''Está escuro em cima do palco. Um homem, com uma mala, atravessa o chão coberto de terra e pedras. De um lado, uma cadeira florida, gasta. Do outro, o vazio da cena que parece não ter fim. A meio, agarra-se à mala que traz, como se guardasse toda a sua vida. E depois, sai. Entram dois homens, escondidos sob uma gabardina bege. Saem. Um homem, despido, com uma outra mala, deita-se no meio da cena, coberto por ela. Deixa-se estar assim, quieto, enquanto a Sinfonia n.º 4 de Arvo Pärt continua a tocar.
É assim que começa a nova peça da coreógrafa Olga Roriz, Síndrome — sem grandes adereços, espaço ou tempo –, numa época que pode ser a de agora, a de ontem, a de amanhã. A escolha cabe ao espectador: “O que o criador faz é dar o local para as pessoas imaginarem“, diz Olga Roriz.''