terça-feira, 8 de julho de 2014
«Yes it's always bloody Sundy/In the concentration camps»
John Lennon. Canções (1968-1980) Colecção Rock On n.º 5. Centelha., p.97
We live with no reason
Kicked around for no reason
Thrown out without reason
Lite tools
We work in a prison
And hate in a prison
And die in a prison
As a rule
Vivemos sem razão
Tratados a pontapés sem razão
Deitados fora sem razão
Como objectos
Trabalhamos numa prisão
E odiamos numa prisão
E morremos numa prisão
Por via de regra
John Lennon. Canções (1968-1980) Colecção Rock On n.º 5. Centelha., p.93
Kicked around for no reason
Thrown out without reason
Lite tools
We work in a prison
And hate in a prison
And die in a prison
As a rule
Vivemos sem razão
Tratados a pontapés sem razão
Deitados fora sem razão
Como objectos
Trabalhamos numa prisão
E odiamos numa prisão
E morremos numa prisão
Por via de regra
John Lennon. Canções (1968-1980) Colecção Rock On n.º 5. Centelha., p.93
segunda-feira, 7 de julho de 2014
domingo, 6 de julho de 2014
artigo de 1975
CRÍTICA Sophia de Mello Breyner critica as declarações do Ministro da Comunicação Social Jorge Correia Jesuíno, sobre a cultura num artigo de 1975 / FOTO ANTÓNIO PEDRO FERREIRA
"1 - A ARTE deve ser livre porque o ato de criação é em si um ato de liberdade. Mas não é só a liberdade individual do artista que importa. Sabemos que quando a Arte não é livre o povo também não é livre. Há sempre uma profunda e estrutural unidade na liberdade. Onde o artista começa a não ser livre o povo começa a ser colonizado e a justiça torna-se parcial, unidimensional e abstrata. Se o ataque à liberdade cultural me preocupa tanto é porque a falta de liberdade cultural é um sintoma e significa sempre opressão para um povo inteiro.
2 - NÃO PENSO que exista uma arte para o povo. Existe sim uma arte para todos à qual o povo deve ter acesso porque esse acesso lhe deve ser possibilitado através dos meios de comunicação. Primeiro os "aedos" cantaram no palácio dos reis gregos "o canto venerável e antigo". Era uma arte profundamente aristocrática. Depois os rapsodos cantaram esse mesmo canto na praça pública. E Homero, foi, como se disse, o educador da Grécia. Isto é: a cultura foi posta em comum. E por isso os gregos inventaram a democracia. A política começa muito antes da política.
Penso que nenhum socialismo real será possível se a cultura não foi posta em comum. Quando o aedo, ou poeta medieval cantavam na praça o seu poema era ouvido por todos, mesmo pelo analfabeto. E viajava por todo o país e de país em país: por isso o mirandês canta Mirandolim-Marlbourg.
Depois a cultura fechou-se em livros e os analfabetos e os pobres foram rejeitados. Tudo se tornou mais complexo e complexado. As comunidades foram divididas e cada homem foi dividido dentro de si próprio. Será preciso um enorme paciente e múltiplo e obcecado esforço para construir o mundo de outra maneira. E é preciso que nenhum dirigismo esmague esse esforço.
É evidente que no mundo atual encontramos a par da arte uma meta-arte. O cubismo é uma meta pintura, uma pintura sobre a pintura. Arte e meta-arte alimentam-se e inspiram-se mutuamente e penso que este é um dos caminhos, uma das possibilidades. Foi a ler Proust e Rimbaud que aprendi a escrever para crianças. O simplismo e o populismo nunca conduzirão a nada. Se João Cabral de Melo é capaz de escrever uma obra como "Morte e Vida Severina" é porque é capaz de escrever "Uma Faca só Lâmina". "Morte e Vida Severina" é um poema que todos entendem, mas nele as imagens são tão precisas, e os versos tão densos como em "Uma Faca só Lâmina".
Creio que o "poema para todos" é, dentro da cultura em que estamos, o poema mais difícil de escrever. Creio que esse poema é necessário e por isso tenho procurado encontrar um caminho para ele. Por isso em "Livro Sexto" invoquei
O canto para todos
Por todos entendido
Mas sei que esse poema não se programa. E por isso, já depois do 25 de abril escrevi:
Um poema não se programa
Porém a disciplina
Sílaba por sílaba
O acompanha
Mas a disciplina do poema não é a da política.
