domingo, 30 de junho de 2013
segunda-feira, 24 de junho de 2013
domingo, 16 de junho de 2013
O fio de água no olhar de quem amei.
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 229
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DO SACRIFÍCIO DE ISAAC
Queimará o monte, o filho, a lenha
A morte, as areias, a viagem
O deserto, a túnica, as estrelas
Nunca será bastante o incêndio
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 226
''A boca é um alimento''
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 221
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«A princípio não se sente
O amor - a humidade amanhecendo
O coração ressequido»
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 218
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«Apedrejas-me com a mesma pedra que me dás
Para o descanso»
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 212
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tarambola
nome feminino
1. ORNITOLOGIA nome vulgar de uma ave pernalta, pertencente à família dos Caradriídeos, por vezes frequente em Portugal, nas suas passagens migratórias, também conhecida por pildra, dourada, douradinha, marinho, marinho-branco, pildra-preta, pildra-dourada, tordeira-do-mar, etc.
2. regionalismo grande roda hidráulica munida de alcatruzes para tirar água dos rios
O sol baixava no horizonte. O dia estilhaçara-se como uma pedra dura e a luz derramava-se pelas suas fendas. Como rápidas flechas emplumadas de trevas, os raios vermelhos e dourados trespassavam as ondas. Cintilações luminosas erravam no espaço como sinais de ilhas que se afundavam ou dardos lançados através das folhas de um loureiro por rapazes sorridentes e desavergonhados. Mas as ondas revestiam-se de um ruído prolongado e surdo, como o de um muro desabando, um muro de pedras cinzentas que nenhuma luz poderia atravessar.
Uma brisa ergueu-se; um frémito percorreu as folhas que perderam a sua compacta cor castanha, tornando-se cinzentas ou brancas, quando a árvore se moveu, perdendo a forma da cúpula. O falcão pousado no ramo mais alto bateu as pálpebras, elevou-se nos ares e ficou a planar ao longe. A tarambola silvestre gemeu nas terras pantanosas, fugindo, traçando círculos e gritando cada vez mais longe, na solidão. O fumo dos comboios e das chaminés subia no ar e desfazia-se convertendo-se em parte do dossel que parecia pairar sobre o mar e os campos.
O trigo já fora ceifado. Agora, das suas ondulações, só restava aqui e ali, o restolho cintilante. Lentamente, uma enorme coruja pousada no olmo, balouçou-se e elevou-se numa sucessão de curvas até ao cimo do cedro. Sombras lentas alargavam-se e estreitavam-se ao passar sobre as colinas. O charco no meio das terras pantanosas repousava sem vida. Nenhum rosto hirsuto fitava a sua imagem, nenhum casco chapinava nele, nenhum focinho quente agitava as suas águas. Um pássaro pousado num ramo cinzento bebeu um sorvo de água fria. Não havia sons de colheitas, nem ruídos de rodas, mas apenas o clamor do vento enchendo as velas e varrendo as ervas. Um osso jazia no solo, gasto pela chuva e esbranquiçado pelo sol, brilhando como um ramo polido pelo mar. A árvore que na Primavera se recobria de reflexos vermelhos e no Verão deixava as folhas ondularem ao vento sul, estava agora negra e nua como o ferro.
O horizonte estava tão distante que já não se podiam ver os telhados brilhantes e as janelas cintilantes. A terrível densidade da terra envolta em sombras, tinha absorvido esses frágeis grilhões, esses obstáculos tão frágeis como as conchas dos caracóis. Subsistia apenas a sombra líquida de uma nuvem, o ruído da chuva, um isolado raio de sol, ou a brusca aparição da tempestade. Nas colinas distantes, as árvores erguiam-se como obeliscos.
O sol do entardecer, difuso e sem calor, dava suavidade às cadeiras e às mesas e marcava-as com losangos castanhos e amarelos. Duplicados pelas próprias sombras os objectos pareciam mais pesados, como se a cor tivesse escorrido obliquamente para um dos lados. As facas, os copos e os garfos davam a ilusão de ser mais longos, mais maciços, adquirindo um aspecto majestoso. Debruado no seu círculo dourado, o espelho parecia olhar a cena como se a quisesse fixar para a eternidade.
