domingo, 10 de janeiro de 2016
«(...) ficaram a olhar para o lume, com o pensamento muito longe dali.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 124
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«(...), e deitam pães à água com mercúrio dentro''
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 123
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«Não sentiam saudades da aldeia que dormia ao longe, para além da majestosa toalha de água.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 121
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«Pouco a pouco a conversa foi rareando (...)»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 117
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''o Mãos Sangrentas''
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 111
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«Precisamente neste momento encontrou o seu amigo dilecto, Joe Harper, em cujo olhar se via bem que tomara uma grave e triste decisão.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 109
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 109
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sábado, 9 de janeiro de 2016
«Durante quinze dias tinha-me encerrado no meu quarto, e rodeado dos livros em voga nesse tempo (há dezasseis ou dezassete anos); quer dizer, dos livros em que se tratava da arte de tornar os povos felizes, sábios e ricos, em vinte e quatro horas. Tinha então digerido –ou melhor, devorado – todas as lucubrações de todos esses empreiteiros da felicidade pública -, daqueles que aconselham a todos os pobres que se façam escravos, e daqueles que persuadem de que eles são todos reis destronados. – Não causará pois surpresa que eu me encontrasse então num estado de espírito vizinho da vertigem ou da estupidez.
Parecia-me tão-somente que senti, confinado na âmago do meu intelecto, o germe obscuro duma ideia superior a todas as fórmulas de boa dona de casa de que eu tinha recentemente percorrido o dicionário. Mas não era mais que a ideia duma ideia, qualquer coisa de infinitamente vago.
E saí com uma grande sede. Pois o gosto apaixonado das más leituras engendra uma proporcional necessidade de ar puro e refrescos.
Quando ia a entrar num botequim, um mendigo estendeu-me chapéu, com um desses olhares inolvidáveis que derrubariam os tronos, se o espírito agitasse a matéria, e se os olhos dum magnetizador fizesse amadurecer as uvas.
Ao mesmo tempo, ouvi uma voz que murmurava ao meu ouvido, uma voz que logo reconheci; era a um Anjo bom, ou dum bom Demónio, que me acompanha para toda a parte. Visto que Sócrates tinha o seu bom Demónio, porque não terei eu o meu bom Anjo, e porque não terei eu a honra, como Sócrates, de obter a minha licença de loucura, assinada pelo subtil Lélut e pelo sábio Baillarger?
Existe uma diferença entre o Demónio de Sócrates e o meu: o de Sócrates só se lhe manifestava para defender, advertir, coibir; o meu digna-se aconselhar, sugerir, persuadir. Esse pobre Sócrates não tinha senão um Demónio proibitivo; o meu é um grande afirmador, o meu é um Demónio de acção, ou Demónio de combate.
Ora a sua voz murmurava-me isto: "Só é igual a qualquer outro aquele que o prova, e só é digno da liberdade aquele que sabe conquistá-la."
Imediatamente, saltei sobre o mendigo. Com um único soco esmurrei-lhe um olho que ficou, num segundo, do tamanho duma bola. Parti as unhas a esmurrar-lhe os dentes, e como não me sentia suficientemente forte, pois nasci delicado e tenho feito pouco boxe, para derrubar rapidamente esse velho, segurei-lhe com uma das mãos o colete do fato, e com a outra agarrei-lhe o pescoço, e sacudi-lhe violentamente a cabeça de encontro à parede. Devo acrescentar que tinha antecipadamente inspeccionado os arredores com um golpe de vista, e que tinha verificado que nesse lugar afastado e deserto me encontrava, havia já algum tempo, fora do alcance de qualquer agente da polícia.
Tendo em seguida, com um pontapé dado nas costas e assaz enérgico para lhe partir as omoplatas, estendido por terra esse sexagenário enfraquecido, peguei num forte ramo de árvore que estava no chão, e bati-lhe com a energia obstinada dos cozinheiros que querem tornar tenro um bife.
