quarta-feira, 8 de julho de 2015

Discurso de Alexis Tsipras no Parlamento Europeu



''Senhores Deputados, é uma honra para mim falar neste verdadeiro templo da democracia europeia. Muito obrigado pelo convite. Tenho a honra de me dirigir aos representantes eleitos dos povos da Europa, num momento crítico tanto para o meu país, a Grécia, como para a zona euro e também para a União Europeia como um todo.
Encontro-me entre vós, apenas alguns dias após o forte veredito do povo grego, seguindo a nossa decisão de lhes permitir expressar a sua vontade, para decidir diretamente, para tomar uma posição e para participar ativamente nas negociações sobre o seu futuro. Apenas alguns dias após o seu forte veredito instruindo-nos a intensificar os nossos esforços para alcançar uma solução socialmente justa e financeiramente sustentável para o problema grego – sem os erros do passado que condenaram a economia grega, e sem a austeridade perpétua e sem esperança que tem aprisionado a economia num círculo vicioso de recessão, e a sociedade numa depressão duradoura e profunda. O povo grego fez uma escolha corajosa, sob uma pressão sem precedentes, com os bancos fechados, com a tentativa por parte da maioria dos meios de comunicação social de aterrorizar as pessoas no sentido que um voto NÃO levaria a uma rutura com a Europa.
É um prazer estar neste templo da democracia, porque acredito que estamos aqui para ouvir primeiro os argumentos para, em seguida, poder julgá-los. “Ataquem-me, mas primeiro ouçam o que tenho para dizer”.
A escolha corajosa do povo grego não representa uma rutura com a Europa, mas um retorno aos princípios fundadores da integração europeia, os princípios da Democracia, da solidariedade, do respeito mútuo e da igualdade.
É uma mensagem clara de que a Europa – o nosso projeto conjunto Europeu –  a União Europeia, ou será democrática ou enfrentará enormes dificuldades de sobreviver, dadas as condições difíceis que estamos a enfrentar.
A negociação entre o governo Grego e os seus parceiros, que serão concluídas em breve, pretende reafirmar o respeito da Europa pelas regras operacionais comuns, bem como o respeito absoluto pela escolha democrática do nosso povo.
O meu governo e eu, pessoalmente, chegou ao poder há aproximadamente cinco meses. Mas os programas de resgate já estavam em vigor há cerca de cinco anos. Assumo total responsabilidade pelo que ocorreu durante estes cinco meses. Mas todos devemos reconhecer que a principal responsabilidade pelas dificuldades que a economia Grega enfrenta hoje, para as dificuldades que a Europa está enfrenta hoje, não é o resultado de escolhas feitas nos últimos cinco meses, mas nos cinco anos de implementação de programas que não resolveram a crise. Eu quero garantir-vos que, independentemente da opinião sobre se os esforços de reforma foram certos ou errados, o facto é que a Grécia, e o povo Grego, fez um esforço sem precedentes de ajustamento ao longo dos últimos cinco anos. Extremamente difícil e duro. Este esforço esgotou as energias do povo Grego.
É claro que tais esforços não tiveram lugar apenas na Grécia. Ocorreram noutros lugares também – e eu respeito totalmente o esforço de outras nações e governos que tiveram que enfrentar e decidir sobre medidas difíceis -, em muitos países Europeus onde foram implementados programas de austeridade. No entanto, em nenhum outro lugar esses programas foram tão duros e duradouros como na Grécia. Não seria um exagero afirmar que o meu país foi transformado num laboratório experimental da austeridade nos últimos cinco anos. Mas todos temos de admitir que a experiência não foi bem sucedida.
Nos últimos cinco anos, o desemprego disparou, a pobreza disparou, a marginalização social teve um enorme crescimento, assim como a dívida pública, que antes do lançamento dos programas ascendia a 120% do PIB, e atualmente corresponde a 180% do PIB. Hoje, a maioria do povo Grego, independentemente das nossas avaliações – esta é a realidade e devemos aceitá-la – sente que não tem outra escolha a não ser lutar para escapar deste caminho sem esperança. E esse é o desejo, expresso da forma mais direta e democrática que existe,  que nós, como governo, somos chamados a ajudar a concretizar.
Procuramos um acordo com os nossos parceiros. Um acordo, no entanto, que ponha termo definitivamente à crise. Que traga a esperança de que, no fim do túnel, haja luz. Um acordo que proporcione as necessárias e confiáveis reformas – ninguém se opõe a isso – mas que transfira o fardo para aqueles que realmente têm a capacidade de com ele arcar – e que, durante os últimos cinco anos, foram protegidos pelos governos anteriores e não carregaram esse fardo – que foi colocado inteiramente sobre os ombros dos trabalhadores, os reformados, daqueles que não o podem mais suportar. E, claro, com políticas redistributivas que irão beneficiar as classes baixa e média, de modo que um crescimento equilibrado e sustentável possa ser alcançado.
A proposta que estamos a apresentar aos nossos parceiros inclui:
– Reformas credíveis, baseadas, como disse anteriormente, na distribuição equitativa dos encargos, e com o menor efeito recessivo possível.
– Um pedido de cobertura adequada das necessidades de financiamento de médio prazo do país, com um programa de crescimento económico forte; se não nos concentrarmos numa agenda de crescimento, então nunca haverá um fim para a crise. O nosso primeiro objetivo deve ser o de combater o desemprego e incentivar o empreendedorismo,
– e, claro, o pedido para um compromisso imediato para iniciar um diálogo sincero, um debate profícuo para abordar o problema da sustentabilidade da dívida pública.
