A História da Lobotomia
As origens da moderna psicocirurgia podem ser achadas nas últimas décadas do século XIX, quando a ciência estava começando a entender como o comportamento e a mente humana podia ser mapeada nas estruturas anatômicas do cérebro. Um cientista alemão chamado Friederich Golz fez experimentos de ablação cirúrgica do neocórtex em cães, e relatou em 1890 que, quando os lobos temporais eram removidos, os animais ficavam mais dóceis do que os não operados.
Essas descobertas inspiraram Gottlieb Burkhardt, um médico e diretor de um asilo mental na Suiça, a operar em 1892 seis de seus pacientes esquizofrênicos, que tinham alucinações e ficavam muito agitados em conseqüência. Alguns dos pacientes realmente ficaram mais calmos, mas não seria possível dizer se isso foi resultado da operação (dois deles morreram). Burkhardt sofreu forte oposição e críticas de seus contemporâneos, por isso psicocirurgias desse tipo foram raramente realizadas nos 40 anos seguintes,
A situação começou a mudar quando na década dos 30s, vários laboratórios experimentais nos Estados Unidos fizeram várias descobertas impressionantes sobre o papel dos lobos frontais e temporais do cérebro no controle do comportamento emocional e agressividade. Na Universidade de Yale, em 1935, um cientista chamado Carlyle Jacobsen fez observações sobre o comportamento de chimpanzés após a destruição do córtex frontal e pré-frontal por meio de uma lobotomia. Um dos animais, que ficava muito agressivo em certas situações, ficou calmo e fácil de manejar depois da operação; sem que isso aparentemente causasse alterações em outras esferas mentais, como na memória e na inteligência. Um dos neurologistas experimentais de Yale, o Dr. John Fulton também comrpovou o efeito da remoção completa dos lobos frontais em dois chimpanzés, com os quais posteriormente não conseguia induzir mais um tipo de neurose experimental.
Em virtude disso, Fulton se tornaria um dos pilares científicos dos defensores da lobotomia nos Estados Unidos.
John Fulton
Tendo ouvido esses fatos relatados por Fulton em um congresso internacional em Londres, um neuropsiquiatra português, o Dr. Antônio Egas Moniz, professor de neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, teve a idéia de realizar uma operação semelhante de modo a aliviar os sintomas mentais severos em pacientes com psicoses intratáveis. Egas Moniz sabia que certas psicoses, tais como a síndrome paranóide e as desordens obssessivo-compulsivas, envolvem pensamentos repetitivos, que dominam todos os processos psicológicos. Baseado nos resultados de Fulton, ele raciocinou que se cortasse as fibras nervosas que unem o córtex frontal e pré-frontal ao tálamo (uma estrutura localizada no meio do cérebro, e responsável por transmitir as informações sensoriais para o neocórtex. Este modo, ele achava que poderia ocorrer uma interrupção nos pensamentos repetitivos, permitindo que o paciente psicótico levasse uma vida mais normal.
Antônio Egas Moniz
Moniz, trabalhando com um colega neurocirurgião, Dr. Almeida Lima, desenvolveu então uma abordagem cirúrgica que ele denominou de leucotomia ("corte da substância branca"). Ele abria uma série de orifícios no crânio, por onde passava um instrumento chamado leucótomo de fio, Realizando movimentos de lateralidade, ele cortava as fibras, e o paciente podia se recuperar rapidamente. Moniz relatou os resultados com alguns poucos pacientes. Pacientes que eram gravemente agitados, ansiosos ou deprimidos tinham mostrado bons resultados em alguns casos, enquanto que em outros não se obtivera sucesso. Moniz foi cauteloso em propor que a leucotomia deveria ser utilizada somente quando o caso não tivesse mais nenhuma esperança de tratamento por outros meios.
Depois que Egas Moniz e seus colegas relataram seus resultados ao mundo (simultaneamente em seis países), em 1936; vários centros começaram a tentar a nova cirurgia. No Brasil, o notável cirurgião Mattos Pimenta, da Escola Paulista de Medicina, em São Paulo, foi um dos que realizou a nova cirurgia de Moniz, com resultados duvidosos.
Dias de Glória para a Lobotomia
Assim, provavelmente a leucotomia prefrontal provavelmente se extinguiria por si só como procedimento médico (Moniz se aposentaria cedo, devido ao fato de ter levado um tiro na espinha de um ex-paciente, tendo ficado paraplégico), poucos anos depois de ter sido inventada. Muitos psiquiatras eram terminantemente contra ela, principalmente os psicanalistas.
