sábado, 20 de janeiro de 2018

diatribe

di.a.tri.be
djɐˈtrib(ə)
nome feminino
escrito ou discurso violento que critica ou acusa alguémcrítica severacatilináriainjúria

''selfie-com-gente-ao-colo''

croissants brioche

''poeta – logo, não-escritor ''


“É fácil falar de Literatura porque me estou borrifando para a opinião dos críticos encartados e dos escritores encartados”

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

«Esqueço-me de viver se te recordo,»

Manuel Altolaguirre. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 290

«Era minha dor tão alta
que avistava o outro mundo
olhando sobre o poente.»



Manuel Altolaguirre. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 287

Olive Edis, “Commandant Johnson and two other women of the General Service Voluntary Aid Detachment (VAD) Motor Convoy outside Nissen Huts, Abbeville, France” (1919)


«Se altas são as torres, alta é a coragem.»


Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 281

''Há sangue caído''


Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 280

BALADA DA NOSTALGIA INSEPARÁVEL




Sempre esta nostalgia, esta inseparável
nostalgia que tudo afasta e modifica.
Diz-mo tu, árvore.

Olho-te. Olhas-me. E já não és a mesma.
Nem é o mesmo vento que te está a açoitar.
Diz-me tu, água.

Bebo-te. Bebes-me. E já não és a mesma.
Nem é a mesma terra a da tua garganta.
Diz-me tu, terra.

Tenho-te. Tens-me. E já não és a mesma.
Nem é o mesmo o sonho de amor que te possui.
Diz-mo tu, sonho.

Tomo-te. Tomas-me. E já não és o mesmo.
Nem é a mesma estrela que está a adormecer-te
Diz-mo tu, estrela.

Chamo-te. Chamas-me. E já não és a mesma.
Nem és a mesma noite clara quem te queima.
Diz-mo tu, noite.



Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 279/80



«posso viver de novo, se tu mandas,
morrer, morrer também, se assim o queres.»


Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 278

«Não quero separar-me de meus olhos,
do meu coração, mãe, nem um momento,»


Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 278

Florence Farmborough, “Dead Russian soldier, photographed on the road to Monasterzhiska (Ukraine)” (1916



«Vê-se a neve em teus altos cabelos
de Granada, tingidos para sempre
daquele sangue puro que embalaste»

Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 277

«(...)        Aprendizagem
em toda a extensão do sofrimento.»


Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 276

''cadáveres de vozes conhecidas''


Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 276

stop thinking

''névoa caporal de tabaco''


Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 275

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018


flores em espiga


(...)

«Mas quando já nos anos que se têm
correm por nosso sangue mais mortos do que anos,
o melhor é ser álamo,
Álamo que assistiu a uma batalha
e vai contando noites com nomes de soldados.»


Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 275

«Faz falta ser cego,
ter como metidas nos olhos raspaduras de vidros,

(...)»


Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 273

nardo seco

«(...) no ombro de uma ave não havia flor que apoiasse a cabeça.»


Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 271

Segunda lembrança


Também antes,
muito antes da rebelião das sombras,
de que ao mundo caíssem penas incendiadas
e um pássaro pudesse ser morto por um lírio.
Antes, antes que me perguntasses
o número e o sítio do meu corpo.
Muito antes do corpo.
Na época da alma.
Quando abriste na fronte sem coroa do céu,
a primeira dinastia do sonho.
Quando, ao olhar-me no nada,
inventaste a primeira palavra.

Então, o nosso encontro.



Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 271

Photographed by Bruce Weber, Vogue, November 2006



«Passeava com um ar de açucena que pensa,
quase de pássaro que sabe há-de nascer.»


Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 270

«Eu dei o meu sangue aos mares.»


Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 270

(...)

«Espremei todo meu sangue.
Ponde a secar minha vida
sobre as enxárcias do cais.

Seco, arremessai-me às águas
com uma pedra ao pescoço
p'ra que nunca mais flutue.»




