(...)
« nas portas e nas bocas nas vulvas e nas tumbas
puseram a assinatura da vitória
e com vinha da ira e cães de fila
dos talos da morte cresceu o muro mnemónica»
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 141
sábado, 29 de setembro de 2018
sílfide
síl.fi.de
ˈsiɫfid(ə)
nome feminino
1.
MITOLOGIA génio feminino que preside ao ar
2.
figurado mulher delicada e graciosa
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''suástica crucificação''
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 137
domingo, 23 de setembro de 2018
«anjo não é cão de guarda»
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 123
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« do fundo dos teus olhos a tua dor rodada»
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 114
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espúrio
es.pú.ri.o
(i)ʃˈpurju
adjetivo
1.
antiquado diz-se de filho de uma relação extraconjugal; bastardo; ilegítimo
2.
que não segue as leis; ilegítimo
3.
diz-se da obra que não pertence ao autor a quem é atribuída
4.
adulterado; falsificado
5.
que não pertence ao vernáculo
6.
não autêntico; não genuíno
7.
regionalismo avarento e de aspecto pouco agradável
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«arte de flancos mornos versificando o cio »
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 111
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« No topázio mais triste da minha clarividência, apareceu-me o anjo do Ocidente. Tropeçava de sombra em sombra e a espada com que guardava os jardins com buxos de livros da Europa despedaçara-se em números que espavoridos fugiam uns dos outros. Um horizonte de canções blindadas cantava a parábola das cidades brancas cobertas por noites laboriosas de formigas. As estátuas cambaleavam no alto de temerosos pensamentos. As catedrais eram levadas por um vento de elevadores endemoninhados. Mulheres a arder em revistas ilustradas faziam strip-tease para latas de conserva boquiabertas. E a Europa fugia para trás. Fugia parada na louca pulsação do seu movimento estático. E a Europa era a triste viuvinha no meio de uma roda de crianças que eram índios num filme americano.
Desatei então a correr para o sítio onde se chora. O sítio onde se chora é na penumbra pensativa. No quarto de estalactites da alma onde se fazem poemas. Mas notei que no meu pranto faltava uma lágrima e essa lágrima era Portugal. Percebi finalmente que Portugal era eu a chorar trevos de cinza pela Europa.»
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 107
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«Não, não participo nessa exposição de rosas com fins caritativos que tem amortalhado alguns poetas no ilustre cadáver do presidente da república. Se nimiamente me deixo viver pelo tempo que finge crianças rotas e pedintes é porque a todos espero no domingo de prata que coroará a semana de horrorosos trabalhos que a teia do tirano tece com a baba dos oprimidos. É por pura impaciência que me inscrevo na lista de todos os fuzilados por amor.
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 102
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«Os oprimidos são os maiores capitalistas do mundo porque capitalizam a nossa vocação para morrer pelas ideias que vão deixar tudo na mesma.»
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 101
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 101
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«na intelegível voz de uma alma devastada.»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 53
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(...)
«cumprindo enfim o ciclo das breves orgias cristãs.
foi então que a descobriram,
o rosto contraído sob o azul de um céu litoral
que a noite escurecia,
agora que os vermes a procuravam, sedentos de
um corpo triste;»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 50
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«indiferentes ao mundo, aos sonhos do mundo,»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 48
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(...)
«marinheiros, sábios, homens do mar que o mar
não devolverá.
quando ele chegou nada disse.
havia uma história de muitas milhas e tanta sede
nos lábios gretados.»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 47
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(...)
«consultando as profanas escrituras, testamentos e
exercícios sobre a loucura,
noções de orgia e massacre,
pergaminhos que tempo algum destruiria;»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 39
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«tudo o que ao mar se deu e ao mar não regressará...»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 36
(...)
« o coração esmagado por deus,
seduzido pelos frios rostos do passado, pelas
visões incontroladas de poentes vermelhos, após
as dunas.»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., p. 27
« o coração esmagado por deus,
seduzido pelos frios rostos do passado, pelas
visões incontroladas de poentes vermelhos, após
as dunas.»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., p. 27
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Mariphasa - Filme português de Sandro Aguilar
«Gente perdida, sem saber para onde vai, sem saber o que quer ou o que os espera. O que podem eles fazer contra o destino? Há um acidente. Um funeral. Um homem que já não é bem-vindo. O seu caminho cruza uma mulher e o seu filho, ambos com medo; um outro homem (marido, ex-marido?), caçador, alguém que cria medo. Andam à volta uns dos outros, como animais enjaulados num zoológico. (E às tantas a mulher é veterinária.) Há algo de malsão a trabalhar em Mariphasa, algo de maligno, de mais assustador do que qualquer filme de terror. Mas há também um conforto estranho: o de sabermos que esta gente é como nós. Talvez sejamos nós — gente perdida, transtornada, que já não sabe mais para onde se virar, gente perdida, assustada, à beira de explodir, à beira de libertar algo. O quê? Não sabemos, Sandro Aguilar não no-lo diz. Prefere deixar-nos ali a boiar neste plasma líquido, neste fluido amniótico de vidas com medo, de pesadelos nocturnos, sempre de noite, sempre às escuras, sob o signo do sangue.»
