domingo, 2 de fevereiro de 2020

''Pássaros cantaroleiros''


Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 37

« A conversa com o pai seria diferente; já a trazia encarreirada. Conversa de homem para homem - menos palavras, nada de acrescentos, (...)»

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 37

negaça

ne.ga.ça
nəˈɡasɐ
nome feminino
1.
coisa ou animal utilizado para atrairengodoisca
2.
gesto, movimento ou comportamento para atrair ou provocar alguém, enganando ou iludindo
3.
não aceitaçãorecusa

toiro azul

«- Nunca gostei de ver pássaros presos... Não dá sorte!»Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 29


Sementes de alpiste para pássaros

«(...), mas os calhaus fugiam-lhe, transformados em cobras,»


Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 28

''bico cravador''


Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 27

''arranjara um bebedouro de vidro''


Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 27

''sorriso amalandrado''


Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 27

mundividência

Timeless, 1994, chapa de ferro e néon


panegíricos

''fantasmas de bronze''

''materializações fantasistas da história''

Anacronismo

«Anacronismo significa erro cronológico ou facto, evento ou posição atribuída a um tempo do qual, aparentemente, se está desfasado. Etimologicamente, anacronismo vem do grego anakhronismós, que quer dizer contra o tempo ou contratempo.

''narrativa rosácea ''

narrativas culturais e historiográficas

racialização

«Entretanto, a mitologia do excepcionalismo adquiriu particular força em Portugal a partir dos anos 50 do século passado, quando a diplomacia do Estado Novo precisou de argumentos para justificar internacionalmente a ordem colonial a que submetia os territórios que hoje conhecemos como os países africanos de língua oficial portuguesa. Esta ordem colonial, importa marcar, era simultânea ao regime ditatorial que imperava na metrópole. Ou seja, o imperativo de sobrevivência do regime salazarista — simultaneamente, colonial e fascista — no contexto da ordem política do segundo pós-guerra, usou da fábula Freyriana para naturalizar o seu próprio poder e urdir a narrativa mitológica da missão civilizadora benigna. Nada disto é só passado. Ainda hoje estes legados insistem em reverberar, de forma acrítica, na esfera pública portuguesa.»

in, Jornal O Público.

Lusotropicalismo

Gilberto Freyre
''A quem serve a hegemonia lusotropical e quem são os seus cultores?''

in Jornal O Público.
“And I hear her crying too/ Hot-tears come splashin' on down / Leaking through the cracks / Down upon my face /
I catch 'em in my mouth! / Walk and cry, walk and cry”.

FROM HER TO ETERNITY (1984)

Nick Cave & The Bad Seeds 

''monótonas políticas identitárias ''

multitudes

descolonização política

''um farfalho de vento''


Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 26

''enrolar cordel no pião''


Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 26

« À pancada não me dobro.»


Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 25

'' a medo não me levas.''


Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 25

« - Um homem nunca chora, mesmo que veja as tripas doutro na mão...
Apressando, o Constantino deitou a ponta dos dedos a umas lágrimas que queriam rebentar, e ali mesmo as esmagou, segurando as outras que já vinham numa carreirinha para fazerem pranto. Baixou a cabeça por instantes, erguendo-a depois com um sorriso.»

