segunda-feira, 9 de setembro de 2019
''ganância desenfreada e selvagem''
in Luísa Costa Gomes. Clamor. Teatro. Edições Cotovia, Lisboa, 1994
quarta-feira, 28 de agosto de 2019
At Last
Etta James
At last my love has come along
My lonely days are over and life is like a song, oh yeah
At last the skies above are blue
My heart was wrapped up clover the night I looked at you
I found a dream that I could speak to
A dream that I can call my own
I found a thrill to press my cheek to
A thrill I've never known, oh yeah
You smiled, you smiled oh and then the spell was cast
And here we are in Heaven
For you are mine at last
My lonely days are over and life is like a song, oh yeah
At last the skies above are blue
My heart was wrapped up clover the night I looked at you
I found a dream that I could speak to
A dream that I can call my own
I found a thrill to press my cheek to
A thrill I've never known, oh yeah
You smiled, you smiled oh and then the spell was cast
And here we are in Heaven
For you are mine at last
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«Era e não era
Andava na serra
O Pai era morto
E a Mãe por nascer.
Que havia de fazer?
Cortou as pernas
E deitou-se a correr.
- Diz-se a uma pessoa que não sabe o que quer.
(Tortosendo)
Memórias de um povo. Poesia popular. Orientação e Compilação de Maria Antioneta Garcia. Centro Cultural da Beira Interior, Covilhã, 1982., p. 19
Andava na serra
O Pai era morto
E a Mãe por nascer.
Que havia de fazer?
Cortou as pernas
E deitou-se a correr.
- Diz-se a uma pessoa que não sabe o que quer.
(Tortosendo)
Memórias de um povo. Poesia popular. Orientação e Compilação de Maria Antioneta Garcia. Centro Cultural da Beira Interior, Covilhã, 1982., p. 19
'' - Uma cabeça de lobo!...''
Memórias de um povo. Poesia popular. Orientação e Compilação de Maria Antioneta Garcia. Centro Cultural da Beira Interior, Covilhã, 1982., p.5
''Sou compulsivamente, e desde que sei ler, um leitor. Nunca fui outra coisa na vida do que um
leitor. Um leitor compulsivo e absoluto até ao ponto de imaginar que sou mais uma colecção
de folhas de livros do que propriamente um leitor deles.''
EL, “Uma barca de salvação”, in Ler, Livros e Leitores, Círculo de Leitores, Novembro de 2012, p.36
EL, “Uma barca de salvação”, in Ler, Livros e Leitores, Círculo de Leitores, Novembro de 2012, p.36
''Péguy, por seu lado, no mesmo sentido, no seu “Clio”, texto de maturidade publicado
postumamente, encenou um real diálogo - em relação ao qual se considera ser “the fullest
expression of [his] literary and historical ideas”
146
- onde desenvolveu extensas e profundas
ideias sobre o acto de criação do texto, mas também sobre o leitor, a leitura enquanto acto
também criativo, em si mesmo, e a recepção do texto, mais uma vez avançando em áreas
que só muito mais tarde viriam a ser teoricamente desenvolvidas , e fê-lo sempre à luz
das teorias de Bergson: o impulso de criação, do autor, como do leitor, força vital e motriz
na Duração.
''Non pas qu'il suffise de naître pour vivre, dit-elle [Clio]. Mais, pour vivre, il est nécessaire d'être né. (…) Celui qui est né ne vit pas toujours. Mais celui qui n'est pas né, toujours ne vit pas. Nous retrouvons ici, nous rejoignons notre plus vieille loi temporelle, la loi même de l'événement, la loi même de l'écoulement du temps et pour parler bergsonien de l'écoulement de la durée, cette vieille, cette totale, cette universelle loi de l'irréversibilité, à qui rien (de temporel) n'échappe, à laquelle, dit l'histoire, je vois que le monde moderne lui-même enfin aboutit de toutes parts par les voies tortueuses de l'exploration scientifique. Le Temps porte sa faux toujours sur la même épaule, dit l'histoire. […] C'est une loi unilatérale par excellence. C'est la loi même de l'unilatéralité. (…) Quand on a dit que le temps passe, dit l'histoire, on a tout dit.''
