quarta-feira, 28 de agosto de 2019

''Péguy, por seu lado, no mesmo sentido, no seu “Clio”, texto de maturidade publicado postumamente, encenou um real diálogo - em relação ao qual se considera ser “the fullest expression of [his] literary and historical ideas” 146 - onde desenvolveu extensas e profundas ideias sobre o acto de criação do texto, mas também sobre o leitor, a leitura enquanto acto também criativo, em si mesmo, e a recepção do texto, mais uma vez avançando em áreas que só muito mais tarde viriam a ser teoricamente desenvolvidas , e fê-lo sempre à luz das teorias de Bergson: o impulso de criação, do autor, como do leitor, força vital e motriz na Duração.

''Non pas qu'il suffise de naître pour vivre, dit-elle [Clio]. Mais, pour vivre, il est nécessaire d'être né. (…) Celui qui est né ne vit pas toujours. Mais celui qui n'est pas né, toujours ne vit pas. Nous retrouvons ici, nous rejoignons notre plus vieille loi temporelle, la loi même de l'événement, la loi même de l'écoulement du temps et pour parler bergsonien de l'écoulement de la durée, cette vieille, cette totale, cette universelle loi de l'irréversibilité, à qui rien (de temporel) n'échappe, à laquelle, dit l'histoire, je vois que le monde moderne lui-même enfin aboutit de toutes parts par les voies tortueuses de l'exploration scientifique. Le Temps porte sa faux toujours sur la même épaule, dit l'histoire. […] C'est une loi unilatérale par excellence. C'est la loi même de l'unilatéralité. (…) Quand on a dit que le temps passe, dit l'histoire, on a tout dit.''

Como diz Roe:

'' History and literature are equal sisters in Péguy’s pantheon. Epistemologically cognate, these like activities of historical and text resurrection are best accomplished through the subjective process of memory and experience/’vieillissement’ that the past, far from being an immutable and absent variable of historical inquiry, can be enjoined to the duration of existence, resuming its rightful place alongside (rather than separate from) the present and the future.''

''E a que responde Eduardo Lourenço, em passagens que comunicam vivamente entre si: Em todos os sentidos do termo, a obra é uma presença intemporal, porque nenhum tempo preciso, nem sequer o do seu empírico nascimento, lhe pode ser assinalado. E como seria de outro modo se ela é a realidade humana na sua máxima irrealidade? Ou se se prefere, irrealidade humana na sua máxima realidade? De uma maneira que nos é incompreensível, o tempo de um homem é conjunção de todos os tempos (e assim uma espécie de eternidade) num só tempo que não se deixa dissolver nas pluralidades hipotéticas que o constituem. Em cada instante o homem recupera em si a totalidade temporal, quer dizer, é e inventa o seu passado como o seu futuro, e acaso mais o primeiro que o segundo.''

 Roe, Glenn H., “Chronicler of Heroes and Saints” in The Passion of Charles Péguy – Literature, Modernity and the Crisis of Historicism, Oxford, Oxford University Press, 2014, p.95 147 Idem, p.100

Péguy, Charles, « Clio-Dialogue de L’Histoire et de L’âme Païenne » in Œuvres Complètes de Charles Péguy (1873-1914), Tome VIII, Œuvres Posthumes, Paris, La Nouvelle Revue Française, 1917, p. 118, disponível em https://archive.org/details/oeuvrescomplte08pguoft [Junho 2014].

 Roe, Glenn H., “Chronicler of Heroes and Saints” in The Passion of Charles Péguy – Literature, Modernity and the Crisis of Historicism, Oxford, Oxford University Press, 2014, p.127. 150

 EL, “Crítica, Obra e Tempo” in O Canto do Signo – Existência e Literatura (1957-1993), Lisboa, Editorial Presença, 1994, p.49

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