«É possível que tenhas esquecido
quem sou
e quais são
os meus tormentos.»
Joaquim Pessoa. Os Herdeiros do Vento. Antologia Apocrifa. LITEXA Portugal, 1984., p. 211
segunda-feira, 8 de junho de 2015
«Mas não deixes que os outros leiam à sua vontade no teu coração e nunca te separes da tua dignidade.
Joaquim Pessoa. Os Herdeiros do Vento. Antologia Apocrifa. LITEXA Portugal, 1984., p. 194
Letargo
nome masculino
Do grego léthargos, «ócio que faz esquecer», pelo latim lethargu-, «letargia»
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Arak drinkin'
Card playin'
Racehorse cheerin'
Pigeon huntin'
The essence of Beirut
Seduction crowd
Cruisin' around
Foolin' about
Tis' all there is on the minds
Of the citizens of Beirut
Beirut
A flower off its terrain
Beirut
Oh her beauty, her good old days
Beirut
That dire end, all a waste
Withering
All unemployed
Hopeless
Ruined and rusted
Jinxed and accursed
Those dealers of Beirut
Oh the strutting
That fancy livin'
Excess of splurging
Exploded vanity
Smothering Beirut
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Yasmine Hamdan
«Quando falo em matar-me, contenta-se em perguntar:
''E quem cuidará das tuas rosas?''
Joaquim Pessoa. Os Herdeiros do Vento. Antologia Apocrifa. LITEXA Portugal, 1984., p. 176
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«atirei-me sobre a sua boca como quem se mata,»
Joaquim Pessoa. Os Herdeiros do Vento. Antologia Apocrifa. LITEXA Portugal, 1984., p. 176
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«Tínha-me dito que esperaria naquele lugar
onde nos havíamos amado tanto.»
Joaquim Pessoa. Os Herdeiros do Vento. Antologia Apocrifa. LITEXA Portugal, 1984., p. 172
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Os assaltos de um mesmo vento
dão à árvore mais robusta uma inclinação definitiva.
Como a árvore se defende das rajadas,
tenho resistido à dor; mas conservo desta luta
uma tristeza que só Ela poderia curar.
Joaquim Pessoa. Os Herdeiros do Vento. Antologia Apocrifa. LITEXA Portugal, 1984., p. 170
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A que foi Daula repousa aqui.
Morreu na terceira noite do mês de Djemazi-el-Akhir,
que é o mês funesto para as flores.
Nós amámo-la.
Seus lábios eram saborosos. A sua alma, tenra.
Se o seu nome te recorda tê-la também acariciado,
evoca pelos dois essa antiga felicidade,
porque a noite dos mortos não conhece o ciúme.
Joaquim Pessoa. Os Herdeiros do Vento. Antologia Apocrifa. LITEXA Portugal, 1984., p. 168
Morreu na terceira noite do mês de Djemazi-el-Akhir,
que é o mês funesto para as flores.
Nós amámo-la.
Seus lábios eram saborosos. A sua alma, tenra.
Se o seu nome te recorda tê-la também acariciado,
evoca pelos dois essa antiga felicidade,
porque a noite dos mortos não conhece o ciúme.
Joaquim Pessoa. Os Herdeiros do Vento. Antologia Apocrifa. LITEXA Portugal, 1984., p. 168
«Ainda ontem nasci, mas o tempo
corre tão depressa que estou no fim da vida.»
Joaquim Pessoa. Os Herdeiros do Vento. Antologia Apocrifa. LITEXA Portugal, 1984., p. 155
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domingo, 7 de junho de 2015
"Continuamos a temer o que ingerimos das formas mais absurdas. Ainda me lembro do tempo em que leite e ovos eram saudáveis e não havia super-alimentos nem sumos detox nem a dieta da Lua. Parece que, entretanto, os ovos foram perdoados e o glúten, mais tarde ou mais cedo, será ilibado de provocar todas as doenças conhecidas. Os egípcios faziam clisteres e purgas eméticas, métodos que, apesar de tudo, deveriam ser mais eficientes na putativa desintoxicação do organismo do que um sumo de aipo com gengibre."
Afonso Cruz escreveu e ilustrou para o número 5 da revista XXI Ter Opinião, um Breve Dicionário dos Medos.
sábado, 6 de junho de 2015
« NICOLAU É um ser solitário porque é um homem íntegro, mortal.»
