quarta-feira, 28 de agosto de 2019

« - Jogos de pergunta-resposta
 - Cabra cega donde vens?
-De Castela.
-Que te deram?
-Pão e morcela.»

Memórias de um povo. Poesia popular. Orientação e Compilação de Maria Antioneta Garcia. Centro Cultural da Beira Interior, Covilhã, 1982., p. 14

remendeiro

A poesia é sobretudo um «índice de gestos arriscados».

Memórias de um povo. Poesia popular. Orientação e Compilação de Maria Antioneta Garcia. Centro Cultural da Beira Interior, Covilhã, 1982., p. 7

seguidismo

«Para entender-se o mundo, é preciso ser-se capaz de o imaginar»

'' - Era uma vez 
     Uma velha furunfunlhenta
      Triunfunfelha
      Misericuntelha''

Memórias de um povo. Poesia popular. Orientação e Compilação de Maria Antioneta Garcia. Centro Cultural da Beira Interior, Covilhã, 1982., p.6

'' - Uma cabeça de lobo!...''


Memórias de um povo. Poesia popular. Orientação e Compilação de Maria Antioneta Garcia. Centro Cultural da Beira Interior, Covilhã, 1982., p.5

lenga-lengas


''estilhaçamento interior'''

José Gil: “O ensaísmo trágico”

''estética da morte''

''Literatura como esforço de discernimento''

''Sou compulsivamente, e desde que sei ler, um leitor. Nunca fui outra coisa na vida do que um leitor. Um leitor compulsivo e absoluto até ao ponto de imaginar que sou mais uma colecção de folhas de livros do que propriamente um leitor deles.''

EL, “Uma barca de salvação”, in Ler, Livros e Leitores, Círculo de Leitores, Novembro de 2012, p.36

proporções matemáticas da beleza



“a história chega tarde para tarde para dar sentido à vida de um povo. Só o pode recapitular.''

anti-método

''Péguy, por seu lado, no mesmo sentido, no seu “Clio”, texto de maturidade publicado postumamente, encenou um real diálogo - em relação ao qual se considera ser “the fullest expression of [his] literary and historical ideas” 146 - onde desenvolveu extensas e profundas ideias sobre o acto de criação do texto, mas também sobre o leitor, a leitura enquanto acto também criativo, em si mesmo, e a recepção do texto, mais uma vez avançando em áreas que só muito mais tarde viriam a ser teoricamente desenvolvidas , e fê-lo sempre à luz das teorias de Bergson: o impulso de criação, do autor, como do leitor, força vital e motriz na Duração.

''Non pas qu'il suffise de naître pour vivre, dit-elle [Clio]. Mais, pour vivre, il est nécessaire d'être né. (…) Celui qui est né ne vit pas toujours. Mais celui qui n'est pas né, toujours ne vit pas. Nous retrouvons ici, nous rejoignons notre plus vieille loi temporelle, la loi même de l'événement, la loi même de l'écoulement du temps et pour parler bergsonien de l'écoulement de la durée, cette vieille, cette totale, cette universelle loi de l'irréversibilité, à qui rien (de temporel) n'échappe, à laquelle, dit l'histoire, je vois que le monde moderne lui-même enfin aboutit de toutes parts par les voies tortueuses de l'exploration scientifique. Le Temps porte sa faux toujours sur la même épaule, dit l'histoire. […] C'est une loi unilatérale par excellence. C'est la loi même de l'unilatéralité. (…) Quand on a dit que le temps passe, dit l'histoire, on a tout dit.''

Como diz Roe:

'' History and literature are equal sisters in Péguy’s pantheon. Epistemologically cognate, these like activities of historical and text resurrection are best accomplished through the subjective process of memory and experience/’vieillissement’ that the past, far from being an immutable and absent variable of historical inquiry, can be enjoined to the duration of existence, resuming its rightful place alongside (rather than separate from) the present and the future.''

''E a que responde Eduardo Lourenço, em passagens que comunicam vivamente entre si: Em todos os sentidos do termo, a obra é uma presença intemporal, porque nenhum tempo preciso, nem sequer o do seu empírico nascimento, lhe pode ser assinalado. E como seria de outro modo se ela é a realidade humana na sua máxima irrealidade? Ou se se prefere, irrealidade humana na sua máxima realidade? De uma maneira que nos é incompreensível, o tempo de um homem é conjunção de todos os tempos (e assim uma espécie de eternidade) num só tempo que não se deixa dissolver nas pluralidades hipotéticas que o constituem. Em cada instante o homem recupera em si a totalidade temporal, quer dizer, é e inventa o seu passado como o seu futuro, e acaso mais o primeiro que o segundo.''

