quinta-feira, 15 de junho de 2017
«Ah! eu receio o amor, como receio a morte!
Não me despertes, não! Tu, que és ágil e forte,
Não me despertes, não, a mim débil, cansada...
Ah! deixa-me viver assim anestesiada,
Inconsciente, quieta, indiferente a tudo,
Olhar parado sempre, o lábio sempre mudo,
Circundada de sons, perfumes e visões...
O anacâmpsero, a flor que sugere paixões,
Não venhas desfolhá-lo em meu frio regaço...
Deixa-me assim viver neste quietismo lasso,
Não venhas alterar os meus dias longos, tristes...
Não me fales de amor; e, se acaso persistes
Em procurar em mim um filtro que te adoce,
Ama-me, sim, porém sem a ideia da posse,
Com um amor absconso, espiritual, silente,
Ama-me simplesmente e religiosamente,
Como se eu fosse, amigo, uma noviça morta!
Do meu peito não te abro a inviolada porta,
Ah! deixa-me sonhar, ah! deixa-me dormir!»
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 29
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«Frígido coração onde o tédio governa,»
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 29
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1. matrimónio; núpcias
2. figurado união; ligação
2. figurado união; ligação
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«Teus lábios de cinábrio, entreabre-os!»
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 25
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«Suaves, lentos lamentos»
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 23
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Tua frieza aumenta o meu desejo:
Fecho os meus olhos para te esquecer,
Mas quanto mais procuro não te ver,
Quanto mais fecho os olhos mais te vejo.
Humildemente, atrás de ti rastejo,
Humildemente, sem te convencer,
Antes sentindo para mim crescer
Dos teus desdéns o frígido cortejo.
Sei que jamais hei-de possuir-te, sei
Que outro, feliz, ditoso como um rei,
Enlaçará teu virgem corpo em flor.
Meu coração no entanto não se cansa:
Amam metade os que amam com esp'rança,
Amar sem esp'rança é o verdadeiro amor.
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 22
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(...)
Creio que se me nascesse um filho
ele quedar-se-ia eternamente a olhar
as bestas que copulam ao entardecer
Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 89
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NÃO ME PARECE BEM NÃO ME PARECE MAL
Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 89
''enquanto a música ardia num candeeiro''
Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 87
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«Sem exalar um grito, torcia-se de dor. As lágrimas rolavam caudalosas pelo seu semblante, mas antes que atingissem o chão coalhavam nas patilhas, secavam-lhe no peito. Eram lágrimas ardentes, lágrimas de cera, e o arrependimento, vivo como uma chama, acendia-se sobre a sua cabeça. Já todo ele se derretia como um grosso círio.»
Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 86
«É este - disse-me - o lacrimal repleto lago de angústia.» Não fiz atenção, ocupado como estava a beijar-lhe o peito entre os seios que ela ocultava com as mãos, chorando desconsoladamente, quase sem forças para se defender da minha lascívia.»
Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 81
Era meio-dia em ponto
«Era meio-dia em ponto, a hora em que todos os sacerdotes da terra erguem a hóstia sobre as searas.
Recebi minha irmã com os braços em cruz, plenamente liberto no meio de um silêncio augusto e branco de hóstia.»
Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 80
Suavemente, no princípio.
«Suavemente, no princípio. Depois, à medida que o ódio crescia nos olhos do meu espectador, dancei furiosamente, como um doido, como um possesso.»
Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 80
gastar muita saliva
falar muito, sem proveito ou sem acerto
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«Os resíduos de estrela que ficaram entre os seus
cabelos »
Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 77
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Não, não é Cansaço...
Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
É uma sensação abstrata
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...
Confesso: é cansaço!...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
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quarta-feira, 14 de junho de 2017
«Meu dito, meu feito, só me sobrou o tempo de morrer com decência. Quatro gatos pingados apoderam-se do meu corpo, levando-o para a igreja do lado a fim de procederem ao enterro. Retiram a laje infecta do sepulcro do cardeal Tavera e, expulsando a imunda carcassa, que tiveram de atirar a um cemitério de mulas porque já nem os pobres a queriam, meteram-me ali para sempre.
DESCANSEM EM PAZ OS TAPA-RABOS!!!»
Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 66
DESCANSEM EM PAZ OS TAPA-RABOS!!!»
Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 66
segunda-feira, 12 de junho de 2017
domingo, 11 de junho de 2017
sexta-feira, 9 de junho de 2017
"Há um cansaço da inteligência abstracta e é o mais horroroso dos cansaços. Não pesa como o cansaço do corpo nem inquieta como o cansaço pela emoção. É um peso da consciência o mundo, um não poder respirar com a alma."
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
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quinta-feira, 8 de junho de 2017
quarta-feira, 7 de junho de 2017
''As pessoas não sabem pensar em voz alta, é muito difícil exporem oralmente um problema. Sinto que têm muita dificuldade em fazer uma pergunta que exprima um problema que se lhes põe. Quanto à própria preparação, a preparação média das pessoas é má, não estão habituadas a ler um livro de uma ponta à outra. O domínio de línguas estrangeiras é francamente medíocre. Outras têm percursos liceais onde aprenderam Latim, têm hábitos de estudo. Isso para mim é o fundamental. ''
António de Castro Caeiro
António de Castro Caeiro
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segunda-feira, 5 de junho de 2017
domingo, 4 de junho de 2017
«Amar sem esp'rança é o verdadeiro amor.»
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 22
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«Tua frieza aumenta o meu desejo:
Fecho os meus olhos para te esquecer,
Mas quanto mais procuro não te ver,
Quanto mais fecho os olhos mais te vejo.»
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 22
Fecho os meus olhos para te esquecer,
Mas quanto mais procuro não te ver,
Quanto mais fecho os olhos mais te vejo.»
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 22
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«Como é que ficarás vestida de viúva...»
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 21
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«Se eu te morresse amor, Amor, que sentirias tu?»
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 21
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«Ao pé doutro te vejo, amor! Húmida e fria,»
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 21
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«Passa um enterro: é uma criança. Amargurada,
Vai atrás do caixão a mãe...Se houvesse céu!»
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 21
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«Como abelhas de praia em redor dum cortiço...»
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 16
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«A Honestidade e o Vício, »
Eugénio de Castro. Antologia. Introdução, Selecção e Bibliografia de Albano Martins. Imprensa Nacional- Casa da Moeda., p. 16
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''Fere-nos por vezes os olhos''
Luis Buñuel. Poemas. Tradução dos poemas e prefácio de Mário Cesariny. Arcádia. 2ª edição., 1977., Lisboa., p. 61
«Nunca se diz - porque soa como pejorativo , embora o não seja - que Buñuel «escreve em cinema». A crítica de cinema tem um léxico peculiar e aplica a sua expressão «leitura cinematográfica» à visão analítica de um filme. Buñuel é dos realizadores a quem melhor convém a expressão. Ao observarmos os seus filmes com atenção vemos que se trata, em essência, da obra de um escritor.»
Luis Buñuel sobre Lorca
«Frederico dá cabo de mim. Eu pensava que o noivo era um putrefacto, mas vejo que o seu contrário o é ainda mais. É o seu terrível esteticismo que o afasta de nós. Já o seu extremado narcisismo era o bastante para afastá-lo da pura amizade. Isso é com ele. O pior é que até a sua obra poderia ressentir-se.»
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Luis Buñuel
In my eyes, indisposed
In disguise as no one knows
Hides the face, lies the snake
In the sun in my disgrace
Boiling heat, summer stench
'Neath the black the sky looks dead
Call my name through the cream
And I'll hear you scream again
Black hole sun
Won't you come?
And wash away the rain
Black hole sun
Won't you come?
Won't you come?
Won't you come?
Stuttering, cold and damp
Steal the warm wind tired friend
Times are gone for honest men
And sometimes far too long for snakes
In my shoes, a walking sleep
And my youth I pray to keep
Heaven send Hell away
No one sings like you anymore
Black hole sun
Won't you come?
And wash away the rain
Black hole sun
Won't you come?
Won't you come?
Black hole sun
Won't you come?
And wash away the rain
Black hole sun
Won't you come?
Won't you come?
(Black hole sun, black hole sun)
Won't you come
(Black hole sun, black hole sun)
Won't you come
(Black hole sun, black hole sun)
Won't you come
(Black hole sun, black hole sun)
Hang my head, drown my fear
'Till you all just disappear
Black hole sun
Won't you come?