O poema é disciplinado pela sua própria necessidade.
O canto para todos
Por todos entendido
Mas sei que esse poema não se programa. E por isso, já depois do 25 de abril escrevi:
Um poema não se programa
Porém a disciplina
Sílaba por sílaba
O acompanha
Mas a disciplina do poema não é a da política.
O poema é disciplinado pela sua própria necessidade.
Nem o próprio artista se pode programar a si próprio. O Ministro da Comunicação Social disse que os períodos revolucionários não eram propícios às artes de vanguarda. Não podemos esquecer que também Hitler e Salazar não se entendiam bem com a arte de vanguarda e que ambos a perseguiam. Um verdadeiro período revolucionário está aberto a todas as formas de criação.
3 - É EVIDENTE que há incoerência. As campanhas de dinamização são mais políticas do que culturais. Fazem um doutrinamento político que deve ser feito pelos partidos. Pois não há doutrinamento apartidário. Não há angelismo político. Um doutrinamento político que se apresenta como apartidário é necessariamente ambíguo.
Vivemos no pluralismo. Mas não queremos viver na ambiguidade. Queremos que o pluralismo seja nítido e declarado com clareza. Que todo aquele que exerce uma atividade de doutrinamento político diga aos outros o partido a que pertence ou que apoia.
Queremos uma revolução clara. Queremos a clareza e a coerência dessa clareza. Este país tem neste momento uma intensa consciência da necessidade de clareza.
A política é um capítulo da moral. O povo que somos votou conscientemente e quer a política que escolheu. Queremos justiça social concreta mas sabemos que essa justiça só se poderá construir na liberdade e na verdade.
Sabemos muito claramente o que não queremos. Não queremos a violência, não queremos que a liberdade seja sofismada. Não queremos nem inquisições nem perseguições. Não queremos política da terra queimada. Não queremos política imposta. E no plano da cultura queremos acima de tudo que a política não seja anti-cultura.
A demagogia é a traição cultural da revolução. Porque a demagogia é a arte de ensinar um povo a não pensar. Um provérbio africano diz: Uma palavra que está sempre na boca transforma-se em baba. Não queremos continuar a suportar a baba dos slogans.
Querer fazer política cultural quando os meios de comunicação estão inundados de demagogia é uma incoerência radical. O ministro da comunicação referiu-se ao facto de o trabalho dos artistas ser agora pago pelo povo. Também muitos jornais são agora pagos pelo povo e todos os dias custam ao povo uma despesa escandalosa.
A cultura é cara. A incultura acaba sempre por sair mais cara. E a demagogia custa sempre caríssimo."
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/em-defesa-da-cultura-o-texto-que-sophia-escreveu-para-o-expresso=f879082#ixzz36hyjDG1A
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/em-defesa-da-cultura-o-texto-que-sophia-escreveu-para-o-expresso=f879082#ixzz36hyjDG1A
quarta-feira, 2 de julho de 2014
"Que gestos há mais belos que os do sexo?
Que corpo belo é menos belo em movimento?
E que mover-se um corpo no de um outro o amplexo
não é dos corpos o mais puro intento?
Olhos se fechem não para não ver
mas para o corpo ver o que eles não,
e no silêncio se ouça o só ranger
da carne que é da carne a só razão"
Jorge de Sena
Que corpo belo é menos belo em movimento?
E que mover-se um corpo no de um outro o amplexo
não é dos corpos o mais puro intento?
Olhos se fechem não para não ver
mas para o corpo ver o que eles não,
e no silêncio se ouça o só ranger
da carne que é da carne a só razão"
Jorge de Sena
A mentira perfeita
A mentira, a mentira perfeita, acerca das pessoas que conhecemos, sobre as relações que com elas tivemos, sobre o nosso móbil em determinada acção formulado por nós de uma forma completamente diferente, a mentira acerca do que somos, acerca do que amamos, acerca do que sentimos pela criatura que nos ama e que julga ter-nos tornado semelhante a ela porque passa o dia a beijar-nos, essa mentira é das únicas coisas no mundo que nos pode abrir perspectivas sobre algo de novo, de desconhecido, que pode abrir em nós sentidos adormecidos para a contemplação do universo que nunca teríamos conhecido.