Ver aqui.
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domingo, 16 de setembro de 2018
préstito
prés.ti.to
ˈprɛʃtitu
nome masculino
aglomerado de pessoas em marcha; cortejo; procissão
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«Porque como todos aqueles que engolem a espada em chamas do amor eu conheço o medo e digo-vos que o democrático é o nosso medo de haver democracia. Ah, creiam-me, o democrático é, no centro da nossa crisólita de feridas abertas para a liberdade, a sufocação que não deixa haver democracias.»
« Ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer»
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 89
a poesia é para comer»
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 89
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« E eu que me recuso a engendrar verdugos, engolindo-me em vómito de vítima, enriqueci o meu dicionário de heliotrópios com um significado adequado ao curso do sol: camelo - tenaz imobilidade de juiz com o mundo paralítico nas patas.»
«E um cu a fazer de altar»
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 32
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«Começam a depor as testemunhas: a primeira é uma SOLTEIRONA arreitada de luxúria e escumando pavor.
A SOLTEIRONA
Fez uma magia
Sobre a minha telha
Um pénis que ria
Entrou-me pela orelha.
Em insónias roxas
Vigílias de lama
Arderam-me as coxas
Nas brazas da cama.
Deu-me um lírio preto
Como um diamante
Era um amuleto
Para eu ter um amante.
(...)»
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 27
A SOLTEIRONA
Fez uma magia
Sobre a minha telha
Um pénis que ria
Entrou-me pela orelha.
Em insónias roxas
Vigílias de lama
Arderam-me as coxas
Nas brazas da cama.
Deu-me um lírio preto
Como um diamante
Era um amuleto
Para eu ter um amante.
(...)»
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 27
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«Ficaram mortos sem cemitério
Sem se lembrarem de ter morrido»
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 25
Sem se lembrarem de ter morrido»
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 25
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QUEIXA DAS ALMAS JOVENS CENSURADAS
Natália Correia. Poemas a Rebate. Poesia Século XX. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975., p. 13
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«E a nada mais me entrego,
Apenas decepção e pensamento.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 43
Apenas decepção e pensamento.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 43
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«Anjo de Rosto ausente.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 39
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«Sem me creio, existo. Não importa a forma.
Não importa aonde. Se Te creio existes.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 37
Não importa aonde. Se Te creio existes.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 37
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«Não sou fácil nem mansa.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 34
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«Da terra que é fome e come.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 31
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verso solto
«Em braços de outros Dias.
Em bocas de outro Mar.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 30
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«Uma Pátria de angústia»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 30
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verso solto
NÃO OCULTEM MAIS ROSTOS
«Não fechem mais caixões, à hora clara
Em que o dia vai alto.
Deixem que a vida seja sempre a Morte.
Deixem que a Morte seja sempre a Vida.
Que uma e outra, de amor, tão confundidas
Nem saibam do mistério que as transporte.
Deixem colar-se horror e podridão
À nossa pele de vivos verticais.
Não nos deixem esquecer as abissais descidas à Paixão.
(...)»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 29
Em que o dia vai alto.
Deixem que a vida seja sempre a Morte.
Deixem que a Morte seja sempre a Vida.
Que uma e outra, de amor, tão confundidas
Nem saibam do mistério que as transporte.
Deixem colar-se horror e podridão
À nossa pele de vivos verticais.
Não nos deixem esquecer as abissais descidas à Paixão.
(...)»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 29
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sábado, 15 de setembro de 2018
«Os mortos mais antigos»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 27
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«Esta paz tão antiga, de morrer nos teus braços.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 23
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« - Despe-te, carne! Despe-te de véus!
Despe os ossos, os nervos, despe a lua
Que te inunda de crimes cintilantes.
Despe-te!»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 21
Despe os ossos, os nervos, despe a lua
Que te inunda de crimes cintilantes.
Despe-te!»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 21
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«Pés de regresso à casa que é vazia.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 14
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« E línguas sem gargantas.»
Natércia Freire. Obra Poética. Volume II. Imprensa Nacional - Casa da Moeda., p. 12
quinta-feira, 13 de setembro de 2018
Branco, exposição da fotógrafa Luísa Ferreira (na Galeria Monumental, Lisboa)
“Branco é um trabalho desenvolvido a partir do auto-retrato, traçando um percurso que passa pela auto-representação para construir a noção de ficção identitária. Esta, por sua vez, é baseada na expressão “aquilo sou eu”, no sentido em que eu sou as minhas percepções. Refere a inevitabilidade do corpo na criação de espaço. Aborda o conceito de arquivo nas suas formas e propósitos, e assinala a sua importância para a construção da identidade. Reflecte sobre as potencialidades e a finalidade da fotografia no contexto actual”.
domingo, 9 de setembro de 2018
« Mostrar-te-ei medo num punhado de poeira.»
T.S.ELIOT. A Terra sem Vida. Colecção Poesia. Edições Ática. Lisboa., p. 23
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verso solto
«Tu não sabes dizer nem supor, pois apenas conheces
Um monte de imagens quebradas, onde o sol bate,
E a árvore morta não oferece abrigo, nem o grilo trégua,»
T.S.ELIOT. A Terra sem Vida. Colecção Poesia. Edições Ática. Lisboa., p.