And wash away the rain
Black hole sun
Won't you come?
Won't you come?
Black hole sun
Won't you come?
And wash away the rain
Black hole sun
Won't you come?
Won't you come?
(Black hole sun, black hole sun)
Won't you come
(Black hole sun, black hole sun)
Won't you come
(Black hole sun, black hole sun)
Won't you come
(Black hole sun, black hole sun)
Won't you come
(Black hole sun, black hole sun)
Won't you come
(Black hole sun, black hole sun)
Won't you come
Won't you come
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''Meu amor
conto pelos teus cabelos os dias e as noites
e a distância que vai da terra à minha infância
e nenhum avião ainda percorreu
conto as cidades e os povos os vivos e os mortos
e ainda ficam cabelos por contar
anos e anos e ficarão por contar
Defende-me até que eu conte o teu último cabelo” (Uma Faca nos Dentes)
António José Forte
conto pelos teus cabelos os dias e as noites
e a distância que vai da terra à minha infância
e nenhum avião ainda percorreu
conto as cidades e os povos os vivos e os mortos
e ainda ficam cabelos por contar
anos e anos e ficarão por contar
Defende-me até que eu conte o teu último cabelo” (Uma Faca nos Dentes)
António José Forte
Azuliante
Azuliante, de 1984, representa o regresso à poesia depois de um hiato de 14 anos e é um poema de amor para Aldina
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''carregava uma imensa revolta silenciada.''
sobre António José Forte
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''A ação poética implica: para com o amor uma atitude apaixonada, para com a amizade uma atitude intransigente, para com a revolução uma atitude pessimista, para com a sociedade uma atitude ameaçadora. As visões poéticas são autónomas, a sua comunicação esotérica (…) por isso, para que não me confundam nem agora, nem nunca, declaro a minha revolta, o meu desespero, a minha liberdade, declaro tudo isto de faca nos dentes, de chicote em punho e que ninguém se aproxime para àquem dos mil passos.”
António José Forte
“pai simbólico e tentacular”
''A voz de Forte não é plural, não é direta ou sinuosamente derivada, não é devedora. Como toda a poesia, a verdadeira possui apenas a sua tradição (…) imemorial, dinâmica, abrindo para trás ou para a frente, única maneira de entender-se a tradição. Não se trata de modo ou moda, forma ou fórmula, acidentalidade ou incidentalidade. O teor é o da inteligência fundamental do mundo.” (Nota Inútil. Em Uma Faca nos Dentes, ed. Antígona)
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Quero
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amo amo amo amo amo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
Carlos Drummond de Andrade, em “As impurezas do branco”. 1973.
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amo amo amo amo amo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
Carlos Drummond de Andrade, em “As impurezas do branco”. 1973.
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“Take your broken heart, make it into art.”
Carrie Fisher
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sábado, 3 de junho de 2017
quinta-feira, 1 de junho de 2017
Miguel Esteves Cardoso - Como é que se esquece alguém que se ama
Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'
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segunda-feira, 29 de maio de 2017
|| sei de um rio ||
"O corpo leva uma certeza, o vento
dá-lhe um nome. A terra que pisas
é sempre um limite, a força apenas
vem do mar, ouves teus passos na
cadência da areia e poucos mais. Os
passos são certos? E os traços com
as mãos apagando as dúvidas?
Repousando os olhos nesse chão
consentes que te ache a calma.
Muito baixo o que ias repetindo:
nada é suficiente. Cobres-te. O
mar não te cobre, andávamos sem
saber dos ecos de vozes cruzando-se,
era apenas o mar subindo. Não era
a cidade ali, só seus rumores. As
mantas sobre o corpo, o fogo."
dá-lhe um nome. A terra que pisas
é sempre um limite, a força apenas
vem do mar, ouves teus passos na
cadência da areia e poucos mais. Os
passos são certos? E os traços com
as mãos apagando as dúvidas?
Repousando os olhos nesse chão
consentes que te ache a calma.
Muito baixo o que ias repetindo:
nada é suficiente. Cobres-te. O
mar não te cobre, andávamos sem
saber dos ecos de vozes cruzando-se,
era apenas o mar subindo. Não era
a cidade ali, só seus rumores. As
mantas sobre o corpo, o fogo."