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 23


She came from Greece she had a thirst for knowledge
She studied sculpture at Saint Martin's College
That's where I
Caught her eye
She told me that her Dad was loaded
I said "In that case I'll have a rum and Coca-Cola"
She said "Fine"
And then in thirty seconds time she said
I wanna live like common people
I wanna do whatever common people do
Wanna sleep with common people
I wanna sleep with common people
Like you
What else could I do
I said "I'll see what I can do"
I took her to a supermarket
I don't know why
But I had to start it somewhere
So it started there
I said, "pretend you've got no money"
She just laughed and said
"Oh you're so funny"
I said "Yeah?
Well I can't see anyone else smiling in here?
Are you sure"
You wanna live like common people
You wanna see whatever common people see
Wanna sleep with common people
You wanna sleep with common people
Like me
But she didn't understand
She just smiled and held my hand
Rent a flat above a shop
Cut your hair and get a job
Smoke some fags and play some pool
Pretend you never went to school
But still you'll never get it right
'Cause when you're laid in bed at night
Watching roaches climb the wall
If you called your Dad he could stop it all, yeah
You'll never live like common people
You'll never do whatever common people do
Never fail like common people
You'll never watch your life slide out of view
And then dance and drink and screw
Because there's nothing else to do
Sing along with the common people
Sing along and it might just get you through
Laugh along with the common people
Laugh along even though they're laughing at you
And the stupid things that you do
Because you think that poor is cool
Like a dog lying in a corner
They will bite you and never warn you
Look out, they'll tear your insides out
'Cause everybody hates a tourist
Especially one who thinks it's all such a laugh
Yeah and the chip stain's grease
Will come out in the bath
You will never understand
How it feels to live your life
With no meaning or control
And with nowhere left to go
You are amazed that they exist
And they burn so bright
Whilst you can only wonder why
Rent a flat above a shop
Cut your hair and get a job
Smoke some fags and play some pool
Pretend you never went to school
But still you'll never get it right
'Cause when you're laid in bed at night
Watching roaches climb the wall
If you called your Dad he could stop it all, yeah
Never live like common people
Never do what common people do
Never fail like common people
Never watch your life slide out of view
And then dance and drink and screw
Because there's nothing else to do
Wanna live with common people like you
Wanna live with common people like you
Wanna live with common people like you
Wanna live with common people like you
Wanna live with common people like you
Wanna live with common people like you
Wanna live with common people like you
Oh yeah

Compositores: Candida Mary Doyle / Jarvis Branson Cocker / Nick Banks / Russell Senior / Stephen Patrick Mackey

«(...) ninhos nos silvedos, ninhos nas vinhas, quando se sulfatam as cepas...»

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 19
« Se quer arrancar à terra seara que se veja, o lavrador não pode marcar preço para canseiras e cuidados. Tudo começa nos seus projectos, nas insónias prolongadas a que se entrega, como nos tempos em que os generais resolviam batalhas. E com olhos que devassam tudo, e com pés que pisam a leira para lhe lembrar: « cá estou mais um ano, cá estamos, pago em suor tudo o que me puderes dar...»

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 17

Papa-moscas

«Era um ano farto de passarada.»

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 15

avoeira

« O ar sadio é que limpa tudo - desde as fraquezas do peito às cordas desafinadas dos nervos.»

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 15

Jackie Kennedy - Gloves


casinhola

passarões

''ecos voadores''

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 11

Ruy Belo na morte de Marylin Monroe


Morreu a 5 de Agosto de 1962.
Tinha apenas 36 anos.


Na Morte de Marilyn

Morreu a mais bela mulher do mundo
tão bela que não só era assim bela
como mais que chamar-lhe marilyn
devíamos mas era reservar apenas para ela
o seco sóbrio simples nome de mulher
em vez de marilyn dizer mulher.
Não havia no fundo em todo o mundo outra mulher
mas ingeriu demasiados barbitúricos
uma noite ao deitar-se quando se sentiu sozinha
ou suspeitou que tinha errado a vida
ela de quem a vida a bem dizer não era digna
e que exibia vida mesmo quando a suprimia.
Não havia no mundo uma mulher mais bela mas
essa mulher um dia dispôs do direito
ao uso e ao abuso de ser bela
e decidiu de vez não mais o ser
nem doravante ser sequer mulher.
O último dos rostos que mostrou era um rosto de dor
um rosto sem regresso mais que rosto mar
e toda a confusão e convulsão que nele possa caber
e toda a violência e voz que num restrito rosto
possa o máximo mar intensamente condensar.
Tomou todos os tubos que tinha e não tinha
e disse à governanta não me acorde amanhã
estou cansada e necessito de dormir
estou cansada e é preciso eu descansar.
Nunca ninguém foi tão amado como ela
nunca ninguém se viu envolto em semelhante escuridão.
Era mulher era a mulher mais bela
mas não há coisa alguma que fazer se certo dia
a mão da solidão é pedra em nosso peito.
Perto de marilyn havia aqueles comprimidos
seriam solução sentiu na mão a mãe
estava tão sozinha que pensou que a não amavam
que todos afinal a utilizavam
que viam por trás dela a mais comum imagem dela
a cara o corpo de mulher que urge adjectivar
mesmo que seja bela o adjectivo a empregar
que em vez de ver um todo se decida dissecar
analisar partir multiplicar em partes.
Toda a mulher que era se sentiu toda sozinha
julgou que a não amavam todo o tempo como que parou
quis ser até ao fim coisa que mexe coisa viva
um segundo bastou foi só estender a mão
e então o tempo sim foi coisa que passou.