De repente – ó milagre! Ó alegria do filósofo que verifica a excelência da sua teoria! -, vi aquela antiga carcaça voltar-se, levantar-se com energia que eu nunca teria suspeitado numa máquina tão singularmente desarranjada, e, com um olhar de ódio que me pareceu de bom augúrio, o malandrim decrépito atirou-se a mim, socou-me os dois olhos, partiu-me quatro dentes, e com o mesmo ramo de árvore malhou em mim como em centeio verde. – Com a minha medicação enérgica, tinha-lhe assim restituído o orgulho e a vida.
Então, eu fiz-lhe muitos sinais para lhe fazer compreender que considerava a discussão como finda, e levantando-me com a satisfação dum sofista do Pórtico, disse-lhe: "Senhor, sois o meu semelhante! Queira fazer-me a honra de partilhar comigo a minha bolsa; lembre-se, se é realmente filantropo, que é preciso aplicar a todos os seus confrades, quando eles lhe pedirem esmola, a teoria que eu tive a mágoa de experimentar nas suas costas." »
Parecia-me tão-somente que senti, confinado na âmago do meu intelecto, o germe obscuro duma ideia superior a todas as fórmulas de boa dona de casa de que eu tinha recentemente percorrido o dicionário. Mas não era mais que a ideia duma ideia, qualquer coisa de infinitamente vago.
E saí com uma grande sede. Pois o gosto apaixonado das más leituras engendra uma proporcional necessidade de ar puro e refrescos.
Quando ia a entrar num botequim, um mendigo estendeu-me chapéu, com um desses olhares inolvidáveis que derrubariam os tronos, se o espírito agitasse a matéria, e se os olhos dum magnetizador fizesse amadurecer as uvas.
Ao mesmo tempo, ouvi uma voz que murmurava ao meu ouvido, uma voz que logo reconheci; era a um Anjo bom, ou dum bom Demónio, que me acompanha para toda a parte. Visto que Sócrates tinha o seu bom Demónio, porque não terei eu o meu bom Anjo, e porque não terei eu a honra, como Sócrates, de obter a minha licença de loucura, assinada pelo subtil Lélut e pelo sábio Baillarger?
Existe uma diferença entre o Demónio de Sócrates e o meu: o de Sócrates só se lhe manifestava para defender, advertir, coibir; o meu digna-se aconselhar, sugerir, persuadir. Esse pobre Sócrates não tinha senão um Demónio proibitivo; o meu é um grande afirmador, o meu é um Demónio de acção, ou Demónio de combate.
Ora a sua voz murmurava-me isto: "Só é igual a qualquer outro aquele que o prova, e só é digno da liberdade aquele que sabe conquistá-la."
Imediatamente, saltei sobre o mendigo. Com um único soco esmurrei-lhe um olho que ficou, num segundo, do tamanho duma bola. Parti as unhas a esmurrar-lhe os dentes, e como não me sentia suficientemente forte, pois nasci delicado e tenho feito pouco boxe, para derrubar rapidamente esse velho, segurei-lhe com uma das mãos o colete do fato, e com a outra agarrei-lhe o pescoço, e sacudi-lhe violentamente a cabeça de encontro à parede. Devo acrescentar que tinha antecipadamente inspeccionado os arredores com um golpe de vista, e que tinha verificado que nesse lugar afastado e deserto me encontrava, havia já algum tempo, fora do alcance de qualquer agente da polícia.
Tendo em seguida, com um pontapé dado nas costas e assaz enérgico para lhe partir as omoplatas, estendido por terra esse sexagenário enfraquecido, peguei num forte ramo de árvore que estava no chão, e bati-lhe com a energia obstinada dos cozinheiros que querem tornar tenro um bife.
