sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

''Para a minha sede nenhuma água chega.''

cabeamento




Camisa em Poliestireno, 2001-2007, © Maria José Oliveira / Galeria Graça Brandão


Resíduos Vegetais com Jarro de Vinho Tinto

 Maria José Oliveira / Galeria Graça Brandão

Fronteira Líquida.

 Maria José Oliveira / Galeria Graça Brandão

Para Espaços Alquímicos (Nas Caves ou nas Altas Torres)

 Maria José Oliveira /  Galeria Graça Brandão

«As suas folhas brancas foram marcadas pelo café, exibem manchas de pingos, e as palavras, escritas frente e verso, falam da ligação de mãe e filho para além da vida.»

Manual de Instruções, Tubolagem, Maria José Oliveira, Lisboa: Galeria Graça Brandão, 2024.

«anti-joalharia»

«Quantos minutos tem a nossa vida?»

 Maria José Oliveira, Aventuroso, livro de artista, in Manual de Instruções, Tubolagem, Maria José Oliveira, Lisboa: Galeria Graça Brandão, 2024.

As You Like It

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025


 

Odetta - Waterboy

 «Nunca fui capaz de viver para as conveniências de qualquer espécie, mesmo que com isso a perca fosse maior do que o ganho.»

Alves Redol. Fanga. 12ª edição. Editorial Caminho, 1995., p. 45

« Eu acho que isto não é teimosia, porque não torcer, quando se tem razão, é saber o que se quer.»

 Alves Redol. Fanga. 12ª edição. Editorial Caminho, 1995., p. 37

''Tinha sede de me consumir''

 Alves Redol. Fanga. 12ª edição. Editorial Caminho, 1995., p. 37

 « Eu é que não me sentia bem. Pesava-me no peito a dúvida de ter feito mal. Por duas vezes estive para lhe contar o que fizera; por duas vezes calei a minha angústia.»

Alves Redol. Fanga. 12ª edição. Editorial Caminho, 1995., p. 35

 “These are my sanctuaries: music that stirs, nature that heals, poetry that whispers, and solitude that understands.”


Marina Tsvetaeva, in a letter to Boris Pasternak, Summer 1926



canavial

''bastos ciúmes''

floreira

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

domingo, 2 de fevereiro de 2025

 Maria Velho da Costa,1977 , Casas Pardas, obra-prima de filigrana intertextual

'' Suster como a branda cabeleira das árvores ferradas à terra sustêm a seiva e a aragem. Suster o desejo do par. Pelos caminhos menos retos prosseguirá a errância sem enlace aparente. Sobre o rastro vêm inscrever-se os mais antigos sinais de toda a trama e a perseguição. Eles derivam sobre o trilho esquivo da promessa impraticável, absortos como os deuses numa esperança mortal. Na provação sem palavras, indesistentes, eles são criados homem e mulher; silentes sob a garra e larguíssimo voo das grandes aves, do costume que agoniza, da lenda tão antiga de uma reparação que sangre. Contemplai como é povoado de trilos simples e cristais da memória dos povos o deserto do amor crescente, a travessia da culpa repartida, desigual. ''

monolinguismo


Sabine Weiss
Bulgarie,1994

 

 Enganam-se aqueles que pensam que a alma do povo é simples ou fácil. 

 João César Monteiro, entrevista ao Jornal Expresso

Veredas

 “talvez o filme seja muito marcado pela nostalgia do velho sonho arcádico de uma perdida idade do ouro”.

1978, João César Monteiro 

''o desatamento dos encantos''

O Amor das Três Romãs

 Meu príncipe, isto já não é o que era dantes. 


 Maria Velho da Costa, Cravo

 Nós não procuramos a verdade: procuramos a nossa Ariane. 


 João César Monteiro, A Comédia de Deus


 

''mulas encantadas''

 « - De onde vens?
- Deixa-me guiar os teus sonhos.»