Ruy Belo,

Transporte no Tempo.

Well when you're sitting there in your silk upholstered chair
Talkin' to some rich folk that you know
Well I hope you won't see me in my ragged company
Well, you know I could never be alone
Take me down little Susie, take me down
I know you think you're the queen of the underground
And you can send me dead flowers every morning
Send me dead flowers by the mail
Send me dead flowers to my wedding
And I won't forget to put roses on your grave
Well when you're sitting back in your rose pink Cadillac
Making bets on Kentucky Derby Day
Ah, I'll be in my basement room with a needle and a spoon
And another girl to take my pain away
Take me down little Susie, take me down
I know you think you're the queen of the underground
And you can send me dead flowers every morning
Send me dead flowers by the mail
Send me dead flowers to my wedding
And I won't forget to put roses on your grave
Take me down little Susie, take me down
I know you think you're the queen of the underground
And you can send me dead flowers every morning
Send me dead flowers by the U.S. Mail
Say it with dead flowers in my wedding
And I won't forget to put roses on your grave
No, I won't forget to put roses on your grave
Fonte: LyricFind
Compositores: Keith Richards / Mick Jaggers

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

«Erasmus contou-lhes a fábula de Penélope, que fazia e desfazia a famosa teia, à espera do esposo Ulisses.

 - Vós sois a Penélope da nossa república, disse ele ao terminar; tendes a mesma castidade, paciência e talentos. Refazei o saco, amigas minhas, refazei o saco, até que Ulisses, cansado de dar às pernas, venha tomar entre nós o lugar que lhe cabe. Ulisses é a Sapiência.»

A Sereníssima República, de Machado de Assis 

Fonte: ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II.

''a perfeição não é deste mundo''

A Sereníssima República, de Machado de Assis 

Fonte: ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II.

espórtula


nome feminino
gratificação em dinheirogorjeta
«Não sendo possível perseguir ninguém por defeitos de ortografia ou figuras de retórica, pareceu acertado rever a lei.»

A Sereníssima República, de Machado de Assis 

Fonte: ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II.

argentário

ar.gen.tá.ri.o
ɐrʒẽˈtarju
nome masculino
1.
guarda-pratas
2.
figurado homem de muito dinheirocapitalista
«Como eles são principalmente geômetras, é a geometria que os divide em política. Uns entendem que a aranha deve fazer as teias com fios rectos, é o partido rectilíneo; - outros pensam, ao contrário, que as teias devem ser trabalhadas com fios curvos, - é o partido curvilíneo. Há ainda um terceiro partido, misto e central, com este postulado: - as teias devem ser urdidas de fios rectos e fios curvos; é o partido recto-curvilíneo; e finalmente, uma quarta divisão política, o partido anti-recto-curvilíneo, que fez tábua rasa de todos os princípios litigantes, e propõe o uso de umas teias urdidas de ar, obra transparente e leve, em que não há linhas de espécie alguma. Como a geometria apenas poderia dividi-los, sem chegar a apaixoná-los, adoptaram uma simbólica. Para uns, a linha recta exprime os bons sentimentos, a justiça, a probidade, a inteireza, a constância, etc., ao passo que os sentimentos ruins ou inferiores, como a bajulação, a fraude, a deslealdade, a perfídia, são perfeitamente curvos. Os adversários respondem que não, que a linha curva é a da virtude e do saber, porque é a expressão da modéstia e da humildade; ao contrário, a ignorância, a presunção, a toleima, a parlapatice, são rectas, duramente rectas. O terceiro partido, menos anguloso, menos exclusivista, desbastou a exageração de uns e outros, combinou os contrastes, e proclamou a simultaneidade das linhas como a exacta cópia do mundo físico e moral. O quarto limita-se a negar tudo.»