No entanto, um neurologista clínico americano muito ambicioso, chamado Walter Freeman, compareceu ao mesmo congresso de Londres que Egas Moniz, e posteriormente leu seus resultados em uma publicação. Fascinado coma idéia e os resultados obtidos, ele se uniu a um neurocirurgião, James Watts, para aplicar a nova técnica a pacientes americanos. Eles operaram pela primeira vez em setembro de 1936. Após alguns casos, eles estavam convencidos que a leucotomia funcionava, e começaram a fazer uma intensa propaganda da mesma. Freeman encontrou suspeição e resistência por parte de seus colegas, no início, mas ele insistiu muito, e eventualmente ganhou a aprovação relutante da elite dos neurologistas americanos. Ele e Watts aperfeiçoaram a técnica cirúrgica, chegando ao que eles denominaram "Procedimento Padronizado de Freeman-Watts", que continha um conjunto preciso de orientações para melhorar a inserção do leucótomo.
Walter Freeman
Freeman era muito bom no que tange a convencer a imprensa e o público em geral sobre o potencial da lobotomia prefrontal (como ele achou melhor denominar), e quase que sozinho foi responsável por estabelecê-la como um procedimento terapêutico válido, visitando, dando aulas e operando em centenas de sanatórios mentais, hospitais e clínicas psiquiátricas em todo o país. No entanto, insatisfeito com a duração excessiva e a complexidade da cirurgia padrão, Freeman inventou em 1945 uma técnica desenvolvida por um italiano, que consistia em realizar um acesso ao lobo prefrontal através da órbita do olho, que era trepanada e depois inserido o leucótomo. Freeman inventou uma forma muito mais rápida e simples, usando um quebra-gelo, um instrumento pontiagudo, ao invés de um leucótomo, que necessitava da trepanação. Sob anestesia local, o quebra-gelo era apoiado no teto da órbita, e com uma leve pancada de um martelo, atravessava pele, tecido subcutâneo, osso e meninges, chegando ao lobo prefrontal. Com um movimento lateral de 30 graus, as fibras eram desconectadas. Isto não tomava mais do que alguns minutos, e não era nem mesmo necessário internar o paciente em um hospital. O procedimento era tão impressionante, no entanto, que mesmos neurocirurgiões veteranos não agüentavam observar, e alguns chegavam a desmaiar ao testemunhar a verdadeira "linha de produção" montada por Freeman em alguns hospitais. Watts ficou agastado com o novo tipo de operação e rompeu com Freeman.
A lobotomia invadiu os Estados Unidos como uma enchente, assim como alguns outros países. Ela foi realizada em larga escala nos anos 40, devido ao grande número de casos psiquiátricos trazidos pela II Guerra Mundial. Entre 1939 e 1951 foram realizadas mais de 18,000 lobotomias nos EUA, e dezenas de milhares mais em outros países. Ela foi amplamente abusada, na forma de um instrumento para controlar o comportamento indesejável e para esvaziar os hospitais superlotados (fazia sentido econômico, pois custava uns 250 dólares, contra um custo de 35.000 dólares ou mais, por ano, para cada paciente internado). Assim, traiu-se a recomendaçào de Egas Moniz, de usá-la apenas em casos desesperantes, como um último recurso. No Japão, por exemplo, a lobotomia foi muito usada com crianças com problemas de conduta ou de mau desempenho escolar. Prisioneiros em hospícios judiciais foram operados em grande quantidade. Famílias que queriam se livrar de parentes incômodos, eram submetidos à lobotomia. Dissidentes políticos e oponentes eram tratados como doentes mentais pelas autoridades, e operados. Apareceram até cirurgiões amadores, que realizavam centenas de lobotomias sem sequer fazer um exame psiquiátrico antes.
Em 1949, o Dr. Antônio Egas Moniz recebeu o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, por sua contribuição à leucotomia prefrontal. Isso teve um efeito enorme sobre o procedimento, tornando-o internacionalmente respeitável. Nos três anos seguintes ao Nobel, foram realizadas mais lobotomias que em todos os anos anteriores.