De repente – ó milagre! Ó alegria do filósofo que verifica a excelência da sua teoria! -, vi aquela antiga carcaça voltar-se, levantar-se com energia que eu nunca teria suspeitado numa máquina tão singularmente desarranjada, e, com um olhar de ódio que me pareceu de bom augúrio, o malandrim decrépito atirou-se a mim, socou-me os dois olhos, partiu-me quatro dentes, e com o mesmo ramo de árvore malhou em mim como em centeio verde. – Com a minha medicação enérgica, tinha-lhe assim restituído o orgulho e a vida.
Então, eu fiz-lhe muitos sinais para lhe fazer compreender que considerava a discussão como finda, e levantando-me com a satisfação dum sofista do Pórtico, disse-lhe: "Senhor, sois o meu semelhante! Queira fazer-me a honra de partilhar comigo a minha bolsa; lembre-se, se é realmente filantropo, que é preciso aplicar a todos os seus confrades, quando eles lhe pedirem esmola, a teoria que eu tive a mágoa de experimentar nas suas costas." »
- Charles Baudelaire , "O Spleen de Paris" (trad. port. da relógio d’Água)
"como é possível construir? individualizar? escolher?; se o corpo é tudo, a morte e os outros factos da vida podem significar? sobre esta areia ambígua, areia ou terra? o teu nome,, Jan, é uma violência, como outro nome qualquer; não sou chamado nem chamo, quando muito ressoam os movimentos dos lábios e das narinas,respirando; o barco de longe cumpre-se como espessura maior, tentativa para atingir o rígido perfil de um barco? ou uma ilha? uma dessas sombras que fizeram delirar os navegadores equivocados da minha pátria?
Jan, Jan, se quantas mortes morto? deste tempo e dia? de uma chuva extemporânea? do pulsar dos musgos? de que inverno antecipado?"
Jan, Jan, se quantas mortes morto? deste tempo e dia? de uma chuva extemporânea? do pulsar dos musgos? de que inverno antecipado?"
-"O Mensageiro Diferido"
- Rui Nunes
- Regra do Jogo, 1981 (1a Edição)
- Rui Nunes
- Regra do Jogo, 1981 (1a Edição)
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
«Mas eu sentia-me já apaixonado pela caça aos pássaros. Era uma tarefa que me agradava, me deixava independente e não fazia mal a ninguém, senão às pequenas aves. Comprei um bom material, e a conversa com velhos passarinheiros ensinou-me bastante. Ia sozinho para a caça, andava quase trinta verstas em redor, pela floresta de Kstovo, sobre as margens do Volga, onde encontrava os melharucos de Apolo, pequenos pássaros brancos, de comprida cauda e rara beleza, bastante apreciados pelos amadores.»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 183
«A primeira vez que conseguiu vender pássaros (...)»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 182
revoada
nome feminino
1. ato ou efeito de revoar
2. bando de aves a voar
3. figurado profusão; grande quantidade
às revoadas
de espaço a espaço, aos magotes, em bando
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Mas já fumas a erva-do-diabo?
«E, com um ar triunfante, tirei do bolso um maço de cigarros e acendi um com satisfação.
- Muito bem, assim é que é - disse o avô, observando todos os meus gestos. - Mas já fumas a erva-do-diabo? Não achas que ainda é cedo?»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 173
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
«Tivera as melhores intenções e fora tratado como um cão - um verdadeiro cão. Mas ela havia de se arrepender um dia, talvez quando já fosse tarde de mais. Se ele ao menos pudesse morrer «temporariamente»!
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 72
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« - Oh! Tom! Então não é a primeira vez que estás noivo?
Vendo-a chorar, Tom desculpou-se:
-Não te apoquentes, Becky! Eu já não gosto dela.
-Gostas, gostas. Sabes perfeitamente que sim, Tom.