Rafael Alberti. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 269

domingo, 14 de janeiro de 2018

Todas as minhas fontes vêm de ti
As nascentes
E amo-te com a constância do moribundo que respira
Já sem saber de que lado o visita a morte
Procuro a ligação entre ti a luz muito miudinha depois dos temporais
Entre a luz e os estilhaços nas ruas bombardeadas
Desconheço o colar onde unes tudo
Procuro entender como é que moldas
Os meus pés ao equilíbrio que os desloca no chão
Sei que és tu que me levantas
Que remendas o meu corpo a cada dia
Em ti encontro a pulsação
Que rebente - uma artéria como nunca
Tinha jorrado. Cratera onde durmo
Recluso, árvore à chuva
Em dificuldade extrema
De respiração
Ponho a cabeça entre os ramos, lanço os braços para fora
Como um pássaro entre um bando
De disparos
Tu moves as agulhas, tu unes de novo
As minhas asas à curva do céu
Daniel Faria

Günther Anders já não confia nos meios pacíficos, já não acredita na democracia dos partidos. “Depois da grande vitória dos meios de comunicação de massas, deixou de existir democracia. O substancial da democracia é poder ter uma opinião própria e, ao mesmo tempo, poder expressá-la. Por exemplo, vivi catorze anos nos Estados Unidos e nunca pude expressar a minha opinião. Desde que existem meios de comunicação de massas, e desde que a população mundial se encontra como que exorcizada diante do televisor, ela é alimentada, às colheres, com opiniões. A expressão ´ter uma opinião própria` já não tem sentido de realidade. Os alimentados deixaram de possuir, forçadamente, qualquer hipótese de ter uma opinião própria. Não, já nem sequer consomem opiniões alheias. São engordados com o sistema. E os gansos engordados a sistema não ´consomem`. A televisão engorda com sistema. Se a democracia é aquilo que permite expressar uma opinião própria, então a democracia converteu-se em algo impossível através dos meios de comunicação de massas, porque quando não se tem algo próprio, também não se consegue expressá-lo.”

a destruição diária prossegue

gás lacrimogénio

''bosques secos e cheios de lixo''

“A violência não só está permitida como também está legitimada moralmente quando é usada pelo poder reconhecido. O poder baseia-se permanentemente na possibilidade do exercício da violência.''

Uma coisa é aparentar, outra coisa é ser.

Adolf Fassbender, White Night, 1936


anódino

a.nó.di.no
ɐˈnɔdinu
adjetivo
1.
que acalma as dores
2.
figurado inofensivo
3.
figurado sem importância
nome masculino
remédio calmante
''A esperança é um pretexto para a não acção, é uma forma de cobardia.''

“Hiroshima está em todo o lado”

“direito do indivíduo de se revoltar.”

Estado de sítio ou legítima defesa.

Günther Anders
´A não-violência é tudo o contrário da cobardia. Consigo imaginar um homem armado até aos dentes que no fundo é um cobarde. Ao possuir armas esconde o elemento do medo, mesmo o da cobardia. Pelo contrário, é impossível ser não-violento quando não se é intrépido.''

 Petra Kelly 

cabeças pensantes


ironia histórica

 “Em 1986, ´Ano da Paz` das Nações Unidas, foram gastos 900 mil milhões de dólares em armamento. Isso significa que por minuto são gastos 1,7 milhões em armas e equipamentos militares e repressivos. 100 milhões de pessoas trabalham em fábricas de armas por todo o mundo.” 
“Quando era criança, a guerra ainda era vista como a única acção de assassínio em massa legítima e aprovada pela lei. Hoje, não é necessária uma guerra para que se dê uma acção de assassínio em massa a uma escala muito maior. Mas os donos do poder não fazem nada contra o perigo total, pelo contrário, fazem tudo o que é possível para aumentá-lo ainda mais. Continuam a construir novas centrais nucleares e não desviam os milhares de milhões de dólares, que se gastam para subvencionar a indústria atómica, no sentido de desenvolver soluções alternativas. Para além disso, continuam a ser solidários com uma potência mundial incontrolável que se continua a preparar para uma guerra atómica. Os potenciais assassinos não estão entre nós, encontram-se, sim, sobre nós, pela simples razão de que milhões de carneiros continuam a votar neles, divididos em social-cristãos, liberais e socialdemocratas.''




