segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

 « A vida parecia-lhe oca e a existência nada mais do que um fardo.»

Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p.15

« Mas quanto mais velha mais tola, é o caso.»

Mark Twain. As Aventuras de Tom Sawyer. Círculo de Leitores., p.6

domingo, 26 de fevereiro de 2023

'' a vida que ali estivera, já não estava.''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 169


 

'' para quem viver e morrer é igualmente difícil''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 167

'' a sua servidão em relação ao salário''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 165

« O tempo, então, deixou de existir.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 161

 

adjetivo
1.
sujeito a enfermidades contínuas, enfermiço
2.
de compleição fraca
3.
combalido
4.
inválido

'' o incêndio de uma meda de trigo''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 156

hebdomadário

''madeira roída pelos bichos do mar''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 154




 

''apresentadores de espectáculos''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 144

«Era-lhe de facto penoso pensar que Belmonte pudesse morrer. Algo nele ansiava por que aquele doente fosse imortal.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 139

 «(...), nessa profundidade que é Deus ... (Aut Nihil, aut forte Ego.) Porque o segredo está em eu cavar em mim,»


Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 137

''bastaria cavar em qualquer sítio para se chegar a Deus''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 137

 «Depois de haver, segundo alguns, homologado o universo, e segundo outros provado Deus, ou pelo contrário, a sua inutilidade ( tais zé-ninguéns devem ser rejeitados a par), eis-me de cu assente na terra nua e, pendurados por cima da minha cabeça, os meus silogismos perfeitos e as minhas incontroversas demonstrações, alto demais, contudo, para que eu, num golpe de rins, me consiga agarrar a eles.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 136/7


Actriz Anna May Wong

 

«(...) gostava de citar o seu poeta ou de falar das blandícias da cama»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 136

volições

« - Eu é que já não penso nada. Até é provável que pense mal.»

 Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 134

« E os sábios que me louvam ou me refutam em mais páginas do que as que contém o meu livro, aborrecem-me de morte.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 134

'' somítico de sentimentos''

 Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 134

 « - Mas eu sei de onde vos vêm esses vislumbres de compreensão. Já várias vezes vos ouvi tossir. Dentro de dois anos ireis estoirar, como eu.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 134

 « - Sois igual aos outros. Falaram-vos, na escola, de um Deus, sem mais, que depois viestes logicamente a desaprender.»

 Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 133


 

''livro subversivo''

 Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 131

« Como tantos outros grandes homens, paga o seu génio com a adversidade.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 131

«Bem sabia ele que todo o segredo, com o tempo, se torna difícil de guardar.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 130

adeuses

« Uma mulher de sumptuosos seios nus, ventre meio velado por uma gaze, sustentava nas mãos a cabeça de um decapitado.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 128

Petrea volúbilis

 

de cambulhada
1.
sem ordem, confusamente
2.
em conjunto com outro(s)


Nuvem, de Arminda Moisés Coelho

 

Politician Man

miudagem

 « Os remediados, esses, inquietavam-se com o vencimento das rendas ou dos contratos de arrendamento; um crédito não reavido equivalia, para Elias, a uma seara perdida.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 120

 ''cadáveres prontos a server de refeição pendiam dos ganchos do açougue''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 120

''as exacções e as astúcias''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 119

«Não se compreendia porque é que essas gentes se impunham ao nosso espírito, ocupavam a nossa imaginação, e até às vezes nos devoravam o coração, antes de se mostrarem o que eram: fantasmas.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 119

ignobilidade

 

domingo, 19 de fevereiro de 2023


 Dara Scully

 

É do tempo da Maria Cachucha

CARNAVAL


A vida é uma tremenda bebedeira.

Eu nunca tiro dela outra impressão.

Passo nas ruas, tenho a sensação

De um carnaval cheio de cor e poeira...

A cada hora tenho a dolorosa

Sensação, agradável todavia,

De ir aos encontrões atrás da alegria

Duma plebe farsante e copiosa...

Cada momento é um carnaval imenso

Em que ando misturado sem querer.

Se penso nisto maça-me viver

E eu, que amo a intensidade, acho isto intenso

De mais... Balbúrdia que entra pela cabeça

Dentro a quem quer parar um só momento

Em ver onde é que tem o pensamento

Antes que o ser e a lucidez lhe esqueça...

