domingo, 7 de dezembro de 2014
A PARTE MALDITA
"Passo noites contigo
e apenas reconheço
a espessa tessitura do cabelo.
Seguro na tua mão e guio-te nos corredores
que só de mim pertencem.
As salas que penetras construí-as,
tal o diabo à ponte,
na hora que precede a madrugada.
O galo canta sempre
antes de terminar a última cornija.
De ti pouco mais sei
além do gosto ( que temos semelhante)
do sexo seco
do sangue ausente que corre noutros lados
e se perde entre lençóis de cama
ou algodão hidrófilo.
De ti conheço o riso
nervoso ressoar,
batidas ritmadas num gongo fora de uso
em átrio obscurecido."
e apenas reconheço
a espessa tessitura do cabelo.
Seguro na tua mão e guio-te nos corredores
que só de mim pertencem.
As salas que penetras construí-as,
tal o diabo à ponte,
na hora que precede a madrugada.
O galo canta sempre
antes de terminar a última cornija.
De ti pouco mais sei
além do gosto ( que temos semelhante)
do sexo seco
do sangue ausente que corre noutros lados
e se perde entre lençóis de cama
ou algodão hidrófilo.
De ti conheço o riso
nervoso ressoar,
batidas ritmadas num gongo fora de uso
em átrio obscurecido."
Fátima Maldonado. Os Presságios.
«-Baixa os olhos quando falas comigo.
Quando o meu pai me ordena que baixe os olhos, não posso resistir ou fazer outra coisa. Os meus olhos baixam-se por si. Não o posso explicar. Sei apenas que é unicamente a expressão de um pacto entre nós dois. O amor, é em primeiro lugar, o respeito que se exprime por esses gestos. Não é preciso ir procurar muito longe.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 146
«Agora, é o pintor - chamemos-lhe Mário - que tenta meter-se nesta história. É um belo homem, um pouco sentimental para mim. Tem a gentileza dos fracos. É a pior. Estão prontos a ceder a tudo para serem agradáveis. Enerva-me. Pinta pássaros e mulheres sem cabeça.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 144
«O meu juízo não cessa de me repetir que seja paciente, que espere em silêncio ao fim de qualquer coisa de que ignoro a natureza e a finalidade. Então aguardo, no interior de mim mesmo, dentro desta velha carcaça gasta e espezinhada pelos outros.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 143
«É uma loucura tudo o que digo a mim mesmo desde que decidi não falar mais.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 142
sábado, 6 de dezembro de 2014
HUMANO, DEMASIADO HUMANO
"Trocares o meu
por outro corpo à espera
é um vago sintoma que se imiscuiu
na suspeita matriz
recôndita cisterna
onde abeberam no mais limoso chão
as sacrílegas tardes
da degola materna.
A esparsa neblina encha cada porta
de um velo putrescível
a casa estagnava na poça das ausências
e o desejo sucumbe na falésia.
Nessa mão vitrificam
restos de placenta
amoras pintando no recorte dos dedos
o proibido mosto,
essa mão que decénios
enrugaram lisura,
puxou-te em direcção à cama onde nasceste.
Sibilante esconjuro
te marcou o fácies do selo ritual
e te obriga à errância na vereda deste trilho.
Enquanto nos embalam
nas camas aquecidas
onde um urso e um pato ouviam os queixumes
da fome de mais leite,
tu chegavas à zona onde era proibido
recordar o processo das solenes gracinhas,
a palavra mal dita
o fígado desfeito às voltas das cenouras,
só no seco coçar
da memória exaurida
a sôfrega migalha a confidente apanha
à espera se um deslize abranda a contenção."
por outro corpo à espera
é um vago sintoma que se imiscuiu
na suspeita matriz
recôndita cisterna
onde abeberam no mais limoso chão
as sacrílegas tardes
da degola materna.
A esparsa neblina encha cada porta
de um velo putrescível
a casa estagnava na poça das ausências
e o desejo sucumbe na falésia.
Nessa mão vitrificam
restos de placenta
amoras pintando no recorte dos dedos
o proibido mosto,
essa mão que decénios
enrugaram lisura,
puxou-te em direcção à cama onde nasceste.