Não podem existir assuntos tabu entre nós. Precisamos encarar a realidade e procurar soluções para ela, independentemente de quão difíceis essas soluções possam ser.
A nossa proposta foi apresentada ao Eurogrupo, para avaliação durante a Cimeira de ontem. Hoje, enviaremos um pedido para o Mecanismo Europeu de Apoio. Comprometemo-nos, nos próximos dias, a fornecer todos os detalhes da nossa proposta, e tenho a esperança de que seremos bem sucedidos a dar resposta para atender aos requisitos da presente situação crítica, tanto para o bem da Grécia, como da zona euro. Eu diria que, principalmente, não só por uma questão financeira, mas também para o bem geopolítico da Europa.
Quero ser muito claro neste ponto: as propostas do governo Grego para financiar as suas obrigações e restruturar a sua dívida não se destinam a sobrecarregar o contribuinte europeu. O dinheiro dado à Grécia – sejamos honestos -, nunca chegou  realmente ao povo Grego. Foi dinheiro dado para salvar os bancos Gregos e Europeus – mas ele nunca foi para o povo Grego.
Para além disso, desde agosto de 2014, a Grécia não recebeu quaisquer parcelas de pagamento, em conformidade com o plano de resgate em vigor até ao final de junho, pagamentos que ascendem a 7200 milhões de euros. Eles não foram concedidos desde agosto de 2014, e eu gostaria de salientar que o nosso governo não estava no poder entre  agosto 2014 a janeiro de 2015. As parcelas não foram pagas porque o programa não estava a ser implementado. O programa não estava a ser implementado durante esse período (ou seja, agosto de 2014 a janeiro de 2015) não por causa de questões ideológicas, como é o caso hoje, mas porque o programa então, como agora, não possuía consenso social. Na nossa opinião, não é suficiente um programa estar correto, é também importante para que seja possível a sua implementação, que exista consenso social, a fim de que ele seja implementado.
Senhores Deputados, ao mesmo tempo que a Grécia estava a negociar e a reivindicar 7200 milhões de pagamentos, este teve que pagar – às mesmas instituições – parcelas no valor de 17500 milhões de euros. O dinheiro foi pago a partir das parcas finanças do povo Grego.
Senhores Deputados, apesar do que mencionei, eu não sou um daqueles políticos que afirma que os “estrangeiros maus” são os responsáveis ​​pelos problemas do meu país. A Grécia está à beira da falência porque os anteriores governos Gregos criaram, durante muitos anos, um estado clientelar, apoiaram a corrupção, toleraram ou mesmo apoiaram a interdependência entre a política e a elite económica, e ignoraram a evasão fiscal de vastas quantidades de riqueza. De acordo com um estudo realizado pelo Credit Suisse, 10% dos Gregos possuem 56% da riqueza nacional. E esses 10% de Gregos, no período de austeridade e crise, não foram tocados, não contribuíram para os encargos como os restantes 90% dos Gregos têm contribuído. Os programas de resgate e os Memorandos nem sequer tentaram lidar com estas grandes injustiças. Em vez disso, infelizmente, exacerbaram-nas. Nenhuma das supostas reformas dos programas do Memorando melhoraram, infelizmente, os mecanismos de coleta de impostos que desabaram apesar da ânsia de alguns “iluminados”, bem como de funcionários públicos justificadamente assustados. Nenhuma das supostas reformas procurou lidar com o famigeradamente conhecido triângulo de corrupção criado no nosso país há muitos anos, antes da crise, entre o establishment político, os oligarcas e os bancos. Nenhuma reforma melhorou o funcionamento e a eficiência do Estado, que aprendeu a operar para atender a interesses especiais em vez do bem comum. E, infelizmente, as propostas para resolver estes problemas estão agora no centro das atenções. As nossas propostas centram-se em reformas reais, que visam mudar a Grécia. Reformas que os governos anteriores, a velha guarda política, bem como aqueles que conduziram os planos dos Memorandos, não quiseram ver implementadas na Grécia. Esta é a verdade pura e simples. Lidar eficazmente com a estrutura oligopolista e as práticas de cartel em mercados individuais – incluindo o mercado não regulado de televisão  – o reforço dos mecanismos de controlo em matéria de receitas públicas e o mercado de trabalho para combater a evasão e a fraude fiscais, e a modernização da Administração Pública constituem as prioridades de reforma do nosso governo . E, claro, esperamos o acordo dos nossos parceiros com estas prioridades.
Hoje, vimos com um forte mandato do povo Grego e com a firme determinação de não chocar com a Europa, mas de chocar com os interesses velados no nosso país, com as lógicas e atitudes estabelecidas que mergulharam a Grécia na crise, e que têm um efeito de arrastamento para a Zona Euro, também.
Senhores Deputados,
A Europa está numa encruzilhada crítica. O que chamamos de crise Grega corresponde à incapacidade geral da zona euro de encontrar uma solução permanente para a crise da dívida auto-sustentável. Na verdade, este é um problema europeu, e não um problema exclusivamente grego. E um problema europeu requer uma solução europeia.
A história europeia está repleta de conflitos, mas de compromissos também. É também uma história de convergência e de alargamento. Uma história de unidade, e não de divisão. É por isso que falamos de uma Europa unida – não devemos permitir que ele se torne numa Europa dividida. Neste momento, somos chamados a chegar a um compromisso viável e honroso a fim de evitar uma rutura histórica que iria reverter a tradição de uma Europa unida.
Estou confiante de que todos nós reconhecemos a gravidade da situação e que responderemos em conformidade; assumiremos a nossa responsabilidade histórica.
Obrigado.''