Automóveis, veículos, (...)

As ruas cheias, (...)

Fitas de cinema correndo sempre

E nunca tendo um sentido preciso.

Julgo-me bêbado, sinto-me confuso,

Cambaleio nas minhas sensações,

Sinto uma súbita falta de corrimões

No pleno dia da cidade (...)

Uma pândega esta existência toda...

Que embrulhada se mete por mim dentro

E sempre em mim desloca o crente centro

Do meu psiquismo, que anda sempre à roda...

E contudo eu estou como ninguém

De amoroso acordo com isto tudo...

Não encontro em mim, quando me estudo,

Diferença entre mim e isto que tem

Esta balbúrdia de carnaval tolo,

Esta mistura de europeu e zulu

Este batuque tremendo e chulo

E elegantemente em desconsolo...

Que tipos! Que agradáveis e antipáticos!

Como eu sou deles com um nojo a eles!

O mesmo tom europeu em nossas peles

E o mesmo ar conjuga-nos

Tenho às vezes o tédio de ser eu

Com esta forma de hoje e estas maneiras...

Gasto inúteis horas inteiras

A descobrir quem sou; e nunca deu

Resultado a pesquisa... Se há um plano

Que eu forme, na vida que talho para mim

Antes que eu chegue desse plano ao fim

Já estou como antes fora dele. É engano

A gente ter confiança em quem tem ser...

(...)

Olho p'ró tipo como eu que ai vem...

(...)

Como se veste (...) bem

Porque é uma necessidade que ele tem

Sem que ele tenha essa necessidade.

Ah, tudo isto é para dizer apenas

Que não estou bem na vida, e quero ir

Para um lugar mais sossegado, ouvir

Correr os rios e não ter mais penas.

Sim, estou farto do corpo e da alma

Que esse corpo contém, ou é, ou faz-se...

Cada momento é um corpo no que nasce...

Mas o que importa é que não tenho calma.

Não tenciono escrever outro poema

Tenciono só dizer que me aborreço.

A hora a hora minha vida meço

E acho-a um lamentável estratagema

De Deus para com o bocado de matéria

Que resolveu tomar para meu corpo...

Todo o conteúdo de mim é porco

E de uma chatíssima miséria.

Só é decente ser outra pessoa

Mas isso é porque a gente a vê por fora...

Qualquer coisa em mim parece agora

s.d.

“Carnaval” Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. 

 - 7a.

lobo-do-mar

« A sua honestidade também não deixava de ter falhas.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 105

adeleiro

'' A negra melancolia ''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 98

inepta


 

 

nome feminino
1.
manobra secretatramoiaardil
2.
prestidigitaçãomagia

 


nome feminino
advertência feita a alguém a propósito de uma falha, de um comportamento incorreto, etc.reprimendaadmoestação

« Era isso; e não mais do que isso.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 92

Salineiro

« o peixe a secar nas caniçadas »

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 80

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023


 

''Escrever não é difícil. Basta sentarmo-nos em frente da máquina de escrever, abrir as veias e sangrar. ''

Walter “Red” Smith

Rezadeira

O povo e o poder

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Bem-falância

Erik Satie - Gnossienne No 1

 

verbo transitivo
não aprazer acausar desagrado aenfadardesgostar

salineiros


Anne Brigman

 

« O velho distraíra o seu desgosto cavando a cova»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 80

''mijar a esmo''

 Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 79

 

nome feminino
1.
montão cónico de feixes de cereais, palha, colmo, caruma, etc.moreia
2.
lugar onde há medasmedeiro
3.
montão

«(...) abetos negros entremeados de carvalhos já vermelhos do Outono,»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 71

'' matas invioladas à beira de santuários''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Um Homem Obscuro. 3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 70

«Recusava-se a sangrar, aquele coração mortificado.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 61

« (...), pois ninguém sabe ainda se tudo vive para morrer ou se apenas morre para reviver.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 58


 Jeanne Dielman, 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles is a 1975 film written and directed by Belgian filmmaker Chantal Akerman.


