domingo, 24 de fevereiro de 2019

A Nau de António Faria

(LP Como se Fora seu Filho, 1983)

Vai-se a vida e vem a morte
O mal que a todos domina
Reina o comércio da china
Às cavalitas da sorte

Dinheiro seja louvado
A cruz de Cristo nas velas
Soprou o diabo nelas
Deu à costa um afogado

A guerra é coisa ligeira
Tudo vem do mal de ofício
Não pode haver desperdício
Nesta vida de canseira

Demanda o porto corsário
No caminho faz aguada
Ali findou seu fadário
Morreu de morte matada

A nau de António Faria
Leva no bojo escondida
A cabeça de uma corsário
Que lhes quis tirar a vida

Aljofre pérola rama
Eis os pecados do mundo
Assim vai a nau ao fundo
Sem arte a honra e a fama

Entre cristãos e gentios
Em gritos e altos brados
Para ganhar uns cruzados
Lançam-se mil desafios

Em vindo de veniaga
Com a vela solta ao vento
Um mouro é posto a tormento
Por não dizer quem lhe paga

Vou-me à costa à outra banda
Já vejo o rio amarelo
Foi no tempo do farelo
Agora é o rei quem manda

Faz-te à vela marinheiro
Rumo ao reino de sião
Antes do fim de janeiro
Hás-de ser meu capitão.

''Noite cuspideira''

As Pombas


 (EP Baladas de Coimbra, 1963)

Pombas brancas
Que voam altas
Riscando as sombras
Das nuvens largas
Lá vão
Pombas que não voltam

Trazem dentro
Das asas prendas
Nas bicos rosas
Nuvens desfeitas
No mar
Pombas do meu cantar

Canto apenas
Lembranças várias
Vindas das sendas
Que ninguém sabe
Onde vão
Pombas que não voltam

Alegria Da Criação


(LP Galinhas do Mato, 1985)


Plantei a semente da palavra
Antes da cheia matar o meu gado
Ensinei ao meu filho a lavra e a colheita
num terreno ao lado

A palavra rompeu
Cresceu como a baleia
No silêncio da noite à lua cheia
Vi mudar estações soprar a ventania
Brilhar de novo o sol sobre a baía

Fui um bom engenheiro um bom castor
Amei a minha amada com amor
De nada me arrependo só a vida
Me ensinou a cantar esta cantiga

Feiticeira
Mãe de todos nós
Flor da espiga
Maldita para tiranos
Amorosa te louvamos
tens mais de um milhão de anos
Rapariga

Quando o lume nos aquece
No grande frio de Inverno
Vem até nós uma prece
Que assim de longe parece
Uma cantiga

Magistrada Nossa natural
Vitoriosa
Curandeira dos aflitos
Amante de mil maridos
Há mais de um milhão de idos
tormentosa

Quando a fera encarcerada
Que dentro de nós suplanta
Quebra a gaiola sozinha
Voa voa endiabrada
Uma andorinha

A Cidade


A cidade é um chão de palavras pisadas
A palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
A palavra distância e a palavra medo

A cidade é um saco um pulmão que respira
Pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
Pela palavra sangue pela palavra ira

A cidade tem praças de palavras abertas
Como estátuas mandadas apear
A cidade tem ruas de palavras desertas
Como jardins mandados arrancar

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
Não há rua de sons que a palavra não corra
À procura da sombra de uma luz que não há

A Cidade (LP Contos velhos rumos novos(Letra de Ary dos Santos), 1969)

lençol de água

miscigenação


nome feminino
1.
acto ou efeito de miscigenarmestiçagem
2.
reprodução entre indivíduos pertencentes a grupos étnicos diferentes
3.
cruzamento entre animais pertencentes a raças ou espécies diferentes
Do latim miscēre, «misturar» +genĕre-, «raça» +-ção

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Joueur expulse ou “Douche” nº-1, Gilberto Perin