 Roe, Glenn H., “Chronicler of Heroes and Saints” in The Passion of Charles Péguy – Literature, Modernity and the Crisis of Historicism, Oxford, Oxford University Press, 2014, p.95 147 Idem, p.100

Péguy, Charles, « Clio-Dialogue de L’Histoire et de L’âme Païenne » in Œuvres Complètes de Charles Péguy (1873-1914), Tome VIII, Œuvres Posthumes, Paris, La Nouvelle Revue Française, 1917, p. 118, disponível em https://archive.org/details/oeuvrescomplte08pguoft [Junho 2014].

 Roe, Glenn H., “Chronicler of Heroes and Saints” in The Passion of Charles Péguy – Literature, Modernity and the Crisis of Historicism, Oxford, Oxford University Press, 2014, p.127. 150

 EL, “Crítica, Obra e Tempo” in O Canto do Signo – Existência e Literatura (1957-1993), Lisboa, Editorial Presença, 1994, p.49

''O romancista não é enquanto indivíduo a voz da Cidade. Mas o romance de uma época com as suas múltiplas vozes é o que há de mais próximo daquela palavra que noite e dia a Cidade se murmura, sabendo-o ou não o sabendo, e por fim o que restará dela quando a sua temporal figura será inevocável.''

Lourenço, Eduardo, “O Romancista e a Cidade” in Ocasionais I, Lisboa, EL e a Regra do Jogo, Edições, 1984, p.94-95

“cadáver glorioso ''

determinismo ou utilitarismo

the vital impulse (l’élan vital)

“literature-in-itself”

Péguy defendia a literatura em si “literature-in-itself”

''A Literatura como Corpo do Tempo ''



The poet and essayist Charles Péguy (1873-1914) was born into a remarkable generation of French literary figures – one that included such luminaries as André Gide, Paul Valéry, Marcel Proust, Paul Claudel, and Romain Rolland, among others - (…) all of them deeply affected by the tumultuous years of the Dreyfus Affair (1897-1900) and the human tragedy of the Great War (1914-1918).

enraizar

terça-feira, 27 de agosto de 2019

desfiar a biografia

A História com a mediação trans-temporal da Literatura, em aproximação a Péguy

'' Então, [Péguy] instalou-se num estaminé perto da Sorbonne chamado La Quinzaine. Uma trincheira de onde bombardeava os mestres que, do outro lado, escreviam aqueles monumentos da História (aqueles de onde uma pessoa sai e não está em parte nenhuma). Trava uma batalha quixotesca contra a visão dominante para [defender] a ideia de que uma acumulação de factos não cria um sentido. Nunca criará um sentido. O sentido tem de vir sempre de outra fonte, que não é da sequência. […] O problema do Péguy: como é que o que nós somos, como realidade temporal, adquire sentido? A colecção de instantes é sempre uma maneira de se ser eterno. A eternidade não é uma coisa, um sítio final para onde tudo conflui. Ela está implicada na sucessão de instantes. E isso, [com ele], aprendi para sempre. ''

 Ribeiro, Anabela Mota, “Nonagenariamente bem, muito obrigado”, entrevista a Eduardo Lourenço e JoséAugusto França, in Público, Lisboa, 11 de Maio de 2014, sem pp, disponível em http://www.publico.pt/portugal/noticia/nonagenariamente-bem-muito-obrigado-1635141 [Maio 2014].

bergsoniana noção de Duração

''A Duração como tempo de vivência interior, psicológico, e também como exigência, na sua exteriorização, da preservação da sua pureza criativa''
“o que permite que nos construamos como seres históricos e que é, mais do que isso, o fundamento da nossa própria identidade”


o ser no tempo

“intuição do tempo enquanto duração”


 “valorização lourenciana do instante, da singularidade e da irredutibilidade ontológica do tempo (cujo ponto de partida se poderá encontrar em Bergson, embora a ele não se reduza)”

Baptista, Maria Manuel, “Ensaio poiético e crítico ou da filosofia e da criação literária” in Eduardo Lourenço: A Paixão de Compreender, Porto, ASA, 2003, p.100.

perspectiva geo-histórica

Économies, Sociétés, Civilisations.

