sexta-feira, 8 de março de 2024

 Carnac

fragmentos


1

Mar à beira do nada,
Que se mistura ao nada,

Para melhor saber o céu,
As praias, os rochedos,

Para melhor os receber.


2

Algum dia brincaremos,
Por uma hora que seja,
Nada mais que alguns minutos,
Oceano solene,

Sem que tenhas tu esse ar
De outra coisa te ocupar?


3

Sabes de mais que todos te preferem,
Que mesmo aqueles que te deixaram

Nos trigos te reencontram,
Na erva te procuram,
Na pedra te escutam,
Sem que jamais consigam agarrar-te.


4

Tem qualquer coisa a ver
Com a noção de Deus,

Água que já não és água,
Poder desprovido de mãos e de instrumentos,

Peso sem emprego
Para quem o tempo não existe.


5

Sejamos justos: sem ti
De que me servia o espaço
E as rochas de que serviam?


6

Não temos margens, na verdade,
Nem tu nem eu.


7

Ouve bem o que faz
A pólvora explodindo.

Ouve bem o que faz
O frágil violino.


8

Sei bem que há outros mares,
Mar do pescador,
Mar dos navegadores,
Mar dos marinheiros e guerreiros,
Mar dos que querem morrer no mar.

Não sou um dicionário,
Falo só de nós dois

E quando digo o mar
É sempre o de Carnac.


9

As mesmas terras sempre
A teres de acariciar.

Jamais um corpo novo
Que possas ensaiar.


10

As profundezas, que procuramos,
Serão as tuas?

As nossas têm poder de chama.


11

Demasiado largo
Para ser cavalgado.

Demasiado largo
Para ser estreitado.

E flácido.


12

Se acaso acreditas no valor dos sons
Deves sentir-te arrepiar
Só de ouvir este nome de mar.


13

Tu vais e vens
Mas dentro de limites

Fixados por uma lei
Que não chega a ser tua.

Nós temos em comum
A experiência do muro.



guillevic
carnac (1961)
vozes da poesia europeia III
traduções de david mourão ferreira
colóquio letras 165
fundação calouste gulbenkian
2003

Fonte: ver aqui


fecharia os olhos sob os anéis dos astros e entre os violinos
 e os fortes poços da noite, descobriria a ardente ideia da
 minha vida.

Herberto Helder


 

Histórias de famílias

 Tive um namorado que me contava histórias da sua família,
uma vez uma discussão acabou com o pai dele
a agarrar num bolo de aniversário todo enfeitado com as duas mãos
e a atirá-lo pela janela do segundo andar. Isso,
pensei, é o que acontece numa família normal: raiva
arremessada pelo parapeito da janela, aterrando como um presente
que vai decorar o passeio lá em baixo. Na minha,
eram punhos e golpes directos contra a boca do estômago,
e nunca ninguém perdoou a ninguém. Mas, nas histórias dele, eu
acreditava que as pessoas se amavam verdadeiramente umas às outras,
mesmo quando berravam e forçavam as portas dos armários
com os pés, ou levantavam uma cadeira como se fosse uma garrafa
de espumante barato, martirizando uma parede,
os degraus explodindo nos seus espaços vazios.
Disse-lhe que isso me parecia inofensivo, a pompa e a fúria
dos apaixonados. Ele respondeu que fôra uma maldição
ter nascido italiano e católico e quando olhou
pela janela o que viu foi esse momento
barbaramente destruído. Em contrapartida, tudo o que eu pude ver
foi um maravilhoso bolo de três andares a deslizar como um navio
maltratado até ao passeio, as velas partida, afundando-se
cada vez mais no gelo, algumas ainda a arder.
 
 
 
Dorianne Laux
trocando dólares por cêntimos
alguma poesia norte-americana
trad. luís filipe parrado
contracapa
2020

Fonte: aqui

“For the sake of strangers”

Não importa a dor, seu peso,
somos obrigados a carregá-la.
Erguemo-nos e ganhamos impulso, a força monótona
que nos empurra através da multidão.
Mas então um garoto me dá instruções
com tanto entusiasmo. Uma mulher segura a porta de vidro aberta,
pacientemente esperando meu corpo vazio passar por ela.
Ao longo do dia, isso continua, cada ato de bondade
se estendendo em direção a outro — um estranho
cantando para ninguém enquanto passo pelo caminho, árvores
ofertando suas flores, uma criança
que ergue seus olhos amendoados e sorri.
De alguma forma, eles sempre me encontram, até parecem
estar à espera, determinados a me afastar
de mim mesma, daquilo que me chama,
como deve ter um dia chamado por eles —
esta tentação de afastar-me da borda
e cair sem peso, longe do mundo.