Filme Veredas, João César Monteiro

''dívida de sono''

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

A Semente do Figo Sagrado

Filme que conta a história de uma família iraniana no pico da luta “Mulher, Vida, Liberdade”

''Através dos seus filmes, Mohammad Rasoulof tem sido um grande opositor da ditadura teocrática que rege a República Islâmica do Irão. Em 2010, o realizador foi preso depois de as autoridades iranianas irromperem pelo set de filmagem, sob a acusação de estar a filmar sem licença. Foi condenado a seis anos de prisão, mais tarde reduzidos para um ano. Em 2017, após realizar A Man of Integrity (vencedor da secção Un Certain Regard do Festival de Cannes), o seu passaporte foi confiscado e foi proibido de sair do país. Pelo mesmo filme, foi condenado, dois anos mais tarde, a um ano de prisão. Rasoulof voltou a ser detido no Verão de 2022, por apoiar os protestos que eclodiram após o desabamento de um prédio que provocou mais de quarenta mortos. Nesse período, testemunhou, com outros prisioneiros políticos, o início do movimento "Mulher, Vida, Liberdade", que se formou em protesto contra a morte da jovem Mahsa Amini.''


domingo, 26 de janeiro de 2025

I Hated The Day I Was Born

Une Femme est une Femme





 

OS TESTÍCULOS ESTÃO SEMPRE LÚCIDOS.

Adolfo Luxúria Canibal. No rasto dos duendes eléctricos (Poesia 1978-2018). Porto Editora, 1ª edição: Setembro de 2019., p. 9

credulidade excessiva

bisonha

 « E se fosses minha irmã eu lembrava-me de sofrer, lembrava-me de amar, e então amava de novo.»

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 74

« Não pensamos, suamos. Não temos de saber, mas de deixar ser. E nunca se está bem segura da diferença entre a arte e o embuste, entre o talento e a fraude, na nossa profissão.»

Maria Velho da Costa.
 Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 72

Viva La Muerte! - Mão Morta

 


 Libuše Jarcovjáková

 «(...), a cara desfeita de creme, o cheiro a podre das flores. Não fica nada, retratos, cartazes, álbuns. Só isso. (Dura): E cada noite é única, única como uma vida.»

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 72

 « Ficar velho de mais é uma forma de lepra, de cataclismo cósmico. Vão caindo pedaços, a memória, o sentimento, os dentes, pedacinhos de ossos

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 71

 « A PORTUGUESA: O nosso país tem lepra.»

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 71

capitosa

 «Lemos para sabermos que não estamos sós.»

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 69

''Qual é o pente que te penteia...''

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 57

Speak Low


 Cláudia R. Sampaio, VER NO ESCURO. Edição Tinta da China

 "Falta convicção aos melhores enquanto os piores estão cheios de apaixonada intensidade"

1926, poeta irlandês W.B. Yeats

 « Só se mente a quem se tem medo, Capitu, já assentámos isso.

CAPITU: Mentira, a gente mente por vergonha, por dó, por vaidade.

MARIA: Ora, tudo isso é medo. À Rosa nunca menti. Enfeitei, escondi. (...)»


Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 56

''seda de luto''

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 48

amantizar-se

Hank Crawford - Mr. Blues

beatices

 nome feminino

depreciativo devoção fingidahipocrisia religiosa

 «Deus só dorme quando lhe convém.

MARIA (altiva): Que quer, monstro?»

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 46

 « Sempre te fizeste uma cagona! O meu adresse compra tudo, até a etiqueta. Pois não pariram as rainhas com a corte atrás do biombo?»

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 44


                         Fotografia de António da Costa Cabral  
                          Arquivo Municipal de Lisboa - Fotográfico

Groselha (O Sapato)

sanhaço

melodioso

grã-finagem

«A BRASILEIRA: Pombinhos, em pombal. Arrulhos, arrufos, presentinhos, passeios, (...)»

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 38

maridinhos

'' a opinar e a arrastar a asa a D. Glória, a asa e o mais que fosse ''

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 37


 

 «(...) não é a alforria que tira o jeito de tratar.

(Pausa. Medita.) E de ser.»

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 36

 ''Rica, mas espiada de longe...''