Discurso disonível no infoGrécia 

A CASA ESTÁ TÃO TRISTE
A casa está tão triste. Permanece tal como a deixaram,
Feita ao conforto dos últimos que partiram
Como se para os reconquistar. Ao invés, privada
De alguém a quem agradar, definha assim,
Sem ânimo para esquecer o roubo
E voltar-se novamente para o que começou
Como uma jubilosa tentativa de como tudo deveria ser,
Há muito falhada. Pode-se ver como era:
Repare-se nas fotografias e nos talheres
A música no banco do piano. Aquela jarra.


Philip Larkin 
(tradução de Vasco Gato)
« - Parece-me que o teu filho se tornará um sonhador, Maria - exclamou um dia a minha mãe a vizinha Penélope - ; está sempre a olhar para as nuvens. - Não se inquiete, senhora Penélope - respondeu-lhe a mãe. - A vida obrigá-lo-á a olhar para baixo. - Mas a vida ainda não chegara e eu trepava nesse dia para o castelo, contemplava as nuvens, tropeçava e escorregava a cada passo. O pai agarrou-me pelo ombro, como se quisesse firmar-me. - Deixa as nuvens tranquilas e olha para as pedras, podes cair e matar-te.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 87
«Esses olhos negros que olham para mim,
Baixa-os, m'amor, porque me matam assim.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 85

«(...) algumas palavras que lia perturbavam-me o coração.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 84

Fernando Lemos – Intimidade do Chiado (1949-52) Colecção Museu Berardo


« - Olha - tornou a ordenar-me. Os meus olhos encheram-se de enforcados. - Enquanto viveres - disse-me -, ouve-me bem: enquanto viveres, que estes enforcados jamais desapareçam da tua memória. - Quem os matou? - A liberdade, bendita seja ela.
    Não compreendi. Olhava, olhava, de olhos franzidos, os três enforcados que se moviam lentamente entre as folhas amarelas do plátano.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 81
«Durante essas horas, creio que, se as coisas invisíveis pudessem tornar-se visíveis, eu teria visto amadurecer a minha alma. Bruscamente, da criança que era, senti que, no espaço de poucas horas, me transformei num homem.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 79