Dorianne Laux

POEIRA

Alguém falou comigo ontem à noite,
disse-me a verdade. As palavras foram escassas,
mas reconheci-a.
Percebi que deveria arranjar maneira de me levantar,
anotá-la, mas era tarde,
e eu estava estafada do dia inteiro
a trabalhar no quintal, mudando pedras de lugar.
Agora, recordo apenas o sabor:
não doce nem picante, ao jeito da comida.
Algo mais próximo de um pó fino, de poeira.
E não fiquei exultante nem assustada,
mas meramente enlevada, ciente.
Por vezes sucede assim:
aparece-nos Deus à janela,
todo ele um clarão e asas negras,
e sentimo-nos demasiado cansados para a abrir.


Dorianne Laux  [EUA]

Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 99


                                                        Jean Dieuzaide,  French photographer

O AMOR APÓS O AMOR

(...)

«dizendo, senta-te aqui. Come.
Amarás novamente o desconhecido que foi o teu eu.
Serve o vinho. Serve o pão. Devolve o teu coração
a si próprio, ao desconhecido que te amou»


Derek Walcott [Santa Lúcia]

Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 94

''romãzeira em flor ''

(...)
« Delicada como um brinco,
                              transporta o seu vazio como um filho
Do qual se livrasse.»


Charles Wright [EUA]

Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 80

JUNTOS

Gostava de ter a capacidade
                                         de ver através da minha morte.
Um clarão de luz, uma força de chama
que destacasse as pontas de diamante
                                              das folhas caídas e do rio de estrelas.

Este é o ano em que vou arrancar o gelo dos seus passeios.
Este é o ano em que lhe descalcei os sapatos.
Este é o ano em que comecei a fazer-lhe companhia,
                                                                   e a pentear-lhe o cabelo.

 Charles Wright [EUA]

Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 77

RETARDATÁRIO


«O mundo já lá estava
Sereno na sua alteridade.
Só tiveste de chegar
No comboio da tardinha
Aonde não eras esperado.»


Charles Bukowski [EUA]

Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 72


                                                                  Chinese photographer Jing Huang

«Uma trouxa de ossos, por sustento
Uma garrafa de cerveja cheia de sangue.»


 Charles Bukowski [EUA]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 71

OS RELÓGIOS DOS MORTOS

(...)
«A cidade está tão sossegada, disse eu.
Como os relógios dos mortos, replicou a minha mulher.
Avó que estás na parede,
Ouvi as neves da tua infância
A começarem a cair.»


Charles Bukowski [EUA]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 70

(...)

« mas a idade é o resultado
daquilo que fazemos.
eles envelheceram 
mal
porque perderam 
o foco 
da vida,
recusaram-se a ver.

não têm a culpa?

quem é que tem a culpa?
eu?

pedem-me que
os poupe
ao meu ponto de vista
por medo do 
medo deles.

a idade não é crime

mas a vergonha
de uma vida
desperdiçada
deliberadamente

no meio de tantas
vidas
desperdiçadas
deliberadamente

é.»


Charles Bukowski [EUA]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 66/7

ATIRA-TE

 
se é para tentar, vai até ao
fim.
caso contrário, nem vale a pena começar.

se é para tentar, vai até ao
fim.
o que talvez implique perder namoradas,
mulheres, parentes, empregos e
quiçá o juízo.

vai até ao fim.
talvez implique ficar 3 ou 4 dias sem comer.
talvez implique enregelar num
banco de jardim.
talvez implique a prisão,
talvez implique a irrisâo,
a troça,
o isolomaento.
o isolamento é a prenda,
tudo o mais é um teste à tua
resistência, à 
vontade que tens de chegar
lá.
e hás-de chegar lá
apesar da rejeição e das ínfimas probabilidades
(...)

Charles Bukowski [EUA]

Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 64

Faz-de-Conta


Albino sword swallower at a carnival, 1970
Diane Arbus

 Nome

Gosto da fome
com que me come
E do desespero
com que me devora
E como no meu corpo
goza
do meu corpo
goza
com meu corpo
goza

Gosto da sua boca sôfrega
Perdida na minha
língua trôpega
Numa dança descompassada

Não diga que estou errada
que em sua direção
meu passo é curto
Se dou dois para trás
é porque já todos
meus sentidos consome

Vê:
meu surto
tem seu nome


Ao Sabor da Maré

sobe a maré
quase ilhada,
já sei:
nenhuma fuga seca
é possível
nenhum esboço de caminho
a cada passo
mais pesados
meus pés marcados
pelo afogamento temo,
mas sigo
Mato-me ou vivo?


