Rocha. Casa de Pássaros. Publicações Dom Quixote. Sociedade Portuguesa de Autores., Lisboa, 2001., p. 18

'' muda como uma tábua''

Jaime Rocha. Casa de Pássaros. Publicações Dom Quixote. Sociedade Portuguesa de Autores., Lisboa, 2001., p. 15
« - Este tempo adoece-me, fico com as veias grossas, com mãos de uma velha.»

Jaime Rocha. Casa de Pássaros. Publicações Dom Quixote. Sociedade Portuguesa de Autores., Lisboa, 2001., p. 14
«A Susana sempre foi assim, sempre me escondeu tudo. Já em criança tinha essa mania, metia as coisas debaixo da cama e nos vasos, para que eu não visse. E eu não via, de facto, não queria ver. Que importância tem uma criança esconder gritos mortos ou bezoiros?»

Jaime Rocha. Casa de Pássaros. Publicações Dom Quixote. Sociedade Portuguesa de Autores., Lisboa, 2001., p. 13

''quem não tem cão caça com gato''


''pássaros embalsamados''

´''Novo esclavagismo da laboração contínua''

''A Aguadeira''

´´Pétala da Rosa´´

''viveiro de artistas''

Contra-pulso entre impulso e frustação

A RENDEIRA

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