 

à guisa de
à maneira de

« - O tudo nada é.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 47

hidropisia

inanir

''tradições de honra''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 41

«As palavras que tinha preparadas permaneceram nos seus lábios.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 41

Someone To Watch Over Me

«(...), sofria sem chorar, e sem pensar»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 39

 «(...) quando a podridão ensaiava a sua obra»


Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 35

«(...) o vermelho do sangue de Cristo descamava-se como as crostas de uma velha ferida.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 35

Malquerendo-se

« Não sabiam como ocupar as horas.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 27

engaço

 

a rodos
em grande quantidade, à larga

 « Dom Álvaro tinha como principal função reprimir motins, e por vezes, se fosse necessário, provocar algum, para fazer cair na rede os agitadores.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 26


 

 « O regresso, infinitamente mais lento do que a vinda, (...)»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 23

 « - Ides deixar-nos, senhora minha mãe.

- Vi trinta e nove vezes o Inverno - murmurou imperceptivelmente Valentina. - Trinta e nove vezes o Verão. É o bastante.

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 22

descoroçoar

« - Caldo de víbora não é remédio de desprezar.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 21

''vestes doutorais''

serpear


 

«Às vezes, na sua solidão, encaminhava-se para a solidão.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 16

 «Fatigava-se, na esperança de vir a dormir melhor.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 16

Genuflexório

 «Porque as víboras, senhor, as víboras rastejam por toda a parte, sem contar as que há nos corações.»


Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 15

''no dealbar do mundo''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 15

Samara Joy - Guess Who I Saw Today

 ''gente que vivera sem a angústia do inferno aberto sob os pés''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 14

sol-pôr

 


nome feminino
1.
fronteira de um paísraia (limite)
2.
pejorativo ralé, populacho, vulgacho

''tranças de cebolas''

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 12

«Valentina pouco falava, com aquele instinto justo e avisado de quem se sente amado sem se sentir compreendido.»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 11

tão-só

''crises de hipocondria religiosa''

 Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 10

« Uma mulher pálida, boca marcada por uma ruga de tristeza (...)»

Marguerite Yourcenar. Como a água que corre. Anna, Soror...3ª Edição. Tradução de Luiza Neto Jorge. Difel., p. 10

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

domingo, 5 de fevereiro de 2023


                                                                           Anne Brigman



Nós somos os homens vazios

Somos os homens de palha

Apoiados uns nos outros

A parte da cabeça cheia de palha. Ai

As nossas vozes foram secas e quando

Juntos sussurramos

São serenas e sem sentido

Como vento em erva seca

Ou pés de ratos sobre vidro partido

Na secura da nossa cave

Molde sem forma, tonalidade sem cor,

Força paralisada, gesto sem movimento;

Os que cruzaram

Com os olhos certeiros, para o outro reino da morte

Lembram-se de nós – quem sabe – não de

Violentas almas perdidas, mas somente

De homens vazios

Homens de palha.


Rui Cóias
“The Hollow Men”, de T.S. Eliot (excerto)


havia tantas coisas
que eu te queria dizer
se não fosse o abismo

de te perder num afago
de te ter do outro lado
do medo à minha beira

havia tantas coisas
que eu te queria dizer
se não fosse o amor

que há noites ao teu lado
em que me dói não sei
onde é que a distância ai


“Ao lado”, de Joaquim Castro Caldas


Doutor eu tenho uma guerra tremenda dentro da minha cabeça
um euro e trinta e cinco cêntimos 16 de Agosto de 2011
não dá para o tabaco. Quero lembrá-lo que o verão está a acabar

e eu já ouço passos nos caminhos da lama e do medo
e há coisas que só no verão se fazem e eu ainda não fiz
como ouvir o rumorejar do mar nos meus pulsos.

Os seus medicamentos doutor deixam-me sem mim
o meu pai disse-me que a minha doença só lhe traz problemas
doutor há uma pedra intraduzível entre nós dois

quero dizer-lhe que há pessoas muito pobres que querem
o meu rim esquerdo doutor o mundo não é perfeito
e não me diga para lhe contar tudo como a um padre

eu não quero morrer outra vez essa frase fá-lo muito feio.
Acredite que vi gente morrer porque era maior que o corpo
tenho a impressão que o corpo não sabe o que tem dentro

acredite que consigo fundir uma lâmpada só com o olhar
já fundi muitas lâmpadas só com o olhar
e que vi um anjo atravessar os muros de um hospício

rasante e belo como uma garça.
Doutor há muito pouco tempo para a poesia.
Isto que lhe digo é verdade todos os dias doutor.