«(...), o verdadeiro rosto da vida: a cabeça da morte.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 79

«Sentira o coração a endurecer-se.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 78
«Que sejas bem-vinda, desgraça, se vens sós», costumamos dizer em Creta, porque na verdade é raro que uma desgraça venha só.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 77

«(...) as desgraças conseguiram corrigir-nos dos defeitos.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 301

«Enquanto os meus amigos não morrerem, não falarei da morte.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 301

«Gostamos de dominar o carácter.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 300

1966 - Maria Barroso numa cena do filme Mudar de Vida de Paulo Rocha


«Podemos amar de todo o coração aquele em que reconhecemos grandes defeitos. Seria impertinência julgar que só a imperfeição tem o direito de nos agradar.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 299
«Estimamos os grandes intentos quando nos sentimos capazes dos grandes êxitos.
  A reserva é a aprendizagem dos espíritos.»
  Dizem-se coisas sólidas quando não se procura dizer coisas extraordinárias.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 299
«É ofender os humanos dar-lhes louvores que alargam os limites do seu mérito. Muitas pessoas são suficientemente modestas para suportarem sem custo que as apreciem.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 298
«O melhor meio de persuadir consiste em não persuadir.
   O desespero é o menor dos nossos erros.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 298
«Os que escrevem em louvor da glória querem ter a glória de ter escrito bem. Os que lêem querem ter a glória de ter lido.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 296
«Não nos contentamos com a vida que temos em nós. Queremos viver na ideia dos outros, de uma vida imaginária.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 294

«Para estudar a ordem não é preciso estudar a desordem.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 293

à porfia

ao desafio, em competição

«Os sentidos esclarecem a razão por aparências verdadeiras.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 291
«Existe uma filosofia para as ciências. Não existe para a poesia. Não conheço moralista que seja poeta de primeira ordem. É estranho, dirá alguém.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 291
"De novo amo e não amo
e deliro e não deliro"

Anacreonte 
-"Dez Poetas Gregos Arcaicos"
- Arquíloco/ Álcman/ Mimnermo/ Alceu/ Safo/ Íbico/ Anacreonte/ Teógnis/ Simónides/ Píndaro

terça-feira, 7 de julho de 2015


«O escritor que se deixa enganar pelos sentimentos não deve ser levado em linha de conta com o escritor que não se deixa enganar nem pelos sentimentos nem por si próprio. A juventude propõe a si mesma lucubrações sentimentais. A idade madura começa a raciocinar sem perturbações. Ele só sentia, agora pensa.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 290
«(...) O cão, tendo três cabeças, tinha naturalmente três bocas; e não sei se por isso devia também ter três estômagos; o que é certo é que, atendendo à carestia dos géneros e às décimas e economias, que agora são moda para esfolar a torto e a direito, entendeu-se, que tão Cérbero era ele como uma como com três cabeças, e suprimiram-se-lhe as outras duas.»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 120/1

trifauce


adjetivo de dois géneros
1. poético que tem três fauces
2. MITOLOGIA atributo de Cérbero, cão de três cabeças que guardava o Inferno

«(...)

Debalde aguças o dente;
Cá não apanhas fatia.
Aqui não tens aliados
Como os de certa nação,
Que te engordou com presentes
E agora deve-te o pão!
Bem sabes de quem eu falo...
É dum país sem miolo, 
Que dá tudo aos estrangeiros
Para que lhe chamem tolo!
Qualquer charlatão o embaça
Com dois ou três palavrões!
É Por...mas não; chamo-lhe antes
Terra de parlapatões.»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 117
«PEDRO

(à Imperatriz) Já recebeu notícias do inferno?

IMPERATRIZ

Não; meu marido não tem escrito.»



Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 101
« PEDRO
        Coitada! Vi-a no outro dia com o começo dos seus achaques, e fez-me dó!»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 98
«(Cantando e chorando)

    Mas quem te há-de acender lume
     Para frigir o teu peixe?!»



Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 97

1966 - Maria Barroso com Geraldo del Rey, numa cena do filme de Paulo Rocha


Jurei-o !