Roads
Portishead

Oh, can't anybody see
We've got a war to fight
Never found our way
Regardless of what they say
How can it feel, this wrong
From this moment
How can it feel, this wrong
Storm, in the morning light
I feel
No more can I say
Frozen to myself
I got nobody on my side
And surely that ain't right
And surely that ain't right
Oh, can't anybody see
We've got a war to fight
Never found our way
Regardless of what they say
How can it feel, this wrong
From this moment
How can it feel, this wrong
How can it feel, this wrong
This moment
How can it feel, this wrong
Oh, can't anybody see
We've got a war to fight
Never found our way
Regardless of what they say
How can it feel, this wrong
From this moment
How can it feel, this wrong
Compositores: Adrian Francis Utley / Beth Gibbons / Geoffrey Paul Barrow

''carnificina mecânica''

''frieza asséptica''

desimaginar

domingo, 17 de fevereiro de 2019

A estética da morte


(...)
«Ó minhas namoradinhas,
Como vos odeio!
Chapeai com dolorosas bofetadas
As vossas mamas feias!»

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 159

sábado, 16 de fevereiro de 2019

'' a minha saliva seca ''

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 159

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

«Pálido no seu leito verde sob a luz que chove.»

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 147

''rendas desbotadas''

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 139

''roupas amarelas e odorantes''

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 139

« UM SONHO PARA O INVERNO »

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 137

«Feroz, atirou-lhe o barrete vermelho à face!»

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 133

« - Tão fortes nos críamos, que quiséramos ser mansos!»

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 127

«O Povo não é uma puta.»

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 125

Peter Martin, Greenwich Village Nudes, 1951


femicídio

«A tua corte de bastardos, armados em pavões:»

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 125
«Durante a noite incendiavam os nossos casebres;
Lá dentro, como bolos, tostavam os nossos filhos.»


Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 123

«Nossos olhos nem choravam; íamos e mais nada,»

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 123

senhor de baraço e cutelo

indivíduo que exerce a sua vontade sem restrição

''invejas alvares''

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 119

Beautiful







You can depend uncertainty
Count it out and weigh it off again
You can be sure you've reach the end
And still you don't feel

(you know about anything)

Do you know you're beautiful
Do you know you're beautiful
Do you know your beautiful
You are
Yes you are

You can ignore what you've become
Take it our a see it die again
You can be here for who's a friend
And still you don't feel
(you know about anyone)

Do you know you're beautiful
Do you know you're beautiful
Do you know your beautiful
You are
Yes you are

Innermost thoughts will be understood and...
You can have all you need

Do you know you're beautiful
Do you know you're beautiful
Do you know your beautiful
You are
Yes you are

domingo, 10 de fevereiro de 2019

« - Mas que putas são estas que estão aqui a dançar? Quem vem lá?»


As Bruxas do Caminho de Melim. Lendas do Vale do Minho.  Associação de Municípios do Vale do Minho, Caminha, 2002., p. 165

lenta agonia

«Os pássaros voaram sobre o cadáver da princesa moribunda cantando e falando como nunca os homens tinham alguma vez escutado: ''Tu ó bela, que tanto nos acarinhastes..., Tu serás a Rainha do sol! Naquele mesmo instante o dia, antes tenebroso e frio, transformou-se em intenso sol ardente, que a tudo iluminou, envolvendo a princesa em mil sóis. Quando a luz brilhante foi perdendo força, havia desaparecido o corpo da jovem, agora transformado num belo portal a que depois chamaram de «portas do sol».


A Porta do Sol. Lendas do Vale do Minho.  Associação de Municípios do Vale do Minho, Caminha, 2002., p. 161

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

« - E eu sinto já os beijos que me sobem aos lábios...»


Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 121

''fingem fumar rosas''


Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 119

sábado, 2 de fevereiro de 2019

''mão enluvada''


Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 117

«Medonhamente bela com o ânus em chaga.»

