segunda-feira, 27 de agosto de 2012
«Talvez sejas um outchitel muito culto, mas, como pessoa, és terrivelmente estúpido.»
Dostoievski. O Jogador. Editorial Verbo - Livros RTP, Lisboa, p. 178
«Olha, je suis bonne enfant, já te aviso, tu veras des étoiles.»
Dostoievski. O Jogador. Editorial Verbo - Livros RTP, Lisboa, p. 164
domingo, 26 de agosto de 2012
«Agora, perguntava-me de novo: amo-a?
«E não sabia responder. Ou melhor, respondi-me novamente, pela centésima vez, que a detestava. Sim, odiava-a! Havia momentos (sobretudo depois das nossas conversas) em que teria dado metade da minha vida para estrangulá-la! Juro-o. Se tivesse sido possível, ainda há momentos, cravar-lhe no peito um punhal bem afiado, julgo que o teria empunhado de boa vontade. E ao mesmo tempo, juro também, pelo que tenho de mais sagrado, que no Schlangenberg, no pico mais frequentado, se me tivesse dito: ''atire-se daqui'', ter-me-ia atirado imediatamente, até com prazer. Tinha a certeza disso. De qualquer modo, tinha que tomar uma decisão. Ela sabe-o muito bem e a ideia de que eu a compreendo, perfeita e precisamente, a distância que nos separa, a impossibilidade absoluta de ver realizadas as minhas fantasias, essa ideia, estou convencido, proporciona-lhe um prazer extraordinário. De contrário, como se compreende que, sendo discreta e inteligente, possa ter comigo estas intimidades?»
Dostoievski. O Jogador. Editorial Verbo - Livros RTP, Lisboa, p. 17
sábado, 18 de agosto de 2012
«Nesse ano a canção estava em toda a parte, e o seu absurdo refrão:
É que parece tão longo, mas não é.
É que parecem tantos anos,
mas talvez seja apenas um.
Quando as árvores lá estavam preocupava-me que lá estivessem,
e agora desapareceram.
Ao sair usávamos o caminho que existe à volta do pântano.
Quando regressávamos a maré tinha subido.
Havia outro caminho, mas era muito longe e difícil de lá chegar.
E por isso esperávamos aqui, e tudo continua igual.
Havia muitas coisas que queria dizer-te
antes de partires. Agora não as direi.
Embora a luz caia sobre a varanda
lançando as mesmas sombras dos mesmos lugares,
só eu as posso ver, só eu posso ouvir o vento
cujo som é demasiado alto.
O mundo ferve com plantas. Perdoa-me.
Amo-te, mas não devo pensar em ti.
Essa é a lei. Nem todos lhe obedecem.
Ainda que o tempo passe e o ar nunca seja o mesmo
não mudarei. Essa é a lei, e está certa.»
Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 125
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
''A roda do moinho gira incessantemente e o mocho senta-se no carvalho à espera da escuridão.''
Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 65
« - Vamos, como podem tratá-lo assim? - protestou Adelaida, que se aproximou solicitamente do príncipe e lhe estendeu a mão.
Ele sorriu-lhe com ar perturbado. De súbito, um sussurro precipitado causou-lhe no ouvido uma espécie de queimadura, era Aglaia que lhe murmurava:
- Se não põe imediatamente esses infames na rua, odiá-lo-ei toda a vida, toda a vida, e só a si!»
Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 296
Ele sorriu-lhe com ar perturbado. De súbito, um sussurro precipitado causou-lhe no ouvido uma espécie de queimadura, era Aglaia que lhe murmurava:
- Se não põe imediatamente esses infames na rua, odiá-lo-ei toda a vida, toda a vida, e só a si!»
Fëdor Mixajlovič Dostoevskij. O Idiota. Tradução de Jorge Sampaio. Círculo de Leitores, Lisboa, 1978., p. 296
''mas fala-me tu de ti com verdade''
Dante. A Divina Comédia (Tomo II). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 32
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
«sinto que sinto como sentiria sendo eles e isso me perturba como o mundo inteiro que me envolve e transcende. só através da memória me é permitido ver até ao fundo ou até àquilo que imagino o fundo da verdade dos entes solitários»
Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 160
um homem sem memória seria um homem feliz.