-"Sedução Pelo Inimigo"
- Helder Moura Pereira
- Helder Moura Pereira
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"Ler Holderlin dizes tu
como se disso dependesse a minha vida
ou ir a pé de Bremen até
ao Peloponeso. Cada árvore nos
montes suábios um
pinheiro ondulante e com o meu
lenço de cabeça teces-te-me
sem menos nem mais uma coroa de louros. Sim
sim eu sei que não navego
nas suas nas tuas águas
fico-me com o meu vinho puro."
como se disso dependesse a minha vida
ou ir a pé de Bremen até
ao Peloponeso. Cada árvore nos
montes suábios um
pinheiro ondulante e com o meu
lenço de cabeça teces-te-me
sem menos nem mais uma coroa de louros. Sim
sim eu sei que não navego
nas suas nas tuas águas
fico-me com o meu vinho puro."
-"A Sede Entre os Limites"
- Ulla Hahn
- Ulla Hahn
domingo, 28 de maio de 2017
sábado, 27 de maio de 2017
FRANCE. Cannes. Carlton Hotel. May 9th 1958. Jacques TATI with US actress Jayne MANSFIELD after the presentation of his movie "Mon Oncle" (My Uncle) at the Cannes Festival.
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seios asseados
«Letícia, a desejada Letícia, a dos seios asseados, ... »
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terça-feira, 23 de maio de 2017
o verdadeiro Surrealismo
«não é uma arte nem uma estética, mas uma revolução moral e político-social»
(...)
Aos primeiros clarões da madrugada...
Como um rumor de festa,
Despertavam, partindo em revoada,
As aves a cantar. O Sol rompia
E as derradeiras névoas dissipava...
Tudo cantava e ria!
Só eu chorava...só eu chorava...
Só no meu coração não despontava o dia.
Só eu chorava...só eu chorava...
Só eu sofria...»
António Feijó. Sol de Inverno Seguido de Vinte Poesias Inéditas. Introdução, bibliografia e notas de Álvaro Manuel Machado. Biblioteca de Autores Portugueses., p. 66
Aos primeiros clarões da madrugada...
Como um rumor de festa,
Despertavam, partindo em revoada,
As aves a cantar. O Sol rompia
E as derradeiras névoas dissipava...
Tudo cantava e ria!
Só eu chorava...só eu chorava...
Só no meu coração não despontava o dia.
Só eu chorava...só eu chorava...
Só eu sofria...»
António Feijó. Sol de Inverno Seguido de Vinte Poesias Inéditas. Introdução, bibliografia e notas de Álvaro Manuel Machado. Biblioteca de Autores Portugueses., p. 66
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«Vou, com o pensamento em mil voos disperso,
De saudade em saudade alargando o horizonte.»
António Feijó. Sol de Inverno Seguido de Vinte Poesias Inéditas. Introdução, bibliografia e notas de Álvaro Manuel Machado. Biblioteca de Autores Portugueses., p. 63
De saudade em saudade alargando o horizonte.»
António Feijó. Sol de Inverno Seguido de Vinte Poesias Inéditas. Introdução, bibliografia e notas de Álvaro Manuel Machado. Biblioteca de Autores Portugueses., p. 63
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ar.re.bol
ɐʀəˈbɔɫ
nome masculino
1. | cor de fogo que às vezes o horizonte toma ao nascer e ao pôr do Sol |
2. | figurado princípio |
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«O meu próprio sofrer enche o meu coração.»
António Feijó. Sol de Inverno Seguido de Vinte Poesias Inéditas. Introdução, bibliografia e notas de Álvaro Manuel Machado. Biblioteca de Autores Portugueses., p. 63
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(...)
«E eu regresso trazendo ao meu refúgio, exangue,
Mais uma nova dor, mais uma nova chaga,»
António Feijó. Sol de Inverno Seguido de Vinte Poesias Inéditas. Introdução, bibliografia e notas de Álvaro Manuel Machado. Biblioteca de Autores Portugueses., p. 63
«E eu regresso trazendo ao meu refúgio, exangue,
Mais uma nova dor, mais uma nova chaga,»
António Feijó. Sol de Inverno Seguido de Vinte Poesias Inéditas. Introdução, bibliografia e notas de Álvaro Manuel Machado. Biblioteca de Autores Portugueses., p. 63
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