"…uma referência a uma rapariga, num quarto, com um vestido-camiseiro. Estava a vestir o vestido. Foi uma imagem que me ficou. Ela a apertar os botões, de cima para baixo…" (Sarmento/Ribeiro, 2012) como em 'O raio sobre o lápis', o livro que JS ilustrou para Mª Gabriela Llansol.
"É uma mulher à espera, constantemente à espera. Nunca vai a lado nenhum e nunca chega a lado nenhum" (Sarmento/Ribeiro, 2012).
"Tudo em mim passa pelo corpo. Pelo sentido do toque. Pelo sentir das coisas. (…) Permanece intacto o sentido do Desejo. E reflete-se no trabalho. É mutante" (Sarmento / Ribeiro, 2012)
''Na verdade, não temos saudades, é a saudade que nos tem, que faz de nós o seu objecto. Imersos nela, tornamo-nos outros. Todo o nosso ser ancorado no presente fica, de súbito, ausente.'' Lourenço, Eduardo (2011) Portugal como destino/Mitologia da Saudade, 4ª ed., Lisboa: Gradiva. p.114
''Os nossos dias são o trabalho. O local de trabalho, o mundo inteiro.
Karōshi é uma palavra japonesa que significa, literalmente, morte por excesso de trabalho. O Teatro da Cidade mergulha nela para explorar os limites do ser humano face ao trabalho nos dias de hoje, problematizando conceitos que balizam o nosso quotidiano. Estabelecendo um paralelo entre o direito social ao trabalho, adquirido com o tempo, e as novas formas de escravatura a que nos sujeitamos, este espetáculo questiona a dupla condição de quem trabalha enquanto escravo de si próprio e miragem de um semideus: provocar os limites do corpo para se adequar à sociedade em que vive, ao sistema que lhe exige a produção rápida, eficiente, vivendo de objetivo em objetivo, muitas vezes vendo a recompensa posta em causa; a Sociedade do século XXI, que adormece no metro, nas escadas da estação de comboios, no passeio, até sucumbir completamente.
«Quando for peixe É neste rio Que eu quero morar.» Marcos Tiago Ribeiro Boaventura e Silva 3 anos Infantário da Casa do Povo de Madalena, Valadares, Portugal
Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa. 2º Concurso Poético. Vol.IV O Sonho Vem Pela Cabeça. Instituto Piaget, Lisboa, 1992., p. 13
«A árvore cheira
A espuma!»
Bruno Miguel Conceição Grade
2 anos
Sacavém, Portugal
Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa. 2º Concurso Poético. Vol.IV O Sonho Vem Pela Cabeça. Instituto Piaget, Lisboa, 1992
«somos folhas breves onde
dormem/ aves de sombra e solidão./ Somos só folhas e o seu rumor./ Inseguros, incapazes
de ser flor,/ até a brisa nos perturba e faz tremer»
«O acto poético é o empenho total do ser para a sua revelação. Este fogo de conhecimento,
que é também fogo de amor, em que o poeta se exalta e consome, é a sua moral. E não há
outra. Nesse mergulho do homem nas suas águas mais silenciadas, o que vem à tona é tanto
uma singularidade como uma pluralidade. Mas, curiosamente, o espírito humano atenta
mais facilmente nas diferenças que nas semelhanças, esquecendo-se, e é Goethe quem o
lembra, que o particular e o universal coincidem, e assim a palavra do poeta, tão fiel ao homem, acaba por ser palavra de escândalo no seio do próprio homem. Na verdade ele
nega onde outros afirmam, desoculta o que outros escondem, ousa amar o que outros nem
sequer são capazes de imaginar. Palavra de aflição mesmo quando luminosa, de desejo
apesar de serena, rumorosa até quando nos diz o silêncio, pois esse ser sedento de ser, que é
o poeta, tem a nostalgia da unidade, e o que procura é uma reconciliação, uma suprema
harmonia entre a luz e a sombra, presença e ausência, plenitude e carência.
