quinta-feira, 16 de julho de 2015


«(...) tudo o que posso dizer em seu favor é que, se ela fosse diferente do que é, não seria bela, e que sendo como é, não me agrada.»


William Shakespeare. Muito Barulho Por Nada. Introdução, tradução e notas por Maria João Pires, Campo das Letras, Porto, 1ª edição 2003., p. 36

terça-feira, 14 de julho de 2015

BEBER O SEGREDO

"subirás a montanha
essa montanha de onde não vem socorro
colherás a erva pungente
e prepararás a poção
que deve ser bebida
quando estás agachado
olhando a montanha pungente
essa montanha de onde não vem socorro"


Breyten Breytenbach. "Enquanto Houver Água na Água e Outros Poemas"

segunda-feira, 13 de julho de 2015

«LEONATO   A vitória é dupla quando o vencedor regressa com as suas tropas intactas.»

William Shakespeare. Muito barulho por nada. Introdução, tradução e notas por Maria João Pires. Campo das Letras, 2003, p., 29

Much Ado About Nothing

Photographer- Benjamin Hélion – Pegeen Guggenheim – Coloured by Loredana Crupi


ESGOTO

I

«Crianças pálidas brincam no esterco da rua
como se o esterco fosse a perpetuação do Sol
qual Sol que supurasse das paredes altas
em vão rodeadas pela mão da morte.»


Jorge de Sena por Eugénio Lisboa. Colecção Poetas. Editorial Presença, Lisboa., p. 72
«E a Vida, prostituta ingénua,
terá, por momentos, olhos maternais.»

Jorge de Sena por Eugénio Lisboa. Colecção Poetas. Editorial Presença, Lisboa., p. 71

''sangue sobre a neve,»

Jorge de Sena por Eugénio Lisboa. Colecção Poetas. Editorial Presença, Lisboa., p. 67

«Soube-me sempre a destino a minha vida.»

Jorge de Sena por Eugénio Lisboa. Colecção Poetas. Editorial Presença, Lisboa., p. 65


Apartment in New York, London and Paris
Where will we rest, we're all living on top of it
It's all that we have the USA is our daily bread
And no one is willing to share it

Why can't we see our fortunancy
Living as legends have lived.
Bane and dismannered
We coax all the time
Knowing that nothing is left when we die

Come along fool
A direct hit of the senses you are disconnected
It's not that it's bad… it's not that it's death
It's just on the tip of your tongue, and you're so silent

Wanting to live and laugh all the time
Sitting alone with you tea and your crime
Children with kids, and people with parents
Anywhich way there's no past and no presence
When the day comes and all of them bums
Will reveal enchanting persons
Come along...

When it's a rut and baby's no luck
Half of it's misunderstanding love
The war we have won we're winning again
Within ourselves and within our friends
Come along...
   «Enfim, direi aquilo que me ensinam a ira, a mágoa, e delas a lembrança, que é outra dor por si, mais dura e firme.»

CAMÕES

''Monstro de dor''

Poesias de Afonso DuarteTextos Literários. Apresentação crítica, selecção e sugestões para análise literária de Maria Madalena Gonçalves. Editorial Comunicação, Lisboa, 1984., p. 153

''macerações de Cristo''

Poesias de Afonso DuarteTextos Literários. Apresentação crítica, selecção e sugestões para análise literária de Maria Madalena Gonçalves. Editorial Comunicação, Lisboa, 1984., p. 151

Japanese writer Yasunari Kawabata walk with his wife Hideko and his dog, Asakusa, Tokyo - 1928-29.


«As horas vão morrendo com saudade.»

Poesias de Afonso DuarteTextos Literários. Apresentação crítica, selecção e sugestões para análise literária de Maria Madalena Gonçalves. Editorial Comunicação, Lisboa, 1984., p. 150

domingo, 12 de julho de 2015

«As lágrimas são o verso que dentro em nós não cabe.»