Como diz Roe:
'' History and literature are equal sisters in Péguy’s pantheon. Epistemologically cognate, these like activities of historical and text resurrection are best accomplished through the subjective process of memory and experience/’vieillissement’ that the past, far from being an immutable and absent variable of historical inquiry, can be enjoined to the duration of existence, resuming its rightful place alongside (rather than separate from) the present and the future.''
''E a que responde Eduardo Lourenço, em passagens que comunicam vivamente entre si: Em todos os sentidos do termo, a obra é uma presença intemporal, porque nenhum tempo preciso, nem sequer o do seu empírico nascimento, lhe pode ser assinalado. E como seria de outro modo se ela é a realidade humana na sua máxima irrealidade? Ou se se prefere, irrealidade humana na sua máxima realidade? De uma maneira que nos é incompreensível, o tempo de um homem é conjunção de todos os tempos (e assim uma espécie de eternidade) num só tempo que não se deixa dissolver nas pluralidades hipotéticas que o constituem. Em cada instante o homem recupera em si a totalidade temporal, quer dizer, é e inventa o seu passado como o seu futuro, e acaso mais o primeiro que o segundo.''
Roe, Glenn H., “Chronicler of Heroes and Saints” in The Passion of Charles Péguy – Literature, Modernity and the Crisis of Historicism, Oxford, Oxford University Press, 2014, p.95 147 Idem, p.100
Péguy, Charles, « Clio-Dialogue de L’Histoire et de L’âme Païenne » in Œuvres Complètes de Charles Péguy (1873-1914), Tome VIII, Œuvres Posthumes, Paris, La Nouvelle Revue Française, 1917, p. 118, disponível em https://archive.org/details/oeuvrescomplte08pguoft [Junho 2014].
Roe, Glenn H., “Chronicler of Heroes and Saints” in The Passion of Charles Péguy – Literature, Modernity and the Crisis of Historicism, Oxford, Oxford University Press, 2014, p.127. 150
EL, “Crítica, Obra e Tempo” in O Canto do Signo – Existência e Literatura (1957-1993), Lisboa, Editorial Presença, 1994, p.49
''Non pas qu'il suffise de naître pour vivre, dit-elle [Clio]. Mais, pour vivre, il est nécessaire d'être né. (…) Celui qui est né ne vit pas toujours. Mais celui qui n'est pas né, toujours ne vit pas. Nous retrouvons ici, nous rejoignons notre plus vieille loi temporelle, la loi même de l'événement, la loi même de l'écoulement du temps et pour parler bergsonien de l'écoulement de la durée, cette vieille, cette totale, cette universelle loi de l'irréversibilité, à qui rien (de temporel) n'échappe, à laquelle, dit l'histoire, je vois que le monde moderne lui-même enfin aboutit de toutes parts par les voies tortueuses de l'exploration scientifique. Le Temps porte sa faux toujours sur la même épaule, dit l'histoire. […] C'est une loi unilatérale par excellence. C'est la loi même de l'unilatéralité. (…) Quand on a dit que le temps passe, dit l'histoire, on a tout dit.''
Como diz Roe:
'' History and literature are equal sisters in Péguy’s pantheon. Epistemologically cognate, these like activities of historical and text resurrection are best accomplished through the subjective process of memory and experience/’vieillissement’ that the past, far from being an immutable and absent variable of historical inquiry, can be enjoined to the duration of existence, resuming its rightful place alongside (rather than separate from) the present and the future.''