Marcel Proust, in 'A Prisioneira'
”Being entirely honest with oneself is a good exercise.”
Letter to Wilhelm Fliess (15 October 1897), as quoted in Origins of Psychoanalysis
segunda-feira, 30 de junho de 2014
sexta-feira, 27 de junho de 2014
sevícia
nome feminino
1. mau trato físico; ofensa corporal
2. crueldade, desumanidade
(Do latim saevitĭa-, «idem»)
«Sobre essas margens, agora desertas, estendia-se então um subúrbio de Roma, onde banhos, tabernas e jardins recebiam à noite os elegantes da cidade. Era um lugar de depravação e de entrevistas nocturnas; Nero frequentava-o com os seus amigos. Numa dessas excursões, que o prazer de se sentir liberto de todo o constrangimento lhe fazia amar com paixão.»
Latour Saint-Ybars. Nero. Edição Amigos do Livro, Lisboa., p. 66/7
«E o homem fechou-se num mutismo agressivo.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 149
«Depois, a mulher, com a solicitude de quem cuida de um filho, tomou a iniciativa de lhe esfregar as costas menos acessíveis e mais renitentes. Barbaças, vendo-a assim acocorada a seus pés, humilde e carinhosa, manifestando nesse servilismo toda a sua gratidão, sentiu que lhe era necessário praguejar ou fazer qualquer coisa por onde se escoasse tamanha felicidade.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 138
«(...) desfez-lhe a rigidez dos braços com um abraço insaciável.»
Fernando Namora. O Trigo e o Joio, Círculo de Leitores., p. 112
«Este prazer, de tão óbvio, incomoda. Esta harmonia, de tão postiça, inquieta.»
Eduardo Prado Coelho. A Mecânica dos Fluidos. Literatura, cinema, teoria. Imprensa Nacional - Casa da Moeda. p. 205
«(...) cada coisa está no seu devido lugar, que é este lugar de todos os lugares onde interminavelmente se cruzam e confundem; cada ser está bem na sua própria pele, mas a pele aqui é uma superfície libidinal sem fim onde nomes e rostos se esbatem.»
Eduardo Prado Coelho. A Mecânica dos Fluidos. Literatura, cinema, teoria. Imprensa Nacional - Casa da Moeda. p. 205
Blade Runner
«Do lábio ainda ferido desprende-se um pouco de sangue que alastra pela bebida.»
Eduardo Prado Coelho. A Mecânica dos Fluidos. Literatura, cinema, teoria. Imprensa Nacional - Casa da Moeda. p. 193
A MULHER É A ESCÓRIA DO MUNDO
A mulher é a escória do mundo
Sim, é, pensa nisso
A mulher é a escória do mundo
Pensa nisso, faz alguma coisa.
Obrigámo-la a pintar-se e a dançar
Se não quer ser uma escrava dizemos que não nos ama
Se é sincera dizemos que está a querer ser homem
Enquanto a rebaixamos fingimos que é superior a nós.
A mulher é a escória do mundo
Sim, é
Se não acreditas olha para aquela com quem estás
A mulher é o escravo dos escravos
Sim, devias gritar isso.
Obrigámo-la a parir e a criar os nossos filhos
E depois pomo-la de lado por estar uma fêmea gorda e velha
Dizemo-lhes que foi feita para estar em casa
E depois queixamo-nos que é pouco interessante para ser nossa amiga.
Repete 3 &4
Insultámo-la todos os dias na T.V.
E admiramo-nos por não ter a coragem ou confiança
Quando é jovem aniquilámos o seu desejo de ser livre
Enquanto lhe dizemos para não ser tão esperta
Rebaixámo-la por ser tão parva.
Repete 3.
A mulher é o escravo dos escravos
Sim, é
Obrigámo-la a pintar-se e a dançar.
John Lennon. Canções (1968-1980) Colecção Rock On n.º 5. Centelha., p. 87
Sim, é, pensa nisso
A mulher é a escória do mundo
Pensa nisso, faz alguma coisa.
