domingo, 14 de junho de 2015

«Pensamento que abre na minha alma
Um poço sem paredes (...)»


Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 22

«Pode Deus existir mas não ser Deus;»


Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 22

«Deus existe mas não é Deus»


Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 22
29-26        /O pensamento é enterrado vivo
                    No mundo e ali sufoca./
                 
                    Sufoco em pensamento ao existir.


(...)


Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 21

«Tornei a minha alma exterior a mim.»

Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 17

«A minha voz
murmura no mar.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 253

SURREALISMO POLÍTICO


Teremos, sim, mais ou menos uso,
conforme diz
a constituição
de trinta e três.

Lembraremos, então, uma perdiz
em voo recto
ao horizonte,
enquanto, mão aberta contra a boca,
suspeitarmos
que temos sono,
ou que fazemos parte, por convite
num entremez
de autor anónimo.

Com mais ou menos sorte escaparemos
ao terceiro tiro.

18/10/69



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 253

Michael Ackerman, From series Half Life, 2010


«Com anos de pousio, um homem cresce.»



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 251
«Eles hão-de voltar
mais experimentados,
com pedras na mão
e falar mais duro.»



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 249

formigas-servos

DEPOIS DA QUEDA

«A solidão, enfim, no meu país.
Cada um em casa nobremente
deitando contas...
Serei? Não sou? Fui? Serei ainda?

Alguns não sabem esconder a cabeça.

(...)»




Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 248

«Toco-me na alma,
que não compreendo.»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 235

sábado, 13 de junho de 2015

"A Verdade é um preconceito, mas todo o conceito é uma verdade possível."


Luís Coelho, Crítica da Razão Espiritual (Dialéctica e Obsessão), Lisboa, Mahatma, 2015, p.104.

sexta-feira, 12 de junho de 2015


«A consciência exala um longo estertor de maldição, pois o véu do seu pudor sofre cruéis rasgões. Humilhação!»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 197

«Por consequência, é coisa certa que o meu coração, por essa luta estranha, ergueu muros aos seus desígnios, como um esfomeado que se come a si mesmo.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 197

«(...), quando travares discussões filosóficas com a agonia à cabeceira da tua cama...»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 190

«Tu consegues aliar o entusiasmo e a frieza interior, observador de humor concentrado como és; enfim, por mim, acho-te perfeito...E tu não me queres compreender!»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 186

Amor entre Ruínas

«Um começo tardio.»

 Jessica Medlicottin (actriz Katharine Hepburn) in Amor entre Ruínas (Love among the Ruins), 1975

Amor entre Ruínas


«E o amor arruinado, quando faz crescer um novo, consegue nascer mais forte, muito mais forte e muito maior.»

Sir Arthur Glanville-Jones (actor Laurence Olivier) in Amor entre Ruínas (Love among the Ruins), 1975

quinta-feira, 11 de junho de 2015


«Meditei muito na minha eterna prisão.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 180

«Não era preciso atormentar a cabeça a fabricar adiantadamente as melancólicas pílulas da pidedade;»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 176

«as exaltações da cólera e as doenças do orgulho.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 175

«Quando queria matar, matava; e isso até me acontecia muitas vezes, e ninguém mo impedia.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 173

«Claro que tendes razão para corar, ossos e gordura, mas escutai-me.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 173

«A metamorfose nunca surgiu a meus olhos senão como a alta e magnânime retumbância de uma felicidade perfeita, que há muito tempo esperava.»



Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 172

«Visto que finjo ignorar que o meu olhar pode causar a morte, (...)»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 170

Escalpar


arrancar a pele do crânio a

«(escondes o teu corpo algures, e eu não sou capaz de o encontrar)»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 169


«Não te lançarei aos pés a máscara da virtude, para poder aparecer diante dos teus olhos tal qual sou; porque a verdade é que nunca a usei (se é que isto é uma desculpa); e, se observares os meus traços com atenção, desde os primeiros instantes hás-de reconhecer-me como teu discípulo respeitoso na perversidade, mas não como teu temível rival.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 168

«Tenho o meu orgulho como qualquer um, e é mais um vício este de o ter talvez mais do que ninguém.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 169

«mas, há um mas, (...)»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 166

Anders Petersen, From series Close Distance, 2002


ossatura


«O anûs foi interceptado por um caranguejo; animado pela minha inércia, guarda a entrada com as suas tenazes, e faz-me doer muito!»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 164/5

«Uma víbora malvada devorou-me o pénis e pôs-se no seu lugar;»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 164

quarta-feira, 10 de junho de 2015

"A questão portuguesa não é de se falar ou não falar português. É de ser ou não ser à maneira portuguesa, que é ser variadíssimas coisas ao mesmo tempo, e por vezes coisas que parecem contraditórias, e é a possibilidade de tomar um tema e olhar de várias maneiras, conforme o temperamento da pessoa, a época em que viveram, a linguagem de que usavam, a maneira como se sentiam na vida."