Historiador e ensaísta Erich Kuby
''Para Anders, os estádios até ao fim da humanidade, começados com Auschwitz (a destruição sistemática e anónima do ser humano), com Hiroshima (quando o ser humano se apercebeu de que só bastava apertar um botão), completam-se com Chernobyl (nome representativo para Harrisburg e para todas as outras catástrofes ecológicas da última década), onde o homem perde o domínio sobre o poder-violência e se auto-aniquila num holocausto de irracionalidade, de estupidez obstinada e de ganância.''

estupidificação

''No idioma alemão existe uma palavra comum para poder e violência: Gewalt. E Günther Anders estuda sem parar como a técnica vai ganhando cada vez mais poder (violência) sobre o ser humano.''
“Se me perguntarem em que dia me envergonhei absolutamente, responderei: nesta tarde de verão quando em Auschwitz estive perante os montes de óculos, de sapatos, de dentaduras postiças, de molhos de cabelos humanos, de malas sem dono. Porque os meus óculos, os meus dentes, os meus sapatos, a minha mala também deveriam estar ali. Sim, senti-me – já que não tinha estado preso em Auschwitz porque me tinha salvo por acaso – um desertor.”

 Günther Anders
 ''Nas democracias industriais, o voto popular elege o automóvel. Os parlamentos elegem o automóvel, o egoísmo.) ''

Osvaldo Bayer

''O coração de um grande humanista cessou de 'bater. Morreu Heinrich Böll.''

Alexander Rodchenko, On the Pavement, 1928


''Ernst Jünger cruza os caminhos do espírito e do coração''

“Há escritores com uma obra tão reverberante que cega. Há existências tão intensas e complexas que o princípio-chave para as entender só pode ser o da contradição que as informa”, escreveu João Barrento sobre Jünger.

lobo solitário

Ernst Jünger (1895-1998)
Por vezes basta olhar de outra maneira para ver melhor.

Paul Virilio

''O teatro é uma arte política''

Ana Campos

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

“Me doy cuenta que si fuera estable, prudente y estatico, viviría en la muerte. Por consiguiente, acepto la confusión, la incertidumbre, el miedo y los altibajos emocionales. Porque ese es el precio que estoy dispuesto a pagar por una vida fluida, perpleja y excitante”


Carl Rogers
« O feminismo não é a luta das mulheres contra os homens: é a luta das mulheres pela sua autodeterminação; é o processo de libertação de uma cultura subjugada; é a conquista que do espaço social e político onde ser mulher tenha lugar». 

Maria de Lourdes Pintasilgo (1981)

''Ao afirmar "Ninguém nasce mulher: torna-se mulher", Simone de Beauvoir abre caminho à teorização das relações sociais de sexo e da opressão da mulher em função do determinismo biológico, no qual a mulher é relegada para um papel de subalternidade e vista como um segundo sexo.

A tomada de consciência dos mecanismos sociais na reprodução de estereótipos de género, no que é suposto “ser ou fazer” em função do determinismo biológico, e assente numa visão dicotómica homem/mulher ainda está muito presente na nossa sociedade.

Em pleno século XXI as mulheres ainda continuam a ser vistas como um segundo sexo.''

“O Segundo Sexo”

Simone de Beauvoir, 1949

“Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.”

SIMONE DE BEAUVOIR (1908-1986)

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018



«(...)                          Se quereis
Que eu ame ainda, devolvei-me
O tempo do amor. É-vos possível?
Impossível como aplacar o fantasma que de mim evocastes.»


Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 266

''ignorância voluntária''

«Não sintas a falta de um destino mais fácil,»


Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 265

«Fazendo o bem e o mal sem pretendê-lo, »


Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 263

«A odiar então aprendeste o amor que não sabe
Arder anónimo sem recompensa alguma.»


Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 262


(...)

«Deram-te tudo, sim: vida que não pedias,
E com ela a morte por dura companheira.»

Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 262
(...)

«Sob a carne vestida, o dorido fantasma
A quem a oração dos outros nunca acalma
A amargura de ter vivido inutilmente.»


Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 261

«Mortos que já não são mais que a imensa morte anónima,»


Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 259

''Minha casa desfeita, minha via afadigada, (...)''


Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 258

«Pela minha dor entendo que imensos outros sofrem,»


Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 25

domingo, 7 de janeiro de 2018


“SOUBESSE EU MORRER ILUMINANDO”

DANIEL FARIA
É talvez o último dia da minha vida.
 Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei para lhe dizer adeus.
Fiz sinal de gostar de o ver ainda, mais nada.

 (Pessoa)

“She walks in beauty, like the night”

 Lord Byron
Sou um universo morto que medita.