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 85

«De hoje em diante, deixo à musa divina o encargo de suavizar a minha dor;»

Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 81

«Não dizia nada; mas o meu coração falava!»


Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 75

«(...) ...Sinto coisas na cabeça. Oh! Coisas!...»


Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 59

«Flutuar à tona de água como um grande lírio.»


Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 51

''Sob a neve das rosas,''


Arthur Rimbaud. Obra Completa. Edição Bilingue. Tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Relógio D'Água, 2018., p. 51

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

facticidade biológica

''o que se pode dizer a respeito das relações não-monogâmicas consensuais
(poliamor, relações swingers, relações abertas, anarquia relacional)?''

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Mad Men


« - Tenho fome, logo existo.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 262

''ciências sem brilho''

«O homem erra nos seus esforços e nas suas ansiedades.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 257
«A perseguição aos fantasmas é um dos espectáculos mais irónicos das lutas modernas.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 256

domingo, 27 de janeiro de 2019


Avantesmas



« - A consciência, sim, interroguei-a com cuidado, mas das suas respostas concluí que é um modesto porto de embarque para um mar sem limites. Não devemos obriga-la a penosos esforços, com a ideia de obter indicações firmes sobre o ser e o não-ser. O seu clarão não é maior que o da lanterna de Diógenes.»


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 255

Schizoide


‘’ A exploração dos seus refúgios impenetrados e dos seus silêncios inquietantes (…)’’

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 254/5

«À semelhança dos perdulários que, impelidos por uma nevrose de satisfações imediatas, uma quási epilepsia de ruína, dilapidam o património que herdaram de pais e avós, também nós temos atravessado momentos de prodigalidade, malbaratando às cegas os tesouros de sucessivas culturas acumuladas em nós, desde remotas idades.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 254

«torvelinho dos apetites»


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 253



A civilização integra-se com quatro
Elementos; 1º normas de conduta;
- 2.º normas de emoção; - 3.º nor-
mas de crença; 4.º tecnologias.

«A Nova Reforma», por Whitehead


«Ambicionava o Infinito, mas às avessas…»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 251

«vir a ser»

domingo, 20 de janeiro de 2019

«Da Literatura como interpretação de Portugal.»

Eduardo Lourenço

''masoquismo da depreciação''

egolatria

«canonizar» o saudosismo

Fernando Pessoa

''política desnacionalizante''

Fernando Pessoa
«nunca é possível determinar responsabilidades; elas são sempre da 6.ª pessoa num caso onde só agiram cinco»; «refilamos só de palavras.»; somos incapazes da revolta e agitação (Quando fizemos uma revolução foi para implementar uma coisa igual ao que já estava.»

Fernando Pessoa

«O país é hoje um enorme carnaval político.»

Vergílio Ferreira

«Portugal é uma valeta.»

Vergílio Ferreira

«Somos socialmente uma colectividade pacífica de revoltados.»

Miguel Torga

''monomania crítica''

«Não há gente com tão obstinada miopia como a lusitana.»

Miguel Torga
«Este nosso velho complexo nacional de inferioridade não para de roer-nos. E temos de ser grandes em tudo exactamente porque nos sentimos pequenos em tudo.»

Miguel Torga

desclientelização

desideologização

«Uma nação que habitualmente pense mal de si mesma acabará por merecer o conceito de si anteformou. Envenena-se mentalmente.»

Fernando Pessoa, Análise mental da vida portuguesa

«torture in my mind»

James Middleton

PORTUGUEX


(les portugais sont toujour gais)

Prec

(Processo revolucionário em curso)

''lamúria lusíada''

«Camões pensou? Não, amou a pátria. Delirou com a pátria.»

Armando Silva Carvalho

(esquizo quê?)