Jacinto Lucas Pires. Escrever, falar. Cotovia, Lisboa, 2002., p. 75
« HUGO Um baldio sem ninguém. Um baldio sem ninguém, nem animais nem plantas, num dia de sol às três e meia - às três e meia quando não acontece nada. Um baldio sem ninguém, só com uma árvores morta lá ao longe. Ele pensa nesse lugar, onde um dia sofreu o seu grande amor. Sentou-se numa pedra e fumou um maço inteiro para aprender a gostar. Um a um, com sofreguidão - para apanhar o vício, para ficar com uma coisa dentro dele. Para não se sentir assim oco. Um a um, com força. E quando acabou doía-lhe a cara, a boca, e desatou a chorar e caiu ao chão - agarrava-se às ervas secas e sentia o cheiro a podre, a cinzas, a suor - e era como se tivesse um novelo no peito e na garganta, um novelo que ele desfiava e desfiava sem conseguir chegar ao fim.»
Jacinto Lucas Pires. Escrever, falar. Cotovia, Lisboa, 2002., p. 51
«NICOLAU Somos seres solitários porque temos amor.»
Jacinto Lucas Pires. Escrever, falar. Cotovia, Lisboa, 2002., p. 37
«NICOLAU As ondas quando batem na areia.
HUGO São enormes.
NICOLAU Devíamos aprender com elas.
HUGO Metem medo.
NICOLAU São o que há de mais verdadeiro.
HUGO Trazem os afogados.
NICOLAU Voltam sempre.
HUGO E os mortos matam-nos por dentro.
NICOLAU As ondas, as ondas.
HUGO Um dia vou desaparecer. Um dia há-de ser o meu último dia. Um dia há-de ser o primeiro dia em que não estou aqui, e então tudo continuará tal e qual, sem tirar nem pôr, o céu azul, os pássaros a cantar, etcétera...
NICOLAU Uma onda grande quando bate -
HUGO Sim, não há coisa mais bela.»
Jacinto Lucas Pires. Escrever, falar. Cotovia, Lisboa, 2002., p. 32
O ÚLTIMO CASO DO INSPECTOR
O lugar do crime
não é ainda o lugar do crime:
é por enquanto um quarto cheio de penumbra
onde duas sombras nuas se beijam.
O assassino
não é ainda o assassino:
é só um homem cansado
que chega a casa um dia antes do previsto
depois de uma longa viagem.
A vítima
ainda não é a vítima:
é somente uma mulher ardendo
noutros braços.
A testemunha de excepção
não é ainda a testemunha da excepção:
apenas um inspector espadaúdo
que se goza da mulher do próximo.
A arma do crime
ainda não é a arma do crime:
é apenas um candeeiro de bronze apagado,
tranquilo, inocente
sobre uma mesa de cabeceira.
Joaquim Pessoa. Os Herdeiros do Vento. Antologia Apocrifa. LITEXA Portugal, 1984., p. 49
sábado, 30 de maio de 2015
«Os anos passaram. Tentei dar uma ordem ao caos da minha imaginação; mas essa substância, confusa como quando era criança, continua a parecer-me o coração da verdade: nós temos o dever, para lá das nossas preocupações pessoais, para lá dos nossos hábitos cómodos, acima de nós próprios, de fixar um fim, e esforçarmo-nos, dia e noite, desdenhando os risos, a fome e a morte, para o atingirmos; uma alma nobre, logo que atinge o seu fim, desloca-o ainda para mais longe. Não por atingi-lo, mas para nunca parar na sua ascensão. É a única maneira de darmos à vida nobreza e unidade.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 71/2
«O canário, pendurado na mimosa, (...)»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 63
«Muitas e muitas vezes na minha vida, ora voluntariamente, ora contra vontade, pus uma máscara cómoda sobre os tremores - o amor, a verdade, a doença -, e assim pude suportar a vida.»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 63
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 63
sexta-feira, 29 de maio de 2015
Lhasa de Sela - I'm Going In
When my lifetime had just ended
And my death had just begun
I told you I'd never leave you
But I knew this day would come
Give me blood for my blood wedding
I am ready to be born
I feel new
As if this body were the first I'd ever worn
I need straw for the straw fire
I need hard earth for the plow
Don't ask me to reconsider
I am ready to go now
I'm going in I'm going in
This is how it starts
I can see in so far
But afterwards we always forget
Who we are
I'm going in I'm going in
I can stand the pain
And the blinding heat
'Cause I won't remember you
The next time we meet
You'll be making the arrangements
You'll be trying to set me free
Not a moment for the meeting
I'll be busy as a bee
You'll be talking to me