Essa revelação do poeta, e dos outros com ele, essa descida ao coração da alma, de que
Heraclito encontrou a fórmula, essa coragem de mostrar o que achou no caminho – e nunca
é fácil, nem alegre, nem irresponsável revelar o que se encontrou ou sonhou nas galerias da
alma – é o que chamarei agora dignidade do poeta, e com ele a do homem. Porque é
sempre de dignidade que se trata quando alguém dá a ver o que viu, por mais fascinante ou
intolerável que seja o achado.
“O futuro do homem é o homem”, estamos de acordo. Mas o homem do nosso futuro não
nos interessa desfigurado. Este animal triste que nos habita há milhares de anos, cujas
possibilidades estamos longe de conhecer, é o fruto de uma desconfiguração – acção de
uma cultura mais interessada em ocultar ao homem o seu rosto do que em trazê-lo, belo e
tenebroso, à luz limpa do dia. É contra a ausência do homem no homem que a palavra do
poeta se insurge, é contra esta amputação no corpo vivo da vida que o poeta se rebela. E se
ousa “cantar no suplício” é porque não quer morrer sem se olhar nos seus próprios olhos, e
reconhecer-se, e detestar-se, ou amar-se, se for caso disso, no que não creio. De Homero a
São João da Cruz, de Virgílio a Alexandre Blok, de Li Po a William Blake, de Bashô a
Cavafy, a ambição maior do fazer poético foi sempre a mesma: Ecce Homo, parece dizer
cada poema. Eis o homem, eis o seu efémero rosto feito de milhares e milhares de rostos,
todos eles esplendidamente respirando na terra, nenhum superior ao outro, separados por
mil e uma diferenças, unidos por mil e uma coisas comuns, semelhantes e distintos,
parecidos todos e contudo cada um deles único, solitário, desamparado. É a tal rosto que
cada poeta está religado. A sua rebeldia é em nome dessa fidelidade. Fidelidade ao homem
e à sua lúcida esperança de sê-lo inteiramente; fidelidade à terra onde mergulha as raízes
mais fundas; fidelidade à palavra que no homem é capaz da verdade última do sangue, que
é também verdade da alma»
«Lembro-me com rigor do nosso primeiro encontro, da primeira vez que nos fitámos nos
olhos. Eu devia ter uns cinco anos e andava com a minha mãe e as tias no lameiro […] De
repente, minha mãe disse-me: - Vem além o teu pai. – É impossível que não tivesse já
ouvido aquela palavra, mas a mim sempre me pareceu que a escutara então pela primeira
vez. […] Recusei [dinheiro], virando-lhe as costas. Sem uma palavra, corri para minha
mãe: só ela era meu pai, o homem que vinha de ver pela primeira vez ia recusá-lo a vida
inteira. Inteiramente»
«Mesmo os que folhearam os meus livros com mão distraída sabem da presença poética de
minha mãe. Mas, destas terras, eu levei para a minha poesia outra figura em que se tem
reparado menos, e que seria a terceira de um tríptico, cujo centro fosse ocupado
tutelarmente pela Mãe, tendo à sua direita a Criança, e à esquerda o Pastor – com perfil
assim nítido não há mais ninguém na minha poesia»
SANTOS, José da Cruz, coord. – Eugénio de Andrade: o amigo mais íntimo do sol: fotobiografia. Porto:
Campo das Letras, 1998, p. 42.
«Sou filho de camponeses, passei a infância numa daquelas aldeias da Beira Baixa que
prolongam o Alentejo e, desde pequeno, de abundante só conheci o sol e a água. Nesse
tempo, que só não foi de pobreza por estar cheio do amor vigilante e sem fadiga de minha
mãe, aprendi que poucas coisas há absolutamente necessárias. São essas coisas que os
meus versos amam e exaltam. A terra e a água, a luz e o vento consubstanciaram-se para
dar corpo a todo o amor de que a minha poesia é capaz. As minhas raízes mergulham desde
a infância no mundo mais elementar. Guardo desse tempo o gosto por uma arquitectura
extremamente clara e despida, que os meus poemas tanto se têm empenhado em reflectir; o
amor pela brancura da cal, a que se mistura invariavelmente, no meu espírito, o canto duro
das cigarras; uma preferência pela linguagem falada, quase reduzida às palavras nuas e
limpas de um cerimonial arcaico - o da comunicação das necessidades primeiras do corpo e
da alma. Dessa infância trouxe também o desprezo pelo luxo, que nas suas múltiplas
formas é sempre uma degradação; a plenitude dos instantes em que o ser mergulha inteiro
nas suas águas, talvez porque então o mundo não estivesse dividido, a luz cindia (dividida),
o bem e o mal compartimentados; e, ainda, uma repugnância por todos os dualismos, tão do
gosto da cultura ocidental, sobretudo por aqueles que conduzem à mineralização do desejo
num coração de homem. A pureza, de que tanto se tem falado a propósito da minha poesia,
é simplesmente paixão, paixão pelas coisas da terra, na sua forma mais ardente e ainda não
consumada»
ANDRADE, Eugénio – Poesia e Prosa. 3ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores, 1987, vol. 3, p. 123-124.