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 36

mimosear

lampinho

 MARIA (seca): Meu avô acabara de falecer de desgosto. Ou ruindade, não sei.

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 32

The Art Of Easing

sábado, 25 de janeiro de 2025

''A mulher de azul''


Lisboa, 1984
Fotografia Nuno Félix da Costa

 

''Apóstolos da fealdade''

 ''mendigos aborrecidos a olhar para uma lata de conserva''

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

''aguaceiro escuro''

 Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 165

«Ele herdara um mau coração. Em algum momento, esse coração iria matá-lo.»


Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 158

''Lividez post-mortem''

 Joan Didion. O Ano do Pensamento Mágico. 5ª Edição. Tradução de Hugo Gonçalves. Editora Cultura, 2021. p. 155

domingo, 19 de janeiro de 2025

David Lynch & Lykke Li - I'm Waiting Here

 « MARIA (rindo): Ora, Capitu, os homens são todos cágados lascivos, e espumante foi feito para desatar línguas.

CAPITU (rindo): Não que a minha precise.»

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 31

'' a usura da domesticidade''

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 29

«E agora esta presumida, tão reparadona que é (...) »

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 22


Photographer Brandán Gómez

 

 ''E adiar traz a desordem, o caos, o afogamento na ressaca imunda.''

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 22

''Meninice mais mofenta!''

 Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 22

 « Isaura, a escrava Isaura, tão de levar e trazer, mais beata, carola e papa-missas que a dona que ma pôs lá a espiar.»

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 21

'' Sempre que procrastinei, me arrependi.''

 Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 21

 «Catei os próprios vermes dos livros, para que me dissessem o que havia nos textos roídos por eles.»

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 17

''livros velhos, livros mortos, livros enterrados''

 Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 17

Isabella Rossellini - Blue Velvet


Photographer Brandán Gómez

 

 «                                          passava os dias a escrever
cartas     numa esplanada de velhos na baixa     que o pai atirava
para o carvão em brasa     das sardinhas por assar    andava de bicicleta
descalço à chuva      e não consta que tivesse namorada      fugiu
um dia para o estrangeiro     que aquela terra  não dava nada      eu
queria ter ido com ele mas nunca tive coragem       guardei-lhe uma caixa
com as cinzas da infância       um momento dramático para iniciados
berlindes e fruta              numa situação descontrolada                       »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 62

tarola

''amordaçada pela neurose materna''

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 61

«                                                              tu pensas que vais foder
a coninha              mas quem te fode é ela            »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 60

ninfódromo

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 60

'' e envelhecer pardo à lareira''

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 58

David Lynch 'Are You Sure'

Une Femme est une Femme




 

''galinhas azuis a subir e a descer escadas''

 Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 57

lapalissada

«                                      um coração mais frágil
entre guerras »

 Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 54

sidoso

'' o passado dos nossos pais descalços''

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 53

''fascinados com o interior misterioso dos soutiens''

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 52

David Lynch - The Air Is On Fire

 


                         Daido Moriyama

marmoreado

«                                                    não faltavam especialistas       de
grande reputação na praça            a ensinar em horário nobre »

 Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 50

''ressaca de cravos''

 Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 50

sábado, 18 de janeiro de 2025

'' a fome é um líquido amargo na boca''

 Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 49

Book trailer - Clarice Lispector Todas as Crónicas

'' o próprio dia era uma tempestade de facas''

 Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 46

'' os ossos numa osteoporose de formigas ácidas''

 Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 46

«                                                      uma borboleta de asas
tristes    usada invisível à lapela         »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 44

'' a privacidade era num anúncio do jornal''

 Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 44

«                                                   pois do campo eu trazia apenas
umas febres medonhas    que me atiravam para a cama e para o 
delírio dias a fio    suando o ranço daquelas estevas   »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 44

«                                                                                                           havia
sempre um morto        um acamado     alguém que ia dar feno
ao gado e não voltava    havia sempre uma doença da vinha    uns
carapaus quase podres      que chegavam baços numa carrinha de
caixa aberta     »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 42