“Doutor eu tenho uma guerra tremenda dentro da minha cabeça”, de António Amaral Tavares


Se eu vos disser: «tudo abandonei»
É porque ela não é a do meu corpo,
Eu nunca me gabei,
Não é verdade
E a bruma de fundo em que me movo
Não sabe nunca se eu passei.

O leque da sua boca, o reflexo dos seus olhos
Sou eu o único a falar deles,
O único a ser cingido
Por esse espelho tão nulo em que o ar circula através de mim
E o ar tem um rosto, um rosto amado,
Um rosto amante, o teu rosto,
A ti que não tens nome e que os outros ignoram,
O mar diz-te: sobre mim, o céu diz-te: sobre mim,
Os astros adivinham-te, as nuvens imaginam-te
E o sangue espalhado nos melhores momentos,
O sangue da generosidade
Transporta-te com delícias.

Canto a grande alegria de te cantar,
A grande alegria de te ter ou te não ter,
A candura de te esperar, a inocência de te conhecer,
Ó tu que suprimes o esquecimento, a esperança e a ignorância,
Que suprimes a ausência e que me pões no mundo,
Eu canto por cantar, amo-te para cantar
O mistério em que o amor me cria e se liberta.

Tu és pura, tu és ainda mais pura do que eu próprio.



“A de Sempre, Toda Ela”, de Paul Éluard


no país no país no país onde os homens
são só até ao joelho
e o joelho que bom é só até à ilharga
conto os meus dias tangerinas brancas
e vejo a noite Cadillac obsceno
a rondar os meus dias tangerinas brancas
para um passeio na estrada Cadillac obsceno

e no país no país e no país país
onde as lindas lindas raparigas são só até ao pescoço
e o pescoço que bom é só até ao artelho
ao passo que o artelho, de proporções mais nobres,
chega a atingir o cérebro e as flores da cabeça,
recordo os meus amores liames indestrutíveis
e vejo uma panóplia cidadã do mundo
a dormir nos meus braços liames indestrutíveis
para que eu escreva com ela, só até à ilharga,
a grande história de amor só até ao pescoço

e no país no país que engraçado no país
onde o poeta o poeta é só até à plume
e a plume que bom é só até ao fantasma
ao passo que o fantasma – ora aí está –
não é outro senão a divina criança (prometida)
uso os meus olhos grandes bons e abertos
e vejo a noite (on ne passe pas)

diz que grandeza de alma. Honestos porque.
Calafetagem por motivo de obras.
relativamente queda de água
e já agora há muito não é doutra maneira
no país onde os homens são só até ao joelho
e o joelho que bom está tão barato

“IX”, do “Discurso sobre a reabilitação do real quotidiano”, Mário Cesariny


                                                                         Anne Brigman



Poisamos as mãos junto da chávena
sem saber que a porcelana e o osso
são formas próximas da mesma substância.
A minha mão e a chávena nacarada
– se eu temperar o lirismo com a ironia –
são, ainda, familiares dos pterossáurios.
A tranquila tarde enche as vidraças.
A água escorre da bica com ruído,
os melros espiam-me na latada seca.
É assim que muitas vezes o chá evoca:
a minha mão de pedra, tarde serena,
olhar dos melros, som leve da bica.
A Natureza copia esta pintura
do fim da tarde que para mim pintei,
retribui-me os poemas que eu lhe fiz
de novo dando-me os meus versos ao vivo.
Como se eu merecesse esta paisagem
a Natureza dá-me o que lhe dei.
No entanto algures, num poema, ouvi
rodarem as roldanas do cenário,
em que as palavras representavam
a cena da pintura da paisagem
num telão constantemente vário.
Só o chá me traz a minha tarde,
com a chávena e a minha mão que são
o mesmo pedaço de calcário.
Hoje a bica refresca a água do tanque,
os melros descem da latada para o chão,
e as vidraças devagar escurecem.
As palavras movem-se e repõem
no seu imóvel eixo de rotação
o espaço onde esta mesa de verga
gira nas grandes nebulosas.