''E a que responde Eduardo Lourenço, em passagens que comunicam vivamente entre si: Em todos os sentidos do termo, a obra é uma presença intemporal, porque nenhum tempo preciso, nem sequer o do seu empírico nascimento, lhe pode ser assinalado. E como seria de outro modo se ela é a realidade humana na sua máxima irrealidade? Ou se se prefere, irrealidade humana na sua máxima realidade? De uma maneira que nos é incompreensível, o tempo de um homem é conjunção de todos os tempos (e assim uma espécie de eternidade) num só tempo que não se deixa dissolver nas pluralidades hipotéticas que o constituem. Em cada instante o homem recupera em si a totalidade temporal, quer dizer, é e inventa o seu passado como o seu futuro, e acaso mais o primeiro que o segundo.''
Roe, Glenn H., “Chronicler of Heroes and Saints” in The Passion of Charles Péguy – Literature, Modernity and the Crisis of Historicism, Oxford, Oxford University Press, 2014, p.95 147 Idem, p.100
Péguy, Charles, « Clio-Dialogue de L’Histoire et de L’âme Païenne » in Œuvres Complètes de Charles Péguy (1873-1914), Tome VIII, Œuvres Posthumes, Paris, La Nouvelle Revue Française, 1917, p. 118, disponível em https://archive.org/details/oeuvrescomplte08pguoft [Junho 2014].
Roe, Glenn H., “Chronicler of Heroes and Saints” in The Passion of Charles Péguy – Literature, Modernity and the Crisis of Historicism, Oxford, Oxford University Press, 2014, p.127. 150
EL, “Crítica, Obra e Tempo” in O Canto do Signo – Existência e Literatura (1957-1993), Lisboa, Editorial Presença, 1994, p.49
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Eduardo Lourenço,
poet and essayist Charles Péguy
''O romancista não é enquanto indivíduo a voz da Cidade. Mas o romance de uma época com as
suas múltiplas vozes é o que há de mais próximo daquela palavra que noite e dia a Cidade se
murmura, sabendo-o ou não o sabendo, e por fim o que restará dela quando a sua temporal
figura será inevocável.''
Lourenço, Eduardo, “O Romancista e a Cidade” in Ocasionais I, Lisboa, EL e a Regra do Jogo, Edições, 1984, p.94-95
Lourenço, Eduardo, “O Romancista e a Cidade” in Ocasionais I, Lisboa, EL e a Regra do Jogo, Edições, 1984, p.94-95
“literature-in-itself”
Péguy defendia a literatura em si “literature-in-itself”
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poet and essayist Charles Péguy
The poet and essayist Charles Péguy (1873-1914) was born into a remarkable generation of
French literary figures – one that included such luminaries as André Gide, Paul Valéry,
Marcel Proust, Paul Claudel, and Romain Rolland, among others - (…) all of them deeply
affected by the tumultuous years of the Dreyfus Affair (1897-1900) and the human tragedy of
the Great War (1914-1918).
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poet and essayist Charles Péguy
terça-feira, 27 de agosto de 2019
A História com a mediação trans-temporal da Literatura, em aproximação a
Péguy
'' Então, [Péguy] instalou-se num estaminé perto da Sorbonne chamado La Quinzaine. Uma trincheira de onde bombardeava os mestres que, do outro lado, escreviam aqueles monumentos da História (aqueles de onde uma pessoa sai e não está em parte nenhuma). Trava uma batalha quixotesca contra a visão dominante para [defender] a ideia de que uma acumulação de factos não cria um sentido. Nunca criará um sentido. O sentido tem de vir sempre de outra fonte, que não é da sequência. […] O problema do Péguy: como é que o que nós somos, como realidade temporal, adquire sentido? A colecção de instantes é sempre uma maneira de se ser eterno. A eternidade não é uma coisa, um sítio final para onde tudo conflui. Ela está implicada na sucessão de instantes. E isso, [com ele], aprendi para sempre. ''
Ribeiro, Anabela Mota, “Nonagenariamente bem, muito obrigado”, entrevista a Eduardo Lourenço e JoséAugusto França, in Público, Lisboa, 11 de Maio de 2014, sem pp, disponível em http://www.publico.pt/portugal/noticia/nonagenariamente-bem-muito-obrigado-1635141 [Maio 2014].