O rapaz tentou passar-lhe o braço em volta do pescoço, mas ela empurrou-o e, virando a cara para a parede, continuou a chorar. Tom tentou de novo, dizendo-lhe palavras meigas, mas continuou a ser repelido. Então, cedendo ao seu orgulho, muito mal disposto, olhando para a porta de vez em quando, à espera de que se arrependesse e fosse ter com ele. Não a vendo aparecer, pensou que podia ser injusto, e teve vontade de fazer nova tentativa de paz. Decidiu e entrou. Becky estava ainda sentada ao canto, a soluçar, de cara para a parede. Tom aproximou-se dela e ficou um instante com o coração confrangido, sem saber o que fazer, até que disse:
-Becky, não me dizes nada?
Mais soluços.
Tom tirou do bolso a sua melhor jóia, a maçaneta de metal de uma tenaz, e passou-a em volta dela para que a visse, dizendo:
-Não queres aceitar isto, Becky?
Ela atirou o presente para ao chão e Tom saiu da escola no propósito de lá não tornar naquele dia.
Pouco depois, Becky suspeitou da sua intenção. Correu à porta, mas não o viu. Deu a volta ao pátio e, quando se convenceu de que não estava ali, chamou:
-Tom! Vem, Tom!
Escutou atentamente, mas não teve resposta. À sua roda tudo era silêncio e solidão. Arrependida do que tinha feito, sentou-se e continuou a chorar, mas nessa altura já os outros alunos estavam de volta. Teve de esconder o seu desgosto e calar os lamentos do seu coração, carregado com a cruz de uma triste e longa tarde entre estranhos, sem ninguém com quem desabafar a sua tristeza.»
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terça-feira, 5 de janeiro de 2016
«O diabo hoje é o impreciso. Por diabo entendo a negatividade sem resgate, de que não pode vir nenhum bem. Nos discursos imprecisos, na genericidade, na vagueza de pensamento e de linguagem, especialmente se acompanhados de bazófia e de petulância, podemos reconhecer o diabo como inimigo da clareza, tanto interior como nas relações com os outros, o diabo como personificação da mistificação e da automistificação. Falo do impreciso, não do complicado; quando as coisas não são simples, não são claras, pretender a clareza e a simplificação a todo o custo é facilitismo, e é exactamente esta pretensão que obriga os discursos a tornarem-se vagos, ou seja, mentirosos. Em contrapartida o esforço de tentar pensar e exprimir-se com a máxima precisão possível justamente perante as coisas mais complexas é o único comportamento útil e honesto. Conseguir definir as suas próprias dúvidas é muito mais concreto do que qualquer afirmação peremptória cujos fundamentos assentem no vazio, na repetição de palavras cujo significado se gastou devido ao excesso de uso.»
(Italo Calvino, excerto de «Notas sobre a linguagem política», in 'Ponto Final, Escritos sobre Literatura e Sociedade', tradução de José Colaço Barreiros,Teorema Editora, 2003)
Um poema de Ana Duarte
A Minha Saia
A minha saia é debruada de
dentes brancos
— saia rodada com pregas
e esconderijos que se abrem
sobre os precipícios da infância
É uma saia alta como janelas
remendada pelas mãos cuidadosas dos amantes
Debaixo da minha saia há
uma caixa com botões e olhos
que encontrei no leito seco dos caminhos
há um girassol que me aquece
o farelo e o sal dos ossos
há uma colmeia e o crescente negro
da sombra a roçar os joelhos
Há o riso dos velhos
Som de cordas, velas de moinho,
fábulas e exércitos balançam
dentro da minha saia
quando danço
Debaixo da minha saia há também casas
onde recolho o vento, e delas se avista
o pescoço curvo de dois bois mansos
alisando o pasto
Rodo o corpo e a minha saia aponta para o sul
baixo-a para desenhar círculos na poeira
ergo-a para atravessar o rio
na hora em que
a maré sobe
sobe
sobe
sobe
em Criatura, nº 6, Lisboa: Núcleo Autónomo Calíope da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, Novembro de 2011, pp. 9-10.
Um poema de Vítor Nogueira
Dança
A conversa é sobre quem somos
e o que queremos. Não devíamos brincar assim
com facas. De onde vêm estes homens?