A Morte da Lobotomia
Finalmente, no começo dos anos 50, começaram a se ouvir as primeiras vozes discordantes contra a loucura lobotomizante. Não estavam sendo apresentadas evidências científicas sérias sobre a eficácia real da lobotomia. Até mesmo os defensores da lobotomia admitiam que apenas um terço dos pacientes melhoravam. Outro terço ficava na mesma, enquanto o terço final piorava ! (considerando-se que de 25 a 30 % dos casos psiquiátricos melhoram espontaneamente, uma grande proporção dos lobotomizados poderia ter se recuperado sem ela). A única avaliação de larga escala foi feita nos EUA apenas em 1947 (o projeto Columbia-Greystone) e não demonstrou efeitos positivos claros da lobotomia. A maioria das vezes, os trabalhos publicados eram muito falhos, pois a avaliação era feita pelos próprios cirurgiões que operavam, sem nenhum tipo de controle científico.
As objeções éticas começaram a se acumular, devido ao dano irreversível causado ao cérebro, e tambem devido aos sérios efeitos colaterais sobre a personalidade e a vida emocional dos pacientes, que começaram a ser relatados. Além disso, o aparecimento de novas e eficazes drogas antipsicóticas e antidepressivas, como a torazina, nos anos 50, estava tornando possível o combate aos sintomas mais sérios das psicoses em pacientes agitados e incontroláveis. Os neurocirurgiões abandonaram a lobotomia a favor de métodos mais humanos de tratamento.
As preocupações com respeito à proteção dos pacientes contra a lobotomia e terapias radicais semelhantes, particularmente em prisioneiros cuja libertação era trocada pela concordância em ser operados (uma oferta extremante convertida, injusta e desbalançada), traduziu-se no surgimento de leis nos Estados Unidos e em outros paises, nos anos 70. A psicocirurgia passou a ser considerada um tratamento experimental, e como tal, sujeita a muitas restrições e salvaguardas com relação aos direitos dos pacientes.
A operação original de lobotomia não é mais realizada. embora muitos países ainda aceitem a psicocirurgia como uma forma de controle radical do comportamento violento patológico, entre os quais o Japão, a Austrália, a Suécia e a Índia. Até mesmo na ex-União Soviética, a terra do abuso psiquiátrico, a lobotomia foi proibida, não porque não fosse útil para controlar os oponentes do regime comunista (eles usavam outros métodos, como o confinamento compulsório), mas devido a um posicionamento ideológico contra a mesma.
http://www.cerebromente.org.br/n02/historia/lobotomy_p.htm
Lobotomia Trans-Orbitária: O Testemunho de um Paciente
Interessantissima a entrevista com Howard Dully, um paciente lobotomizado pelo Dr. Walter Freeman aos 12 anos de idade (atualmente ele está com 56 anos).
A lobotomia pré-frontal foi inventada por um neurocirurgião português, o Dr. Egas Moniz, e popularizada nos Estados Unidos pelo Dr. Walter Freeman, que a modificou para que pudesse ser feita no consultório (lobotomia trans-orbitária ou "ice-pick lobotomy"), em menos de 10 minutos, com uma incisão através da órbita, como na figura acima, que mostra Howard Dully sendo lobotomizado aos 12 anos de idade.
Essa psico-cirurgia era a única terapêutica disponível para alguns casos de psicopatias, e foi abandonada com o advento das drogas neurolépticas. Infelizmente, o Dr. Freeman abusou das potencialidades dessa cirurgia e menosprezou as suas potenciais complicações, encerrando a sua carreira depois que uma paciente morreu de hemorragia cerebral.
http://sadato.hypermart.net/weblog/lobotomia_prefrontal_o_testemu.html/02/2007
Ao ver tantos energumenos no mundo, penso se talvez não fosse bem aplicada em alguns casos...
De repente 'lobotomizar' certos tipos de bandidos, já que não querem mata-los poderiam matar a mente assassina deles...:lol[kdesconfia]
sábado, 16 de novembro de 2019
domingo, 10 de novembro de 2019
Love Sick
WRITTEN BY: BOB DYLAN
I’m walking through streets that are dead
Walking, walking with you in my head
My feet are so tired, my brain is so wired
And the clouds are weeping
Did I hear someone tell a lie?
Did I hear someone’s distant cry?
You thrilled me to my heart, then you ripped it all apart
You went through my pockets when I was sleeping
I’m sick of love…but I’m in the thick of it
This kind of love…I’m so sick of it
I see lovers in the meadow
I see silhouettes in the window
I watch them ’til they’re gone and they leave me hanging on
To a shadow
I’m sick of love…I hear the clock tick
This kind of love…I’m love sick
Sometimes the silence can be like the thunder
Sometimes I feel like I’m being plowed under
Could you ever be true? I think of you
And I wonder
I’m sick of love…I wish I’d never met you
I’m sick of love…I’m trying to forget you
Just don’t know what to do
I’d give anything to be with you
Walking, walking with you in my head
My feet are so tired, my brain is so wired
And the clouds are weeping
Did I hear someone tell a lie?