'' Então, [Péguy] instalou-se num estaminé perto da Sorbonne chamado La Quinzaine. Uma trincheira de onde bombardeava os mestres que, do outro lado, escreviam aqueles monumentos da História (aqueles de onde uma pessoa sai e não está em parte nenhuma). Trava uma batalha quixotesca contra a visão dominante para [defender] a ideia de que uma acumulação de factos não cria um sentido. Nunca criará um sentido. O sentido tem de vir sempre de outra fonte, que não é da sequência. […] O problema do Péguy: como é que o que nós somos, como realidade temporal, adquire sentido? A colecção de instantes é sempre uma maneira de se ser eterno. A eternidade não é uma coisa, um sítio final para onde tudo conflui. Ela está implicada na sucessão de instantes. E isso, [com ele], aprendi para sempre. ''
Ribeiro, Anabela Mota, “Nonagenariamente bem, muito obrigado”, entrevista a Eduardo Lourenço e JoséAugusto França, in Público, Lisboa, 11 de Maio de 2014, sem pp, disponível em http://www.publico.pt/portugal/noticia/nonagenariamente-bem-muito-obrigado-1635141 [Maio 2014].
bergsoniana noção de Duração
''A Duração como tempo de vivência interior, psicológico, e também como
exigência, na sua exteriorização, da preservação da sua pureza criativa''
“valorização lourenciana do instante, da singularidade e da irredutibilidade
ontológica do tempo (cujo ponto de partida se poderá encontrar em Bergson, embora a ele
não se reduza)”
Baptista, Maria Manuel, “Ensaio poiético e crítico ou da filosofia e da criação literária” in Eduardo Lourenço: A Paixão de Compreender, Porto, ASA, 2003, p.100.
Baptista, Maria Manuel, “Ensaio poiético e crítico ou da filosofia e da criação literária” in Eduardo Lourenço: A Paixão de Compreender, Porto, ASA, 2003, p.100.
''No fim do século [XIX], Bergson, com a sua ideia de duração, deu, por assim dizer, um
“corpo” ao Tempo. Ou antes, reduziu a essência da temporalidade à duração. Isso
permitiu que o Tempo se tornasse o único objecto ficcional não só possível, mas digno
de interesse. Curiosamente, a sua época acolheu Bergson como um messias. ''
EL, “Eça e o Tempo” in Piedade, Ana Nascimento, Vasconcelos, Ana Isabel e Matos, A. Campos (coord.), Diálogos com Eça no Novo Milénio, Lisboa, Livros Horizonte, 2004, p.20
EL, “Eça e o Tempo” in Piedade, Ana Nascimento, Vasconcelos, Ana Isabel e Matos, A. Campos (coord.), Diálogos com Eça no Novo Milénio, Lisboa, Livros Horizonte, 2004, p.20
''É tentador assimilar o destino de um povo ao do indivíduo, com o seu nascimento, a sua
adolescência, maturidade e declínio. A analogia organicista é, naturalmente falaciosa. Nem a
povos ou civilizações extintos o paradigma humano se aplica. […] o tempo dessa história não
é, como dos indivíduos, percebido ao mesmo tempo como finito e irreversível. O tempo de um
povo é trans-histórico na própria medida em que é “historicidade”, jogo imprevisível com os
tempos diversos em que o seu destino se espelhou até ao presente e que o futuro reorganizará
de maneira misteriosa. ''
EL, “Portugal como destino – dramaturgia cultural portuguesa” in Portugal como Destino seguido de
Mitologia da Saudade, Lisboa, Gradiva, 1999, p.9
“Portugal como Destino”
''A realidade efectiva de um povo é aquela que ele é como actor do que chamamos “história”.
Mas o conhecimento – em princípio impossível ou inesgotável – da realidade de um povo
enquanto autoconhecimento do seu percurso, tal como a historiografia se propõe decifrá-lo,
não cria nem pode criar o sentido desse percurso. Não é a pluralidade das vicissitudes de um
povo através dos séculos que dá um sentido à sua marcha e fornece um conteúdo à imagem que ele tem de si mesmo. A história chega tarde para dar sentido à vida de um povo. Só o pode
recapitular.''