«Jurei-o! Prometi não cortar mais as barbas desta cara e os cabelos desta cabeça; não comer, não beber, não descalçar as botas, nem dormir em povoado, enquanto não encontrar o meu rival, o roubador cobarde da minha Elisa...ou Tomásia...que ela chama-se Tomásia, mas eu embirrei em chamar-lhe Elisa, que é mais poético. Por onde andarão eles? Eu aqui estou, fechado com este pobre esqueleto, para ver se os encontro por acaso. Meti-me neste lúgubre subterrâneo, para preparar a minha vingança com sossego; isto aqui é mais seguro; eu não quero que o patife do Luís Gregório me assassine, antes de eu o matar a ele. (Olhando para o esqueleto acorrentado) Este infeliz talvez amasse também como eu?...Hei-de pôr o Luís Gregório no lugar dele? Oh lá se hei-de!»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 95

obscuridade alemã

«Que serias tu sem este sabor de obscuridade alemã, que faz com que sejas amada e cultivada, até pelos que menos te compreendem?!»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 95
«Alguns, comidos de desejo ardente,
Pretendiam roer os cotovelos;
Outros, cravavam o aguçado dente
Na taça impura dos danados zelos!»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 94
Quarto Quadro

Subterrâneo húmido e sombrio; paredes caídas a um lado, o tecto rachado e ameaçando ruína. Armas pendentes da parede. Um armário pintado de preto. Um esqueleto, de pé, com uma grande espada na mão, em posição de quem se defende de uma estocada e acorrentado à parede com grossas cadeias de ferro.



Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 93
«Adeus! choremos todos,
Que o pranto é de rigor...
Depois, console o fado
A nossa triste dor.»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 90

Mudar de Vida, Paulo Rocha, 1966


CENA IV

FÍGADOS DE TIGRE

(só, cabisbaixo e andando com passo lento) Dizia minha avó que as águas do Letes apagam a memória; e a minha avó era mulher que sabia perfeitamente onde tinha o nariz. O Letes é o rio do esquecimento.»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 67/8

«Chorei a minha alma aos pedaços;»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 62
CENA I

JOANA

(oculta na floresta: grandes aves negras, de espécies desconhecidas, andam esvoaçando por toda a cena, entram no poço e tornam a sair, dando pios longos e sinistros. A orquestra toca uma peça estridente, sacudida, e que se interrompe a espaços. Cada vez que soam as notas mais agudas da música, ouvem-se gemidos dolorosos e saem do poço grandes labaredas. Pouco a pouco vão desaparecendo as aves, a música esmorece e Joana canta com voz plangente; música da ópera Safo no rondó final)

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 62
FÍGADOS DE TIGRE

Matem-me já por favor, que vou estando muito aborrecido com tudo isto.

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 61

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Beach babe


bacamarte


nome masculino
1. antiga arma de fogo individual de cano curto e calibre grosso, de escorva inflamada por pederneira e de carregar pela boca, sendo esta geralmente em forma de sino
2. figurado livro velho, volumoso e inútil
3. Brasil indivíduo corpulento e boçal
4. ICTIOLOGIA peixe teleósteo, da família dos Triglídeos, também conhecido por cabra-moura, ruivo, santo-antónio, etc.

fressura


nome feminino
conjunto das vísceras dos animais que se aproveitam na alimentação

rebéubéu

«Sou uma caixa de vários lados / com vários cantos / com duas sombras / uma escura que nasce da clara / outra clara que nasce da escura». Fernando Lemos

Fernando Lemos/ Auto- Retrato (1949-52) Colecção Museu Berardo


 «Que a Grécia anda aos ziguezagues e não tem estratégia. Pois, que a Grécia não tenha estratégia não me admira e até concedo. Já a Europa tem uma estratégia do caraças.  Servir de capacho aos Estados Unidos é uma grande e brilhante estratégia. Semear o caos à sua volta, da Ucrânia a Marrocos é sublime e augura o melhor dos mundos. Destruir o consumo para acudir ao casino da Banca também é brilhante. Até para a própria Alemanha, que é o maior produtor/exportador do capitalismo europeu. Ter deslocalizado a produção para a China também foi extraordinário de inteligência estratégica e amor benemérito aos povos europeus.. A China, recordo, que não é nada comunista nem nunca foi maoista, graças a Deus.
Em contrapartida, Portugal, em matéria de estratégia, dispensa comentários. Mais que esquizofrenia (oscilações de sabujice rastejante entre a Alemanha e os Estados Unidos, dependendo de que lado sopra a brisa), é já a polifrenia: entre Angola, a China, a Alemanha, os Estados Unidos e o Brasil, a nossa estratégia balança.»