Poesias de Afonso DuarteTextos Literários. Apresentação crítica, selecção e sugestões para análise literária de Maria Madalena Gonçalves. Editorial Comunicação, Lisboa, 1984., p. 149

«Não chores, cavador: a tua vida é estável:
Tem frutos e tens Sol (a peste é na cidade)!»


Poesias de Afonso Duarte. Textos Literários. Apresentação crítica, selecção e sugestões para análise literária de Maria Madalena Gonçalves. Editorial Comunicação, Lisboa, 1984., p. 149

''Sol-nosso''

frágua


nome feminino
1. forno onde se torna o metal incandescente para ser trabalhado; fornalha de ferreiro
2. figurado calor intenso; ardor
3. figurado adversidade; pena; amargura

DA DESPEDIDA

"Eu vi a eternidade nos teus dedos.
Eu vi a eternidade, e amedrontou-me
saber, tão de repente, tais segredos.
- Eu não mereci, sequer, saber-te o nome."



David Mourão-FerreiraA Arte de Amar: antologia 1948-1962. Guimarães Editores, 1967
«(Fígados de Tigre enterra-lhe o punhal no coração, rebenta um repuxo de sangue da ferida, que bate nos olhos de Fígados de Tigre e cega-o.)»

Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 159
«FÍGADOS DE TIGRE
Que me importa a justiça? Não pode fazer nada pior que mandar-me para o inferno e eu já cá estou.»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 157

«FÍGADOS DE TIGRE

Oh! mulher?...olha bem para mim! A vista do inferno não  te transtornou a cabeça?

(Imperatriz, chora sem responder).


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 155
«FÍGADOS DE TIGRE
E não come nunca? Como pode viver assim?

TÂNTALO
  Você não vê que eu estou morto, homem? Isto é a minha sombra.

FÍGADOS DE TIGRE
(cedendo ao raciocínio) Não me lembrava. Quem o ouve falar ...e o vê com esse apetite!»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 142

Sísifo

«TÂNTALO

Sísifo? ...hum...rosna-se por aí, que não foi muito boa peça...valha a verdade; não sou eu que o digo. Ele afirma que o condenaram por ter sido sempre um homem de bem.»


Francisco Gomes de AmorimFígados de Tigre. Prefácio de Luiz Francisco Rebello. Biblioteca de Autores Portugueses, 1984 p. 141

''Actress Marina Vlady is serenaded by her husband Vladimir Vysotsky, a Russian anti-establishment actor, poet, songwriter and singer in the Soviet Union''

Vysotsky's Hamlet (Soviet Union)
 