«um homem sem memória seria um homem feliz. não tanto por não a ter o que poderia dar-lhe a plenitude do instante mas por nem ter a memória de a ter tido, e a memória do futuro e o futuro para ele seriam letra morta.»
Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 159
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
''cálice com cicuta que bebera por engano''
«sentia numa onda o torpor de quem lentamente adormece; é o veneno, pensou; veneno não da aranha mas do cálice, do cálice com cicuta que bebera por engano, não tanto por engano como os outros poderiam pensar, mas ele cuspia no que os outros fossem dizer ou pensar, só que se antecipara, vira o líquido tão belo, tão fascinante colorindo o cálice e não resistira e quando quis impedir a boca de beber tinha já pelo veneno refrescados os lábios e quando ainda quis obstar a que a garganta engolisse já o estômago arrefecera com as primeiras gotas e todo ele se sentia do líquido que o convertia na sua cor, a cor daquele líquido tão belo, tão fascinante aquele líquido; o escravo viera interromper a conversa com os discípulos, o escravo trazia um cálice em sua negra mão, o escravo era o ponteiro do relógio que marcava a hora;»
Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 134
cicuta
nome feminino
BOTÂNICA planta venenosa, da família das Umbelíferas, espontânea em Portugal e também conhecida por cegude e ansarinha-malhada;
embude |
(Do latim cicūta-, «idem»)
«máscaras que os sufocavam à medida que barba e cabelo iam crescendo»
Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 132
condenação à morte lenta
«aquela era a condenação à morte lenta, condenação que estava na lei e tinha de ser cumprida, cumprida por todos, mesmo pelos que a fizeram, mesmo por aqueles que fizeram a lei»
Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 129
''foram os homens em que ele confiava que o mataram por dentro''
Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 127
tarimba
nome feminino
1. | estrado de madeira sobre o qual dormiam os soldados que estavam de guarda |
2. | cama desconfortável |
3. | figurado vida de quartel; tropa; caserna |
4. | figurado experiência de dificuldades |
uma a uma folheou as cartas que não escrevera a ninguém nem a si mesmo
« (...) estava morto, morto, tinham-no autênticamente condenado à morte; eles sabiam que um homem como ele não poderia viver numa tal jaula sem amor, durante vinte e cinco longos, longos anos; eles sabiam, os sacristas, sabiam que não seria necessário matá-lo, que bastaria aquilo; e bastou; o resto dele agora em nada, definitivamente nada, um corpo rico não de anos, porém de sofrimento, velho de angústia não só, mas de derrota; uma a uma folheou as cartas que não escrevera a ninguém nem a si mesmo»
Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 125
pedrisco
nome masculino
saraiva muito miúda, por vezes chuva gelada, constituída por gotas de chuva que atravessaram uma camada de ar muito fria e congelaram.
saraiva muito miúda, por vezes chuva gelada, constituída por gotas de chuva que atravessaram uma camada de ar muito fria e congelaram.
V
Na colina distante
o feno é como canela cálida nos celeiros,
novas aranhas sobem cautelosamente,
a quebrada luz das estrelas filtra-se pelas fendas.
Há a profunda respiração das vacas
e no pátio levantam-se as grandes malvas
que pela noite serão escuras.
As portas estão abertas
e as tábuas do alpendre não rangem.
Sons suaves, redondos propagam-se
VI
Não poderá uma comoção da noite
ser o orvalho que cai sobre as inclinadas folhas de erva?