«No prato da balança um verso basta
Para pesar no outro a minha vida»
ANDRADE - Poesia, p. 487
O INOMINÁVEL
Nunca
dos nossos lábios aproximaste
o ouvido; nunca
ao nosso ouvido encostaste os lábios;
és os silêncio,
o duro espesso impenetrável
silêncio sem figura.
Escutamos, bebemos o silêncio
nas próprias mãos
e nada nos une
- nem sequer sabemos se tens nome.
ANDRADE, Eugénio de – Poesia. 2ª ed. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2005, p. 497
Tendo chegado ao fim da rua, vês de longe que o princípio da rua não existe. O que tu vês não é calçada ou casa, sequer esquina, o que tu vês não é alegre ou triste, o que tu vês arrasa os próprios olhos porque os vês vazios.
E apenas há quem julgue que chegaste porque pesas um peso que soltaste pelo caminho por onde nunca andaste.
Pedro Tamen. Guião de Caronte. Quetzal Editores. Poesia. Lisboa, 1997., p. 47
« Já te não devora a fome e qualquer coisa se come, mas não com isso sacias o que te deserta os dias.»
Pedro Tamen. Guião de Caronte. Quetzal Editores. Poesia. Lisboa, 1997., p. 40
« Se possível fosse pôr-se um problema, o problema a pôr seria o de saber se o que seja que é ou que não é, num agora que só por analogia assim chamamos, faz com que seja a ilusão o que já foi - ou então já o era.»
Pedro Tamen. Guião de Caronte. Quetzal Editores. Poesia. Lisboa, 1997., p. 39
« eis-me indiferente e pardo. Não serei eu por certo
a lançar rosas sobre a torrente imóvel.
Pedro Tamen. Guião de Caronte. Quetzal Editores. Poesia. Lisboa, 1997., p. 34
José Carlos Ary dos Santos.Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, Julho de 1964
novena
/ê/
no.ve.na
nuˈvenɐ
nomefeminino
1.RELIGIÃO práticas ou exercícios de devoção que se fazem durante nove dias consecutivos 2.série de nove dias 3.grupo de nove coisas
« desfolhando sete lírios dentro de um copo de vento» José Carlos Ary dos Santos.Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, Julho de 1964
A BRUXA Com sete lagartos mortos sete vasilhas de enxofre sete lacraus sete corvos sete anéis de pedra negra sete cabras sem pescoço sete bacias de sangue sete agulhas de veneno sete gatos sete figas sete cruzes sete salgas sete luas sete rezas sete fogos para as almas sete candeias acesas em sete torcidas de algas. José Carlos Ary dos Santos.Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, Julho de 1964
1.indivíduo que, na Idade Média, tocava vários instrumentos e cantava versos seus ou alheios, sendo pago para tal 2.TEATRO pessoa que interpreta textos literários, cantando e/ou recitando, em geral fazendo parte de um grupo 3.bobo; farsista; truão
''onde o amor e a dor são tempos do mesmo instante.''