Obrigámo-la a pintar-se e a dançar
Se não quer ser uma escrava dizemos que não nos ama
Se é sincera dizemos que está a querer ser homem
Enquanto a rebaixamos fingimos que é superior a nós.
A mulher é a escória do mundo
Sim, é
Se não acreditas olha para aquela com quem estás
A mulher é o escravo dos escravos
Sim, devias gritar isso.
Obrigámo-la a parir e a criar os nossos filhos
E depois pomo-la de lado por estar uma fêmea gorda e velha
Dizemo-lhes que foi feita para estar em casa
E depois queixamo-nos que é pouco interessante para ser nossa amiga.
Repete 3 &4
Insultámo-la todos os dias na T.V.
E admiramo-nos por não ter a coragem ou confiança
Quando é jovem aniquilámos o seu desejo de ser livre
Enquanto lhe dizemos para não ser tão esperta
Rebaixámo-la por ser tão parva.
Repete 3.
A mulher é o escravo dos escravos
Sim, é
Obrigámo-la a pintar-se e a dançar.
John Lennon. Canções (1968-1980) Colecção Rock On n.º 5. Centelha., p. 87
HOW?
How can I go forward
When I don't Know wich way I'm facing?
How can I go forward
When I don't Know wich way to turn?
How can I go forward
Into something I'm not sure of?
Oh no, oh, no
How can I have feeling
When I don't Know if it's a feeling?
If I just don't Know how to feel?
How can I have feelings
When my feelings have always been denied?
Oh, no, oh, no
You Know life can be long
And you got to be strong
And the world is so tough
Sometimes I feel I've had enough
How can I give love
When I don't know what it is I'm giving?
How can I give love
When I just don't know how to give?
How can I give love
When love is something I ain't never had?
Oh, no, oh, no
Repeat 3
How can we go forward
When we don't know Which Way we're facing?
How can we go forward
When we don't Know which way to turn?
How can we go forward
Into something we're not sure of?
Oh no, oh no
John Lennon. Canções (1968-1980) Colecção Rock On n.º 5. Centelha., p. 80
«Ele partiu ferido de morte.»
Jean Anouilh. Antígona. Tradução e Prefácio de Manuel Breda Simões. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 127
ANTÍGONA
Meteis-me nojo, todos, com a vossa felicidade! Com a vossa vida que vos esforçais por amar, a todo o custo. Pareceis cães, lambendo o que encontram. A mesquinhez do dia a dia, para quem não for muito exigente. Eu! eu quero tudo, imediatamente e por inteiro, ou, caso contrário, não aceito nada! Não quero ser modesta, e contentar-me com um pedacito, se tiver juízo. Hoje quero ter a certeza de tudo - e que tudo seja tão belo, como quando era pequena - ou então morrer.
CREONTE
Vamos, vamos: começas como o teu pai!
ANTÍGONA
Sim, como o meu pai! nós somos daqueles que levam as perguntas até às últimas consequências. Até que não exista a mais pequena probabilidade de esperança; a mais pequena probabilidade de esperança a sufocar. Nós somos daqueles que, quando encontram a esperança - a vossa esperança, a vossa querida esperança! - lhe saltam em cima e a espezinham.
CREONTE
Cala-te! Se visses como ficas feia ao pronunciar essas palavras.
ANTÍGONA
Sim, sou feia! São ignóbeis estes gritos, estes movimentos bruscos, estes esgares. Meu pai só foi belo, mais tarde, quando teve a certeza de que tinha matado o próprio pai, de que tinha dormido com a própria mãe, e de que nada, nada, poderia salvá-lo! Nesse momento acalmou-se, de repente; como que sorriu, e tornou-se belo. Era o fim. Só teve que fechar os olhos para não ver mais nada! Ah! As vossas caras, as vossas tristes caras de candidatos à felicidade! Sóis vós os feios! Vós! Mesmo os mais belos! Tendes todos algo de feio a um canto do olho, ou da boca. Tu bem o disseste há pouco, Creonte! Tu bem falaste na maneira como as coisas eram cozinhadas! Vós tendes todos caras de cozinheiros!
Jean Anouilh. Antígona. Tradução e Prefácio de Manuel Breda Simões. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 114/5
quinta-feira, 26 de junho de 2014
«Sou o único juiz dos meus próprios actos.»