EL, “Portugal como destino – dramaturgia cultural portuguesa” in Portugal como Destino seguido de Mitologia da Saudade, Lisboa, Gradiva, 1999, p.10
segunda-feira, 26 de agosto de 2019
(...)
« - Minha'alma!... Aqui não há lugar solene
p'ra padecer por quem nos envenene! -»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 156
« - Minha'alma!... Aqui não há lugar solene
p'ra padecer por quem nos envenene! -»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 156
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Jorge de Sena,
versos soltos
CHICOTADAS
Também as minhas mãos e os meus lábios
te desejam.
E se imaginam criando em ti
um alongar dos teus nervos,
um cristalizar dos teus olhos,
um espumejar de saliva nos cantos da tua boca entreaberta,
um sibilar de língua firme contra os dentes,
um latejar de garganta e voz sem fala...
Solta a tua vida nas minhas mãos
e nos meus lábios
e vê, reflectidas no meu rosto,
as chicotadas que o teu corpo raivará.
9/7/39
Obras - Vol. 9.º. pág.63.
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 154
te desejam.
E se imaginam criando em ti
um alongar dos teus nervos,
um cristalizar dos teus olhos,
um espumejar de saliva nos cantos da tua boca entreaberta,
um sibilar de língua firme contra os dentes,
um latejar de garganta e voz sem fala...
Solta a tua vida nas minhas mãos
e nos meus lábios
e vê, reflectidas no meu rosto,
as chicotadas que o teu corpo raivará.
9/7/39
Obras - Vol. 9.º. pág.63.
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 154
''cardumes sem boca''
«Nada tinha sido verde quanto o verde
para cortar em dois os cardumes sem boca.»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 152
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(...)
«Lembro-me de mais
para que já possa lembrar-me.
Sim.
E amanhã lembrar-me-ei de menos
para que possa acreditar
no quanto lembro.»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 148
«Lembro-me de mais
para que já possa lembrar-me.
Sim.
E amanhã lembrar-me-ei de menos
para que possa acreditar
no quanto lembro.»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 148
sexta-feira, 23 de agosto de 2019
Ostracismo
1.HISTÓRIA na Grécia antiga, pena de desterro por um período de 10 anos,pronunciada pelo povo em assembleia, a que eram condenados os cidadãos que, pelo seu excessivo poder ou influência, fossem considerados uma ameaça para o regular funcionamento do sistema de governo
2.exclusão de alguém (de um cargo ou de um lugar), afastamento, expulsão
3. proscrição; banimento; desterro
«(...)
Mão inútil dedilhando angústia...
Dedos...Dedos...
Dedos, para quê?...»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 138
Mão inútil dedilhando angústia...
Dedos...Dedos...
Dedos, para quê?...»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 138
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hiante
adjetivo de 2 géneros
1.
que tem a boca aberta, escancarada
2.
que tem fenda ou abertura larga
3.
que tem grande apetite, faminto
«folhas desprendendo-se comidas dos bichos! »
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 135
ECO
Se eu visse a cor do eco luminoso
levado nas palavras ditas
para que a sombra fosse menos negra,
Eu...
Nós, que nos sentamos loucos
deslizando espuma dessalgada
sobre papéis culpados de brancura,
Nós, olhar igual a móvel doutro século
abandonado hoje numa casa para amanhã,
Nós - somos o último argumento
de ilusão, de liberdade própria,
no fundo a renúncia isenta de saudade,
a dor voltada bater de asas muito alto,
e a renúncia, iguais afirmações dos outros!
Porém se eu visse a cor do eco
imaginaria outras palavras nem novas nem velhas,
possivelmente de silêncio,
que seriam o primeiro lado do polígono -
- dentro dele o mundo giraria,
o último lado no infinito, sim,
mas nem por isso menos eu, nosso,
não há olhos aqui vendo comigo!...