“O Canto da Chávena de Chá”, de Fiama Hasse Pais Brandão
Acerca do sofrimento, nunca se enganaram
Os Velhos Mestres: quão bem entenderam
A condição humana; como está presente
Enquanto alguém se alimenta ou abre uma janela ou monotonamente segue a caminhar;
Como, enquanto os velhos esperam apaixonada e reverentemente
Pelo miraculoso nascimento, deve sempre haver
Crianças que não queriam especialmente que acontecesse, patinando
Num lago na orla da floresta:
Nunca esqueceram
Que até o mais terrível martírio deve seguir o seu curso,
Custe o que custar, a um canto, nalgum lugar descuidado
Onde os canídeos acorrem em suas vidas de cão, e o cavalo do torturador
Coça seu inocente traseiro por detrás de uma árvore.

No Ícaro de Brueghel, por exemplo: como tudo se afasta
Ociosamente do desastre; o lavrador poderá
Ter ouvido o splash, o grito desamparado,
Mas para ele não era um importante fracasso; o sol brilhou
Como soía sobre as pernas brancas que desapareceram na verde
Água; e o frágil e grandioso navio que deve ter avistado
Algo espantoso, um rapaz caindo do céu,
Tinha um destino para ir e afastou-se calmamente.

João Luís Barreto Guimarães
“Musée des Beaux Arts”, de W. H. Auden




Às vezes se te lembras procurava-te
retinha-te esgotava-te e se te não perdia
era só por haver-te já perdido ao encontrar-te
Nada no fundo tinha que dizer-te
e para ver-te verdadeiramente
e na tua visão me comprazer
indispensável era evitar ter-te
Era tudo tão simples quando te esperava
tão disponível como então eu estava
Mas hoje há os papéis há as voltas dar
há gente à minha volta há a gravata
Misturei muitas coisas com a tua imagem
Tu és a mesma mas nem imaginas
como mudou aquele que te esperava […]



“Muriel”, de Ruy Belo

 Quando é que passará esta noite interna, o universo,

E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?
É esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!

Fernando Pessoa

sábado, 4 de fevereiro de 2023

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

''Hábitos nem dá-los nem tirá-los.''

Ernesto de Sousa e Isabel Alves, 1972. Fotografia de Ângelo de Sousa.

 

Sobre um poema, Herberto Helder


Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

O livro, de Gonçalo M.Tavares


De manhã, quando passei à frente da loja
o cão ladrou
e só não me atacou com raiva porque a corrente de ferro
o impediu.
Ao fim da tarde,
depois de ler em voz baixa poemas numa cadeira preguiçosa do
jardim
regressei pelo mesmo caminho
e o cão não me ladrou porque estava morto,
e as moscas e o ar já haviam percebido
a diferença entre um cadáver e o sono.
Ensinam-me a piedade e a compaixão
mas que posso fazer se tenho um corpo?
A minha primeira imagem foi pensar em
pontapeá-lo, a ele e às moscas, e gritar:
Venci-te.
Continuei o caminho,
o livro de poesia debaixo do braço.
Só mais tarde pensei ao entrar em casa:
não deve ser bom ter ainda a corrente
de ferro em redor do pescoço
depois de morto.
E ao sentir a minha memória lembrar-se do coração,
esbocei um sorriso, satisfeito.
Esta alegria foi momentânea,
olhei à volta:
tinha perdido o livro de poesia.

O recreio, de Mário de Sá-Carneiro


Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar ---
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...

- E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...

Se a corda se parte um dia
(E já vai estando esgarçada),
Era uma vez a folia:
Morre a criança afogada...

- Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada...

Se o indez morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Balouçar-se enquanto vive...

- Mudar a corda era fácil...
Tal ideia nunca tive...

Em todos os jardins, Sophia de Mello Breyner


Em todos os jardins hei-de florir,
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia.

Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.

Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como num beijo.

Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.

Morrer de amor, de Maria Teresa Horta



Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar
de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso

Aniversário, de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)



No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
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