Essential information regarding Kozintsev's film version
In Russia, Hamlet remains first of all a person - his individuality itself challenges authority. In 1971, at Moscow’s Taganka Theater, Yuri Lyubimov opened a production that ran in repertory until 1980 (217 performances in all), when the early death of Vladimir Vysotsky, the poet-singer-actor who had played the lead and given the production its special character, brought it to a premature end. Lyubimov had been put in charge of the Taganka in 1964, the year that Kozintsev’s Hamlet appeared. The theater’s beginnings were made possible by the Khrushchev "thaw", although it soon began to generate a little too much heat for the wan Soviet spring. Eventually becoming an emblem of social and moral opposition to the regime, the Taganka succeeded in feeding the spiritual hunger of oppressed Russians.
In purely theatrical terms, Lyubimov’s Hamlet was noteworthy for the cinematic montage of the mise-en-sceneand the presence of a dominant stenographic image - a ubiquitous, constantly moving curtain (designed by David Borovsky); but far more important was its cultural role and the spiritual power of its leading performer. When he took on Hamlet, Vysotsky was already well known as a troubadour of spiritual freedom - he was "the living soul and conscience of his time" (Gershkovich, 129), much loved throughout the Soviet Union because his songs spoke truth in the oblique ways typical of heavily censored societies. He died during the Moscow Olympics, and people abandoned their stadiums and TV sets to participate in a spontaneous memorial service. Though there had been no announcement of his death in the press, within hours everyone in Moscow knew of it, and thousands gathered near the theater, where his legendary guitar was displayed, to recite his poems and honor his memory. At the funeral a few days later, mourners jammed the streets all around the Taganka, but only a few were able to file past the coffin before it was whisked away, while someone on a rooftop with a loud voice described the scene to the pressing crowd. "After Vysotsky’s funeral," said Lyubimov, "I began to respect the people of Moscow".
For all the obvious differences, the scene is reminiscent of David Garrick’s brilliant obsequies two hundred years earlier. Those were officially sanctioned, orderly, designed to honor the greatest English actor as a national hero. Vysotsky’s were unofficial and disorderly, a sign of repressed desire for freedom in defiance of oppressive authority. But Vysotsky was also a national hero, and, like Garrick, he was especially identified with Hamlet. In part, he appeared with his guitar. The production began on a bare stage, open to the whitewashed back wall, which was adorned only with a heavy wooden cross. Two silhouetted gravediggers swigged vodka and tossed dirt and skulls out of an open grave downstage (the grave remained throughout). Hamlet, in casual modern dress, approached the grave and, accompanying himself on the guitar, recited Pasternak’s Hamlet poem from the banned Dr. Zhivago:
The stir is over. I step forth on the boards.
Leaning against upright by the entrance
I strain to make the far-off echo yield
A cue to the events that may come in my day.
Pasternak’s great translation of Hamlet defined the character in Russian terms - serious, dedicated, self-sacrificing; he is a witness, even a Christ-like sufferer who "gives up his will in order to ‘do the will of him that sent him’ Hamlet is not a drama of weakness, but of duty and self-denial." He has been allotted the role of "judge of his own time and servant of the future" (Pasternak, quoted in Rowe 148). His reality, as the poem suggest, is interwoven with that of the actor, in struggle with himself, putting himself on the line in order to explode "the misrepresentations which produced moral failure in Soviet life" (Golub 161):
And yet the order of the acts has been schemed and plotted
And nothing an avert the final curtain’s fall.
I stand alone. All else is swamped in Pharisaism.
To live life to the end is not to cross a field.
The visual and symbolic dominance of the Taganka’s mobile curtain was designed to carry the production’s distinctively Soviet meaning. Coarsely woven of wool, though appearing like macramé with "threads hanging in evil bundles", the curtain controlled the action, falling from the ceiling after the opening song, moving around and between the actors,

like a giant monster . . . setting the pace, and holding within its folds the symbols and tools of power - black armbands, swords, goblet, thrones edged with knives. It envelops Ophelia, intimidates Polonius, protects Gertrude , supports Claudius and threatens Hamlet. Finally it sweeps the stage clean and moves toward the audience as though to destroy it too. (M. Croyden, quoted in Leiter 145)
. . . . The theatrical emphasis did not, however, transform the meaning of the play into an endless succession of mirrored images. Rather, it spoke of the theater’s power to construct for its public truth matters. Vysotsky’s style of playing fit in with this conception. His strategy was to maintain the distance between actor and role (as in Zadek and Muller though for a different purpose), not blending with the character but expressing his own personal relationship to it. Thus he remained the singer, the troubadour performing the part and communicating his relationship to Hamlet as a way of disclosing his own isolation, of establishing his own poetic voice, and most important of seeking a way to live. He began the run as rather "nihilistic", but as his conception matured, his Hamlet became more attuned, more a searcher for possible answers to the "necessary question" that he speaks of in his own poem called "My Hamlet" (Gershkovich 128-9). The production, like the actor, came to speak for an affirmation of life in the face of curtain and grave, a post-Stalinist theme of "survival and salvation, rather than the Stalin era’s death them, revenge" (Golub 166).