''povo de pechincheiros''

Armando Silva Carvalho

sábado, 19 de janeiro de 2019

''assanhadas lutas políticas-sociais''

«o fraco rei faz fraca a forte gente»

Grito de Ipiranga

''tentações idolátricas''

Eduardo Lourenço

''coerência sociológica''


«A vocação do amor não é o desamor. O amor eterno, por definição, ou é ou não é. Se na prática não é, esse será outro aspecto. Mas se a vivência amorosa tem algum sentido, ela só terá sentido enquanto tiver essa componente eternizante dentro dela.»

Eduardo Lourenço

''búzio cheio de pensamentos''

''paisagem cultural''

''andamos sempre à procura dos ossos para transformar os mortos em coisas vivas.''

Eduardo Lourenço

''A nossa solidão é sempre invisível aos outros.''

Eduardo Lourenço

iletrismo


«Riu-se a dizer que Shakespeare teria adorado ter Trump como personagem. Menos épico, mais trágico e também mais humorístico do que Camões, como acha que Shakespeare olharia para este presente?

Não sei o que ele diria, o que sei é que este tempo, o tempo preciso em que estamos vivendo é um tempo não só shakespeariano, é ultrashakespeariano. A famosa luta de classes que durante mais de um século foi objecto das nossas considerações e preocupações já não é do mesmo tipo da que foi até à queda do muro de Berlim. De repente, há uma desestruturação das diversas potências que pretendem ocupar o lugar da potência única que cada um deseja. Neste momento, coisa que parecia impossível há 40, há 30 anos, aparece no mundo uma perspectiva apocalíptica que aparentemente é da ordem da ficção, qualquer coisa para filmes de Hollywood. Um deslize, um ataque, uma bomba a mais, um foguetão absurdo a cair no sítio errado — tudo pode levar-nos para um começo de qualquer coisa parecida com o apocalipse. Seria pena, porque a Terra não merece este género de sonhos mal sonhados. Shakespeare é um caso. Foi uma segunda reeinvenção num tempo que em princípio já não era o tempo da tragédia. A diferença é que a tragédia nasceu num mundo em que a invenção cristã ainda não tinha acontecido. Shakespeare aparece e surge para descrever tragédias já no interior do mundo condicionado pela visão cristã. Penso que é por isso que a obra dele não só é fantástica do ponto de vista literário, mas como obra de um profeta moderno. Na nossa cultura, na mais popular, aparecem sempre umas figuras com uma aura, espécie de loucura, santa ou profética, antecipando o futuro. São de algum modo Cassandras, mesmo quando são homens. Hoje quaisquer dos grandes autores são profetas, mas são tão banais, porque são tantos, que não têm o papel que as figuras míticas da antiguidade e mais modernas tiveram. Mas penso que cada geração reencontra outra maneira de reescrever o que Homero, Dante, Camões e outros já escreveram. Como Pessoa. Pessoa é um bisneto de Shakespeare. Ele é incompreensível sem as leituras de Shakespeare. Mesmo se não soubéssemos, bastaria consultar o seu volume de Shakespeare. Tudo está sublinhado. A Bíblia dele foi Shakespeare.»

Eduardo Lourenço, entrevista ao Jornal Público
''A literatura é o nosso discurso fantasmático, absoluto. Todas as culturas se definem pela relação com o seu próprio imaginário. A encarnação dele é a literatura.''

Eduardo Lourenço

laicização

''O homem é, por essência, alguém que vive dos sonhos maiores do que ele.''

Eduardo Lourenço

entorses

''Provavelmente, a figura capital da raça humana é Narciso. Narciso é uma espécie de defesa, alguém que não se pode debruçar demasiado sobre a sua imagem sem que isso lhe seja fatal. O narcisismo português, para mim, é um narcisismo inocente; ninguém pensa que vai morrer no espelho. Mas às vezes acontece. ''

Eduardo Lourenço
''Estarmos morbidamente fixados a esta paixão pela imagem devora-nos vivos''

Eduardo Lourenço

''Nós precisamos de um espelho o mais diferente possível de nós para poder medir melhor do que somos e não somos capazes. ''