Did I hear someone’s distant cry?
You thrilled me to my heart, then you ripped it all apart
You went through my pockets when I was sleeping
I’m sick of love…but I’m in the thick of it
This kind of love…I’m so sick of it
I see lovers in the meadow
I see silhouettes in the window
I watch them ’til they’re gone and they leave me hanging on
To a shadow
I’m sick of love…I hear the clock tick
This kind of love…I’m love sick
Sometimes the silence can be like the thunder
Sometimes I feel like I’m being plowed under
Could you ever be true? I think of you
And I wonder
I’m sick of love…I wish I’d never met you
I’m sick of love…I’m trying to forget you
Just don’t know what to do
I’d give anything to be with you
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letras de canções
O tempo da Saudade é, portanto, um tempo sem passado, sem presente e sem futuro, a sua vivência, dando-se ao nível da consciência, anula a importância de qualquer marcação de duração de extensão. Diríamos, pois, que a extensão da Saudade é puramente temporal, e que essa temporalidade é a experiência imediata do confronto com a irreversibilidade como verdade.
Noronha, Maria Teresa de (2007) A SAUDADE: Contribuições fenomenológicas, lógicas e ontológicas. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda., p. 203
"…uma referência a uma rapariga, num quarto, com um vestido-camiseiro. Estava a vestir o vestido. Foi uma imagem que me ficou. Ela a apertar os botões, de cima para baixo…" (Sarmento/Ribeiro, 2012) como em 'O raio sobre o lápis', o livro que JS ilustrou para Mª Gabriela Llansol.
"É uma mulher à espera, constantemente à espera. Nunca vai a lado nenhum e nunca chega a lado nenhum" (Sarmento/Ribeiro, 2012).
Karōshi
criação Teatro da Cidade
''Os nossos dias são o trabalho. O local de trabalho, o mundo inteiro.
''Os nossos dias são o trabalho. O local de trabalho, o mundo inteiro.
Karōshi é uma palavra japonesa que significa, literalmente, morte por excesso de trabalho. O Teatro da Cidade mergulha nela para explorar os limites do ser humano face ao trabalho nos dias de hoje, problematizando conceitos que balizam o nosso quotidiano. Estabelecendo um paralelo entre o direito social ao trabalho, adquirido com o tempo, e as novas formas de escravatura a que nos sujeitamos, este espetáculo questiona a dupla condição de quem trabalha enquanto escravo de si próprio e miragem de um semideus: provocar os limites do corpo para se adequar à sociedade em que vive, ao sistema que lhe exige a produção rápida, eficiente, vivendo de objetivo em objetivo, muitas vezes vendo a recompensa posta em causa; a Sociedade do século XXI, que adormece no metro, nas escadas da estação de comboios, no passeio, até sucumbir completamente.
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segunda-feira, 4 de novembro de 2019
domingo, 3 de novembro de 2019
«Quando for peixe
É neste rio
Que eu quero morar.»
Marcos Tiago Ribeiro Boaventura e Silva
3 anos
Infantário da Casa do Povo de Madalena, Valadares, Portugal
Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa. 2º Concurso Poético. Vol.IV O Sonho Vem Pela Cabeça. Instituto Piaget, Lisboa, 1992., p. 13
É neste rio
Que eu quero morar.»
Marcos Tiago Ribeiro Boaventura e Silva
3 anos
Infantário da Casa do Povo de Madalena, Valadares, Portugal
Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa. 2º Concurso Poético. Vol.IV O Sonho Vem Pela Cabeça. Instituto Piaget, Lisboa, 1992., p. 13
«O acto poético é o empenho total do ser para a sua revelação. Este fogo de conhecimento,
que é também fogo de amor, em que o poeta se exalta e consome, é a sua moral. E não há
outra. Nesse mergulho do homem nas suas águas mais silenciadas, o que vem à tona é tanto
uma singularidade como uma pluralidade. Mas, curiosamente, o espírito humano atenta
mais facilmente nas diferenças que nas semelhanças, esquecendo-se, e é Goethe quem o
lembra, que o particular e o universal coincidem, e assim a palavra do poeta, tão fiel ao homem, acaba por ser palavra de escândalo no seio do próprio homem. Na verdade ele
nega onde outros afirmam, desoculta o que outros escondem, ousa amar o que outros nem
sequer são capazes de imaginar. Palavra de aflição mesmo quando luminosa, de desejo
apesar de serena, rumorosa até quando nos diz o silêncio, pois esse ser sedento de ser, que é
o poeta, tem a nostalgia da unidade, e o que procura é uma reconciliação, uma suprema
harmonia entre a luz e a sombra, presença e ausência, plenitude e carência.