Por que fazem estes gestos?
Às vezes a vida é uma dança estruturada.
Tipos que nos deixam aproximar um pouco mais
cada dia que passa. Nunca sabemos
qual deles se vai abaixo a seguir. E onde.
Enquanto a dança vai e vem, escondemos o medo
com isto: fragmentos das nossas memórias,
energia fornecida à tempestade,
o cheiro a tabaco retardado.
em Mar Largo, Lisboa: &etc, 2009, p. 18.
Versões
Gostaria de descrever
Gostaria de descrever uma emoção simples
como alegria ou tristeza
mas não como os outros fazem
socorrendo-se de restos de chuva ou sol
Gostaria de descrever uma luz
que começa a nascer em mim
mas que sei não se assemelhar
a alguma estrela
pois não é tão brilhante
nem tão pura
e é incerta
Gostaria de descrever coragem
sem arrastar atrás de mim um velho leão
e também ansiedade
sem entornar um copo de água
para dizê-lo de outra maneira
desistiria de todas as metáforas
em troca de uma palavra
retirada do meu peito como uma costela
uma palavra
nascida dentro das fronteiras
da minha pele
mas aparentemente isso não é possível
e só para dizer – amo
eu ando às voltas como um louco
à procura de mãos cheias de pássaros
e a minha ternura
que apesar de tudo não é feita de água
pede água para a cara
e a raiva
diferente do fogo
pede-lhe emprestado
o tom eloquente
está tudo obscuro
está tudo obscuro
em mim
que homem de cabelo grisalho
irá separar de uma vez por todas
dizendo
isto é a essência
e isto é a matéria
adormecemos
com uma mão debaixo das nossas cabeças
e com a outra em inúmeros planetas
os nossos pés abandonam-nos
e entram na terra
com as suas pequenas raízes
que na manhã seguinte
arrancamos com dor
Zbigniew Herbert, «I would like to describe», em The Collected Poems: 1956-1998, Ecco: 2007.
versão de manuel a. domingos
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
Escrevia Fernando Pessoa, há quase cem anos atrás:
«A nossa civilização corre o risco de ficar submersa como a Grécia (Atenas) sob a extensão da democracia, de cair inteiramente nas mãos dos escravos, ou então de ficar como Roma, não nas mãos de imperadores filhos do acaso e da decadência, mas de grupos financeiros sem pátria, sem lar na inteligência, sem escrúpulos intelectuais e sem causa em Deus.»
"Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...
No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas - esta é boa! - era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
como almirante em vez de sensação?..."
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
como almirante em vez de sensação?..."
-"Amar É Pensar: Antologia de Poemas de Amor"
- Fernando Pessoa
- Fernando Pessoa
"Quando alguém desce, abaixo do campanário, os degraus, então o silêncio é vida; pois quando o corpo é vida; pois quando o corpo a tal ponto se destaca, depressa se forma uma figura do homem. As janelas de onde tocam os sinos parecem portas da beleza. Sim, as portas, parecendo ainda natureza, são à imagem das árvores da floresta. A pureza, que é simplicidade, é também bela."
-"Pelo Infinito"
- Friedrich Hölderlin
- Friedrich Hölderlin
domingo, 3 de janeiro de 2016
«(,,,) e, de repente, o medo invadiu-me.»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 164
« - O Senhor disse que o homem devia sofrer, então, que sofra! Não podes fazer nada, é esse o seu destino...