Eduardo Lourenço



''passos miúdos''

"Compreendi que a casa estava morta quando os mortos principiaram a morrer. O meu filho Carlos, em criança, julgava que o relógio de parede era o coração do mundo e tive vontade de sorrir por saber há muito que o coração do mundo não estava ali connosco, mas além do pátio e do bosque de sequóias, no cemitério onde no tempo do meu pai enterravam lado a lado os pretos e os brancos do mesmo modo que antes do meu pai, na época do primeiro dono do girassol e do algodão, sepultaram os brancos que passeavam a cavalo e davam ordens e os pretos que trabalharam as lavras neste século e no anterior e no anterior ainda, um rectângulo vedado por muros de cal, o portão aberto à nossa espera com um crucifixo em cima, lousas e lousas sem nenhuma ordem nem datas nem relevos nem nomes no meio do capim, salgueiros que não cresciam, ciprestes secos, um plinto para as despedidas em que os gatos do mato dormiam, enfurecendo-se para nós a proibir-nos a entrada. O autêntico coração das casas eram as ervas sobre as campas ao fim da tarde ou no princípio da noite, dizendo palavras que eu entendia mal por medo de entender, não o vento, não as folhas, vozes que contavam uma história sem sentido de gente e bichos e assassínios e guerra como se segredassem se parar a nossa culpa, nos acusarem, refutando mentiras, que a minha família e a família antes da minha tinham chegado como salteadores e destruído África, o meu pai aconselhava.
- Não ouças".

António Lobo Antunes
, "O Esplendor de Portugal", 1997.

"A guerra que os escritores têm uns com os outros é uma coisa infinita. E era assim no tempo dos gregos. A coisa que mais delicia os escritores é não pensarem bem do vizinho"

Eduardo Lourenço 

Conversa entre Eduardo Lourenço e António Lobo Antunes, Casa das Histórias Paula Rego

"Muita chatice e pouca foda."

Maria Velho da Costa, sobre a definição de intelectual
"Ele não gosta muito de críticos, sobretudo dos intelectuais. Estamos os dois paradoxalmente de acordo, mas isto é masoquismo"
Eduardo Lourenço sobre António Lobo Antunes
Conversa entre Eduardo Lourenço e António Lobo Antunes, Casa das Histórias Paula Rego

"Nós estamos aqui para falar de um vivo que és tu e de um menos vivo que sou eu."

Eduardo Lourenço sobre António Lobo Antunes
Conversa entre Eduardo Lourenço e António Lobo Antunes, Casa das Histórias Paula Rego

"Até no delírio é necessário ordem"

Antero de Quental

"Embora nunca deixasse de ser um olhar apaixonado, nunca deixou de ser um olhar objectivo" ou, outra forma de dizer a mesma coisa, "um olhar cheio de amor mas impiedoso". E António volta ao território dos afectos. "A sua cabeça seduz-me muito. Não é feio, até parece um bocadinho o Salazar."

António Lobo Antunes sobre Eduardo Lourenço
Conversa entre Eduardo Lourenço e António Lobo Antunes, Casa das Histórias Paula Rego
"Tenho enorme respeito, muito amor" pelo Eduardo, "é a pessoa que melhor sabe ler o nosso país". "Ama de olhos abertos. Tenho pena de que ele não seja mulher."


Conversa entre Eduardo Lourenço e António Lobo Antunes, Casa das Histórias Paula Rego

"Requiem Por Um Império Que Nunca Nos Existiu"

snobismo

putativamente


domingo, 13 de janeiro de 2019

«reino nocturno»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 255

prodigalidade

«À semelhança dos perdulários que, impelidos por uma nevrose de satisfações imediatas, uma quási epilepsia de ruína, dilapidam o património que herdaram de pais e avós, também nós temos atravessado momentos de prodigalidade, malbaratando às cegas os tesouros de sucessivas culturas acumulados em nós, desde remotas idades.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 254
«A civilização integra-se com quatro
elementos: 1.º normas de conducta;
- 2.º normas de emoção; - 3.º nor-
mas de crença; - 4.º tecnologias.»