A year after Vysotsky’s death, Lyubimov put together a performance collage entitle The Poet Vladimir Vysotsky, which was banned before it opened, though a few public "dress rehearsals’ escaped the censor’s fist. Focusing on Vysotsky’s place in Soviet culture, the show re-enacted his street songs, his anti-war songs, his evocations of everyday Soviet life, all with an undercurrent of social alienation and a muted desire to speak out. Interspersed throughout were references to and fragments of Hamlet, such as a satiric dialogue in which the King and Polonius discussed the strategic "madness" of Hamlet’s "singing hooliganism" or, as a culmination, a reprise of "To be or not to be", the cornerstone of Pasternak’s and Vysotsky conception. From a song about Russian baths the performance shifted without pause to Vysotsky’s recorded voice swiftly traversing the soliloquy: "so a thought turns us all into cowards and our decisiveness withers like a flower . . . Thoughts that at first promised success die with a sweep of a hand." The finale returned to the singer and his songs, producing a double image of hpe and defiance against death and loss: "They’ve cornered me, cornered me -/ But the huntsman isn’t left with anything . . ." was followed by "I didn’t have time . . . to finish living. I won’t have time to finish singing . . . " At the end the voice faltered, like Hamlet’s, into a long silence (Gershkovich 116-26).
 
-Hamlet, by Anthony B. Dawson, Manchaster Univesity Press, NY, 1995

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sábado, 11 de julho de 2015

Pária


nome de dois géneros:
1. indiano que, segundo o antigo sistema de castas, pertencia à casta mais baixa, sendo segregado pela sociedade e privado de todos os direitos religiosos
2. figurado pessoa marginalizada ou excluída pela sociedade

sexta-feira, 10 de julho de 2015

«O tempo é muito lento para os que esperam
Muito rápido para os que têm medo
Muito longo para os que lamentam
Muito curto para os que festejam
Mas, para os que amam, o tempo é eterno.»

Henry Van Dyke

«EMÍLIA (para Alberto)
Hoje em dia para uma pessoa se deslocar é preciso pensar duas vezes. Nada de precipitações, nada de precipitações...»


Mário de Carvalho. Se perguntarem por mim, não estou. Editorial Caminho, Lisboa, 1999., p. 53

AGUARELAS E ÁGUAS-FORTES

Poesias de Afonso Duarte. Textos Literários. Apresentação crítica, selecção e sugestões para análise literária de Maria Madalena Gonçalves. Editorial Comunicação, Lisboa, 1984., p. 139

«bocas de perigo»

Poesias de Afonso Duarte. Textos Literários. Apresentação crítica, selecção e sugestões para análise literária de Maria Madalena Gonçalves. Editorial Comunicação, Lisboa, 1984., p. 138

forma classicizante

rima feminina

''Amando o cego-amor''

Poesias de Afonso Duarte. Textos Literários. Apresentação crítica, selecção e sugestões para análise literária de Maria Madalena Gonçalves. Editorial Comunicação, Lisboa, 1984., p. 136

«Soam preces de mágoas nos ribeiros...»

Poesias de Afonso Duarte. Textos Literários. Apresentação crítica, selecção e sugestões para análise literária de Maria Madalena Gonçalves. Editorial Comunicação, Lisboa, 1984., p. 135

aziago


adjetivo
1. que pressagia desgraça
2. funesto; nefasto
3. infeliz

«A aldeia é um gemido.»

Poesias de Afonso Duarte. Textos Literários. Apresentação crítica, selecção e sugestões para análise literária de Maria Madalena Gonçalves. Editorial Comunicação, Lisboa, 1984., p. 126

HÉLIA CORREIA
in 'Montedemo', Lisboa, Ulmeiro, 1983
"Que é a liberdade para ti?
1. um nojo dentro do estômago
2. um crocodilo a comer alface
3. sessenta e nove minutos de orgasmo
(relembrar tudo isto à hora da morte)
Que é a liberdade para todos?
1. um país de políticos a ir pró céu
2. um país de pobres a alimentar os ricos
3. uma país a ir por água abaixo
(é melhor responder bem e depressa)"
-"15 Odes Ocas"
- E. M. de Mello e Castro