Paul Bowles. Poemas. Selecção e tradução José Agostinho Baptista. Assírio&Alvim, 2008, Lisboa., p. 21
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terça-feira, 14 de agosto de 2012
ailarilolela
«porque nasceste num bairro operário serás eternamente limitada e numa casa suja de operário serás precocemente desflorada e no incerto futuro de operário serás injustamente desgraçada, serás menstrualmente dum operário pois a tua carne foi despertada, partirás anualmente um operário porque essa vida não foi evitada, morrerás somente como um operário e a tua morte será ignorada, mulher, a tua voz é rude, voz de origens: desgraçado, miserável, nem te aguentas nessas pernas, olha que bonita figura, és um farrapo, um farrapo de homem, é o que tu és. ele avança titubeante, devagar, procurando numa despreocupada alegria esconder-se: ailarilolela: cala-te criminoso, deixa ao menos dormir os pobres a quem nem sequer dás de comer: ailailai: fizeste-me seis filhos e agora que me amole, não?»
Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 112
«sofria de doenças raras queixando-se das que conhecia e doutras que inventava jamais deixando porém de ser sincero chegaram a doer-lhe os cabelos e as unhas fechando-se no quarto durante dias seguidos às escuras onde passou em breve a ver os mortos a falar com os mortos e Goethe disse-lhe o autêntico sentido de suas últimas palavras e uma manhã ele pretendeu morrer também e o que é mais estranho morreu mesmo ficou na cama hirto de olhos fechados sem falar vieram levantá-lo mas ele não deixou e não comia nem bebia depois com tratamentos lá tentaram convencê-lo de que estava vivo e o faziam comer e o fizeram beber embora morto embora continuasse definitivamente morto um vivomorto»
Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 87/8
« fala vagamente de vida existencial concreta e do sensualismo de possuir a morte! afirma que se suicida depois de viver um momento de beleza absoluta, porque depois desse momento há muito procurado, nada pode ser belo, nada já há a esperar deste terrível mundo em que vivemos famintos de infinito!»
Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 84
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
«porque fomos criados para que nos criássemos, porque para nos fazermos fomos feitos, a cada instante se fazem e nisso está a liberdade deles, não em fazer o que se quer, mas o que quer o ser, não em fazer o não ser, mas apenas o ser, não em não querer o ser, que o mesmo é que o não ser querer e a escolha precisamente entre o ser e o não ser está, o ser e o nada, o ser e o vazio, o ser e o zero, o ser e o absurdo»
Almeida Faria. Rumor Branco. Portugália Editora, Lisboa, 1962., p. 77
domingo, 12 de agosto de 2012
«Ou o teu falar me engana ou me tenta.»
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 174
«Eu sou Aglauro, que me tornei em pedra.»
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 168
«Sábia não fui, ainda que Sapia fosse o meu nome: e fui a infelicidade dos outros e mais feliz por isso que com a minha ventura. E para que não julgues que te engano, ouve como fui, segundo te disse, louca, quando já descia a curva dos meus anos.»
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 164
«(...) grande dor arrancou lágrimas dos meus olhos.»
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 162
«(...) ó raça humana, nascida para voar alto, porque cais tu se sopra um ligeiro vento?»
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 160
"Há tanta suavidade em nada dizer/ E tudo se entender." - Fernando Pessoa
"O primeiro beijo, seja isso bem claro, não o dão os lábios mas os olhos."
(Bernardi, Don Juan)
"Quando o amante está distante, mais quente se faz o desejo; o hábito deixa o amado fastidioso."
(Propércio)
"No homem, o desejo gera o amor. Na mulher, o amor gera o desejo."
(Jonathan Swift)
"O amor não conhece sua própria intensidade até à hora da separação."
(Khalil Gibran)
Temer o amor é temer a vida, e aqueles que temem a vida já estão praticamente mortos."
(Bertrand Russell)
"Se queres prolongar o amor não permitas que a desconfiança te domine em relação à pessoa amada."
(Ovídio)
"As feridas do amor só podem ser curadas por aquele que as fez."
(Publílio Siro)
Tudo o que sabemos do amor, é que o amor é tudo que existe."
(Emily Dickinson)
"Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor."
(Mozart)
(Bernardi, Don Juan)
"Quando o amante está distante, mais quente se faz o desejo; o hábito deixa o amado fastidioso."