«A Nova Reforma», por Whitehead
«A fome de felicidade, tão antiga como o mundo, transcende o próprio homem: faz-se tanto maior quanto mais crescemos em realizações.»


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 250

Bella Ciao




Mi son son alzato


O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
Una mattina mi son alzato
E ho trovato l'invasor
O partigiano, portami via
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
O partigiano, portami via
Ché mi sento di morir
O partigiano
Morir
Ciao, ciao
Morir
Bella ciao, ciao, ciao
O partigiano
O partigiano
Bella ciao, ciao, ciao
E se io muoio da partigiano
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
E se io muoio da partigiano
Tu mi devi seppellir
E seppellire lassù in montagna
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
E seppellire lassù in montagna
Sotto l'ombra di un bel fior
O partigiano
Morir
Ciao, ciao
Morir
Bella ciao, ciao, ciao
O partigiano
O partigiano

de.so.pres.são

nome feminino
acto ou efeito de desoprimir ou desoprimir-se; alívio; desafogo

«vir a ser»

«Após um bem conquistado, outro desperta os nossos desejos.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 249
«A bondade humana não provém, em linha recta, do nosso berço, como queria Rosseau, pois que, ao contrário do que acontece com os animais, nós, sub especie societatis, carecemos de formar a consciência, a alma e a razão.»


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 249

- « Negar o direito ao homem o direito à felicidade é condená-lo a não realizar o seu destino, entendendo-se que essa palavra é, fora da ordem social, mera expressão verbal, um conceito sem sentido.» 

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 245
«Mas o homem é paixão, egoísmo, crueldade e vontade de domínio - garras que se vincam na sua alma secular, turvando-lhe as límpidas crenças e obrigando-a a servir a matéria, como um príncipe carregado de cadeias. Debalde os santos bradaram aos poderosos: »

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 244

eleitoralismo

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Flowers - Photography by Lina Scheynius


O Direito à Felicidade

   « A educação desportiva das novas gerações, a paixão da velocidade, as invenções e aplicações da ciência, a dissolução do quietismo (...)»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 242

''rompimento súbito das emperradas rotinas''

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 242

''bois entorpecidos''

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 242

''inextinguível febre de viver''

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 241
«Os pessimistas tapam os olhos e murmuram:
- «Velha e desbotada teia de Penelope!»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 241

- « A nossa natureza compraz-se no movimento; o repouso total conduz à morte.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 239
«Que, sem a vontade, nós passamos à quietude das águas estagnadas.»


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 239
« - A nossa vontade nunca estará satisfeita, mesmo quando alcança tudo o que pretende, visto a plenitude brotar da renúncia à própria satisfação. Sem ela, não podemos julgar-nos insatisfeitos; com ela, chegamos ao contentamento.»


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 238
«Convençamo-nos disto: o homem arde na ânsia da verdade, embora tenha a sorte dos vagabundos que correm todas as estradas, à procura do lar que nunca encontraram. Eis a essência do seu drama - lutar contra o finito que se dissolve em flocos de incerteza e contra o infinito que lhe escapa em rajadas de treva. À primeira vista, o rigoroso papel que a sua consciência lhe devia de impôr seria o naufrago.»


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 236
«Porque estou eu encarcerado num corpo que mal conheço, com um espírito que me desatende?»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 236

L'homme, cet inconnu

'' a cadeia dos pulsos''

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 238

« O Mundo como Vontade e Representação.»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 235
« Com as longas invernias  que nos roubam o sol e soltam os ventos e apagam as luzes da cidade»

Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 234
« - Morreu como viveu - sem temor e sem piedade.»


Joaquim Manso. Pedras para a Construção dum Mundo. Livraria Bertrand, Lisboa., p. 232
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