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Fiscal de fatos de banhos, EUA


Discurso de Alexis Tsipras no Parlamento Europeu



''Senhores Deputados, é uma honra para mim falar neste verdadeiro templo da democracia europeia. Muito obrigado pelo convite. Tenho a honra de me dirigir aos representantes eleitos dos povos da Europa, num momento crítico tanto para o meu país, a Grécia, como para a zona euro e também para a União Europeia como um todo.
Encontro-me entre vós, apenas alguns dias após o forte veredito do povo grego, seguindo a nossa decisão de lhes permitir expressar a sua vontade, para decidir diretamente, para tomar uma posição e para participar ativamente nas negociações sobre o seu futuro. Apenas alguns dias após o seu forte veredito instruindo-nos a intensificar os nossos esforços para alcançar uma solução socialmente justa e financeiramente sustentável para o problema grego – sem os erros do passado que condenaram a economia grega, e sem a austeridade perpétua e sem esperança que tem aprisionado a economia num círculo vicioso de recessão, e a sociedade numa depressão duradoura e profunda. O povo grego fez uma escolha corajosa, sob uma pressão sem precedentes, com os bancos fechados, com a tentativa por parte da maioria dos meios de comunicação social de aterrorizar as pessoas no sentido que um voto NÃO levaria a uma rutura com a Europa.
É um prazer estar neste templo da democracia, porque acredito que estamos aqui para ouvir primeiro os argumentos para, em seguida, poder julgá-los. “Ataquem-me, mas primeiro ouçam o que tenho para dizer”.
A escolha corajosa do povo grego não representa uma rutura com a Europa, mas um retorno aos princípios fundadores da integração europeia, os princípios da Democracia, da solidariedade, do respeito mútuo e da igualdade.
É uma mensagem clara de que a Europa – o nosso projeto conjunto Europeu –  a União Europeia, ou será democrática ou enfrentará enormes dificuldades de sobreviver, dadas as condições difíceis que estamos a enfrentar.
A negociação entre o governo Grego e os seus parceiros, que serão concluídas em breve, pretende reafirmar o respeito da Europa pelas regras operacionais comuns, bem como o respeito absoluto pela escolha democrática do nosso povo.
O meu governo e eu, pessoalmente, chegou ao poder há aproximadamente cinco meses. Mas os programas de resgate já estavam em vigor há cerca de cinco anos. Assumo total responsabilidade pelo que ocorreu durante estes cinco meses. Mas todos devemos reconhecer que a principal responsabilidade pelas dificuldades que a economia Grega enfrenta hoje, para as dificuldades que a Europa está enfrenta hoje, não é o resultado de escolhas feitas nos últimos cinco meses, mas nos cinco anos de implementação de programas que não resolveram a crise. Eu quero garantir-vos que, independentemente da opinião sobre se os esforços de reforma foram certos ou errados, o facto é que a Grécia, e o povo Grego, fez um esforço sem precedentes de ajustamento ao longo dos últimos cinco anos. Extremamente difícil e duro. Este esforço esgotou as energias do povo Grego.
É claro que tais esforços não tiveram lugar apenas na Grécia. Ocorreram noutros lugares também – e eu respeito totalmente o esforço de outras nações e governos que tiveram que enfrentar e decidir sobre medidas difíceis -, em muitos países Europeus onde foram implementados programas de austeridade. No entanto, em nenhum outro lugar esses programas foram tão duros e duradouros como na Grécia. Não seria um exagero afirmar que o meu país foi transformado num laboratório experimental da austeridade nos últimos cinco anos. Mas todos temos de admitir que a experiência não foi bem sucedida.
Nos últimos cinco anos, o desemprego disparou, a pobreza disparou, a marginalização social teve um enorme crescimento, assim como a dívida pública, que antes do lançamento dos programas ascendia a 120% do PIB, e atualmente corresponde a 180% do PIB. Hoje, a maioria do povo Grego, independentemente das nossas avaliações – esta é a realidade e devemos aceitá-la – sente que não tem outra escolha a não ser lutar para escapar deste caminho sem esperança. E esse é o desejo, expresso da forma mais direta e democrática que existe,  que nós, como governo, somos chamados a ajudar a concretizar.