Sibilante esconjuro
te marcou o fácies do selo ritual
e te obriga à errância na vereda deste trilho.
Enquanto nos embalam
nas camas aquecidas
onde um urso e um pato ouviam os queixumes
da fome de mais leite,
tu chegavas à zona onde era proibido
recordar o processo das solenes gracinhas,
a palavra mal dita
o fígado desfeito às voltas das cenouras,
só no seco coçar
da memória exaurida
a sôfrega migalha a confidente apanha
à espera se um deslize abranda a contenção."
Fátima Maldonado. Os Presságios.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
«Com o tempo, acabaste por saber. Não dizes nada. Quando me falas baixas os olhos, como se escondesses um sentimento. Tento captar o teu olhar e retê-lo o mais tempo possível...»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 137
«Kniza! Assim te chamarei, menos para evocar o tesouro escondido na montanha pelo trisavô que, porque esse nome parece, quando o desenho ou quando o ouço no escuro, o teu olhar quando não compreendes uma palavra ou um gesto e os teus olhos piscam docemente com essa ironia em busca de cumplicidade. Gosto deste nome como do travessão que conservas nos teus cabelos como um penhor da infância, neste dia dos teus vinte anos em que tentas dar ao teu rosto a expressão de uma gravidade que pretende ser desespero. Aí, sentada nesse velho cadeirão, com as pernas dobradas seguras pelas tuas mãos, iluminadas por um raio de sol. Olho-te nesta doçura das coisas e do lugar sem me aproximar demasiado, com medo de incomodar os teus pensamentos que se empurram para se tornarem imagens de um sonho inventado, sem mesmo se debruçar para ouvir as vozes daquele que te faz sorrir.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 135/6
«as minhas noites reúnem-se nessa solidão para enlaçar este corpo vazio»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 133
«O amor teria um rosto como o tempo, a melancolia ou o medo. Eu vivia com aquele rosto ainda vazio.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 130
«Aproximei-me dela, tomei-lhe o rosto nas mãos e tentei ler nos seus olhos. Estavam vazios como uma casa abandonada.Tinha as mãos frias. Falei-lhe; ficou impassível.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 123
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
«Olhava o mundo e não o amava.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 119
«Aquele regresso foi uma prova dolorosa. Conheci o tédio e o isolamento. Restringira-me a um mundo a que ninguém tinha acesso e, também eu, me pus a esperar. Esperar o fim da licença para retomar a estrada, partir sem olhar para trás e nunca mais voltar.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 119
«Aquelas rochas de espera e do esquecimento, deviam fasciná-los. Delas brotariam outras vidas, outros destinos armados de pedras, de tufos de erva seca, de raiva e de loucura. As montanhas vigiavam-nos, olhavam para eles noite e dia, sem impaciência, sem nada perderem da sua violência silenciosa. Também elas esperavam.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 118/9
«- E, na tua opinião, aquele negrume que solta, não será da tua alma? Não te sentes a perder um pouco do teu fôlego? Não estarás a esvaziar-te? Responde.
Provocara-me. Decidi ser tão forte como ela e adoptei o seu tom:
- E aquele fio vermelho que atravessa o negrume, não será um pouco do teu sangue? Tens a certeza de não estar, neste momento, a perder o teu sangue? Olha bem para as tuas mãos, as tuas pernas, o teu nariz. Olha-te na água. Verás como estás pálida. »
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 113
«É preciso desconfiar das pessoas silenciosas.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 112
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
«Noite de presas inúteis perfurando os olhares desvairados.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 104
«(...) a brasa do ódio é um vulcão furioso que nenhum céu extingue.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 103
«À noite estava cansada e sofredora, experimentada, mas feliz porque tinha conseguido preservar o meu segredo. O mar pertencia-me. Não ousava abrir a mão direita. Guardava tudo, profundamente escondido em mim. O mar era aquele jardim onde, um dia, me poderia isolar, longe do barulho.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 90
Agostinho da Silva: “[…] Sobretudo no amor se deve ter cuidado; gostar dos outros e lhes querer bem tem sido o motivo de muita opressão e de muita morte dos espíritos. […] Não tens, essencialmente, de amar nos outros senão a liberdade, a deles e a tua; têm, pelo amor, de deixar de ser escravos, como temos nós, pelo amor, de deixar de ser donos do escravo”.