"EU NUNCA FUI LIVRE" | Clarice Lispector e Fernanda Montenegro

 Vale de Algoso,1980

In "Portugal era assim", Nuno Félix da Costa



« o heroísmo apenas mais uma forma de dizer     hoje levei na tromba
azar      e éramos imigrantes em todo o lado    sobretudo em casa
um país de empréstimo     a que regressava para comer e dormir
e assistir à barbárie conjugal        naquele cretáceo de costumes
impermeável à ideia de divórcio                ou de ser feliz         porra    »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 41

 «mas os meus amigos eram como eu     apenas decentemente normais
incapazes da ferocidade aleatória            que pautava as relações dos
machos    falávamos das miúdas   como falávamos da califórnia
sabíamos o que era    não como lá chegar    cada um de nós
secretamente convencido      de que morreria virgem     para 
uma autópsia revelar um dique de lágrimas                   »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 39

'' macheza indomada''

 Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 39

 «                                                                                  e de o
sexo se ter tornado uma coisa   permeável à palavra    ainda
sabíamos a hora pelo pulso    e o tempo pelo céu       e havia
grandes maquinações futuristas   para tirar todo o sal do mar
todo o minério da terra    toda a miséria da pobreza   e não
paravam de eclodir    que não mudavam quase nada
o mundo era um rizoma de varizes        já muito rebentadas   que
exportava postais de desgraça      »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 37-38

«         condenado a marrar com os cornos   na parede de
vidro do aquário   »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 37

O Patrão Dê-Me Um Cigarro

''um desastre nuclear por detrás da cortina de ferro''

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 37

bordoadas

''estava em estágio para o cemitério''

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 36

'' o cheiro a santinhos pré-fabricados''

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 36

e as bruxas eram sempre mulheres

 «                   a verdadeira causa das coisas    era muitas vezes
bruxedo        e as bruxas eram sempre mulheres                       que os homens
desse mundo      não pescavam nada    »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 33
 «           o meu primo morrendo insosso    numa cama velha
de hospital    ligado a uma máquina que lhe interpretava o coração a
soluçar            »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 32


Libuše Jarcovjáková

 

 «                                      não vá o outro 
ver quem realmente somos     no recanto pobríssimo das nossas
mais pequenas e pessoais tragédias            »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 27
 «                                  imaginei um inverno nuclear e 
a desgraça dos seus filhos monstruosos   »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 23
 «                          porque o medo foi a única coisa que me
deram a comer     à colherada em criança              »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 23

chavascal

 «                              agora não se 
pode nem ofender os ofensáveis  »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 18

 «                                         uma nódoa que
já não sai por muito que se pague e esfregue     »

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 14

 «                              tenho uma arca frigorífica

cheia de coelhos congelados   »


Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 14

 ''não há mar que chegue para afogar tanta gente esfomeada''

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 11


Fotografia Nuno Félix da Costa

 

 «  e os sonhos dos criptojovens    que na febre do desejo se limitam a 
ejacular um pó branco e triste   »


Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 10

 ''cheio de ossos na boca e flores nos olhos''

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 8

''céu de espuma''

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p.8

''o aguaceiro do luto''

Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p. 7

«                                                      não sei precisar quando
começou a acontecer     quando me tornei um homem avistável
mas sei que terá sido     entre os trinta e os quarenta anos  »


Valério Romão. Mais Uma Desilusão. Abysmo, Lisboa, 2024., p.5-6

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

 ''Falta-me o tempo para procurar o tempo perdido.''

Al Berto

"Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem. Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram. Já passei horas em frente ao espelho tentando descobrir quem eu sou. Eu já menti e me arrependi. Já disse a verdade e também me arrependi."

Clarice Lispector

domingo, 12 de janeiro de 2025

que eu lustre

 « - Que queres tu dizer? Que estas lágrimas têm outro motivo, estas súplicas são fingidas? Que finjo tudo para te reter, para não te perder, ter outro homem, agora que estou abandonado?...»

Maria Velho da Costa. Madame. Sociedade Portuguesa de Autores. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1999., p. 16

 ''Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por que dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma.”