Essa revelação do poeta, e dos outros com ele, essa descida ao coração da alma, de que
Heraclito encontrou a fórmula, essa coragem de mostrar o que achou no caminho – e nunca
é fácil, nem alegre, nem irresponsável revelar o que se encontrou ou sonhou nas galerias da
alma – é o que chamarei agora dignidade do poeta, e com ele a do homem. Porque é
sempre de dignidade que se trata quando alguém dá a ver o que viu, por mais fascinante ou
intolerável que seja o achado.
“O futuro do homem é o homem”, estamos de acordo. Mas o homem do nosso futuro não
nos interessa desfigurado. Este animal triste que nos habita há milhares de anos, cujas
possibilidades estamos longe de conhecer, é o fruto de uma desconfiguração – acção de
uma cultura mais interessada em ocultar ao homem o seu rosto do que em trazê-lo, belo e
tenebroso, à luz limpa do dia. É contra a ausência do homem no homem que a palavra do
poeta se insurge, é contra esta amputação no corpo vivo da vida que o poeta se rebela. E se
ousa “cantar no suplício” é porque não quer morrer sem se olhar nos seus próprios olhos, e
reconhecer-se, e detestar-se, ou amar-se, se for caso disso, no que não creio. De Homero a
São João da Cruz, de Virgílio a Alexandre Blok, de Li Po a William Blake, de Bashô a
Cavafy, a ambição maior do fazer poético foi sempre a mesma: Ecce Homo, parece dizer
cada poema. Eis o homem, eis o seu efémero rosto feito de milhares e milhares de rostos,
todos eles esplendidamente respirando na terra, nenhum superior ao outro, separados por
mil e uma diferenças, unidos por mil e uma coisas comuns, semelhantes e distintos,
parecidos todos e contudo cada um deles único, solitário, desamparado. É a tal rosto que
cada poeta está religado. A sua rebeldia é em nome dessa fidelidade. Fidelidade ao homem
e à sua lúcida esperança de sê-lo inteiramente; fidelidade à terra onde mergulha as raízes
mais fundas; fidelidade à palavra que no homem é capaz da verdade última do sangue, que
é também verdade da alma»
ANDRADE – Poesia e Prosa, p. 109-110.
«Lembro-me com rigor do nosso primeiro encontro, da primeira vez que nos fitámos nos
olhos. Eu devia ter uns cinco anos e andava com a minha mãe e as tias no lameiro […] De
repente, minha mãe disse-me: - Vem além o teu pai. – É impossível que não tivesse já
ouvido aquela palavra, mas a mim sempre me pareceu que a escutara então pela primeira
vez. […] Recusei [dinheiro], virando-lhe as costas. Sem uma palavra, corri para minha
mãe: só ela era meu pai, o homem que vinha de ver pela primeira vez ia recusá-lo a vida
inteira. Inteiramente»
«Mesmo os que folhearam os meus livros com mão distraída sabem da presença poética de
minha mãe. Mas, destas terras, eu levei para a minha poesia outra figura em que se tem
reparado menos, e que seria a terceira de um tríptico, cujo centro fosse ocupado
tutelarmente pela Mãe, tendo à sua direita a Criança, e à esquerda o Pastor – com perfil
assim nítido não há mais ninguém na minha poesia»
SANTOS, José da Cruz, coord. – Eugénio de Andrade: o amigo mais íntimo do sol: fotobiografia. Porto:
Campo das Letras, 1998, p. 42.