''No fim do século [XIX], Bergson, com a sua ideia de duração, deu, por assim dizer, um “corpo” ao Tempo. Ou antes, reduziu a essência da temporalidade à duração. Isso permitiu que o Tempo se tornasse o único objecto ficcional não só possível, mas digno de interesse. Curiosamente, a sua época acolheu Bergson como um messias. ''

EL, “Eça e o Tempo” in Piedade, Ana Nascimento, Vasconcelos, Ana Isabel e Matos, A. Campos (coord.), Diálogos com Eça no Novo Milénio, Lisboa, Livros Horizonte, 2004, p.20

consciência da Duração

“Eu sei que todos aqueles livros são criaturas vivas, são vozes que (…) podem ser,  sem cessar, reouvidas…”

 Eduardo Lourenço, “Uma barca de salvação”, in Ler, Livros e Leitores, Círculo de Leitores, Novembro de 2012, p.36

tentação organicista


''É tentador assimilar o destino de um povo ao do indivíduo, com o seu nascimento, a sua adolescência, maturidade e declínio. A analogia organicista é, naturalmente falaciosa. Nem a povos ou civilizações extintos o paradigma humano se aplica. […] o tempo dessa história não é, como dos indivíduos, percebido ao mesmo tempo como finito e irreversível. O tempo de um povo é trans-histórico na própria medida em que é “historicidade”, jogo imprevisível com os tempos diversos em que o seu destino se espelhou até ao presente e que o futuro reorganizará de maneira misteriosa. ''

EL, “Portugal como destino – dramaturgia cultural portuguesa” in Portugal como Destino seguido de
Mitologia da Saudade, Lisboa, Gradiva, 1999, p.9

“Portugal como Destino”

''A realidade efectiva de um povo é aquela que ele é como actor do que chamamos “história”. Mas o conhecimento – em princípio impossível ou inesgotável – da realidade de um povo enquanto autoconhecimento do seu percurso, tal como a historiografia se propõe decifrá-lo, não cria nem pode criar o sentido desse percurso. Não é a pluralidade das vicissitudes de um povo através dos séculos que dá um sentido à sua marcha e fornece um conteúdo à imagem  que ele tem de si mesmo. A história chega tarde para dar sentido à vida de um povo. Só o pode recapitular.''

EL, “Portugal como destino – dramaturgia cultural portuguesa” in Portugal como Destino seguido de Mitologia da Saudade, Lisboa, Gradiva, 1999, p.10

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

o tempo-feito-Duração

(...)

« - Minha'alma!... Aqui não há lugar solene
p'ra padecer por quem nos envenene! -»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 156

CHICOTADAS

Também as minhas mãos e os meus lábios
te desejam.
E se imaginam criando em ti
um alongar dos teus nervos,
um cristalizar dos teus olhos,
um espumejar de saliva nos cantos da tua boca entreaberta,
um sibilar de língua firme contra os dentes,
um latejar de garganta e voz sem fala...

Solta a tua vida nas minhas mãos
e nos meus lábios
e vê, reflectidas no meu rosto,
as chicotadas que o teu corpo raivará.


9/7/39
Obras - Vol. 9.º. pág.63.


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 154

''cardumes sem boca''


«Nada tinha sido verde quanto o verde
para cortar em dois os cardumes sem boca.»


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 152
(...)

«Lembro-me de mais
para que já possa lembrar-me.

Sim.
E amanhã lembrar-me-ei de menos
para que possa acreditar
no quanto lembro.»


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 148

(...)

«Beijo negro...duro...
Desfazer-te....Desfazer-te...»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 145

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Ostracismo


1.HISTÓRIA na Grécia antiga, pena de desterro por um período de 10 anos,pronunciada pelo povo em assembleia, a que eram condenados os cidadãos que, pelo seu excessivo poder ou influência, fossem considerados uma ameaça para o regular funcionamento do sistema de governo
2.exclusão de alguém (de um cargo ou de um lugar), afastamento, expulsão
3. proscrição; banimento; desterro

«(...)

Mão inútil dedilhando angústia...

Dedos...Dedos...
Dedos, para quê?...»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 138

hiante


adjetivo de 2 géneros
1.
que tem a boca aberta, escancarada
2.
que tem fenda ou abertura larga
3.
que tem grande apetite, faminto

«folhas desprendendo-se comidas dos bichos! »

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 135

''corvos de asas verdes''

ECO

Se eu visse a cor do eco luminoso
levado nas palavras ditas
para que a sombra fosse menos negra,
Eu...
Nós, que nos sentamos loucos
deslizando espuma dessalgada
sobre papéis culpados de brancura,
Nós, olhar igual a móvel doutro século
abandonado hoje numa casa para amanhã,
Nós - somos o último argumento
de ilusão, de liberdade própria,
no fundo a renúncia isenta de saudade,
a dor voltada bater de asas muito alto,
e a renúncia, iguais afirmações dos outros!