Jean Anouilh. Antígona. Tradução e Prefácio de Manuel Breda Simões. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 95/6
«Mas, apesar do teu mau génio, eu gosto muito de ti.»
Jean Anouilh. Antígona. Tradução e Prefácio de Manuel Breda Simões. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 86
«Na tragédia estamos tranquilos. Estamos, desde início, em família! Numa palavra: estão todos inocentes! Não importa que haja um que mata e outro que morre. É apenas uma questão de distribuição. E, além disso, a tragédia é, sobretudo, repousante porque sabemos que não há lugar para a esperança, essa horrível esperança; quando se é apanhado, quando se é apanhado como um rato, com o peso do céu sobre as nossas costas, e só nos resta gritar - não gemer ou queixar-se - gritar a plenos pulmões o que se tem para dizer, o que nunca se disse e que, talvez, há momentos ainda não sabíamos que iríamos dizer. E para nada: para o dizermos a nós próprios. No drama debatemo-nos porque esperamos sair dele. É ignóbil, é utilitário. Na tragédia, tudo é gratuito. É para os reis. Enfim, não há nada a tentar!»
Jean Anouilh. Antígona. Tradução e Prefácio de Manuel Breda Simões. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 68
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«Não há felicidade sem discussões.»
Jean Anouilh. Antígona. Tradução e Prefácio de Manuel Breda Simões. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p. 50
«...E sofrer? Será necessário sofrer! Sentir subir a dor a ponto de a não podermos suportar: subir até que se torne necessário sustê-la - ela continuar a subir como uma voz aguda! Oh! Não posso, não posso...»
Jean Anouilh. Antígona. Tradução e Prefácio de Manuel Breda Simões. Editorial Presença, Lisboa, 1965., p.
A Prostituição [Isidore Ducasse - Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro]
Fiz um pacto com a prostituição para semear a desordem nas famílias.
Recordo-me da noite que precedeu esta perigosa ligação. Vi um túmulo à minha frente. Ouvi um pirilampo, grande como uma casa, que me disse: "Vou-te alumiar. Lê a inscrição. Não é de mim que vem esta ordem suprema." Uma vasta luz cor de sangue, em face da qual me bateram os dentes e os braços me caíram inertes, espalhou-se pelos ares, até ao horizonte. Apoiei-me contra um muro em ruínas, pois estava quase a cair, e li: "Aqui jaz um adolescente que morreu de tísica. Bem sabeis porquê. Não oreis por ele." Muitos homens não teriam tido, talvez, a coragem que eu tive.
Entretanto uma bela mulher, nua, veio deitar-se a meus pés. E eu para ela, de rosto triste: "Podes levantar-te." Estendi-lhe a mão com que o fratricida corta o pescoço à irmã. Diz-me o pirilampo: "Pega numa pedra e mata-a." "Porquê?", disse eu. E ele: "Toma cuidado contigo. És o mais fraco, porque eu sou o mais forte. Esta chama-se prostituição."
De lágrimas nos olhos, a raiva no coração, senti nascer em mim uma força desconhecida. Peguei numa grande pedra. Depois de muitos esforços, ergui-a a custo à altura do peito. Coloquei-a em cima do ombro, com os braços. Subi a uma montanha, até ao alto. Dali, esmaguei o pirilampo.
Recordo-me da noite que precedeu esta perigosa ligação. Vi um túmulo à minha frente. Ouvi um pirilampo, grande como uma casa, que me disse: "Vou-te alumiar. Lê a inscrição. Não é de mim que vem esta ordem suprema." Uma vasta luz cor de sangue, em face da qual me bateram os dentes e os braços me caíram inertes, espalhou-se pelos ares, até ao horizonte. Apoiei-me contra um muro em ruínas, pois estava quase a cair, e li: "Aqui jaz um adolescente que morreu de tísica. Bem sabeis porquê. Não oreis por ele." Muitos homens não teriam tido, talvez, a coragem que eu tive.
Entretanto uma bela mulher, nua, veio deitar-se a meus pés. E eu para ela, de rosto triste: "Podes levantar-te." Estendi-lhe a mão com que o fratricida corta o pescoço à irmã. Diz-me o pirilampo: "Pega numa pedra e mata-a." "Porquê?", disse eu. E ele: "Toma cuidado contigo. És o mais fraco, porque eu sou o mais forte. Esta chama-se prostituição."
