sábado, 6 de junho de 2015


«NICOLAU    As ondas quando batem na areia.

HUGO              São enormes.

NICOLAU     Devíamos aprender com elas.

HUGO             Metem medo.

NICOLAU      São o que há de mais verdadeiro.

HUGO              Trazem os afogados.

NICOLAU      Voltam sempre.

HUGO             E os mortos matam-nos por dentro.

NICOLAU     As ondas, as ondas.

HUGO             Um dia vou desaparecer. Um dia há-de  ser o meu último dia. Um dia há-de ser o primeiro dia em que não estou aqui, e então tudo continuará tal e qual, sem tirar nem pôr, o céu azul, os pássaros a cantar, etcétera...

NICOLAU      Uma onda grande quando bate -

HUGO            Sim, não há coisa mais bela.»



Jacinto Lucas PiresEscrever, falar. Cotovia, Lisboa, 2002., p. 32
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