Então cerrem-se as portas e acendamo-nos.
Olhemo-nos agora.
- É este o nosso corpo ... - Serve.
- É esta a nossa alma... - Basta.
- Basta e sobra! Imaginas que lá fora. - Não, não imagino
nada.
O eco... o luminoso! ia dentro da palavra.
29/5/39
Obras - Vol. 9.º, págs. 33-34.
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 133
levado nas palavras ditas
para que a sombra fosse menos negra,
Eu...
Nós, que nos sentamos loucos
deslizando espuma dessalgada
sobre papéis culpados de brancura,
Nós, olhar igual a móvel doutro século
abandonado hoje numa casa para amanhã,
Nós - somos o último argumento
de ilusão, de liberdade própria,
no fundo a renúncia isenta de saudade,
a dor voltada bater de asas muito alto,
e a renúncia, iguais afirmações dos outros!
Porém se eu visse a cor do eco
imaginaria outras palavras nem novas nem velhas,
possivelmente de silêncio,
que seriam o primeiro lado do polígono -
- dentro dele o mundo giraria,
o último lado no infinito, sim,
mas nem por isso menos eu, nosso,
não há olhos aqui vendo comigo!...
Então cerrem-se as portas e acendamo-nos.
Olhemo-nos agora.
- É este o nosso corpo ... - Serve.
- É esta a nossa alma... - Basta.
- Basta e sobra! Imaginas que lá fora. - Não, não imagino
nada.
O eco... o luminoso! ia dentro da palavra.
29/5/39
Obras - Vol. 9.º, págs. 33-34.
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 133
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PALAVRAS
Palavras soltas
que ficaram sem ar sem força de viver...
sem força de cair... -
Mundos de mim sem força de morrer...
Vidas de mim sem força de nascer...
- Palavras soltas...soltas...
tremendo de estar sós...e de partir...
25/4/39
2
Obras - Vol.9.º, pág.22.
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 123
que ficaram sem ar sem força de viver...
sem força de cair... -
Mundos de mim sem força de morrer...
Vidas de mim sem força de nascer...
- Palavras soltas...soltas...
tremendo de estar sós...e de partir...
25/4/39
2
Obras - Vol.9.º, pág.22.
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 123
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«(...)
Como é ridículo mudar
as coisas e as cores e as distâncias
para vozes de embalar sozinho,
para sons de angustiar sozinho...»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 112
Como é ridículo mudar
as coisas e as cores e as distâncias
para vozes de embalar sozinho,
para sons de angustiar sozinho...»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 112
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« - não queirais ser o Deus das conveniências
nem o Deus das minhas consolações.»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 108
nem o Deus das minhas consolações.»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 108
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«(...)
Se não quis tornar a ver-te
foi com medo de mudar -
que os olhos que são sofrer-te
podem não querer conhecer-te
e ver em ti mais que mar...»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 105
Se não quis tornar a ver-te
foi com medo de mudar -
que os olhos que são sofrer-te
podem não querer conhecer-te
e ver em ti mais que mar...»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 105
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«(...)
A ferida curada de si mesma...
Triste e funda e dolorosa
por ser lúcida.»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 93
A ferida curada de si mesma...
Triste e funda e dolorosa
por ser lúcida.»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 93
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«(...)
E um amor não morre nunca,
nunca,
nem mesmo sufocado em ódio e em razões,
nem mesmo com o haver um outro amor.»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 87
E um amor não morre nunca,
nunca,
nem mesmo sufocado em ódio e em razões,
nem mesmo com o haver um outro amor.»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 87
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«(...)
É uma doença
pelo poder com que absorve o pensamento,»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 86
É uma doença
pelo poder com que absorve o pensamento,»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 86
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poesia
''Os pés inúteis...''
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 79
«(...)
e sê-lo-á
porque, não sendo nada,
será o que quisermos.»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 78
e sê-lo-á
porque, não sendo nada,
será o que quisermos.»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 78
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(...)