A Sereníssima República, de Machado de Assis 

Fonte: ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II.


ín.te.rim

inelutável

«Este sistema fará rir aos doutores do sufrágio; a mim não. Ele exclui os desvarios da paixão, os desazos da inépcia, o congresso da corrupção e da cobiça. Mas não foi só por isso que o aceitei; tratando-se de um povo tão exímio na fiação de suas teias, o uso do saco eleitoral era de fácil adaptação, quase uma planta indígena. »

A Sereníssima República, de Machado de Assis 

Fonte: ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II.

as.pér.ri.mo

parasitismo

«(...), e já que um pobre não tem luxos, ao menos que na graça seja igual aos outros.»

Alves Redol. Constantino guardador de vacas e de sonhos. Publicações Europa- América. p. 10

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

«— Hoje quase não tenho tido tempo de estar com você, disse ela a Maria Olímpia, perto de meia-noite.

— Naturalmente, disse a outra abrindo e fechando o leque; e, depois de umedecer os lábios, como para chamar a eles todo o veneno que tinha no coração: — Ipiranga, você está hoje uma viúva deliciosa... Vem seduzir mais algum marido? »

A Senhora do Galvão, de Machado de Assis 

Fonte: ASSIS, Machado de. Volume de contos. Rio de Janeiro : Garnier, 1884.

''(...)era a sensação de uma grande carícia pública, a distância; era a sua maneira de ser amada.''

A Senhora do Galvão, de Machado de Assis 

Fonte: ASSIS, Machado de. Volume de contos. Rio de Janeiro : Garnier, 1884.

''meia lua de diamantes para o cabelo, emblema de Diana,''

A Senhora do Galvão, de Machado de Assis 

Fonte: ASSIS, Machado de. Volume de contos. Rio de Janeiro : Garnier, 1884.
«Ao bater das quatros horas (era a hora do marido) nada de marido. Nem às quatro, nem às quatro e meia.»

A Senhora do Galvão, de Machado de Assis 

Fonte: ASSIS, Machado de. Volume de contos. Rio de Janeiro : Garnier, 1884.

''Há dessas ironias do acaso, que dão vontade de destruir o universo.''

A Senhora do Galvão, de Machado de Assis 

Fonte: ASSIS, Machado de. Volume de contos. Rio de Janeiro : Garnier, 1884.
«Começaram a rosnar dos amores deste advogado com a viúva do brigadeiro, quando eles não tinham ainda passado dos primeiros obséquios. Assim vai o mundo. Assim se fazem algumas reputações más, e, o que parece absurdo, algumas boas. »

A Senhora do Galvão, de Machado de Assis 

Fonte: ASSIS, Machado de. Volume de contos. Rio de Janeiro : Garnier, 1884.