José Carlos Ary dos Santos.Tempo da Lenda das Amendoeiras. Lisboa, Julho de 1964
Escorraçadas do pecado e do sagrado Habitam agora a mais íntima humildade Do quotidiano. São Torneira que se estraga atraso de autocarro Sopa que transborda na panela Caneta que se perde aspirador que não aspira Táxi que não há recibo estraviado Empurrão cotovelada espera Burocrático desvario
Sem clamor sem olhar Sem cabelos eriçados de serpentes Com as meticulosas mãos do dia-a-dia Elas nos desfiam
Elas são a peculiar maravilha do mundo moderno Sem rosto e sem máscara Sem nome e sem sopro São as hidras de mil cabeças da eficácia que se avaria
Já não perseguem sacrílegos e parricidas Preferem vítimas inocentes Que de forma nenhuma as provocaram Por elas o dia perde seus longos planos lisos Seu sumo de fruta Sua fragrância de flor Seu marinho alvoroço E o tempo é transformado Em tarefa e pressa A contratempo
Banished from sin and the sacred Now they inhabit the humble intimacy Of daily life. They are The leaky faucet the late bus The soup that boils over The lost pen the vacuum that doesn’t vacuum The taxi that doesn’t come the mislaid receipt Shoving pushing waiting Bureaucratic madness
Without shouting or staring Without bristly serpent hair With the meticulous hands of the day-to-day They undo us
They’re the peculiar wonder of the modern world Faceless and maskless Nameless and breathless The thousand-headed hydras of efficiency gone haywire
They no longer pursue desecrators and parricides They prefer innocent victims Who did nothing to provoke them Thanks to them the day loses its smooth expanses Its juice of ripe fruits Its fragrance of flowers Its high-sea passion And time is transformed Into toil and the rush Against time
Para que ela tivesse um pescoço tão fino Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos Para que a sua espinha fosse tão direita E ela usasse a cabeça tão erguida Com uma tão simples claridade sobre a testa Foram necessárias sucessivas gerações de escravos De corpo dobrado e grossas mãos pacientes Servindo sucessivas gerações de príncipes Ainda um pouco toscos e grosseiros Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente Para que ela fosse aquela perfeição Solitária exilada sem destino
For her to have such a slender neck For her wrists to bend like flower stems For her eyes to be so clear and direct Her back so straight Her head so high With such a natural glow on her forehead It took successive generations of slaves With stooping bodies and patient rough hands Serving successive generations of princes Still a bit coarse still a bit crude Cruel greedy and conniving
Senhor libertai-nos do jogo perigoso da transparência No fundo do mar da nossa alma não há corais nem búzios Mas sufocado sonho E não sabemos bem que coisa são os sonhos Condutores silenciosos canto surdo Que um dia subitamente emergem No grande pátio liso dos desastres
Dedo mindinho Seu vizinho Pai de todos Fura bolos Mata piolhos. - Variante -
- Diz-se indicando os dedos da mão.
Memórias de um povo. Poesia popular. Orientação e Compilação de Maria Antioneta Garcia. Centro Cultural da Beira Interior, Covilhã, 1982., p. 122
- Bichinha gata Donde vens farta? - Da casa da minha madrinha. - Que comeste lá? -Pão e sardinha. -Darás dela? - Não darei. - Salta para o chão Que eu descansarei.
Memórias de um povo. Poesia popular. Orientação e Compilação de Maria Antioneta Garcia. Centro Cultural da Beira Interior, Covilhã, 1982., p. 115
« - Mal hajas tu, cão Que não agradeces O bem que te dão!» Memórias de um povo. Poesia popular. Orientação e Compilação de Maria Antioneta Garcia. Centro Cultural da Beira Interior, Covilhã, 1982., p. 104
Luísa Costa Gomes.Clamor. Teatro. Edições Cotovia, Lisboa, 1994., p. 80
« VIEIRA Não tenho culpas que confessar. ALEXANDRE DA SILVA Confessará a tenção que as teve em as cometer? VIEIRA Nada tenho a declarar da tenção que tive.»
Luísa Costa Gomes.Clamor. Teatro. Edições Cotovia, Lisboa, 1994., p. 68
«TERCEIRO POPULAR Quem há-de restituir o dinheiro a quem gasta o dinheiro que não tem?»