«Recordando o Shelltox Concise do Dragão...

Democracia s.f., tirania da multidão, ou oclocracia; regime onde o absurdo impera, já que o putativo soberano delega os plenos poderes em terceiros que sobre ele exercem todas as arbitrariedades, traições, fraudes e saques possíveis e imaginários; estado geral de fermentação e efervescência duma muliplicidade de egos até à eclosão dum único ego predominante e incontestado; género teatral. 
Podemos assim actualizar com novo requinte semântico:
O Governo de anónimos por desconhecidos.»

Ver aqui  Blogue DRAGOSCÓPIO
«Não brinquemos. O coração humano tem dois grandes machados: um é capaz de desbastar a ignorância e os equívocos do ódio; o outro é capaz de mutilar e aniquilar os seus semelhantes por um altar de si mesmo. Cabe às comunidades elegerem os seus símbolos, a sua ética. Que machado empunhar?»

Vasco Gato
''O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo"

 Fernando Pessoa

quinta-feira, 2 de julho de 2015


As paixões diminuem com a idade.

   «As paixões diminuem com a idade. O amor, que não deve ser classificado entre as paixões, diminui da mesma maneira.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 288
   « A razão e o sentimento aconselham-se, completam-se. Quem conhecer apenas uma das duas coisas, renunciando à outra, priva-se da totalidade dos auxílios que nos foram concedidos para nos conduzirmos.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 287
«Vi os homens cansarem os moralistas para lhes descobrirem o coração, fazerem derramar sobre eles a bênção do alto.»

Conde de Lautréamont
Cantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 287

Jimi Hendrix no Monterey International Pop Festival, em 1967


«O amor não é a felicidade.
  Se não tivéssemos defeitos, não teríamos tanto prazer em corrigir-nos, em louvar nos outros o que nos falta a nós.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 286

Alfred de Musset

Diz-se que ele foi "o mais clássico dos românticos e o mais romântico dos clássicos".
«Voltemos a Confúcio, a Sócrates, a Jesus Cristo, moralistas que corriam as aldeias sofrendo de fome!»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 283

«O coração do homem é um livro que aprendi a estimar.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 282

   «O homem é tão grande, que a sua grandeza surge sobretudo por se não querer reconhecer miserável. Uma árvore não sabe que é grande. Ser grande é saber-se grande. É ser grande não querer reconhecer-se miserável. A sua grandeza refuta as suas misérias. Grandeza de rei.»


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 281

« O encanto da morte só existe para os corajosos.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 281

« O homem é um carvalho. A natureza não tem outro mais robusto.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 280

Elohim

«(...)é o termo hebraico para designar divindades e poderes celestiais, em especial Deus, ou Deus como transcrevem os judeus. Na Torá é o primeiro termo utilizado em relação a divindade como consta no livro Bereshit/Gênesis: “No princípio criou Elohim os céus e a terra”.»
«O génio garante as faculdades do coração.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 279
«Os sentimentos são a forma de raciocínio mais incompleta que se pode imaginar.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 279

'' jovens poetas de lábios húmidos do leite materno''


Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 278
  «Há que saber arrancar belezas literárias até ao seio da morte; mas essas belezas não pertencerão à morte. A morte aqui é só causa ocasional. Não é o meio, é o fim, que não é ela.
     As verdades imutáveis e necessárias que fazem a glória das nações, e que em vão a dúvida tenta abalar, começaram com os tempos. São coisas em que não se devia tocar. Os que querem fazer anarquia em literatura, a pretexto de novidade, caem no contra-senso. Não ousam atacar Deus; atacam a imortalidade da alma. Mas também a imortalidade da alma é velha como os fundamentos do mundo.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 276
    «Transmiti aos que vos lêem apenas a experiência que se retira da dor, e que já não é a própria dor.»

Conde de LautréamontCantos de Maldoror. Trad. Pedro Tamem. Prefácio Jorge de Sena, 2ª edição, Moraes Editores,Lisboa, 1979, p. 276
Powered By Blogger