Porém se eu visse a cor do eco
imaginaria outras palavras nem novas nem velhas,
possivelmente de silêncio,
que seriam o primeiro lado do polígono -
- dentro dele o mundo giraria,
o último lado no infinito, sim,
mas nem por isso menos eu, nosso,
não há olhos aqui vendo comigo!...
Então cerrem-se as portas e acendamo-nos.
Olhemo-nos agora.
 - É este o nosso corpo ... - Serve.
- É esta a nossa alma... - Basta.
- Basta e sobra! Imaginas que lá fora. - Não, não imagino
                                                                                                        nada.

O eco... o luminoso!  ia dentro da palavra.


29/5/39
Obras - Vol. 9.º, págs. 33-34.


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 133


dessangrar

PALAVRAS

Palavras soltas
que ficaram sem ar sem força de viver...
sem força de cair...  -

Mundos de mim sem força de morrer...
Vidas de mim sem força de nascer...

- Palavras soltas...soltas...
tremendo de estar sós...e de partir...

25/4/39
2
Obras - Vol.9.º, pág.22.


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 123
«(...)

Como é ridículo mudar
as coisas e as cores e as distâncias
para vozes de embalar sozinho,
para sons de angustiar sozinho...»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 112
« - não queirais ser o Deus das conveniências
nem o Deus das minhas consolações.»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 108
«(...)

Se não quis tornar a ver-te 
foi com medo de mudar -
que os olhos que são sofrer-te
podem não querer conhecer-te
e ver em ti mais que mar...»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 105

Lorraine Hansberry at her desk in her Greenwich Village apartment. Photo by David Attie.


«(...)

A ferida curada de si mesma...
Triste e funda e dolorosa
por ser lúcida.»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 93
«(...)

E um amor não morre nunca,
nunca,
nem mesmo sufocado em ódio e em razões,
nem mesmo com o haver um outro amor.»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 87
«(...)

É uma doença
pelo poder com que absorve o pensamento,»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 86

frialdade

di.le.tan.tis.mo


delido

de.li.do
dəˈlidu
adjetivo
1.
desfeitoroto
2.
arruinado
3.
puídogasto

''Os pés inúteis...''

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 79

«(...)

e sê-lo-á
porque, não sendo nada,
será o que quisermos.»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 78
(...)

«Lama de sangue...Sangue já em rio...
O rio o leva ao mar e o mar não bebe -
- o mar conhece a voz da santa guerra,
por ordem do poder que o governa
dará a rumo e rumo a Rosa eterna
e o Mundo nunca mais será o Mundo
mas Terra, Terra inteira, livre terra!»


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 77
(...)

«Fugir, fugir...
mas fugir devagarinho
para compreendermos bem
que estamos a fugir.»


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volume. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 73
(...)

« Não vi ninguém na claridade...

Também na noite fria
o céu era momentâneo e sem verdade.»


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 70

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

''Sinto-me apavorado com a apatia moral, com a morte do coração, que está a acontecer no meu país.''

Poeta e ensaísta James Arthur Baldwin

in I Am Not Your Negro é um filme-documentário frances e estadunidense de 2016 dirigido e escrito por Raoul Peck e James Baldwin

segunda-feira, 5 de agosto de 2019


''nocturnidade divina''

''notícia de outras memórias ou máscaras.''


Orlando NevesClamores. (1987-1999) . Decomposição - O Corpo. Edições Afrontamento, Porto, 2000., p. 29

AS MÃOS - III


«Pequenas coisas prendem, as aves
moribundas, a lâmpada que brilha e fere.
Pequenas coisas, as fogueiras no chão dos campos,
a asa das águias na lua roxa. Pequenas

coisas, o coração dormindo, o sal na boca,
a leve fadiga em que continua a vida.


(...)»