PORMENOR
A casa de pedra em ruínas
tem uma velha macieira
lá deixada pelo agricultor
que levou tudo o mais
Dá fruto todos os anos
frenética e bichenta
com maçãzinhas amargas
que ninguém come
até as crianças já sabem
Durante todo o Inverno
passei por ali a caminho de
Trenton duas vezes por mês
reparando nas maçãs penduradas
apesar dos ventos tempestuosos
por vezes com barretes de neve
pequenas campânulas douradas
É possível que nenhum dos outros
viajantes tenha olhado nessa direcção
mas não vou fazer nenhuma parábola com eles
estiveram lá e nada mais
Inexplicavelmente dou por mim a recordar
e a pensar nessa árvore sem folhas
e nos seus frutos fermentados
numa semana para os finais de Janeiro
em que o vento derrubava o sol
e a terra tremia como um quarto frio
onde ninguém seria capaz de viver
entre temperaturas negativas
mudas campânulas douradas
sozinhas na tempestade
tem uma velha macieira
lá deixada pelo agricultor
que levou tudo o mais
Dá fruto todos os anos
frenética e bichenta
com maçãzinhas amargas
que ninguém come
até as crianças já sabem
Durante todo o Inverno
passei por ali a caminho de
Trenton duas vezes por mês
reparando nas maçãs penduradas
apesar dos ventos tempestuosos
por vezes com barretes de neve
pequenas campânulas douradas
É possível que nenhum dos outros
viajantes tenha olhado nessa direcção
mas não vou fazer nenhuma parábola com eles
estiveram lá e nada mais
Inexplicavelmente dou por mim a recordar
e a pensar nessa árvore sem folhas
e nos seus frutos fermentados
numa semana para os finais de Janeiro
em que o vento derrubava o sol
e a terra tremia como um quarto frio
onde ninguém seria capaz de viver
entre temperaturas negativas
mudas campânulas douradas
sozinhas na tempestade
Al Purdy
(tradução de Vasco Gato)
domingo, 30 de novembro de 2014
funâmbulo
nome masculino
1. equilibrista que anda ou dança em corda bamba
2. figurado o que muda de opinião ou partido; indivíduo inconstante
3. ZOOLOGIA espécie de esquilo indiano
«Naquele dia fiquei a conhecer a vergonha.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 83
« - Nenhuma árvore aqui - disse-me ele um dia - é digna de usar o teu nome.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 81
«Fui menstruada pela primeira vez no dia do regresso da minha mãe. Estava a dormir quando senti um líquido quente correr entre as minhas coxas. Não estava verdadeiramente prevenida, mas sabia que passava, assim, a ser mulher.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 79
FERNANDO PESSOA
[13/06/1888-30/11/1935]
“Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus”.
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus”.
Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos
Etiquetas:
Alberto Caeiro,
Fernando Pessoa / heterónimos
DA FESTA LONGA E TRISTE
Alguém estava a dizer
algo relacionado com as sombras que cobrem o campo, com
o passar das coisas, a forma como dormimos apontados à manhã
e a manhã vai-se.
algo relacionado com as sombras que cobrem o campo, com
o passar das coisas, a forma como dormimos apontados à manhã
e a manhã vai-se.
Alguém estava a falar
da forma como o vento amaina para depois regressar,
como as conchas são os caixões do vento
embora o tempo continue.
da forma como o vento amaina para depois regressar,
como as conchas são os caixões do vento
embora o tempo continue.
A noite ia longa
e alguém disse algo sobre a lua a derramar a sua brancura
no campo frio, que mais para a frente não havia nada,
apenas mais do mesmo.
e alguém disse algo sobre a lua a derramar a sua brancura
no campo frio, que mais para a frente não havia nada,
apenas mais do mesmo.