«Sou filho de camponeses, passei a infância numa daquelas aldeias da Beira Baixa que
prolongam o Alentejo e, desde pequeno, de abundante só conheci o sol e a água. Nesse
tempo, que só não foi de pobreza por estar cheio do amor vigilante e sem fadiga de minha
mãe, aprendi que poucas coisas há absolutamente necessárias. São essas coisas que os
meus versos amam e exaltam. A terra e a água, a luz e o vento consubstanciaram-se para
dar corpo a todo o amor de que a minha poesia é capaz. As minhas raízes mergulham desde
a infância no mundo mais elementar. Guardo desse tempo o gosto por uma arquitectura
extremamente clara e despida, que os meus poemas tanto se têm empenhado em reflectir; o
amor pela brancura da cal, a que se mistura invariavelmente, no meu espírito, o canto duro
das cigarras; uma preferência pela linguagem falada, quase reduzida às palavras nuas e
limpas de um cerimonial arcaico - o da comunicação das necessidades primeiras do corpo e
da alma. Dessa infância trouxe também o desprezo pelo luxo, que nas suas múltiplas
formas é sempre uma degradação; a plenitude dos instantes em que o ser mergulha inteiro
nas suas águas, talvez porque então o mundo não estivesse dividido, a luz cindia (dividida),
o bem e o mal compartimentados; e, ainda, uma repugnância por todos os dualismos, tão do
gosto da cultura ocidental, sobretudo por aqueles que conduzem à mineralização do desejo
num coração de homem. A pureza, de que tanto se tem falado a propósito da minha poesia,
é simplesmente paixão, paixão pelas coisas da terra, na sua forma mais ardente e ainda não
consumada»
ANDRADE, Eugénio – Poesia e Prosa. 3ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores, 1987, vol. 3, p. 123-124.
ANDRADE, Eugénio – Poesia e Prosa. 3ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores, 1987, vol. 3, p. 123-124.
O INOMINÁVEL
Nunca
dos nossos lábios aproximaste
o ouvido; nunca
ao nosso ouvido encostaste os lábios;
és os silêncio,
o duro espesso impenetrável
silêncio sem figura. Escutamos, bebemos o silêncio
nas próprias mãos
e nada nos une
- nem sequer sabemos se tens nome.
ANDRADE, Eugénio de – Poesia. 2ª ed. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2005, p. 497
Nunca
dos nossos lábios aproximaste
o ouvido; nunca
ao nosso ouvido encostaste os lábios;
és os silêncio,
o duro espesso impenetrável
silêncio sem figura. Escutamos, bebemos o silêncio
nas próprias mãos
e nada nos une
- nem sequer sabemos se tens nome.
ANDRADE, Eugénio de – Poesia. 2ª ed. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2005, p. 497
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sábado, 2 de novembro de 2019
38.
Tendo chegado ao fim da rua, vês de longe
que o princípio da rua não existe. O que tu vês
não é calçada ou casa, sequer esquina,
o que tu vês não é alegre ou triste,
o que tu vês arrasa os próprios olhos
porque os vês vazios.
E apenas há quem julgue que chegaste
porque pesas um peso que soltaste
pelo caminho por onde nunca andaste.
Pedro Tamen. Guião de Caronte. Quetzal Editores. Poesia. Lisboa, 1997., p. 47
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« Já te não devora a fome
e qualquer coisa se come,
mas não com isso sacias
o que te deserta os dias.»
Pedro Tamen. Guião de Caronte. Quetzal Editores. Poesia. Lisboa, 1997., p. 40
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« eis-me indiferente e pardo. Não serei eu por certo
a lançar rosas sobre a torrente imóvel.
Pedro Tamen. Guião de Caronte. Quetzal Editores. Poesia. Lisboa, 1997., p. 34
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« bato à porta com braços, pernas, boca e dentes,»
Pedro Tamen. Guião de Caronte. Quetzal Editores. Poesia. Lisboa, 1997., p. 29
« O que não se sabe não existe.»
Pedro Tamen. Guião de Caronte. Quetzal Editores. Poesia. Lisboa, 1997., p. 21
« este é o árido mar em que os remos não servem»
Pedro Tamen. Guião de Caronte. Quetzal Editores. Poesia. Lisboa, 1997., p. 18
«Ilusória mansão em que se vive
morto, tal como aquela em que se morre
vivo; (...)»
Pedro Tamen. Guião de Caronte. Quetzal Editores. Poesia. Lisboa, 1997., p. 15
morto, tal como aquela em que se morre
vivo; (...)»
Pedro Tamen. Guião de Caronte. Quetzal Editores. Poesia. Lisboa, 1997., p. 15
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''luas danadas''
José Carlos Ary dos Santos. Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, Julho de 1964
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novena
/ê/
no.ve.na
nuˈvenɐ
nome feminino
1.RELIGIÃO práticas ou exercícios de devoção que se fazem durante nove dias consecutivos
2.série de nove dias
3.grupo de nove coisas
2.série de nove dias
3.grupo de nove coisas
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significados
« desfolhando sete lírios
dentro de um copo de vento»
José Carlos Ary dos Santos. Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, Julho de 1964
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versos soltos
A BRUXA
Com sete lagartos mortos
sete vasilhas de enxofre
sete lacraus sete corvos
sete anéis de pedra negra
sete cabras sem pescoço
sete bacias de sangue
sete agulhas de veneno
sete gatos sete figas
sete cruzes sete salgas
sete luas sete rezas
sete fogos para as almas
sete candeias acesas
em sete torcidas de algas.