But I just won't understand
I'll be falling by the wayside
You'll be holding out your hand
Don't you tempt me with perfection
I have other things to do
I didn't burrow this far in
Just to come right back to you
I'm going in I'm going in
I have never been so ugly
I have never been so slow
These prison walls get closer now
The further in I go
I'm going in I'm going in
I like to see you from a distance
And just barely believe
And think that
Even lost and blind
I still invented love
I'm going in
I'm going in
I'm going in
And my death had just begun
I told you I'd never leave you
But I knew this day would come
Give me blood for my blood wedding
I am ready to be born
I feel new
As if this body were the first I'd ever worn
I need straw for the straw fire
I need hard earth for the plow
Don't ask me to reconsider
I am ready to go now
I'm going in I'm going in
This is how it starts
I can see in so far
But afterwards we always forget
Who we are
I'm going in I'm going in
I can stand the pain
And the blinding heat
'Cause I won't remember you
The next time we meet
You'll be making the arrangements
You'll be trying to set me free
Not a moment for the meeting
I'll be busy as a bee
You'll be talking to me
But I just won't understand
I'll be falling by the wayside
You'll be holding out your hand
Don't you tempt me with perfection
I have other things to do
I didn't burrow this far in
Just to come right back to you
I'm going in I'm going in
I have never been so ugly
I have never been so slow
These prison walls get closer now
The further in I go
I'm going in I'm going in
I like to see you from a distance
And just barely believe
And think that
Even lost and blind
I still invented love
I'm going in
I'm going in
I'm going in
Falemos de casas, do sagaz exercício de um poder
tão firme e silencioso como só houve
no tempo mais antigo.
Estes são os arquitectos, aqueles que vão morrer,
sorrindo com ironia e doçura no fundo
de um alto segredo que os restitui à lama.
De doces mãos irreprimíveis.
- Sobre os meses, sonhando nas últimas chuvas,
as casas encontram seu inocente jeito de durar contra
a boca subtil rodeada em cima pela treva das palavras.
Digamos que descobrimos amoras, a corrente oculta
do gosto, o entusiasmo do mundo.
Descobrimos corpos de gente que se protege e sorve, e o silêncio
admirável das fontes –
pensamentos nas pedras de alguma coisa celeste
como fogo exemplar.
Digamos que dormimos nas casas, e vemos as musas
um pouco inclinadas para nós como estreitas e erguidas flores
tenebrosas, e temos memória
e absorvente melancolia
e atenção às portas sobre a extinção dos dias altos.
Estas são as casas. E se vamos morrer nós mesmos,
espantamo-nos um pouco, e muito, com tais arquitectos
que não viram as torrentes infindáveis
das rosas, ou as águas permanentes,
ou um sinal de eternidade espalhado nos corações
rápidos.
- Que fizeram estes arquitectos destas casas, eles que vagabundearam
pelos muitos sentidos dos meses,
dizendo: aqui fica uma casa, aqui outra, aqui outra,
para que se faça uma ordem, uma duração,
uma beleza contra a força divina?
Alguém trouxera cavalos, descendo os caminhos da montanha.
Alguém viera do mar.
Alguém chegara do estrangeiro, coberto de pó.
Alguém lera livros, poemas, profecias, mandamentos,
inspirações.
- Estas casas serão destruídas.
Como um girassol, elaborado para a bebedeira, insistente
no seu casamento solar, assim
se esgotará cada casa, esbulhada de um fogo,
vergando a demorada cabeça para os rios misteriosos
da terra
onde os próprios arquitectos se desfazem com suas mãos
múltiplas, as caras ardendo nas velozes
iluminações.
Falemos de casas. É verão, outono,
nome profuso entre as paisagens inclinadas
Traziam o sal, os construtores
da alma, comportavam em si
restituidores deslumbramentos em presença da suspensão
de animais e estrelas,
imaginavam bem a pureza com homens e mulheres
ao lado uns dos outros, sorrindo enigmaticamente,
tocando uns nos outros –
comovidos, difíceis, dadivosos,
ardendo devagar.
Só um instante em cada primavera se encontravam
com o junquilho original,
arrefeciam o resto do ano, eram breves os mestres
da inspiração.
- E as casas levantavam-se
sobre as águas ao comprido do céu.