«Lama de sangue...Sangue já em rio...
O rio o leva ao mar e o mar não bebe -
- o mar conhece a voz da santa guerra,
por ordem do poder que o governa
dará a rumo e rumo a Rosa eterna
e o Mundo nunca mais será o Mundo
mas Terra, Terra inteira, livre terra!»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 77
«Lama de sangue...Sangue já em rio...
O rio o leva ao mar e o mar não bebe -
- o mar conhece a voz da santa guerra,
por ordem do poder que o governa
dará a rumo e rumo a Rosa eterna
e o Mundo nunca mais será o Mundo
mas Terra, Terra inteira, livre terra!»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 77
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(...)
«Fugir, fugir...
mas fugir devagarinho
para compreendermos bem
que estamos a fugir.»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 73
«Fugir, fugir...
mas fugir devagarinho
para compreendermos bem
que estamos a fugir.»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 73
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segunda-feira, 19 de agosto de 2019
segunda-feira, 5 de agosto de 2019
''notícia de outras memórias ou máscaras.''
Orlando Neves. Clamores. (1987-1999) . Decomposição - O Corpo. Edições Afrontamento, Porto, 2000., p. 29
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AS MÃOS - III
«Pequenas coisas prendem, as aves
moribundas, a lâmpada que brilha e fere.
Pequenas coisas, as fogueiras no chão dos campos,
a asa das águias na lua roxa. Pequenas
coisas, o coração dormindo, o sal na boca,
a leve fadiga em que continua a vida.
(...)»
Orlando Neves. Clamores. (1987-1999) . Decomposição - O Corpo. Edições Afrontamento, Porto, 2000., p. 28
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'' na terra frutífera, aceitando morrer''
Orlando Neves. Clamores. (1987-1999) . Decomposição - O Corpo. Edições Afrontamento, Porto, 2000., p. 27
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domingo, 4 de agosto de 2019
FUNDO
Fui procurar-Te ao fundo
lá onde as algas se torcem
roçadas pelas escamas dos peixes,
lá onde estava um barco de ferro
e um morto sem olhos ao leme,
lá onde estavam duas ostras abertas
uma com pérolas outra sem pérolas,
lá onde havia medusas e polvos
e um boné num ramo de coral,
lá onde havia silêncio e um livro rasgado
e uma âncora partida e uma cruz...
Fui procurar-Te ao fundo e já não sabia
que não Te encontraria.
Se não Te procurasse em toda a parte
nunca veria o mundo em que não estás.
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 64
lá onde as algas se torcem
roçadas pelas escamas dos peixes,
lá onde estava um barco de ferro
e um morto sem olhos ao leme,
lá onde estavam duas ostras abertas
uma com pérolas outra sem pérolas,
lá onde havia medusas e polvos
e um boné num ramo de coral,
lá onde havia silêncio e um livro rasgado
e uma âncora partida e uma cruz...
Fui procurar-Te ao fundo e já não sabia
que não Te encontraria.
Se não Te procurasse em toda a parte
nunca veria o mundo em que não estás.
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 64
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VEGETAL
Esguio, muito esguio tronco...
- difícil de rugas e cansaços.
Vagos, muito vagos ramos...
- inúteis de quebras e de súplicas.
Secas, muito secas folhas...
- difíceis de fugas e de outono.
Pálidas, muito pálidas flores...
- Inúteis de perfume e de sentido.
Difícil, sim, tudo difícil...
E no fim de ser difícil tudo inútil.
9/1/39
Obras - Vol. 8.º, pág. 48.
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 55
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«Amargura muito antes de tristeza!...»
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 21
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Ecofeminismo
Ecofeminismo descreve movimentos e filosofias que ligam o feminismo com a ecologia. O termo é acreditado ter sido inventado pela escritora francesa Françoise d'Eaubonne em seu livro Le feminisme ou la Mort.
''a vida escurece como quer''
Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 39
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