 Fernando Pessoa

Noite, Morte & Temporalidade


A LARRA COM UMAS VIOLETAS

(1837-1937)


Ainda se queixa vagamente sua alma,
O escuro vazio da sua vida.
Mas não podem pesar sobre essa sombra
Algumas violetas,
E é grato assim deixá-las,
Frescas entre a névoa,
Com a alegria de uma pequena coisa pura
Que resgatasse aquela dor antiga.

Quem fala já aos mortos
Mudo o encontram os que vivem.
Neste silêncio, onde o medo impera,
Colher essas flores uma por uma
Breve consolo foi para estes dias
Cuja pegada sangrenta se abre nas espáduas
Carregadas pelo ódio com uma pedra inútil.

Se a morte apazigua
Tua boca amarga de Deus insatisfeita,
Aceita uma oferta tão leve, sombra sentimental,
Nessa paz que sob a terra te esperava,
Brotando em erva, vento e luz silvestres,
O fiel e último encanto de estar só.

Curado de viver, sorri por uma vez,
Pálido rosto de paixão e tédio.
Olha as velhas ruas que percorreste, errante,
O lampião azulado que te guiou, carne hirta,
Ao regressares do baile ou do torpe jornal,
E as fontes de mármore entre palmeiras:
Águas e folhas, bálsamo dos tristes.

A terra foi medida pelos homens,
Com suas casas estreitas e sórdidos casais,
Sua corrupta opinião pública e suas revoluções
Mais cruéis e injustas do que as leis,

Com um imenso bocejo demoníaco;
Nela não há lugar para o homem solidário,
Filho nu e deslumbrante do divino pensamento.

E a nossa madrasta - olha-a, hoje, desfeita -,
Miserável e bela entre os pardos sepulcros
Dos que como tu, nascidos em sua estepe,
Viram enquanto vivos morrer sua esperança,
E então gritaram, sumidos pelas trevas,
Aos irmãos irrisórios que nunca os executaram.

Escrever em Espanha não é chorar, é morrer,
Porque morre a inspiração envolta em fumo,
Quando sua chama livre não procura o espaço.
Assim, quando o amor, o tenro monstro loiro,
Voltou contra ti tantas ternuras vãs,
Tua mão abriu com um tiro, enorme e rubra, a morte.

Livre e tranquilo ficaste enfim, um dia,
Mas tua voz sem ti abriu um acento inapagável.
É breve a palavra como o canto de um pássaro,
Mas um claro estandarte pode prender-se nela
De embriaguez, paixão, beleza fugitivas,
E subir, anjo vigilante que testemunha do homem,
Além, à região celeste e impassível.


Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 255/6

«Submetendo a sua vida a outra vida.»


Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 254

''ONDE HABITE O ESQUECIMENTO''

(...)

«Tu justificas minha existência:
Se não te conheço, não vivi jamais;
Se morro sem conhecer-te, não morro, porque não vivi nunca.»

Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 253

«Se o homem pudesse dizer o que ama,»


Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 253

(...)

«Entre ossos a angústia abre caminho,
Ergue-se pelas veias
Até abrir na pele
Jorros de sonho
Feitos carne interrogando os sonhos.»



Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 252

«Que ruído tão triste o que fazem dois corpos quando se amam,»

Luis Cernuda. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 251

''Os Rapazes dos Tanques''

«(...) bates em teu medo, tornas-te mínimo em teu interior...»


Emilio Prados. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 247

sábado, 6 de janeiro de 2018


(Vazio é o sangue da minha carne aberta.)


Emilio Prados. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 245

(É meu edifício a solidão que eu adormeço.)


Emilio Prados. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 245

''o sabor dos rios''


Emilio Prados. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 240

«Se hei-de morrer, já é morte»


Emilio Prados. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 239

indiscreta

«E o rio flui e flui, indiferente.»


Dámaso Alonso. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 229
(...)

«Ah, louco, eu, louco, queria saber o que eras, quem eras.
(género, espécie)
e o que eram, que significavam «fluir», «fluido», «fluente»;
que instante era o teu instante;
qual dos teus mil reflexos, o teu reflexo absoluto;
queria indagar o último recinto da tua vida:
tua unicidade, essa alma de água única»




Dámaso Alonso. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 229
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