Clarice Lispector


É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo

''Meu Deus, como o mundo sempre foi vasto e como eu vou morrer um dia. E até morrer vou viver apenas momentos? Não, dai-me mais do que momentos. Não porque momentos sejam poucos, mas porque momentos raros matam de amor pela raridade. Será que eu vos amo, momentos? Responde, a vida que me mata aos poucos: eu vos amo, momentos? Sim? Ou não? Quero que os outros compreendam o que jamais entenderei. Quero que me deem isto: não a explicação, mas a compreensão. Será que vou ter que viver a vida inteira à espera de que o domingo passe? E ela, a faxineira, que mora na Raiz da Serra e acorda às quatro da madrugada para começar o trabalho da manhã na Zona Sul, de onde volta tarde para a Raiz da Serra, a tempo de dormir para acordar às quatro da manhã e começar o trabalho na Zona Sul, de onde. – Eu vou te dar o meu segredo mortal: viver não é uma arte. Mentiram os que disseram isso. Ah! existem feriados em que tudo se torna tão perigoso. Mas a máquina corre antes que meus dedos corram. A máquina escreve em mim. E eu não tenho segredos, senão exatamente os mortais. Apenas aqueles que me bastam para me fazer ser uma criatura com os meus olhos e um dia morrer. Que direi disso que agora me ocorreu? Pois ocorreu-me que tudo se paga – e que se paga tão caro a vida que até se morre. Passear pelos campos com uma criancinha-fantasma é estar de mãos dadas com o que se perdeu, e os campos ilimitados com sua beleza não ajudam: as mãos se prendem como garras que não querem se perder. Adiantaria matar a criancinha-fantasma e ficar livre? Mas o que fariam os grandes campos onde não se teve a previdência de plantar nenhuma flor senão a de um fantasminha cruel? Cruel por ser criancinha e exigente. Ah! sou realista demais: só ando com os meus fantasmas.''

— Clarice Lispector, no livro “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999

terça-feira, 7 de janeiro de 2025


 

“A minha mãe escondia os sentimentos; talvez soubesse amar, não sei, mas não sabia nem dizê-lo nem mostrá-lo. Uma noite, eu fingia dormir, entrou sem fazer ruído. Acendeu a luz da mesinha de cabeceira e contemplou-me uns momentos. Teria gostado de abrir os olhos, deitar-lhe os braços ao pescoço, mas o amor é dar e receber, isso adivinhava sem que ninguém mo tivesse ensinado.”


Escritora Ilse Losa
― O Mundo Em Que Vivi

em ser casta egéria e também impura

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 259

em ser rosa-dos-ventos da ternura

 

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 259

Daido Moriyama

 

Wild Is The Wind

O tigre na estepe árida

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 248

 Sou dependente dos livros

sem eles posso morrer

perco-me de tão perdida se proibida de ler


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 244
 Eu insistindo 
em partir
e tu teimando em gostar


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 234

ardilosa

 Mas se o desejo crescesse
pela bainha do vidro?

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 233

com cheiro a tília e a lua

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 232

 Entre Alice e ser-se Alice
entre querer e recusar

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 232

If He Changed My Name



                                                              Libuše Jarcovjáková

dúctil

A MINHA SECRETÁRIA

 Tenho um ramo 
de nuvens
na minha secretária

(...)

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 227

INCANDESCÊNCIA

 Se respirar um pouco
mais 
                                     estilhaço-me


Se sentir um pouco
mais
                                     resplandeço


Se saio do aprisco
perco abrigo

Se ficar abrigada
perco apreço

Porque escrevo
no prazer
                                   eu incendeio-me

Quando exijo
paixão
                                  eu incandesço


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 226

GARDÉNIA

domingo, 5 de janeiro de 2025

 Exausto de si mesmo
e do excesso de sentir

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 212
 - Nós somos a queda
   entre o excesso
                           e o nada


Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 206

baixando os olhos...

                                 a custo

Maria Teresa HortaEu Sou a Minha Poesia. Antologia Pessoal. Publicações Dom Quixote, 2019., p. 203
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