domingo, 26 de janeiro de 2020


It was dark and the moon was out
I wore the prettiest dress
And I couldn't wait to dance all night on the dance floor
I felt so beautiful, worth my sparkles
Jenny drove us and we stole a bottle of wine from the basement
The minute I came and I saw you
You were beautiful, the prettiest guy in the whole crowd
Gorgeous beard with colorful ends, colorful ends
Come on dance with me
Come on, come on dance with me
I heard your name was Dan, I felt the word D-A-N
Rolling in my mind
And I licked my lips, while looking at you fly
I wish you could see me, look at me
Ask me to spend the whole night with you, on the dance floor
'Cause I crave you, I crave you, I crave you tonight
Come on dance with me, come on dance with me
Give me a wink if you want me to faint
And I know you want me 'cause you push me down tonight
Come on dance with me, come on dance with me
Give me a wink if you want me to faint
And I know you want me
Give me a wink if you want me to faint
I see them looking at you
You were beautiful
Now I'm crying 'cause I know I can't kiss you
I want our lips to touch, to burn
Feel the pleasure in my skin
Yeah, yeah, I'm the prettiest virgin
Talk to me, look at me, can't you see I can't take it?
I feel so lonely, I wish I could kiss you under the table
Come on dance with me, come on dance
Give me a wink if you want to me to faint and I know you want me
Ah, gve me a wink if you want to me to faint and I know you want me
Fonte: LyricFind
Compositores: Armand Bultheel / Clara Cappagli

Letras de Prettiest Virgin © Sony/ATV Music Publishing LLC

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

''territórios que a economia ainda não resolveu''

fotógrafo Paulo Catrica

credos religiosos

Prospectus

Maria de Lourdes Pintasilgo (1930-2004)

« O feminismo não é a luta das mulheres contra os homens: é a luta das mulheres pela sua autodeterminação; é o processo de libertação de uma cultura subjugada; é a conquista do espaço social e político onde ser mulher tenha lugar».

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

nespereira-do-Japão

Roger Ballen ''Knock, knock, knock ... ''


«Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo. Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar.»

Missa do Galo, de Machado de Assis
«Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No capítulo de que trato, dava para maometana;»

Missa do Galo, de Machado de Assis
«Vivia tranquilo, naquela casa assombrada da Rua do Senado, com os meus livros, poucas relações, alguns passeios.»

Missa do Galo, de Machado de Assis

domingo, 12 de janeiro de 2020

Jackie Kennedy Funeral Walk


a.lei.vo.si.a

«Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável. »

A Cartomante, Machado de Assis 
Fonte: ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II.
«Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita, como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado.»

A Cartomante, Machado de Assis 
Fonte: ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II.
«Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.»

A Cartomante, Machado de Assis 
Fonte: ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II.

incredulidade

«(...) diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.»

A Cartomante, Machado de Assis 
Fonte: ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

"“a desintegração da melodia
a desintegração do corpo
a desintegração da palavra”

(Rui Nunes, in "Baixo Contínuo")

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020


O deserto inominável


O deserto é um silêncio depois do mar,
é o êxtase da luz sobre o coração da areia.
Vai-se e volta-se e nada se esquece.
Tudo se oculta para depois se dar e se ver
no ponto em que os ventos se cruzam
e as almas gritam no fundo dos poços.
Os cestos sobem e descem prometendo água,
uma frescura que derrete a febre.
Não são as tâmaras que adoçam a boca,
é a beleza das mulheres dissimulando
o desejo como um pecado sob a escuridão dos véus.
As serpentes assobiam ou cantam
conforme o veneno que lhes molda o sangue.
Enroscam-se sobre as pedras
como fragmentos de lua à espera da manhã.
E a sombra alonga-se nas dunas
ondulando rente às palmeiras
como a última cobra do medo das crianças.
Não há ruído maior que este silêncio
que se serve com tâmaras e com chá
na mesa rasteira, sobre a terra molhada.
É no que não se nomeia que está o infinito.


José Jorge Letria. Os Mares Interiores. Editorial Teorema, Lisboa, 2001., p. 66

''A Primavera é sempre uma promessa''


José Jorge Letria. Os Mares Interiores. Editorial Teorema, Lisboa, 2001., p. 62

Sobre a natureza humana

Ao filho expulso do círculo da virtude
não se pede nem clemência nem pureza.
Deixa-se que o tempo lavre e molde,
que as águas passem e deixem, residual,
um sedimento de areia fina,
quase uma promessa de ouro
sobre o lenço de linho, sem mácula.
Ao filho que chora aos pés do trono
não se dá piedade nem ternura.
Deixa-se que o poder, entronizando-o,
o alivie das terrenas mágoas
que tornam um homem igual
aos outros homens quando sofrem.
Tudo isto está escrito nas linhas e nas telas
para que a natureza humana, sinuosa,
não seja, pelo esquecimento burilada,
apenas um cesto de romãs na cesta dos eternos retornos.