(Propércio)
"No homem, o desejo gera o amor. Na mulher, o amor gera o desejo."
(Jonathan Swift)
"O amor não conhece sua própria intensidade até à hora da separação."
(Khalil Gibran)
Temer o amor é temer a vida, e aqueles que temem a vida já estão praticamente mortos."
(Bertrand Russell)
"Se queres prolongar o amor não permitas que a desconfiança te domine em relação à pessoa amada."
(Ovídio)
"As feridas do amor só podem ser curadas por aquele que as fez."
(Publílio Siro)
Tudo o que sabemos do amor, é que o amor é tudo que existe."
(Emily Dickinson)
"Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor."
(Mozart)
sábado, 11 de agosto de 2012
''Sós com a nossa loucura''
John Ashbery. Uma onda e outros poemas. Tradução colectiva de João Barrento com a colaboração de Richard Zenith. Quetzal Editores, Lisboa,1992., p. 48
domingo, 5 de agosto de 2012
Há muito dessas mulheres e não é necessário que aumentes o seu número.
« - Eu parto amanhã, Nina - começou Grigóri Afanássievitch, estugando o passo - e, digo-to francamente, parto inquieto, sim, por causa disso que começou em ti. - Falava assim do amor, certo de ser compreendido por ela. - Tudo irá correr bem se te calhar um homem de verdade. Nesse caso, de acordo. Mas se do obscurecimento do teu espírito se aproveita um desavergonhado que não acredita nem em deus nem no diabo, mas apenas nos átomos?...Alguém que, para matar o tempo, leva para as montanhas as parvas pintadas, à procura não sei que pedrinhas? Destroçará a tua vida e partirá depois no seu Volga com rumo desconhecido, e tu ficarás destruída, mutilada, passando como uma estranha diante da beleza do mundo e intrigando as gentes com o teu aspecto de aflita. Há muito dessas mulheres e não é necessário que aumentes o seu número.
(...)
« - Tu não tens o direito de ser infeliz! - interrompeu-a Grigóri Afanássievitch em tom irritado. - Foste preparada para teres uma vida interessante e bela. Trouxemos-te para essa vida e pusemos-te perante ela...Pois bem, justifica-nos, a nós os velhos, ao mesmo tempo que te justificas a ti mesma. É verdade que estás numa idade propícia e que não pode ser de outra maneira, já que é uma lei da natureza, mas cuida de que isto não seja o teu fim, a tua vergonha, a tua desgraça, mas o começo, a entrada de honra na vida autêntica.»
Serguéi Antónov..As Pedrinhas Multicores. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 528/9
«(...) durante um segundo, o seu olhar foi firme e penetrante; depois os olhos suavizaram-se, tornando-se alegres e carinhosos. Era como se tivesse, por um velho hábito, dois olhares distintos: um para os inimigos e outro para os amigos.»
Andréi Merkúlov..Em Voo. Contos soviéticos. Tradução de Sampaio Marinho. Edições Progresso, 1980, p. 444
exegese
nome feminino
1. | análise e explicação do verdadeiro sentido de um texto, aplicando as regras da hermenêutica |
2. | interpretação; comentário |
(Do grego exégesis, «interpretação», pelo francês exégèse, «idem»)
sábado, 4 de agosto de 2012
lodaçal
nome masculino
1. | lugar onde há muito lodo; lamaçal; atoleiro |
2. | figurado vida dissoluta |
3. | figurado lugar de devassidão |
''Amor, que na minha alma me fala''
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 128
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a divina comédia,
Dante Gabriel Rossetti,
excerto
«Depois à medida que se aproximava de nós, a ave divina mais nítida aparecia: como os meus olhos não a suportavam, baixei-os.»
Dante. A Divina Comédia (Tomo I). Tradução Rui Viana Pereira. Ediclube., p. 127
Etiquetas:
a divina comédia,
Dante Gabriel Rossetti,
excerto
I've had so many words
but I had no courage.
but I had no courage.
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(pendant la nuit),
Beatrice,
Beatriz,
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