Entretanto, as sombras alongavam-se sobre a praia e a escuridão aumentava. O velho sapato, de um negro cor de ferro, era agora uma sombria mancha de azul. As rochas perdiam a sua dureza. A água em volta do velho barco era negra, como se estivesse repleta de mexilhões. A espuma tornava-se lívida e, aqui e ali, deixava brancas cintilações de pérola na praia envolta em bruma.
Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p.166/7
''Viver tem sido terrível para mim.''
Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p.161
O sol declinara no horizonte. As ilhas de nuvens haviam-se feito mais densas e deslizavam diante do sol. Os rochedos tornavam-se subitamente sombrios. O trémulo cardo marinho passava de azul a prateado e sombras impelidas pelo vento deslizavam sobe o mar como pedaços de tecido cinzento. As ondas já não atingiam as poças mais distantes, nem alcançavam a linha negra que estendia o seu traçado irregular sobre a praia. A areia tinha uma cor de pérola, suave e brilhante.
Os pássaros volteavam em pleno céu. Alguns deslizavam velozmente nos corredores de vento, giravam e separavam-se como se fossem mil fragmentos de um mesmo corpo. Tombavam do cimo das árvores como uma rede. Um deles voou solitariamente em direcção aos campos e pousou numa estaca branca, abrindo e fechando as asas.
No jardim, algumas pétalas tinham caído. Repousavam sobre a terra como conchas. A folha morta já não jazia na beirada; o vento apoderara-se dela, elevando-a e deixando-a cair e tinha-a largado junto dum silvado. Em todas as flores passava a mesma onda de luz, num repentino frémito e esplendor, como se uma barbatana fendesse o verde cristal de um lago. Às vezes uma forte rajada de vento fazia balouçar simultaneamente as inumeráveis folhas; depois, quando o vento passava, cada folha recuperava a sua identidade. Os claros discos das flores brilhavam ao sol; afastavam-se da luz ao serem agitadas pelo vento e algumas cabeças demasiado pesadas para voltarem a erguer-se ficavam ligeiramente inclinadas.
O sol da tarde aquecia os campos, azulava as sombras. avermelhava o trigo. Os campos brilhavam ao sol como se tivessem sido envernizados. Uma carroça , um cavalo, um bando de gralhas, tudo o que se movia sob a luz do sol parecia banhado a ouro. Ao moverem as patas, as vacas provocavam ondulações de ouro avermelhado e os seus chifres pareciam revestidos de luz. Feixes de trigo louro jaziam nas sebes, perdidos pelos carros baixos e primitivos que chegavam dos campos. As nuvens arredondadas no céu sem perderem sequer o átomo da sua forma. Ao passarem numa aldeia colhiam-na por inteiro na sua rede de sombras e ao afastarem-se deixavam-na de novo livre. Longe, muito longe no horizonte, entre milhões de grãos de poeira de um azul-cinza, via-se arder um vidro ou destacar-se uma silhueta solitária de um campanário ou de uma árvore.
As cortinas vermelhas e as persianas brancas agitavam-se embatendo no rebordo da janela e a luz que entrava em convulsões irregulares tinha um tom acastanhado e um certo ar de abandono ao passar pelas cortinas atormentadas pelo vento. Dava um tom acastanhado a um armário, avermelhava uma cadeira e fazia a janela ondular no flanco do jarro verde.
Por um instante tudo vacilou, tudo mergulhou numa atmosfera de ambígua incerteza, como se uma grande mariposa flutuando no quarto tivesse ensombrecido com as suas asas trementes a imensa solidez das cadeiras e das mesas.
Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p.146/7
«É um grande alívio ter alguém a quem podemos chamar a atenção para qualquer coisa. Ou então com que se possa estar em silêncio. Ou com ele seguir as obscuras veredas da mente e penetrar no passado, visitar livros, afastar os seus ramos e colher os frutos.»
Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p.144
''um pôr do sol invernal na extensão dos campos''
Virginia Woolf. As ondas. Tradução de Francisco Vale. Relógio D'Água., p.144
sábado, 15 de junho de 2013
Para que nasças no mês anterior
Para que nasças muito antes de chegares
Para que amanheças já aberta e recortada
No tempo anterior à tua vinda
Para que amanheças
Ó rosa anterior
Para que venhas
Mesmo antes de seres compreendida. Ainda
Antes da terra te poder gerar. Ó rosa
Já florida
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 195
Porque a morte tem o seu tempo
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 184
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Tinha umas sandálias de sangue para caminhar livre
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 175
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Preparou o coração com a lenha do arado
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 158
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Agora és um animal que pensa
Amanhã um animal que dorme
Mas tens uma noite inteira para dormires do mesmo lado
Hoje és um dia que começa outra vez
Como se hoje pudesses plantar o dia que não acaba
Um animal que come a sombra diurna daquilo que é pensado
És um alimento
Agora és um alimento que dorme
Do mesmo lado da mão direita de quem colhe
Como se hoje pudesses plantar-te no que frutifica
E igualares-te no silêncio a uma pedra fechada
Uma pedra em sua natureza humilde de coisa que vive
Em seu mistério de coisa que sem sementes se propaga
Agora és um animal que se propaga no sono
Que pesa menos do que o sonho ou um pássaro
Um animal que se eleva em seu instinto de máquina
És agora uma máquina montada para a morte
Uma avaria dentro dela que lentamente desgasta.
E fabricas um homem que se afasta
Do mundo
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 138
Tornei-me peso
Rochedo respirando para dentro nos líquenes interiores
Peso da ceguez nos meus olhos contaminados
Das pupilas inquinadas pelas pedras interiores
Tornei os olhos muito impuros por milhares de imagens
Pedras internas golpeando-me
Tornei-os incapazes de visões
Das visões interiores e por fora
Da aparência
Afoguei os olhos no meio das águas
Um peixe cheio de canais mudando as suas cores
Doendo-me muito os olhos cobertos
Por escamas
Quis abrir os olhos no meio das águas no meio das imagens
E estava cego, estava coberto de fantasmas
Quis respirar com as mãos na garganta, guelras acesas
Porque as imagens não tinham rostos nas janelas
Elas fecharam-se sobre os meus olhos, em cardume,
Elas apontaram-me aos olhos as antenas interiores
Elas propagaram-me um modo cerrado de não ver
Dinamitei depois tudo o que em mim tinha forma de aquário
Um aquário sem nada dentro dele, dinamitei de vazio
Aquilo que na transparência tinha material explosivo
Uma força concreta, a capacidade de um cenário
Devastado
E dinamitei o vazio e encontrei um peso
Humano que não se afundava:
Era um milagre de Lázaro vindo para fora!
Era um homem que nos levava por um caminho desconhecido para casa
E que partia o pão. E eu vi que era ele
Que partia
O pão.
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 136/7
«(...) não prefiras o orgulho à sensatez.»
Ésquilo. Prometeu Agrilhoado. Tradução, prefácio e notas de Fernando Melro. Editorial Inquérito, Lisboa., p. 76
«Bem melhor é morrer uma só vez do que sofrer todos os dias.»
Ésquilo. Prometeu Agrilhoado. Tradução, prefácio e notas de Fernando Melro. Editorial Inquérito, Lisboa., p. 58
sexta-feira, 14 de junho de 2013
sábado, 8 de junho de 2013
«Amarro espigas molhos de espigas »
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 104
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«Quando repousarei
Ausente sem sofrer
Qualquer ausência? »
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 111
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«Só o pássaro vive para o voo.
Quando pousa é igual ao homem que se senta
Para pensar.»
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 100
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EXPLICAÇÃO DA MADRUGADA
Água entre muralhas:
O orvalho
O orvalho
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 89
«-Mais interior do que o sangue no coração que me darás -»
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 86
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«Com os teus lábios podes destruir-me.»