José Carlos Ary dos Santos. Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, Julho de 1964
Com sete lagartos mortos
sete vasilhas de enxofre
sete lacraus sete corvos
sete anéis de pedra negra
sete cabras sem pescoço
sete bacias de sangue
sete agulhas de veneno
sete gatos sete figas
sete cruzes sete salgas
sete luas sete rezas
sete fogos para as almas
sete candeias acesas
em sete torcidas de algas.
José Carlos Ary dos Santos. Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, Julho de 1964
''O mar vestiu-se de chuva''
José Carlos Ary dos Santos. Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, Julho de 1964
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verso solto
« ai degraus da minha angústia
numa escadaria de água.»
José Carlos Ary dos Santos. Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, Julho de 1964
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versos soltos
jogral
jo.gral
ʒuˈɡraɫ
nome masculino
1.indivíduo que, na Idade Média, tocava vários instrumentos e cantava versos seus ou alheios, sendo pago para tal
2.TEATRO pessoa que interpreta textos literários, cantando e/ou recitando, em geral fazendo parte de um grupo
3.bobo; farsista; truão
2.TEATRO pessoa que interpreta textos literários, cantando e/ou recitando, em geral fazendo parte de um grupo
3.bobo; farsista; truão
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língua portuguesa,
significados
''onde o amor e a dor
são tempos do mesmo instante.''
José Carlos Ary dos Santos. Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, Julho de 1964
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versos soltos
procela
pro.ce.la
pruˈsɛlɐ
nome feminino
1.
tempestade no mar; tormenta; temporal
2.
figurado grande agitação; exaltação de espírito
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significados
''terra de festas de sangue''
José Carlos Ary dos Santos. Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, Julho de 1964
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verso solto
'' terra de cravos de carne''
José Carlos Ary dos Santos. Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, Julho de 1964.
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verso solto
sexta-feira, 1 de novembro de 2019
''fogo insaciável''
'' a boca sem uma gota de saliva,''
Poema do Senhor Bhagavad-Guitá. Transcrição, Introdução, Notas e Glossário de António Barahona. Relógio D'Água, 1ª Edição, 1996., p. 39
''soprou no seu búzio cheio de fúria.''
Poema do Senhor Bhagavad-Guitá. Transcrição, Introdução, Notas e Glossário de António Barahona. Relógio D'Água, 1ª Edição, 1996., p. 35
''(...) cada um de per si até à morte.''
Poema do Senhor Bhagavad-Guitá. Transcrição, Introdução, Notas e Glossário de António Barahona. Relógio D'Água, 1ª Edição, 1996., p. 35
BARCELONA
Luz e sol e pintura
Sobre o telhado à noite a lua cresce
Abro os olhos como um barco pelas ruas
No entanto outonece
Sophia de Mello Breyner Andresen | "Ilhas", pág. 25 | Texto Editora, 1989
Luz e sol e pintura
Sobre o telhado à noite a lua cresce
Abro os olhos como um barco pelas ruas
No entanto outonece
Sophia de Mello Breyner Andresen | "Ilhas", pág. 25 | Texto Editora, 1989
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poema,
Sophia de Mello Breyner Andresen
FÚRIAS
Escorraçadas do pecado e do sagrado
Habitam agora a mais íntima humildade
Do quotidiano. São
Torneira que se estraga atraso de autocarro
Sopa que transborda na panela
Caneta que se perde aspirador que não aspira
Táxi que não há recibo estraviado
Empurrão cotovelada espera
Burocrático desvario
Sem clamor sem olhar
Sem cabelos eriçados de serpentes
Com as meticulosas mãos do dia-a-dia
Elas nos desfiam
Elas são a peculiar maravilha do mundo moderno
Sem rosto e sem máscara
Sem nome e sem sopro
São as hidras de mil cabeças da eficácia que se avaria
Já não perseguem sacrílegos e parricidas
Preferem vítimas inocentes
Que de forma nenhuma as provocaram
Por elas o dia perde seus longos planos lisos
Seu sumo de fruta
Sua fragrância de flor
Seu marinho alvoroço
E o tempo é transformado
Em tarefa e pressa
A contratempo
Escorraçadas do pecado e do sagrado
Habitam agora a mais íntima humildade
Do quotidiano. São
Torneira que se estraga atraso de autocarro