Escuto essas palavras com dissabor, exasperam-me: não posso suportar a infâmia, recuso-me a aceitar que sejam desconfiados, injustos e malcriados comigo; sei perfeitamente que não mereço tal atitude. »
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 162
UMA CARRAÇA CORREDORA E UM DESGOSTO
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 63
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«Então sentiu o coração despedaçar-se, teve ciúmes, zangou-se, chorou e odiou toda a gente. Tom era o mais detestado, pensava ela.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 40
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 40
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«Uma certa Amy Lawrence desapareceu do seu coração sem deixar atrás de si o mais leve rasto. Pensara amá-la até à loucura, julgara a sua paixão uma espécie de idolatria, e agora via que não passava de uma simples inclinação. Levara meses a conquistá-la e, quando, uma semana antes, se decidira a aceitá-lo, julgara-se o rapaz mais feliz do mundo. Acontecera isto há uns escassos sete dias quando, ali, num instante, ela deixou de fazer parte da sua vida, como uma estranha que tivesse passado por ela.»
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 26
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FEITOS DE GUERRA E AMOR
Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p. 24
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« - A estrela adormeceu.»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 145
« O cigarro ao canto da boca continua a arder; num gesto feito com a língua, puxa longas fumaças e o seu rosto quase desaparece no meio do fumo. Por vezes, parece-nos que adormeceu; páro de ler e observo o maldito livro, que me enche o coração de angústia.»
Maximo Gorki. Ganhando o meu pão. Obras completas. Editorial Início. 1970., p. 139
«A morte é obra de Deus; o ponto onde Deus toca no Homem.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 284/5
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« O espírito é uma ave carnívora que jamais cessa de ter fome, que devora a carne e a faz desaparecer, assimilando-a.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 277
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« - Foi assim que tu quebraste o meu coração, Senhor! Não quero viver mais!»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 274
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sábado, 2 de janeiro de 2016
«Os seus lábios tinham-se azulado.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 268
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«Mas então eu era forte. Não me vejas como sou agora, envelheci, consumi-me, estou encarquilhado como uma passa. Mas naquele tempo o meu sangue estava em ebulição, não podia ficar de braços cruzados. A oração não me acalmava o suficiente. Deitei-me ao trabalho. Fiz caminhos por onde viemos fui eu que os construí. Fi-los - era o meu ofício, para isso é que eu tinha nascido.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 267
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«O seu rosto corara. Acabava de se lembrar que se libertara do mundo e sentia-se imensamente feliz.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 267
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Deus é «fogo que arde».
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 266
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« - Padre Pacómio, como imaginas tu Deus?
Ele olhou-me, interdito, e depois de reflectir um pouco respondeu:
-Como um pai que ama os seus filhos.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 265
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«Gritavam, esganiçavam-se, mas nenhum deles conseguia convencer o outro.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 263
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«Só no deserto nascem as almas selvagens e indómitas que se rebelam contra o próprio Deus, se mantém de pé perante ele, e o seu espírito brilha quase consubstanciado no de Deus. E Deus vê-os e admira-os porque neles o seu sopro não se corrompeu nem se rebaixou, tornando-se homem.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 263
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« Ao romper do dia levantei-me. Tinha pressa de ir para o deserto.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 263
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nefelibata
adjetivo de 2 géneros
1. que não tem o sentido das realidades
2. (escritor) que cultiva a forma em demasia
nome de 2 géneros
1. pessoa que anda nas nuvens, longe da realidade
2. escritor que cultiva exageradamente a forma, fugindo aos processos literários simples e conhecidos
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panaceia
nome feminino
1. planta imaginária a que se atribuía a virtude de curar todas as doenças
2. figurado remédio para todos os males
1. planta imaginária a que se atribuía a virtude de curar todas as doenças
2. figurado remédio para todos os males
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«Claramente preocupada com os tempos sombrios que se avizinham, uma idosa senhora inquiriu-me sobre como proteger-se de eventuais larápios. Talvez reforçando as portas e janelas, alvitrou.
"Sim, respondi, essa será uma medida que, com grande grau de probabilidade, a porá a salvo dos ladrões menos perigosos.
" Ah, espantou-se ela, então e os mais malfazejos e ferozes? "
"São os profissionais, minha senhora. Esses entram-lhe em casa a qualquer hora, sem passar por porta nem janela."
"Mas entram por onde, então?"