Mar e Som

Do teu nome emergem
Mar e Som

Marulham nas águas
do meu corpo as ondas
da tua rebentação
Meus olhos mareados
encontram sempre a ressaca
dos teus transbordantes
                – quando estamos em Alto-Mar
                e tudo é infinito horizonte
                de maresia e nossos ais

Teu nome
de Mar e Som
imerso imenso
em meu oceano de silêncio
e turbulências abissais


Renata de Castro

 Mães do Fogo

Súbita e absoluta tarântula
Filha de Nix, vieste fiar a febre em minhas terras.
Tuas agulhas vociferam convulsão em minhas células
Tenho a guerra alinhavada nas artérias
Em meu sangue os céus são dantescos
As estrelas suspiram ciladas
E meu peito troveja coroado pelo nevoeiro.

Enquanto envolves meus alvéolos com teu veludo devorador
E penteias meus pulmões com tuas asfixiantes sedas
Tambores fumegam nas mãos das matriarcas
Com seus clamores luminosos
As mães do fogo esmurram a escuridão
A seiva invade a névoa, o tear estremece.

Flutuo entre safiras cilíndricas
Deliro entre seringas e unguentos
Ouço o rumor dos ventres, o crepitar das preces
Respiro com bravura para atravessar o precipício.
As tapeçarias estão ruindo, os turíbulos labutam
Faíscas fulminam o labirinto
A mortalha é lacerada.
Nefasta fiandeira
Ateamos flamas em tuas teias
Sou néctar, renasço nefelibata.


Hausto

Melros esfumaçam sinfonias
Átomos uivam envilecidos
Reviro-me, volatizo véus
Lambendo ervas para serenar o fel.

As ninfas sopram sete fôlegos
Nervuras esvoaçam trevas
Sou bailarina tatuada no ar
Em apoteose, levito.


Anna Apolinário

 

que ou pessoa que nasceu na cidade

 ''Brincar é vaguear no desconhecido''

Carlos Neto



                                                        Fotografias da detenção de Maria José da Silva Ribeiro

“As mulheres eram sempre tidas como mentecaptas. Ninguém acreditava que fôssemos capazes de ir para rua. E fomos.”

Maria José Ribeiro

 “‘Deviam estar em casa a limpar o ranho aos filhos, a coser as meias aos maridos, mas não, andam para aqui, estas loucas.’'


https://www.publico.pt/multimedia/interactivo/como-as-mulheres-romperam-o-cerco/maria-jose-ribeiro 

quinta-feira, 7 de março de 2024

Bad Girls Go to Hell





 Bad Girls Go to Hell is a 1965 American sexploitation film written, produced and directed by Doris Wishman

 '' o amor é o rasteja 
pelo chão''


Charles Bukowski [EUA]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 63
 ''o amor é o teu pai num caixão
(que te odiava)''


Charles Bukowski [EUA]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 61
 ''Nada no ar senão canções
E não haver quem cante, não haver boca que saiba as canções?
Dizes-nos que uma mulher de coração desfeito de diz que é 
                                                                                          assim?

Será só isto?''  

Carl Sandburg [EUA]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 59
 ''Alegria em toda a parte -
Que a alegria te mate!
Põe-te a salvo das pequenas mortes.»


Carl Sandburg [EUA]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 55

''Dêem-me a fome, a dor e a penúria''

 Carl Sandburg [EUA]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 53


 

 ''A trabalhar, abatidas e asfixiadas, em troca de pão e salários,
A comer pó pela garganta e a morrer de coração vazio
Por uns trocos de ordenado nalgumas, poucas, noites de sábado.''


Carl Sandburg [EUA]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 52

''editoriais bolorentos''

 Bob Kaufman

«Que tempos são estes em que
Uma conversa sobre árvores é quase um crime»

Bertolt Brecht [Alemanha]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 47
 « - apenas um caçador errante
escorraçado da sua tribo
um homem com demónios no coração
que inesperadamente não se sente em casa
nas grandes divisões celestes da terra.»


LU YU 


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 28
 ''um velho tonto com o cérebro em chamas
a tropeçar por entre a neve''


Al Purdy [Canadá]

Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 24

Tonight

                                                                         Chinese photographer Jing Huang



 

 «MARTHA  Amores-perfeitos! Alecrim! Violência! O meu bouquet de noiva!»


Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 181

 « MARTHA  ...o George, que está algures lá fora no escuro...o George que é bom para mim e que eu trato mal; que me compreende e que eu rejeito; que consegue fazer-me rir, um riso que abafo na garganta; o George que me abraça de noite para me aquecer, e a quem eu mordo até fazer sangue; que continua a aprender os jogos que jogamos à mesma velocidade com que eu lhes mudo as regras; que sabe fazer-me feliz e eu não quero ser feliz, e sim, eu quero ser feliz. George e Martha: triste, triste, triste.

NICK (num eco, mas ainda não acreditando) Triste.

MARTHA   ... a quem não perdoo ter desistido; a quem não perdoo ter-me visto e ter dito: sim, pode ser isto; que cometeu o hediondo, doloroso, o insultuoso erro de me amar, e que tem de ser castigado por isso. George e Martha: triste, triste, triste. 

NICK    (confundido) Triste.

MARTHA   ...que tolera, o que é intolerável; que é bondoso, o que é cruel; que compreende, o que está para além da compreensão...»

Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 176/177

quarta-feira, 6 de março de 2024

 « GEORGE    Julguei que pelo menos estavas ...lúcida. Não sabia. Eu...não sabia.

MARTHA     (a raiva aumentando) Eu estou lúcida.

GEORGE     (como se ela fosse um insecto) Não...não...estás...doente.»


Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 143

Everything Happens to Me


 

 « MARTHA  Tenho o braço cansado de te chicotear.»


Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 143

 « MARTHA   TU AGUENTAS!

  GEORGE      EU NÃO AGUENTO!

  MARTHA      TU AGUENTAS! FOI POR ISSO QUE TE CASASTE COMIGO!»


Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 142

 ''Vá apanhar os cados...olhe à volta e faça o melhor que puder...ponha-se de pé.»

Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 140

 «O caminho para o coração de um homem passa por entre as coxas da sua mulher, não se esqueça disto.»

Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 108

 « NICK  Estou avisado. (Ri-se) São os tipo insidiosos como você que mais me preocupam, sabe. Filhos da puta incapazes...são os piores.»

Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 107

Trás-Os-Montes


 

 « GEORGE  E a Martha pinta círculos azuis à volta das coisas dela.»

Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 73

 ''Vou ser uma máquina de foder personalizada!''

Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 69

''civilização de homens mansos''

Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 67

« GEORGE   Oh, Martha...o teu vestido de ir à missa ao domingo!»


Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 49


 

«(...) você deve ser a senhora Fulana-de-Tal, mulher do Doutor Fulano-de-Tal.»

Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 31

 « À cegueira do espírito, à serenidade do coração e à ruína do fígado. Goela abaixo, todos.»

MARTHA (para todos) Saúde, queridos. (Todos bebem) Tu tens uma veia poética, George...um estilo à Dylan Thomas que me deixa toda molhadinha.

GEORGE   Rapariga ordinária! Com convidados aqui!»


Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 28/9

 « MARTHA  Claro. « Sem misturas, não há tonturas.»

GEORGE      Os gostos da Martha, em matéria de bebidas, decaíram muito...Simplificaram-se com o                                passar dos anos...cristalizaram. Quando eu andava a cortejar a Martha, bem, não sei se esta                          é exactamente a palavra certa - mas, enfim, quando andava a cortejar a Martha...

MARTHA      (alegremente) Foder, queridinho!

GEORGE       (regressando com as bebidas de Honey e de Nick) De qualquer forma, quando eu andava a                          cortejar a Martha, ela pedia sempre as coisas mais inacreditáveis ! Nem imaginam! íamos                            a um bar...um bar, normal, punha-se a magicar e saía-se com ...brandy Alexander, frappés                            de creme de cacau, gimlets, cocktails flambeados...bebidas com sete camadas de álcool.»  


Edward Albee. Quem tem medo de Virginia Woolf? Tradução de Ana Luísa Guimarães e Miguel Granja. Bicho do Mato, Lisboa, 2011., p. 28


"Hoje em dia conhecemos o preço de tudo e o valor de nada."

Oscar Wilde

terça-feira, 5 de março de 2024

segunda-feira, 4 de março de 2024


                                                  Chinese photographer Jing Huang

“Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim,
como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas,
nem tocar a margem”.