José Jorge Letria. Os Mares Interiores. Editorial Teorema, Lisboa, 2001., p. 36

''carne abandonada no estendal da noite.''


José Jorge Letria. Os Mares Interiores. Editorial Teorema, Lisboa, 2001., p. 34
«Eu nunca tive medo dos cães, juro,
nem mesmo quando as papoilas
salpicavam de sangue as toalhas
em que se deita a Primavera.»


José Jorge Letria. Os Mares Interiores. Editorial Teorema, Lisboa, 2001., p. 34
«Começaram a rosnar dos amores deste advogado com a viúva do brigadeiro, quando eles não tinham ainda passado dos primeiros obséquios. Assim vai o mundo. Assim se fazem algumas reputações más, e, o que parece absurdo, algumas boas. »

A Senhora do Galvão, de Machado de Assis Fonte: ASSIS, Machado de. Volume de contos. Rio de Janeiro : Garnier, 1884.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

a venalidade e a hipocrisia

«— Tu és vulgar, que é o pior que pode acontecer a um espírito da tua espécie, replicou-lhe o Senhor. Tudo o que dizes ou digas está dito e redito pelos moralistas do mundo. É assunto gasto; e se não tens força, nem originalidade para renovar um assunto gasto, melhor é que te cales e te retires. »

A Igreja do Diabo de Machado de Assis 

«Nisto os serafins agitaram as asas pesadas de fastio e sono.»

A Igreja do Diabo de Machado de Assis 
«— Só agora concluí uma observação, começada desde alguns séculos, e é que as virtudes, filhas do céu, são em grande número comparáveis a rainhas, cujo manto de veludo rematasse em franjas de algodão. Ora, eu proponho-me a puxá-las por essa franja, e trazê-las todas para minha igreja; atrás delas virão as de seda pura...

 — Velho retórico! murmurou o Senhor. »

A Igreja do Diabo de Machado de Assis 
«Não tarda muito que o céu fique semelhante a uma casa vazia, por causa do preço, que é alto. Vou edificar uma hospedaria barata; em duas palavras, vou fundar uma igreja. Estou cansado da minha desorganização, do meu reinado casual e adventício. É tempo de obter a vitória final e completa. E então vim dizer-vos isto, com lealdade, para que me não acuseis de dissimulação... Boa idéia, não vos parece?
 — Vieste dizê-la, não legitimá-la, advertiu o Senhor, 
— Tendes razão, acudiu o Diabo; mas o amor-próprio gosta de ouvir o aplauso dos mestres. Verdade é que neste caso seria o aplauso de um mestre vencido, e uma tal exigência... Senhor, desço à terra; vou lançar a minha pedra fundamental.

 — Vai.»

A Igreja do Diabo de Machado de Assis 
«Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo.

 Dizendo isto, o Diabo sacudiu a cabeça e estendeu os braços, com um gesto magnífico e varonil. Em seguida, lembrou-se de ir ter com Deus para comunicar-lhe a idéia, e desafiá-lo; levantou os olhos. Acesos de ódio, ásperos de vingança, e disse consigo:

— Vamos, é tempo. E rápido, batendo as asas, com tal estrondo que abalou todas as províncias do abismo, arrancou da sombra para o infinito azul. »

A Igreja do Diabo de Machado de Assis 

prédica

ler/rezar pelo mesmo breviário

proceder do mesmo modo, ser da mesma laia
«Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez.»

A Igreja do Diabo de Machado de Assis 

mirífica


a idade vascular

cro·ni·ci·da·de

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Macela, Alecrim-de-parede, Camomila-nacional, Carrapichinho-de-agulha, Macela-de-campo, Macela-amarelo ou Macelinha

outrossim

Além do mais...

