Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino
© 1991, Sophia de Mello Breyner
Uit: Obra Poética III
Uitgever: Caminho, Lisboa
PORTRAIT OF AN UNKNOWN PRINCESS
For her to have such a slender neck
For her wrists to bend like flower stems
For her eyes to be so clear and direct
Her back so straight
Her head so high
With such a natural glow on her forehead
It took successive generations of slaves
With stooping bodies and patient rough hands
Serving successive generations of princes
Still a bit coarse still a bit crude
Cruel greedy and conniving
It took an enormous squandering of life
For her to be
That lonely exiled aimless perfection
© 1991, Sophia de Mello Breyner
Uit: Obra Poética III
Uitgever: Caminho, Lisboa
© Vertaling: 2004, Richard Zenith
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