Ao filho expulso do círculo da virtude
não se pede nem clemência nem pureza.
Deixa-se que o tempo lavre e molde,
que as águas passem e deixem, residual,
um sedimento de areia fina,
quase uma promessa de ouro
sobre o lenço de linho, sem mácula.
Ao filho que chora aos pés do trono
não se dá piedade nem ternura.
Deixa-se que o poder, entronizando-o,
o alivie das terrenas mágoas
que tornam um homem igual
aos outros homens quando sofrem.
Tudo isto está escrito nas linhas e nas telas
para que a natureza humana, sinuosa,
não seja, pelo esquecimento burilada,
apenas um cesto de romãs na cesta dos eternos retornos.
José Jorge Letria. Os Mares Interiores. Editorial Teorema, Lisboa, 2001., p. 36
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