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sábado, 6 de junho de 2015
« NICOLAU É um ser solitário porque é um homem íntegro, mortal.»
Jacinto Lucas Pires. Escrever, falar. Cotovia, Lisboa, 2002., p. 75
« HUGO Um baldio sem ninguém. Um baldio sem ninguém, nem animais nem plantas, num dia de sol às três e meia - às três e meia quando não acontece nada. Um baldio sem ninguém, só com uma árvores morta lá ao longe. Ele pensa nesse lugar, onde um dia sofreu o seu grande amor. Sentou-se numa pedra e fumou um maço inteiro para aprender a gostar. Um a um, com sofreguidão - para apanhar o vício, para ficar com uma coisa dentro dele. Para não se sentir assim oco. Um a um, com força. E quando acabou doía-lhe a cara, a boca, e desatou a chorar e caiu ao chão - agarrava-se às ervas secas e sentia o cheiro a podre, a cinzas, a suor - e era como se tivesse um novelo no peito e na garganta, um novelo que ele desfiava e desfiava sem conseguir chegar ao fim.»
Jacinto Lucas Pires. Escrever, falar. Cotovia, Lisboa, 2002., p. 51
«NICOLAU Somos seres solitários porque temos amor.»
Jacinto Lucas Pires. Escrever, falar. Cotovia, Lisboa, 2002., p. 37
«NICOLAU As ondas quando batem na areia.
HUGO São enormes.
NICOLAU Devíamos aprender com elas.
HUGO Metem medo.
NICOLAU São o que há de mais verdadeiro.
HUGO Trazem os afogados.
NICOLAU Voltam sempre.
HUGO E os mortos matam-nos por dentro.
NICOLAU As ondas, as ondas.
HUGO Um dia vou desaparecer. Um dia há-de ser o meu último dia. Um dia há-de ser o primeiro dia em que não estou aqui, e então tudo continuará tal e qual, sem tirar nem pôr, o céu azul, os pássaros a cantar, etcétera...
NICOLAU Uma onda grande quando bate -
HUGO Sim, não há coisa mais bela.»
Jacinto Lucas Pires. Escrever, falar. Cotovia, Lisboa, 2002., p. 32
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