Procuramos um acordo com os nossos parceiros. Um acordo, no entanto, que ponha termo definitivamente à crise. Que traga a esperança de que, no fim do túnel, haja luz. Um acordo que proporcione as necessárias e confiáveis reformas – ninguém se opõe a isso – mas que transfira o fardo para aqueles que realmente têm a capacidade de com ele arcar – e que, durante os últimos cinco anos, foram protegidos pelos governos anteriores e não carregaram esse fardo – que foi colocado inteiramente sobre os ombros dos trabalhadores, os reformados, daqueles que não o podem mais suportar. E, claro, com políticas redistributivas que irão beneficiar as classes baixa e média, de modo que um crescimento equilibrado e sustentável possa ser alcançado.
A proposta que estamos a apresentar aos nossos parceiros inclui:
– Reformas credíveis, baseadas, como disse anteriormente, na distribuição equitativa dos encargos, e com o menor efeito recessivo possível.
– Um pedido de cobertura adequada das necessidades de financiamento de médio prazo do país, com um programa de crescimento económico forte; se não nos concentrarmos numa agenda de crescimento, então nunca haverá um fim para a crise. O nosso primeiro objetivo deve ser o de combater o desemprego e incentivar o empreendedorismo,
– e, claro, o pedido para um compromisso imediato para iniciar um diálogo sincero, um debate profícuo para abordar o problema da sustentabilidade da dívida pública.
Não podem existir assuntos tabu entre nós. Precisamos encarar a realidade e procurar soluções para ela, independentemente de quão difíceis essas soluções possam ser.
A nossa proposta foi apresentada ao Eurogrupo, para avaliação durante a Cimeira de ontem. Hoje, enviaremos um pedido para o Mecanismo Europeu de Apoio. Comprometemo-nos, nos próximos dias, a fornecer todos os detalhes da nossa proposta, e tenho a esperança de que seremos bem sucedidos a dar resposta para atender aos requisitos da presente situação crítica, tanto para o bem da Grécia, como da zona euro. Eu diria que, principalmente, não só por uma questão financeira, mas também para o bem geopolítico da Europa.
Quero ser muito claro neste ponto: as propostas do governo Grego para financiar as suas obrigações e restruturar a sua dívida não se destinam a sobrecarregar o contribuinte europeu. O dinheiro dado à Grécia – sejamos honestos -, nunca chegou  realmente ao povo Grego. Foi dinheiro dado para salvar os bancos Gregos e Europeus – mas ele nunca foi para o povo Grego.
Para além disso, desde agosto de 2014, a Grécia não recebeu quaisquer parcelas de pagamento, em conformidade com o plano de resgate em vigor até ao final de junho, pagamentos que ascendem a 7200 milhões de euros. Eles não foram concedidos desde agosto de 2014, e eu gostaria de salientar que o nosso governo não estava no poder entre  agosto 2014 a janeiro de 2015. As parcelas não foram pagas porque o programa não estava a ser implementado. O programa não estava a ser implementado durante esse período (ou seja, agosto de 2014 a janeiro de 2015) não por causa de questões ideológicas, como é o caso hoje, mas porque o programa então, como agora, não possuía consenso social. Na nossa opinião, não é suficiente um programa estar correto, é também importante para que seja possível a sua implementação, que exista consenso social, a fim de que ele seja implementado.
Senhores Deputados, ao mesmo tempo que a Grécia estava a negociar e a reivindicar 7200 milhões de pagamentos, este teve que pagar – às mesmas instituições – parcelas no valor de 17500 milhões de euros. O dinheiro foi pago a partir das parcas finanças do povo Grego.