Sopa que transborda na panela
Caneta que se perde aspirador que não aspira
Táxi que não há recibo estraviado
Empurrão cotovelada espera
Burocrático desvario
Sem clamor sem olhar
Sem cabelos eriçados de serpentes
Com as meticulosas mãos do dia-a-dia
Elas nos desfiam
Elas são a peculiar maravilha do mundo moderno
Sem rosto e sem máscara
Sem nome e sem sopro
São as hidras de mil cabeças da eficácia que se avaria
Já não perseguem sacrílegos e parricidas
Preferem vítimas inocentes
Que de forma nenhuma as provocaram
Por elas o dia perde seus longos planos lisos
Seu sumo de fruta
Sua fragrância de flor
Seu marinho alvoroço
E o tempo é transformado
Em tarefa e pressa
A contratempo
© 1991, Sophia de Mello Breyner
Uit: Obra Poética III
Uitgever: Caminho, Lisboa
FURIES
Banished from sin and the sacred
Now they inhabit the humble intimacy
Of daily life. They are
The leaky faucet the late bus
The soup that boils over
The lost pen the vacuum that doesn’t vacuum
The taxi that doesn’t come the mislaid receipt
Shoving pushing waiting
Bureaucratic madness
Without shouting or staring
Without bristly serpent hair
With the meticulous hands of the day-to-day
They undo us
They’re the peculiar wonder of the modern world
Faceless and maskless
Nameless and breathless
The thousand-headed hydras of efficiency gone haywire
They no longer pursue desecrators and parricides
They prefer innocent victims
Who did nothing to provoke them
Thanks to them the day loses its smooth expanses
Its juice of ripe fruits
Its fragrance of flowers
Its high-sea passion
And time is transformed
Into toil and the rush
Against time
Uit: Obra Poética III
Uitgever: Caminho, Lisboa
FURIES
Banished from sin and the sacred
Now they inhabit the humble intimacy
Of daily life. They are
The leaky faucet the late bus
The soup that boils over
The lost pen the vacuum that doesn’t vacuum
The taxi that doesn’t come the mislaid receipt
Shoving pushing waiting
Bureaucratic madness
Without shouting or staring
Without bristly serpent hair
With the meticulous hands of the day-to-day
They undo us
They’re the peculiar wonder of the modern world
Faceless and maskless
Nameless and breathless
The thousand-headed hydras of efficiency gone haywire
They no longer pursue desecrators and parricides
They prefer innocent victims
Who did nothing to provoke them
Thanks to them the day loses its smooth expanses
Its juice of ripe fruits
Its fragrance of flowers
Its high-sea passion
And time is transformed
Into toil and the rush
Against time
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poetisa portuguesa,
Sophia de Mello Breyner Andresen
RETRATO DE UMA PRINCESA DESCONHECIDA
Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino
© 1991, Sophia de Mello Breyner
Uit: Obra Poética III
Uitgever: Caminho, Lisboa
PORTRAIT OF AN UNKNOWN PRINCESS
For her to have such a slender neck
For her wrists to bend like flower stems
For her eyes to be so clear and direct
Her back so straight
Her head so high
With such a natural glow on her forehead
It took successive generations of slaves
With stooping bodies and patient rough hands
Serving successive generations of princes
Still a bit coarse still a bit crude
Cruel greedy and conniving
It took an enormous squandering of life
For her to be
That lonely exiled aimless perfection
© 1991, Sophia de Mello Breyner
Uit: Obra Poética III
Uitgever: Caminho, Lisboa
© Vertaling: 2004, Richard Zenith
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Sophia de Mello Breyner Andresen
DA TRANSPARÊNCIA
Senhor libertai-nos do jogo perigoso da transparência
No fundo do mar da nossa alma não há corais nem búzios
Mas sufocado sonho
E não sabemos bem que coisa são os sonhos
Condutores silenciosos canto surdo
Que um dia subitamente emergem
No grande pátio liso dos desastres
© 1991, Sophia de Mello Breyner
Uit: Obra Poética III
Uitgever: Caminho, Lisboa
Senhor libertai-nos do jogo perigoso da transparência
No fundo do mar da nossa alma não há corais nem búzios
Mas sufocado sonho
E não sabemos bem que coisa são os sonhos
Condutores silenciosos canto surdo
Que um dia subitamente emergem
No grande pátio liso dos desastres
© 1991, Sophia de Mello Breyner
Uit: Obra Poética III
Uitgever: Caminho, Lisboa
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