Alguém mencionou
uma cidade em que estivera antes da guerra, um quarto com duas velas
encostadas a uma parede, alguém a dançar, alguém a observar.
Começávamos a acreditar
uma cidade em que estivera antes da guerra, um quarto com duas velas
encostadas a uma parede, alguém a dançar, alguém a observar.
Começávamos a acreditar
que a noite não iria chegar ao fim.
Alguém dizia que a música terminara sem que ninguém tivesse reparado.
Até que alguém disse algo relacionado com os planetas, com as estrelas,
com a sua pequenez, como estão longe.
Alguém dizia que a música terminara sem que ninguém tivesse reparado.
Até que alguém disse algo relacionado com os planetas, com as estrelas,
com a sua pequenez, como estão longe.
Mark Strand
(tradução de Vasco Gato)
(tradução de Vasco Gato)
ELEGÂNCIA
Tudo o que está descuidado.
Abandonado à quietude
nesse puro silêncio que se funde
com a quietude da natureza.
Uma porta desconjuntada,
penumbra e sombras numa sala vazia.
Fendas de luz. Em carne viva ali onde
a ferrugem trespassou o telhado de zinco.
O restolhar das ervas ao sabor dos seus
vários tipos de ar pela manhã,
ano após ano.
Uma nogueira, e a casa
feita de tijolos de adobe. Uma beleza
precisa e inesperada, a trepidar
e a cantar. Se não para o sol,
então para nada e para ninguém.
Abandonado à quietude
nesse puro silêncio que se funde
com a quietude da natureza.
Uma porta desconjuntada,
penumbra e sombras numa sala vazia.
Fendas de luz. Em carne viva ali onde
a ferrugem trespassou o telhado de zinco.
O restolhar das ervas ao sabor dos seus
vários tipos de ar pela manhã,
ano após ano.
Uma nogueira, e a casa
feita de tijolos de adobe. Uma beleza
precisa e inesperada, a trepidar
e a cantar. Se não para o sol,
então para nada e para ninguém.
Linda Gregg
(tradução de Vasco Gato)
(tradução de Vasco Gato)
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
«(...) e os ratos a precipitarem-se-lhe sobre o ventre, o sexo, arrancando farrapos de carne em sangue. Esse espectáculo que eu servia frequentemente dentro da minha cabeça, fazia-me estremecer.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 36
Descobri que o meu corpo podia sentir outra coisa além do frio e da fome...
«Apertava as mãos entre as coxas e não sentia vergonha. Foi ao acordar que senti o peso de uma enorme culpa. Não me sentia à vontade, e pus-me a detestar Halifa e a ter nojo de mim mesma. Descobri que o meu corpo podia sentir outra coisa além do frio e da fome, do calor e do cansaço.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 31
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 31
«A minha mãe era a metade da pedra polida que representava o meu pai. Com um pedaço de giz, traçara uma linha a meio da pedra e sabia que esses dois seres eram inseparáveis «na vida até à morte». O meu irmão era uma pequena pedra frágil que se esboroava mal se lhe tocava. Era a minha pedra preferida. Quanto à minha tia, não era uma pedra, mas um escorpião morto que eu apanhei e instalei no fundo da minha gruta.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 28
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
Foi para mim um dia negro.
«Foi para mim um dia negro. O meu pai fechou-me no estábulo e deixou-me durante todo o dia sem alimento. Lembro-me de ter bebido água suja de um tacho reservado aos animais. Passei mal toda a noite, mas não foi por causa da água. Estava ferida - tinha vergonha - e a partir desse dia, fiquei a saber que nunca se pode faltar ao respeito aos pais.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 27
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 27
«Uma ave nocturna sobrevoou-nos, naquele preciso instante, e eu soube que um drama ia sobrevir.»
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 20
pele verde-pálido
Tahar Ben Jelloun. De olhos baixos. Tradução de Maria Carlota Álvares da Guerra. Bertrand Editora., p. 17
domingo, 23 de novembro de 2014
Nascimento Último
Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono, germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva
densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
Respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que flui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.
António Ramos Rosa, in Cada Árvore é um Ser para Ser em Nós (2002)
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