Senhores Deputados, apesar do que mencionei, eu não sou um daqueles políticos que afirma que os “estrangeiros maus” são os responsáveis ​​pelos problemas do meu país. A Grécia está à beira da falência porque os anteriores governos Gregos criaram, durante muitos anos, um estado clientelar, apoiaram a corrupção, toleraram ou mesmo apoiaram a interdependência entre a política e a elite económica, e ignoraram a evasão fiscal de vastas quantidades de riqueza. De acordo com um estudo realizado pelo Credit Suisse, 10% dos Gregos possuem 56% da riqueza nacional. E esses 10% de Gregos, no período de austeridade e crise, não foram tocados, não contribuíram para os encargos como os restantes 90% dos Gregos têm contribuído. Os programas de resgate e os Memorandos nem sequer tentaram lidar com estas grandes injustiças. Em vez disso, infelizmente, exacerbaram-nas. Nenhuma das supostas reformas dos programas do Memorando melhoraram, infelizmente, os mecanismos de coleta de impostos que desabaram apesar da ânsia de alguns “iluminados”, bem como de funcionários públicos justificadamente assustados. Nenhuma das supostas reformas procurou lidar com o famigeradamente conhecido triângulo de corrupção criado no nosso país há muitos anos, antes da crise, entre o establishment político, os oligarcas e os bancos. Nenhuma reforma melhorou o funcionamento e a eficiência do Estado, que aprendeu a operar para atender a interesses especiais em vez do bem comum. E, infelizmente, as propostas para resolver estes problemas estão agora no centro das atenções. As nossas propostas centram-se em reformas reais, que visam mudar a Grécia. Reformas que os governos anteriores, a velha guarda política, bem como aqueles que conduziram os planos dos Memorandos, não quiseram ver implementadas na Grécia. Esta é a verdade pura e simples. Lidar eficazmente com a estrutura oligopolista e as práticas de cartel em mercados individuais – incluindo o mercado não regulado de televisão  – o reforço dos mecanismos de controlo em matéria de receitas públicas e o mercado de trabalho para combater a evasão e a fraude fiscais, e a modernização da Administração Pública constituem as prioridades de reforma do nosso governo . E, claro, esperamos o acordo dos nossos parceiros com estas prioridades.
Hoje, vimos com um forte mandato do povo Grego e com a firme determinação de não chocar com a Europa, mas de chocar com os interesses velados no nosso país, com as lógicas e atitudes estabelecidas que mergulharam a Grécia na crise, e que têm um efeito de arrastamento para a Zona Euro, também.
Senhores Deputados,
A Europa está numa encruzilhada crítica. O que chamamos de crise Grega corresponde à incapacidade geral da zona euro de encontrar uma solução permanente para a crise da dívida auto-sustentável. Na verdade, este é um problema europeu, e não um problema exclusivamente grego. E um problema europeu requer uma solução europeia.
A história europeia está repleta de conflitos, mas de compromissos também. É também uma história de convergência e de alargamento. Uma história de unidade, e não de divisão. É por isso que falamos de uma Europa unida – não devemos permitir que ele se torne numa Europa dividida. Neste momento, somos chamados a chegar a um compromisso viável e honroso a fim de evitar uma rutura histórica que iria reverter a tradição de uma Europa unida.
Estou confiante de que todos nós reconhecemos a gravidade da situação e que responderemos em conformidade; assumiremos a nossa responsabilidade histórica.
Obrigado.''

Discurso disonível no infoGrécia 

A CASA ESTÁ TÃO TRISTE
A casa está tão triste. Permanece tal como a deixaram,
Feita ao conforto dos últimos que partiram
Como se para os reconquistar. Ao invés, privada
De alguém a quem agradar, definha assim,
Sem ânimo para esquecer o roubo
E voltar-se novamente para o que começou
Como uma jubilosa tentativa de como tudo deveria ser,
Há muito falhada. Pode-se ver como era:
Repare-se nas fotografias e nos talheres
A música no banco do piano. Aquela jarra.


Philip Larkin 
(tradução de Vasco Gato)
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