De lágrimas nos olhos, a raiva no coração, senti nascer em mim uma força desconhecida. Peguei numa grande pedra. Depois de muitos esforços, ergui-a a custo à altura do peito. Coloquei-a em cima do ombro, com os braços. Subi a uma montanha, até ao alto. Dali, esmaguei o pirilampo.
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Isidore Lucien Ducasse,
mão morta
A Maldade [Isidore Ducasse - Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro]
Deve-se deixar crescer as unhas durante quinze dias. Oh como é doce arrancar brutalmente da cama uma criança que nada tem ainda sobre o lábio superior e, com os olhos bem abertos, fingir que se lhe passa suavemente a mão na testa, inclinando-lhe para trás os seus lindos cabelos. Depois, de repente, no momento em que ela menos espera, enterrar-lhe as unhas compridas no peito mole, de modo a que não morra! Porque, se morresse, não se teria mais tarde o espectáculo das suas misérias!... Seguidamente, bebe-se o sangue lambendo as feridas. E durante esse tempo, que devia durar tanto quanto dura a eternidade, a criança chora! Nada é tão bom como o seu sangue, extraído como acabo de dizer, e ainda quentinho, a não ser as suas lágrimas, amargas como sal. Homem, nunca provaste do teu sangue quando por acaso te cortaste num dedo? É bom, não é? Porque não tem gosto nenhum.
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O Herói [Isidore Ducasse - Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro - António Rafael]
Direi em poucas palavras como Maldoror foi bom.
Direi em poucas palavras como Maldoror foi bom nos seus primeiros anos.
Direi em poucas palavras como Maldoror foi bom nos seus primeiros anos em que viveu feliz.
Está dito!
Apercebeu-se depois que tinha nascido mau. Fatalidade extraordinária! Escondeu o seu carácter tanto quanto pôde, durante um grande número de anos. Mas por fim, por causa desta concentração que não lhe era natural, todos os dias o sangue lhe subia à cabeça. Até que, não podendo mais suportar tal vida, se atirou resolutamente para a carreira do mal. Doce atmosfera! Quem diria? Quando beijava uma criança de rosadas faces teria gostado de lhe arrancar as bochechas à navalhada, e tê-lo-ia muitas vezes feito se a justiça, com o seu longo cortejo de castigos, o não tivesse sempre impedido. Não era mentiroso, confessava a verdade e dizia-se cruel. Humanos, ouvis? Ele ousa repeti-lo com esta voz que treme! Ele é então um poder mais forte que a vontade... Maldição!
Direi em poucas palavras como Maldoror foi bom nos seus primeiros anos.
Direi em poucas palavras como Maldoror foi bom nos seus primeiros anos em que viveu feliz.
Está dito!
Apercebeu-se depois que tinha nascido mau. Fatalidade extraordinária! Escondeu o seu carácter tanto quanto pôde, durante um grande número de anos. Mas por fim, por causa desta concentração que não lhe era natural, todos os dias o sangue lhe subia à cabeça. Até que, não podendo mais suportar tal vida, se atirou resolutamente para a carreira do mal. Doce atmosfera! Quem diria? Quando beijava uma criança de rosadas faces teria gostado de lhe arrancar as bochechas à navalhada, e tê-lo-ia muitas vezes feito se a justiça, com o seu longo cortejo de castigos, o não tivesse sempre impedido. Não era mentiroso, confessava a verdade e dizia-se cruel. Humanos, ouvis? Ele ousa repeti-lo com esta voz que treme! Ele é então um poder mais forte que a vontade... Maldição!
Quero morder-te as mãos
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
O teu sexo pelado
Faz de mim um escravo
Animal desvairado
Ansiando o teu travo...
Faz de mim um escravo
Animal desvairado
Ansiando o teu travo...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero-te a urina na boca
Dilacerar-te a valer
Até ficares c'a voz rouca
Quero matar e morrer!
Dilacerar-te a valer
Até ficares c'a voz rouca
Quero matar e morrer!
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
Quero morder-te as mãos!...
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