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 77
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«Regressou como que repetiu o caminho cada dia »
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 75
domingo, 2 de junho de 2013
«Lembra-se - continuou Ernst - do que nos dizia muitas vezes: que a saúde mental de uma pessoa não estava no que ela fazia, mas sim naquilo em que ela pensava? Lembra-se de perguntar a cada um de nós: em que tens pensado? Lembra-se dessa pergunta, que nos metia medo? Se agora me fizesse de novo essa pergunta, agora que me sinto equilibrado, sabe o que lhe respondia? Que nos últimos dias tenho pensado em matá-lo.»
Gonçalo M.Tavares. Jerusalém. Editorial Caminho, 7ª edição, 2005., p. 139
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Pedra de Sísifo II
Agora medirei o tempo
Pela vara erguida ao meio-dia
Pela areia a descer o coração
E o sono
Pela cinza no cabelo de Jacob
Pelas agulhas no colo de Penélope
Agora lavarei a minha face
Sem perturbar os círculos da água
Medirei o tempo pelo peso da pedra
De Sísifo, perto do cimo
E pelo musgo que dificulta
A firmeza dos seus pés
Partirei sozinho na viagem
Sem nenhuma pedra ou senda repetida
E no tempo repetido acharei uma saída
Uma manhã depois de uma manhã
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 70
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Labirinto II
«(...)
A teia é movimento que persiste
Em sua paciência.
Como Ariadne costurando umbrais
Para que Teseu possa vir do nada.»
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 67
A teia é movimento que persiste
Em sua paciência.
Como Ariadne costurando umbrais
Para que Teseu possa vir do nada.»
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 67
AQUILES E PÁTROCLO
Nem sucessivas e sucessivas migrações de aves
Perfarão a distância que agora nos separa
Mas esta nau não me levará a casa
E seguir-te não será morrer
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 65
indigência
nome feminino
1. situação de quem vive em condições de miséria, sofrendo necessidades básicas (comida, vestuário, abrigo, etc.); pobreza extrema
2. falta de alguma coisa; carência
3. conjunto de pessoas que vivem em grande pobreza
(Do latim indigentĭa-, «carência»)
Tenho aflição por tudo o que morre
Como tenho pavor por cada noite que cai.
Como fui esquecer o caminho para fora?
Infeliz que esqueci as sendas da caça.
Comerei erva? Sol? Comerei estepes e estepes
A arder?
Vou-me pôr à mesa e esperar.
Tenho aflição por toda a ausência não anunciada
Acendi a luz por toda a casa e electrifiquei a voz
Agora posso ampliar o clarão dos gritos.
Posso abrir trilhos no fogo: sei o ritmo da mão exacta
Que fez o povo atravessar enxuto o interior da água.
Vou-me encostar à mesa. Vou deixar arrefecer a comida.
Fazer de conta que estou a esperar.
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 40
Poderia ter escrito a tremer de respirares tão longe
Ter escrito com o sangue.
Também poderia ter escrito as visões
Se os olhos divididos em partes não sobrassem
No vazio de ceguez
E luz.
Poderia ter escrito o que sei
Do futuro e de ti
E de ter visto no deserto
O silêncio, o fogo e o dilúvio.
De dormir cheio de sede e poderia
Escrever
O interior do repouso
E ser faúlha onde a morte vive
E a vida irrompe.
E poderia ter escrito o meu nome no teu nome
Porque me alimento da tua boca
E na palavra me sustento em ti.
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 19
Ter escrito com o sangue.
Também poderia ter escrito as visões
Se os olhos divididos em partes não sobrassem
No vazio de ceguez
E luz.
Poderia ter escrito o que sei
Do futuro e de ti
E de ter visto no deserto
O silêncio, o fogo e o dilúvio.
De dormir cheio de sede e poderia
Escrever
O interior do repouso
E ser faúlha onde a morte vive
E a vida irrompe.
E poderia ter escrito o meu nome no teu nome
Porque me alimento da tua boca
E na palavra me sustento em ti.
Daniel Faria. Poesia. Edição de Vera Vouga. Editora Quasi., p. 19
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