"Ora, é fácil: entram pela televisão."»
"Sim, respondi, essa será uma medida que, com grande grau de probabilidade, a porá a salvo dos ladrões menos perigosos.
" Ah, espantou-se ela, então e os mais malfazejos e ferozes? "
"São os profissionais, minha senhora. Esses entram-lhe em casa a qualquer hora, sem passar por porta nem janela."
"Mas entram por onde, então?"
"Ora, é fácil: entram pela televisão."»
Via Dragoscópio.
locupletar
conjugação
verbo transitivo e pronominal
1. tornar(-se) rico; enriquecer
2. tornar ou ficar completamente cheio; saciar(-se); encher(-se)
verbo transitivo e pronominal
1. tornar(-se) rico; enriquecer
2. tornar ou ficar completamente cheio; saciar(-se); encher(-se)
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"I never got to make that transition from little girl to young woman... and that really screws you up."
Natalie Cole
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pensamentos do dia
quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
''O cérebro alimenta-se de informação; a alma, de afecto.
Vivemos na era da informação. Quando chegará a do amor?
Tenhamos esperança; e trabalhemos de mão dadas para a construir.
E é tudo o que aprendo (e aprendi) na vida – quando, ao nascer do sol, te olho docemente.
De outro modo, é a banalidade das coisas e a insipidez dos seres.”
António Coimbra de Matos
Pinhal do Banzão, 14 de Janeiro de 2007
Vivemos na era da informação. Quando chegará a do amor?
Tenhamos esperança; e trabalhemos de mão dadas para a construir.
E é tudo o que aprendo (e aprendi) na vida – quando, ao nascer do sol, te olho docemente.
De outro modo, é a banalidade das coisas e a insipidez dos seres.”
António Coimbra de Matos
Pinhal do Banzão, 14 de Janeiro de 2007
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“Um corpo que não sonha é como uma casa desabitada – a ruína é o seu destino.”
António Coimbra de Matos
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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
« - Ouvir-me-ás sempre em cada uma das tuas fugas.
-Nunca fugi. Avanço por toda a parte abandonando tudo aquilo que amei e o meu coração está dilacerado.
- Até quando?
-Até atingir o cume. Lá repousarei.
-Não há cume. Há apenas altitudes. Não há repouso. Há apenas lutas. Porque arregalas os olhos de espanto? Não descobriste ainda? Julgas que eu sou a voz de Deus? Não, sou a tua própria voz. Viajo contigo, não te deixo. O céu me livre de te abandonar! Um dia em que te encolerizaste deste-me um nome e eu conservo-o porque me agrada: a minha companheira, é a Víbora.
Calou-se. Tinha-a reconhecido e o meu coração endureceu. Porquê temê-la? Viajámos sempre juntos. Comemos e bebemos os dois nas mesas do exílio, sofremos juntos, gozámos ambos as cidades, as mulheres, as ideias. E quando carregados de despojos, cobertos de feridas regressamos à nossa confortável cela, esta víbora aferra-se em silêncio na minha cabeça, enrosca-se no meu cérebro, esparsa-se pelo meu crânio porque é lá o seu antro, e, juntos, evocamos, sem falar, tudo o que vimos, e ardemos em desejos de ver tudo o que nos falta ver.
Sentimo-nos felizes por verificar que o mundo, visível ou invisível, é um mistério profundo, impenetrável. Profundo, incompreensível, para lá da inteligência, do desejo, da certeza. Discutimos, eu e a minha companheira, a Víbora, e rimo-nos por sermos tão cruéis, tão ternos, tão insaciáveis, rimos desta insaciabilidade e pouco nos importa saber que uma noite acabaremos por jantar um punhado de terra e ficaremos saciados.
Que alegria, ó alma do homem, ó companheira Víbora, viver, amar a terra, olhar a morte e não ter medo!»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 262
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« Um riso terrível rebentou à minha direita, à minha esquerda, dentro de mim.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 261
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