Orlando NevesClamores. (1987-1999) . Decomposição - O Corpo. Edições Afrontamento, Porto, 2000., p. 28

'' na terra frutífera, aceitando morrer''


Orlando NevesClamores. (1987-1999) . Decomposição - O Corpo. Edições Afrontamento, Porto, 2000., p. 27

domingo, 4 de agosto de 2019

''solidão nocturna''

Pietà. 1997


FUNDO

Fui procurar-Te ao fundo
lá onde as algas se torcem
roçadas pelas escamas dos peixes,
lá onde estava um barco de ferro
e um morto sem olhos ao leme,
lá onde estavam duas ostras abertas
uma com pérolas outra sem pérolas,
lá onde havia medusas e polvos
e um boné num ramo de coral,
lá onde havia silêncio e um livro rasgado
e uma âncora partida e uma cruz...

Fui procurar-Te ao fundo e já não sabia
que não Te encontraria.

Se não Te procurasse em toda a parte
nunca veria o mundo em que não estás.


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 64

VEGETAL


Esguio, muito esguio tronco...
- difícil de rugas e cansaços.

Vagos, muito vagos ramos...
- inúteis de quebras e de súplicas.

Secas, muito secas folhas...
- difíceis de fugas e de outono.

Pálidas, muito pálidas flores...
- Inúteis de perfume e de sentido.

Difícil, sim, tudo difícil...
E no fim de ser difícil tudo inútil.

9/1/39
Obras - Vol. 8.º, pág. 48.


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 55

«Amargura muito antes de tristeza!...»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 21

Ecofeminismo

Ecofeminismo descreve movimentos e filosofias que ligam o feminismo com a ecologia. O termo é acreditado ter sido inventado pela escritora francesa Françoise d'Eaubonne em seu livro Le feminisme ou la Mort.


(...)

«O meu destino contigo
é o tu não teres
destino comigo.»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 45

''a vida escurece como quer''

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 39

«(...)...                        nós fizemos do teu manto
o inverno deste nosso pensamento.»


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 37

«Amarra em ti o nosso andar sangrento,»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 25

« Estás triste...duma tristeza sem nome...»

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 21
(...)

« Eu sei que tu pensas pelos teus olhos.

Não olhes, pois, assim
- porque estás formando o pensamento
não sei onde sobre mim.»


Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 17

INCÊNDIO


Uma nuvem ténue...um encarquilhar sombrio...
gotas de lume correndo e fugindo...
num novo encarquilhar...treva caindo...
e no fim só um cheiro agreste e frio.

O resto que ficou?...Não sei. Perdi-o:
A minha vida a outros foi sorrindo,
noutros olhos os meus foram dormindo... -
não se pode viver sempre vazio...

Tudo se encontra procurando bem
e se a vida não é um vai-e-vem
a cor do dia é uma questão de céu...

Aquele incêndio? Ali? ... Não é comigo.
Vê!...Ele segue um caminho que eu não sigo,
que nunca foi! nem há-de ser o meu!

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 16

(...)

« E ter a impressão 
de que se nos atirássemos
daqui tão alto...
tombaríamos devagar...
devagar...
devagarinho...

Não sei se ser louco é ser assim!...»

4/12/38
1/7/39
Obras - Vol. 8.º, págs.4-5.



Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 15

EXTERIOR

Inclinaste a cabeça para a frente
e o teu cabelo
ondeou mais alto.

Um cabelo calmo, leve, saciado...

E o meu...
ora hesitante, fugitivo,
levantado, confundido...
ora tombado, mais fino,
mais fraco...
sem vontade nem gesto...

Não meças a minha alma
pelo que eu trago no rosto.

4/12/38
Obras - Vol. 8.º pág.3.

Jorge de Sena. Post-Scriptum II (recolha, transcrição, nota de abertura e notas de Mécio de Sena) 2.º Volme. Moraes Editores/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985., p. 13

''Arrasa-Cérebros''

''Lágrimas de pérola''

John Schaar, “o futuro não é o lugar para onde vamos, mas o lugar que nós criamos. Os caminhos para lá chegar não são descobertos mas feitos, e a forma de os fazer muda não só quem os traça, como o destino final”.

''Quais são os efeitos psíquicos da individualização extrema? ''

© Ana Borralho & João Galante
Romance Familiar ou a realidade aumentada

“ROMANCE FAMILIAR OU A REALIDADE AUMENTADA”


© Ana Borralho & João Galante

''Se até ao século XX os dispositivos audiovisuais de consumo popular eram dirigidos às massas, no novo milénio o enfoque é dado a cada cidadão e às suas idiossincrasias. A utilização massiva de equipamentos digitais individualizados em todas as áreas está a criar modos de vida em que a noção do corpo social implodiu.''

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