Hilda Hilst, escritora, poeta e dramaturga.

domingo, 3 de março de 2024

resmoneio

''poemas florais''


                                                          Chinese photographer Jing Huang

 (...)
'' - há que não ser amargo,
           há que não rejeitar,
há que não retirar-se
quando rejeitado:

o peso é demasiado

- há que dar
sem esperar recompensa
         tal como o pensamento.''

Alessandro Parronchi [Itália]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 16
 Penso no teu coração, como água
perdida num deserto
que em vão espera quem aí mate a sede.
Penso nele como uma árvore florida
em plena noite, que ninguém vê,
senão de vidros em fuga um viajante
que o tédio ou negócios levam para longe.

Como ave atemorizada
pelos lacunários de outrora
dos quais não encontra a saída e apenas cria
com o seu estridor uma solidão mais vasta.


Alessandro Parronchi [Itália]


Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 13

“When I’m with my camera, I follow my intuition. It’s better for me to capture something emotionally.”



Jing Huang was born in 1987 in Guangzhou, a city in south China with eleven million inhabitants. He studied photography at the Guangzhou Academy of Fine Arts until 2010, and currently lives and works as a photographer in Shenzhen.

IMENSIDÃO DA NOITE

 A meio da noite surge por vezes
uma pergunta, e a noite agiganta-se,
e é a imensa a noite até à angústia.
Como um barco sem luzes, silencioso,
assim sulca o nosso quarto tanto sombra
que o mundo parece sem limites.
Rodeia-nos o vazio, e a água é escura
mais densa ainda do que o sangue. Nada se ouve,
apenas um chapinhar de fundo lodo
lá no mais profundo dessa água:
é o nosso coração. Mas a noite
não cessa de crescer e é já um olho
de insuportável nudez a fitar
o nosso terror. E essa é a pergunta,
e a noite sabe-o e olha então 
(só às vezes) o desamparado ser 
que somos, com ternura, e o sono regressa.
E a infinita gruta que é o universo
novamente resplandece.

Abelardo Linares [Espanha]

Vasco Gato. Lacre. Traduções e Versões de Poesia. 5ª Edição. Língua Morta., p. 9


 

 Tanatose ou letissimulação 

 capacidade do animal de se fingir de morto.

Nossa Senhora das Angústias

domingo, 25 de fevereiro de 2024

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Grandmaster Flash & The Furious Five - The message ''Album Edit'' (1982)

''Deves aprender a amar-me.''

Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 119

 ''Não tens fé na tua própria linguagem.
Por isso investes
de autoridade os sinais
que não sabes ler com rigor.''


Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 117

Babe Ruth - The Mexican

Bad Girls Go to Hell


Bad Girls Go to Hell is a 1965 American sexploitation film written, produced and directed by Doris Wishman

 (...)

« Mas vós só sabíeis chorar.
Queríeis que tudo vos fosse contado,
que nada fosse pensado por vós.

Foi então que percebi que o vosso pensamento
nada tinha de audaz nem possuía paixão:
faltava-vos as vossas próprias vidas,
as vossas próprias tragédias.
Por isso dei-vos vidas, dei-vos tragédias,
já que não vos chegavam as ferramentas.»


Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 105

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Viburno

noveleiro

 ''um só gesto meu instalou-vos
no tempo e no paraíso''

Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 97

 '' Cada coisa/ que nasce é um fardo para mim: não consigo ter êxito/ com todos vós.''

Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 95

VÉSPERAS

 Tal como apareceste a Moisés, apareces-me
a mim, porque preciso de ti, ainda
que nem sempre. Vivo essencialmente
nas trevas. Quem sabe se não me estarás a treinas
para atender ao mais leve esplendor? Ou inflama-te
o desespero, como aos poetas? É a dor
que te leva a revelar a tua natureza? Esta tarde,
no mundo físico, esse a que costumas oferecer 
somente o teu silêncio, trepei
a pequena colina por sobre os mirtilos selvagens, descendo
metafisicamente, como faço nas minhas caminhadas: a fundura
a que fui chegou para mim te apiedares, tal como tens por vezes
piedade por outros que sofrem, e assim os favoreces
com dons teológicos? Tal como antecipavas,
não levantei os olhos. Por isso desceste tu até mim:
até aos meus pés, não na forma das folhas
encerradas do mirtilo selvagem, mas o teu ser ardente, vasto
posto de fogo, e mais além, o sol vermelho sem tombar nem se
erguer -
Eu não era criança; podia aproveitar as ilusões.


Louise Glück. A Íris Selvagem. Tradução Ana Luísa Amaral. Relógio D'Água. 1992., p. 91
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