Um monte de imagens quebradas, onde o sol bate,
E a árvore morta não oferece abrigo, nem o grilo trégua,»
T.S.ELIOT. A Terra sem Vida. Colecção Poesia. Edições Ática. Lisboa., p.
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Thomas Stearns Eliot
sábado, 1 de setembro de 2018
imperceptível, o arado rasga a terra,
o amor dorme,
da árvore pende o mais doce fruto,
a casa é branca, tão branca, penso eu.
que farei deste silêncio e destas feridas,
que profundo desgosto atraiu o olhar,
que ódio mais necessário envolve as mãos?
sou jeremias,
é certo.
o fugitivo, o ermita,
o vagabundo do país de exílio,
da lisboa inerte onde se morre,
sou o louco impossível,
o pastor da noite que nunca chegará,
o avô negro que envelheceu entre as plantações
de algodão no sul,
e através da auto-estrada e do vento da costa,
quando se dirigia para o ocaso,
nas horas de maior calor;
tudo o que amei passou,
como as marés que deixam o
ciclo,
lua cheia e lua nova,
inverno e estio,
tudo o que amei se abandonou,
como náufrago que o mar abandona à praia,
quase morto,
no fim da viagem subitamente interrompida,
agora que o fascínio das noites do sul se perdeu
e o sul se perdeu,
e o cais se perdeu...
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., p. 25/6
o amor dorme,
da árvore pende o mais doce fruto,
a casa é branca, tão branca, penso eu.
que farei deste silêncio e destas feridas,
que profundo desgosto atraiu o olhar,
que ódio mais necessário envolve as mãos?
sou jeremias,
é certo.
o fugitivo, o ermita,
o vagabundo do país de exílio,
da lisboa inerte onde se morre,
sou o louco impossível,
o pastor da noite que nunca chegará,
o avô negro que envelheceu entre as plantações
de algodão no sul,
e através da auto-estrada e do vento da costa,
quando se dirigia para o ocaso,
nas horas de maior calor;
tudo o que amei passou,
como as marés que deixam o
ciclo,
lua cheia e lua nova,
inverno e estio,
tudo o que amei se abandonou,
como náufrago que o mar abandona à praia,
quase morto,
no fim da viagem subitamente interrompida,
agora que o fascínio das noites do sul se perdeu
e o sul se perdeu,
e o cais se perdeu...
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., p. 25/6
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«A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.»
António Lobo Antunes in Diário de Notícias (2003)
António Lobo Antunes in Diário de Notícias (2003)
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«entretanto
não conheci cidades senão as onde se morre,»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., p. 21
não conheci cidades senão as onde se morre,»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., p. 21
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«pela estrada de pó havemos de chegar à branca igreja»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., p. 16
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«depois, seria amanhã,»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., p. 14
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«venha a mim o reino destruído,»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., p. 11
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« bem aventurados sejam os dias de cólera,»
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., p. 11
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para aqueles cujo coração é o coração da terra e
do vento e do mar
e por isso são filhos da terra e do vento e do mar,
é este livro.
para os que regressam um dia e tudo se perdeu
enlouquecendo depois pelos caminhos do litoral e da
noite,
é este livro.
para eliot e pound, whitman e pessoa, shelley e
algumas gerações,
as belas malditas e perdidas gerações
é este o livro.
para cavalo louco e billy the kid,
vagabundos de sempre bêbedos ternos e
mestre desaparecidos,
cantores dos campos e tocadores antigos,
é este livro.
para ti filho do norte e do sul
de todos os silêncios de todas as casas de todas
as tardes,
irmão do fogo e da flor ardente,
companheiro de setembro e maio e dezembro,
é este livro.
para aqueles que vão sobre as ondas e no deserto e
no azul
perseguindo a nuvem e o sol e a ave,
derradeiros viajantes de muitas migrações,
é este livro,
daqui lisboa onde arde e morre o coração.
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 7-8
do vento e do mar
e por isso são filhos da terra e do vento e do mar,
é este livro.
para os que regressam um dia e tudo se perdeu
enlouquecendo depois pelos caminhos do litoral e da
noite,
é este livro.
para eliot e pound, whitman e pessoa, shelley e
algumas gerações,
as belas malditas e perdidas gerações
é este o livro.
para cavalo louco e billy the kid,
vagabundos de sempre bêbedos ternos e
mestre desaparecidos,
cantores dos campos e tocadores antigos,
é este livro.
para ti filho do norte e do sul
de todos os silêncios de todas as casas de todas
as tardes,
irmão do fogo e da flor ardente,
companheiro de setembro e maio e dezembro,
é este livro.
para aqueles que vão sobre as ondas e no deserto e
no azul
perseguindo a nuvem e o sol e a ave,
derradeiros viajantes de muitas migrações,
é este livro,
daqui lisboa onde arde e morre o coração.
José Agostinho Baptista. Jeremias o louco. Centelha/Poesia. Coimbra, 1978., pp. 7-8
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