Luísa Costa Gomes.Clamor. Teatro. Edições Cotovia, Lisboa, 1994., p. 66
''Musca domestica, conhecida pelos nomes comuns de mosca-doméstica, mosca-de-casa, é uma espécie de díptero braquícero da família Muscidae. É um dos insectos mais comuns e uma presença habitual na maioria dos climas da Terra.''
Hay un gallo Que llora y que grita Despierta, despierta, despierta, despierta, prudente Que esto duele, te arrasa, te mata, te irrita ¡Qué suerte la tuya tan cruda y maldita! Reza de día, de noche y no almuerza Se cree mala madre y también mala hija ¿Dónde está la suerte? La mía, poquita Alguien se lo da y después se lo quita
Y no hay tanto pan, pan, pan No hay tanto pan, pan, pan No hay tanto pan, pan, pan No hay tanto pan, pan, pan
Unos son grandes y otros valientes Unos traicionan y otros son fuertes Despierta Mercedes Ay, mi Patricia Tomás, Martín, Juan, Lola, Pablo y Cristina Que esta gran culpa no es tuya ni mía
Mentiras, sonrisas y amapolas Discursos, periódicos, banqueros y trileros Canciones, manos y pistolas Bolsos, confeti, cruceros y puteros
Te roban y te gritan Te roban y te gritan Te roban y te gritan Y lo que no tienes también te lo quitan
No hay tanto pan, pan, pan No hay tanto pan, pan, pan No hay tanto pan, pan, pan No hay tanto pan
Y es indecente, es indecente Gente sin casa, casas sin gente Es indecente (Casa sin gente) No, no hay tanto pan No no no no no (Arquimistas o turistas) (Convierten el pueblo en barco) (La mierda en oro) (Lo negro en blanco)
No hay tanto pan (Oro blanco) No hay tanto pan No hay tanto pan No hay tanto, no
Compositores: Silvia Perez Cruz
''Está escuro em cima do palco. Um homem, com uma mala, atravessa o chão coberto de terra e pedras. De um lado, uma cadeira florida, gasta. Do outro, o vazio da cena que parece não ter fim. A meio, agarra-se à mala que traz, como se guardasse toda a sua vida. E depois, sai. Entram dois homens, escondidos sob uma gabardina bege. Saem. Um homem, despido, com uma outra mala, deita-se no meio da cena, coberto por ela. Deixa-se estar assim, quieto, enquanto a Sinfonia n.º 4 de Arvo Pärt continua a tocar.
É assim que começa a nova peça da coreógrafa Olga Roriz, Síndrome — sem grandes adereços, espaço ou tempo –, numa época que pode ser a de agora, a de ontem, a de amanhã. A escolha cabe ao espectador: “O que o criador faz é dar o local para as pessoas imaginarem“, diz Olga Roriz.''
Autópsia
AUTÓPSIA, a nova criação da Companhia Olga Roriz
Perdemos tudo muito devagar Tudo o que amamos está prestes a morrer. Está sempre tudo prestes a morrer. A aflição vem em ondas de dor e de luto. Lá onde o corpo fica excluído da compreensão, restam os lugares abandonados. Lugares de memória abertos a outros acontecimentos, lugares de mutação à espera de uma transformada existência. E depois da avalanche como tudo é tão frágil! Tudo está aí à nossa frente mas, no entanto, há histórias que não estão escritas em lado nenhum. Coisas de nada… Singularidades frustradas. Dissecar o mau estar de cada um de nós. Matar cada um de nós. Autopsiarmo-nos. A repetição… a repetição… a repetição… sem fim como as ondas, como a vida e a morte ou o nascimento e a morte, o dia e a noite… As dores.
''Reescrevendo o aforismo de Marx, não é a
máquina a vapor que explica o capitalismo, mas sim o capitalismo que
explica a máquina a vapor como dispositivo disciplinador do trabalho
num quadro de relações de produção definidas pelo assalariamento. ''
'' apoios sociais
desligados do trabalho como o Rendimento Básico Incondicional (RBI)''
''o atraso na
recuperação no ciclo económico dos anos noventa conhecido como
‘eurosclerose’ ''
Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na
vontade popular e empenhada na construção de uma
sociedade livre, justa e solidária. (Constituição da República Portuguesa, artigo 1.º)