Agostinho da Silva, Entrevista

peixe-serra

*

29-80              O pensar, e o pensar sempre
                           Dá-me uma forma íntima e (...)
                           De sentir, que me torna desumano.
                           Já irmanar não posso o sentimento
                           Com o sentimento doutros, misantropo
                           Inevitavelmente e em minha essência.

                           Toda a alegria me gela, me faz ódio,
                           Toda a tristeza alheia me aborrece,
                           Absorto eu na minha, maior muito
                           Que outras. E a alegria faz-me odiar
                           E, conquanto o não queira assim sentir,
                           Sinto em mim que a minha alma não tolera
                           Que seja alguém do que ela mais feliz.
                           O rir insulta-me por existir,
                           Que eu sinto que não quero que alguém ria
                           Enquanto eu não poder! Se acaso tenho
                           Sentir, querer, só quero incoerências
                           De indefinida aspiração imensa,
                           Que mesmo no seu sonho é desmedida.
                           E às vezes com pensar sinto crescer
                           Em mim loucuras de (...)
                           E impulsos que me transem de terror
                           Mais são apenas              (...)         e passam.
                           Mais de sempre é em mim (quando não penso
                           E estou no pensamento obscurecido)
                           Uma vaga e (...) aspiração
                           Quiescente, febril e dolorosa
                           Nascida do                    (...)    pensamento
                          E acompanhando-o comovidamente
                          Nas inércias obscuras do meu ser.



Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 13

«Só o vazio lugar do pensamento...»

Fernando Pessoa. Fausto -Tragégia Subjectiva. Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio por Eduardo Lourenço. Editorial Presença., p. 10

«SOREN

Não vamos insultar-nos.

D. JOÃO

Tenho o sangue quente.»


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 86

«LUÍSA

  Quando te ouço, Soren, sinto verdadeiro prazer. Mas quando me afasto de ti, sinto que fui enganada.»


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 84

«SOREN

  Eros foi o deus do amor, mas não era amado. Regina não me ama. Aproveita-se de mim para amar.(...)»


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 60


«A TIA

  As pessoas não querem pensar gravemente nas coisas graves. A angústia tem cem maneiras de escapar. Cem maneiras é pouco, muito pouco. O seu pai matou a mulher para casar com a mãe, que estava grávida de cinco meses. A sua mãe, criada e amante dele, foi quem enrolou um lenço no pescoço da senhora para não se verem as manchas roxas. O senhor, Soren, é filho dum assassino. É por isso que não quer casar, que não quer ter filos. O sangue pede mais sangue; é a lei. Não olhe para mim dessa maneira, Soren.»

Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 58

SOREN

  A profundidade da sua intuição corrige os erros da minha inteligência.


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 58

«Se tivéssemos a certeza de que a eternidade existia, ela tornava-se logo numa estação balnear e mais nada.»


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 58

« SOREN

  Um filósofo é sempre um canalha, com a agravante de ser mais do que isso: de ser uma pessoa grave. Eu pouco entendo de gravidade; sou um homem de espírito.

A TIA

   A certeza é uma coisa grave.

SOREN

A intimidade também. Por isso não aspiro à intimidade com ninguém.»


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 57

«SOREN

  Para dizer coisas abomináveis é preciso ter autoridade. Não lhe reconheço essa autoridade.

A TIA

   Nem eu disse coisas abomináveis. Ainda. Preciso que me autorize. Para si é uma questão de orgulho dar-me autorização.

SOREN

  Estou curioso por saber como pretende desmoralizar-me.

  
  A TIA

  Espere um pouco, Soren. Estamos aqui como numa selva profunda, só na companhia das mais terríveis possibilidades. Podemos transformá-las em assuntos rasos e sem interesse, e podemos elevá-las a grande altura.

SOREN

  A grande altura?

A TIA

  À altura dum crime.»



Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 50/1

«A força de um sedutor é a linguagem, ou seja, a mentira.»


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 49

«(...) quis iludir-me com afinidades que afinal não temos.»


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 48
SOREN

   O meio melhor para escapar dos ataques do espírito é não ter espírito. Amar as mulheres é um remédio contra o espírito.

Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 47

«O amor ama o mistério.»


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 45

A TIA

   Torna-se irritante para uma mulher que um homem esteja tão seguro de não a amar.

SOREN

  É a melhor maneira de ela nos chegar a amar a nós.



Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 44

« O diabo tem aqui muitos motivos  de estudo. Eu só tenho motivos de queixa.»


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 32

SOREN

  A perfídia está nisso. O que não nos agrada está muito perto de nos seduzir.


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 32

PAUL

   Adeus, Soren. Não te compreendo. E o que compreendo não me agrada.



Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 31


SOREN


   Em tudo há uma profunda ironia. O homem liberta, a mulher escolhe. A mulher julga ser conquistada; o homem julga ser o vencedor. A libertar, o homem faz a pergunta, e a escolha da mulher é a resposta.


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 27

«Não é atrevido este teólogo que cheira a flores?»


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 25

«(...) A ideia mais simples pode tornar-se num labirinto escuro, num bosque encantado. A palavra pode ser um príncipe que se disfarça de corvo e de repente voa e percebemos que é uma estrela.»


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 24

«Eu tive que suportar o sofrimento de não ser como os outros.»


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 23
SOREN

   Nunca fiz uma promessa de casamento a uma mulher, nem mesmo por negligência. Só os sedutores insignificantes se servem desses meios. Um homem destes há-de ser sempre um desastrado. Eu sou alguém que apanhou a natureza do amor como quem apanha uma gripe, e que o conhece a fundo. Reservo-me a opinião pessoa de quem uma aventura galante não dura mais de seis meses. Mas o último dos prazeres é o de ser amado, ser amado acima de tudo. Entrar  como um sonho no espírito duma rapariga é uma arte, sair é uma obra-prima.


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 15


«(...) No mundo do corpo pode-se morrer pela mão dum outro. No mundo espiritual só se pode morrer por si mesmo.»


Agustina Bessa-LuísEstados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 15

SOREN

  Cada um vinga-se do mundo como pode. A minha maneira consiste em trazer a minha dor e o meu desgosto no fundo de mim mesmo enquanto o meu riso distrai os outros.



Agustina Bessa-Luís. Estados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992., p. 14
MORADAS 

"Eu não conheço os homens. Há já anos
Que os procuro e lhes fujo, mas em vão.
Não os entendo? Ou entendo-os, porventura,
Demasiado? Mais que nestas formas
Evidentes, de áspera carne e osso,
De súbito partidas por uma débil mola
Se os reúne alguém apaixonado,
mortos na lenda entendo-os
Melhor. E deles volto aos vivos,
Fortalecido amigo solitário,
Como quem vai do manancial latente
Ao rio que sem alento desagua."


-"Sete Poemas"
- Luís Cernuda
- Editorial Inova, 1981

Kierkegaard


«(...) foi um homem extraordinário, sofrendo do mal de ''ter sido um génio numa cidade da província''.


Agustina Bessa-Luís. Estados Eróticos Imediatos de Soren Kierkegaard. Guimarães Editores, 1992




O Barão é um camaleão emocional. É a contradição corporizada. Ora é um “autómato de ferro e de lata que me fazia calafrios de terror”, ora se apresenta dócil, ou irascível, um homem-javali, “uma pura besta”. Esmagava as mulheres mas defendia que “Mulher de quem a gente não tenha medo não vale nada”. Vivia um amor aprisionado, dentro e fora de si. O Barão é um Drácula decadente. Um vampiro reformado compulsivamente. O Barão denunciava o “arquétipo de uma degradação do nosso pathos colectivo”. Porque Branquinho da Fonseca era um “retratista psicológico do homem português”. Retratista universal, aliás. A persona patética e medieval do Tirano, do Cacique Caprichoso, persiste, globalizada. E o grito marialva do Barão ainda ecoa nos lares das sociedades hodiernas. Sentado na sua poltrona, o Chefe de Família é um homem frustrado, desrealizado, sem amor nem esperança. Para Branquinho da Fonseca é o “duplo que há em nós, de violência de combate, contra os desacertos da vida.” Um ser complexo, quixotesco e mesquinho. Branquinho não caricaturava. O Barão é uma caricatura de si mesmo. Teatro moribundo.

“Quem manda aqui sou eu!” vocifera o Barão, pressentindo a sua queda iminente. O Inspector-
-Narrador é o Espetador Involuntário. É o mundo à espera da mudança. “Quem manda aqui sou eu!” teima o Barão.

Edgar Pêra in Prefácio, edição extraordinária de O Barão.
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