Mas casas, arquitectos, encantadas trocas de carne
doce e obsessiva - tudo isso
está longe da canção que era preciso escrever.
- E de tudo os espelhos são a invenção mais impura.
Falemos de casas, da morte. Casas são rosas
Para cheirar muito cedo, ou à noite, quando a esperança
Nos abandona para sempre.
Casas são rios diuturnos, nocturnos rios
Celestes que fulguram lentamente
Até uma baía fria – que talvez não exista,
como uma secreta eternidade.
Falemos de casas como quem fala da sua alma,
Entre um incêndio,
Junto ao modelo das searas,
na aprendizagem da paciência de vê-las erguer
e morrer com um pouco, um pouco
de beleza.
Herberto Helder, A Colher na Boca. Lisboa, Ática, 1961. p. 13-15.
- Ou o Poema Contínuo. Lisboa, Assírio & Alvim, 2004. p. 9-12.
tão firme e silencioso como só houve
no tempo mais antigo.
Estes são os arquitectos, aqueles que vão morrer,
sorrindo com ironia e doçura no fundo
de um alto segredo que os restitui à lama.
De doces mãos irreprimíveis.
- Sobre os meses, sonhando nas últimas chuvas,
as casas encontram seu inocente jeito de durar contra
a boca subtil rodeada em cima pela treva das palavras.
Digamos que descobrimos amoras, a corrente oculta
do gosto, o entusiasmo do mundo.
Descobrimos corpos de gente que se protege e sorve, e o silêncio
admirável das fontes –
pensamentos nas pedras de alguma coisa celeste
como fogo exemplar.
Digamos que dormimos nas casas, e vemos as musas
um pouco inclinadas para nós como estreitas e erguidas flores
tenebrosas, e temos memória
e absorvente melancolia
e atenção às portas sobre a extinção dos dias altos.
Estas são as casas. E se vamos morrer nós mesmos,
espantamo-nos um pouco, e muito, com tais arquitectos
que não viram as torrentes infindáveis
das rosas, ou as águas permanentes,
ou um sinal de eternidade espalhado nos corações
rápidos.
- Que fizeram estes arquitectos destas casas, eles que vagabundearam
pelos muitos sentidos dos meses,
dizendo: aqui fica uma casa, aqui outra, aqui outra,
para que se faça uma ordem, uma duração,
uma beleza contra a força divina?
Alguém trouxera cavalos, descendo os caminhos da montanha.
Alguém viera do mar.
Alguém chegara do estrangeiro, coberto de pó.
Alguém lera livros, poemas, profecias, mandamentos,
inspirações.
- Estas casas serão destruídas.
Como um girassol, elaborado para a bebedeira, insistente
no seu casamento solar, assim
se esgotará cada casa, esbulhada de um fogo,
vergando a demorada cabeça para os rios misteriosos
da terra
onde os próprios arquitectos se desfazem com suas mãos
múltiplas, as caras ardendo nas velozes
iluminações.
Falemos de casas. É verão, outono,
nome profuso entre as paisagens inclinadas
Traziam o sal, os construtores
da alma, comportavam em si
restituidores deslumbramentos em presença da suspensão
de animais e estrelas,
imaginavam bem a pureza com homens e mulheres
ao lado uns dos outros, sorrindo enigmaticamente,
tocando uns nos outros –
comovidos, difíceis, dadivosos,
ardendo devagar.
Só um instante em cada primavera se encontravam
com o junquilho original,
arrefeciam o resto do ano, eram breves os mestres
da inspiração.
- E as casas levantavam-se
sobre as águas ao comprido do céu.
Mas casas, arquitectos, encantadas trocas de carne
doce e obsessiva - tudo isso
está longe da canção que era preciso escrever.
- E de tudo os espelhos são a invenção mais impura.
Falemos de casas, da morte. Casas são rosas
Para cheirar muito cedo, ou à noite, quando a esperança
Nos abandona para sempre.
Casas são rios diuturnos, nocturnos rios
Celestes que fulguram lentamente
Até uma baía fria – que talvez não exista,
como uma secreta eternidade.
Falemos de casas como quem fala da sua alma,
Entre um incêndio,
Junto ao modelo das searas,
na aprendizagem da paciência de vê-las erguer
e morrer com um pouco, um pouco
de beleza.
Herberto Helder, A Colher na Boca. Lisboa, Ática, 1961. p. 13-15.
- Ou o Poema Contínuo. Lisboa, Assírio & Alvim, 2004. p. 9-12.
Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
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