«Falávamos, eram trocas de palavras calmas (...)»
Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 31
domingo, 24 de maio de 2015
SITUAÇÃO PURA
"A pureza de uma revolução pode manter-se quinze dias.
É por isso que, revolucionário na alma, um poeta se limita aos volte-face do espírito.
Todos os quinze dias mudo de espectáculo. Para mim o ópio é uma revolta. A intoxicação uma revolta. A desintoxicação uma revolta. Não falo das minhas obras. Cada uma das quais guilhotina a outra. O meu único método: procuro poupar-me Napoleão."
É por isso que, revolucionário na alma, um poeta se limita aos volte-face do espírito.
Todos os quinze dias mudo de espectáculo. Para mim o ópio é uma revolta. A intoxicação uma revolta. A desintoxicação uma revolta. Não falo das minhas obras. Cada uma das quais guilhotina a outra. O meu único método: procuro poupar-me Napoleão."
-"Ópio"
- Jean Cocteau
- Jean Cocteau
RECONHECIMENTO
"um homem geme porque
o corpo da mulher que recusa
se enrosca e
a recusa é doce e um homem geme
enquanto a mulher se ausenta
estica o corpo até às nuvens
enfia os dedos no ânus das nuvens e
está frio na ponta dos seus dedos então
a mulher cose as nuvens umas às outras
monta um carrossel para se esquecer
e disse tomai os meus vestidos enfiai-os que não os quero mais
e empinou o corpo
finalmente a mulher remata o homem enrosca-se então"
-"Reconhecimento"
- Bénédicte Houart
"um homem geme porque
o corpo da mulher que recusa
se enrosca e
a recusa é doce e um homem geme
enquanto a mulher se ausenta
estica o corpo até às nuvens
enfia os dedos no ânus das nuvens e
está frio na ponta dos seus dedos então
a mulher cose as nuvens umas às outras
monta um carrossel para se esquecer
e disse tomai os meus vestidos enfiai-os que não os quero mais
e empinou o corpo
finalmente a mulher remata o homem enrosca-se então"
-"Reconhecimento"
- Bénédicte Houart
quinta-feira, 21 de maio de 2015
«Aqui a seara é só capim
Os rebanhos existem: são de cabras,
de carneiros sem lã; os porcos,
são independentes.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 281
Etiquetas:
excerto,
poesia,
poetas portugueses,
RUY CINATTI
Cardada
nome feminino
1. porção de lã que se carda de uma vez
2. pancada com a carda
3. figurado questão complicada, assunto de difícil solução
«fazer de mim ou trapo ou fantasia.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 273
Etiquetas:
poetas portugueses,
RUY CINATTI,
verso solto
Cidade-odor-suor!
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 271
«(...), onde a serpente é o altar da terra.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 266
Etiquetas:
poetas portugueses,
RUY CINATTI,
verso solto
«Eu quero ser,
só o que sou.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 265
Etiquetas:
excerto,
poetas portugueses,
RUY CINATTI,
versos soltos
SURREALISMO POLÍTICO
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 253
«Alguns não sabem esconder a cabeça»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 248
Etiquetas:
poetas portugueses,
RUY CINATTI,
verso solto
quarta-feira, 20 de maio de 2015
«São de todos os tempos as mentiras
As verdades, menos.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 245
Etiquetas:
excerto,
poesia,
poetas portugueses,
RUY CINATTI
TALQUAL
Quando Churchill estava no poder
atirou o dedo aos ingleses
em véspera de eleições.
-Querem a Gestapo
ou a paz dos Tóries?
Em latitude mais amena, quente
(alternativas, mas com sinal próprio),
Marcello perguntou aos portugueses:
- Guerra civil
ou esta gente?
28/10/69
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 244
«Quem com amor nega os braços ergue.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 244
Etiquetas:
poetas portugueses,
RUY CINATTI,
verso solto
« Atreveu-se o corvo a responder-me à letra.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 234
Etiquetas:
poesia,
poetas portugueses,
RUY CINATTI,
verso solto
«(....) Eu não me amo
em mim próprio.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 227
Etiquetas:
poetas portugueses,
RUY CINATTI,
versos soltos
III
Saciado,
procuro os teus lábios
semi-abertos. Flor
quase a abrir-se...
Meto os teus dedos
nos meus. Suspiro fundo.
E renuncio ao mundo
esquecido de mim em ti.
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 220
VISIONS & OMENS
"I did not exactly plan a large persona thouht it was within literary bounds set by Walt Whitman and other sympathetic precursors: My original ideal was actually spare and brilliant: to publish nothing but purest gemwork like Rimbaud, with no dross left over prosaic vulnerable quotidian un-eternal tendentious to bore the eager youthful reader seeking visionary diamond. Rimbaud- Whitman, mad sanity, was my ideal."
-"Deliberate Prose : Selected Essays 1952-1995"
- Allen Ginsberg
- Allen Ginsberg
O PROBLEMA DA HABITAÇÃO
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 215
terça-feira, 19 de maio de 2015
(...)
«A grande solidão é feita de cinzas
de cigarros fumados,
De mortos vivos.
De vivos mortos.
Onde encontrarei quem me refaça
a casa.
Lhe dê a marca
intacta
da minha solidão?
Somente paredes nuas.
Amigos mortos e vivos
na solidão.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 215
Etiquetas:
poetas portugueses,
RUY CINATTI,
versos soltos
''Cela de morte 2455''
Lars Norén. A noite é Mãe do Dia. Teatro. Tradução de Luiza Neto Jorge e Solveig Nordlund. Cotovia, Lisboa., p. 66
MARTIN (pega nos cigarros e volta para a gaiola. David encosta a cara ao vidro, como se reflectisse na expressão de Martin. Depois sai da cozinha. Martin deixa-se ficar, sempre com aquela expressão de ser ferido e desesperado)
Lars Norén. A noite é Mãe do Dia. Teatro. Tradução de Luiza Neto Jorge e Solveig Nordlund. Cotovia, Lisboa., p. 60
«DAVID Lá iremos fazer-te uma visitinha ao manicómio como é costume.
MARTIN (suspira) Que mal fiz eu a Deus?...
DAVID Já te vou dizer...Queres mesmo saber? Sabes como as criadas que servem à mesa te chamam? O vale das lamentações, O cais das brumas, E tudo o vento levou, Até à eternidade, Sede.
MARTIN Ah, sim?
DAVID Não é verdade, mãe?
MARTIN Não queres ir comprar-me um maço de cigarros?
DAVID O que é que me dás?
MARTIN Dou-te uma valente bofetada se não mudas de tom para falar comigo.»
Lars Norén. A noite é Mãe do Dia. Teatro. Tradução de Luiza Neto Jorge e Solveig Nordlund. Cotovia, Lisboa., p. 47
JORGE É sobre dois homens, dois homossexuais judeus, nos Estados Unidos, que mataram um miúdo, e o esconderam num cano de esgoto, depois de tentarem lavar-lhe o sexo com ácido sulfúrico.
Lars Norén. A noite é Mãe do Dia. Teatro. Tradução de Luiza Neto Jorge e Solveig Nordlund. Cotovia, Lisboa., p. 33
(...)
«Não fujo de mim, só fujo
do diabo que em mim nasce
como se fosse ilusão.
E trago comigo a carne
repartida pelos ócios:
outros caminhos do mundo.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 200
Etiquetas:
excerto,
poesia,
poetas portugueses,
RUY CINATTI
«A perna dela tremeu
quando lhe toquei num seio.»
Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 192
Etiquetas:
poesia,
poetas portugueses,
RUY CINATTI,
versos soltos
Subscrever:
Mensagens (Atom)