«(...) aquelas fadigas dos casais tinham o perigo de instalar-se como fadiga de vida e, expandindo-se para fora do indivíduo, igualmente do universo, das folhas murchas nas árvores, do rio fluindo dolente como de lama, do desbotado céu. - Mas como tais coisas sucediam sempre apenas quando o homem e a mulher se encontravam a sós, com o rodar dos anos fui evitando todas as situações alongadas «a dois» ( o que tão-pouco era solução ou, se sim, seria cobarde).»


Peter Handke. Para uma Abordagem da Fadiga. Tradução de Isabel de Almeida e Sousa. Difel, Lisboa, 1989., p. 20

«Ao fim da tarde de...abateu-se sobre o Cinema Apolo em...caindo de um céu radiante, uma fadiga catastrófica, por lá adentro. Vitimou um jovem casal, até ali em vibrante harmonia, que pelo impulso da onda da fadiga foi arremessado, um para cada lado; e no final do filme que, diga-se de passagem, tinha o título de Acerca do Amor, sem um olhar mais, ou sequer uma palavra de um para o outro, seguiram caminhos para sempre divididos.» Sim, tais fadigas desavindas, ao atacar, eram sempre acompanhadas de incapacidade para olhar e mutez; eu, não poderia, não teria podido dizer-lhe: «Estou farto de ti», nem sequer simplesmente «Farto!» (o que, como grito comum, nos teria, talvez, libertado dos infernos de solidão): tais fadigas calcinavam a nossa aptidão para falar, a alma. Assim estivéssemos nós, efectivamente, em condições para seguir caminhos diversos! Não, tais fadigas tinham como efeito que os intimamente cindidos, exteriormente, como corpos , tivessem de permanecer juntos. Sucedia então que ambos, possuídos pelo demónio da fadiga, passavam eles mesmos a ser temíveis.

Temíveis para quem?

Sempre para o outro. Aquele género de fadiga, em mutismo, como tinha de permanecer, impelia à violência, que talvez se manifestasse apenas por um olhar que desfigurava o outro, não só como pessoa em si, mas também como sexo oposto: asquerosa e ridícula esta geração de mulheres ou de homens, com este andar carnal feminino, com estas incorrigíveis poses masculinas. Ou então, a violência manifestava-se dissimuladamente, em um outro ser, no como que fortuito matar de uma mosca, no como que distraído arrancar de uma flor. Sucedia também a pessoa ferir-se a si própria, quando um deles trincava a ponta dos dedos, quando o outro se queimava numa chama; quando ele se socava no rosto, quando ela, como uma criança pequena. apenas sem as almofadas protectoras, se atirava para o chão. Por vezes, contudo, um tal padecente de fadiga agredia também fisicamente quem junto com ele fora tomado de aprisionamento, ao inimigo ou à inimiga, pretendia fustigá-lo arredando-o do seu caminho, procurava, ao lançar injúrias balbuciadas, libertar-se dela aos gritos. Esta violência da fadiga-casal, em todo o caso, era a única saída possível; porquanto, usualmente, se tornava então efectivo o afastamento um do outro. Ou, em outro caso, a fadiga dava lugar a um extenuamento pelo qual, enfim, se podia respirar fundo e reflectir. Sucedia, talvez, acabarem por retornar um para junto do outro, e os dois olhavam-se estupefactos, ainda abalados pelo justamente, ocorrido, sem capacidade para compreendê-lo. Podia advir então uma contemplação do parceiro, embora com uns olhos inteiramente outros: « Que foi isso que nos sucedeu no cinema, na rua, sobre a ponte?»


Peter Handke. Para uma Abordagem da Fadiga. Tradução de Isabel de Almeida e Sousa. Difel, Lisboa, 1989., p. 16-18

a fotografia ou a combinação texto-imagem

Fernando Calhau, Materialização de um quadro imaginário, 1975


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