Mães do Fogo
Súbita e absoluta tarântula
Filha de Nix, vieste fiar a febre em minhas terras.
Tuas agulhas vociferam convulsão em minhas células
Tenho a guerra alinhavada nas artérias
Em meu sangue os céus são dantescos
As estrelas suspiram ciladas
E meu peito troveja coroado pelo nevoeiro.
Enquanto envolves meus alvéolos com teu veludo devorador
E penteias meus pulmões com tuas asfixiantes sedas
Tambores fumegam nas mãos das matriarcas
Com seus clamores luminosos
As mães do fogo esmurram a escuridão
A seiva invade a névoa, o tear estremece.
Flutuo entre safiras cilíndricas
Deliro entre seringas e unguentos
Ouço o rumor dos ventres, o crepitar das preces
Respiro com bravura para atravessar o precipício.
As tapeçarias estão ruindo, os turíbulos labutam
Faíscas fulminam o labirinto
A mortalha é lacerada.
Nefasta fiandeira
Ateamos flamas em tuas teias
Sou néctar, renasço nefelibata.
Hausto
Melros esfumaçam sinfonias
Átomos uivam envilecidos
Reviro-me, volatizo véus
Lambendo ervas para serenar o fel.
As ninfas sopram sete fôlegos
Nervuras esvoaçam trevas
Sou bailarina tatuada no ar
Em apoteose, levito.
Anna Apolinário
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