domingo, 20 de setembro de 2015


(...)


3.

Todos os poemas procedem deste modo:
contornam o insuportável,
até cercarem as palavras de grãos de areia e de luz,
tornando assim aquilo que está fora do poema
mais legível do que o próprio poema.

Luís Filipe Castro MendesPoesia Reunida (1985-1999) com o livro inédito OS AMANTES OBSCUROS. Quetzal Editores, Lisboa, 1999., p. 30
(...)

«Também eu quero ouvir-te,
esperar-te ansiosamente
até não suportar mais a passagem das horas.»


Luís Filipe Castro MendesPoesia Reunida (1985-1999) com o livro inédito OS AMANTES OBSCUROS. Quetzal Editores, Lisboa, 1999., p. 30

«música apercebida
entre nuvens»

Luís Filipe Castro MendesPoesia Reunida (1985-1999) com o livro inédito OS AMANTES OBSCUROS. Quetzal Editores, Lisboa, 1999., p. 29

4.

Só o vazio pode endurecer a alma,
permitindo-lhe chegar
à sua própria chama. O vazio é atravessado
pela radiosa música
do que vai morrer.


Luís Filipe Castro Mendes. Poesia Reunida (1985-1999) com o livro inédito OS AMANTES OBSCUROS. Quetzal Editores, Lisboa, 1999., p. 28

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

À memória de Raquel Moacir


A tua morte é sempre nova em mim.
Não amadurece. Não tem fim.
Se ergo os olhos dum livro, de repente
tu morreste.
Acordo, e tu morreste.
Sempre, cada dia, cada instante,
a tua morte é nova em mim,
sempre impossível.

E assim, até à noite final
irás morrendo a cada instante
da vida que ficou fingindo vida.
Redescubro a tua morte como outros
redescobrem o amor,
porque em cada lugar, cada momento,
tu estás viva.

Viverei até à hora derradeira a tua morte.
Aos goles, lentos goles. Como se fosse
cada vez um veneno novo.
Não é tanto a saudade que dói, mas o remorso.
O remorso de todo o perdido em nossa vida,
coisas de antes e depois, coisas de nunca,
palavras mudas para sempre, um gesto
que sem remédio jamais teve destino,
o olhar que procura e nunca tem resposta.

O único presente verdadeiro é teres partido.

Adolfo Casais Monteiro

segunda-feira, 14 de setembro de 2015



- «Tomei a minha decisão», na tua boca, Senhor, significa: vou matar!»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 238


«Este Deus é o filho do Medo e não o pai do Medo». E perderam todo o receio. Escreveram em enormes letras amarelas nas quatro portas fortificadas de cada cidade: AQUI NÃO HÁ DEUS. Deus, que quer dizer esta palavra? Não há freios para os nossos instintos, não há recompensa para o bem nem castigo para o mal, não há virtude, nem pudor, nem justiça - somos todos lobos e lobas com cio.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 238
«Tive medo. Como era possível que um tal rebelde tivesse saído de dentro de mim? Onde estava escondida, no fundo de mim, atrás de Deus, essa alma selvagem e insubmissa?»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 240


«- Não te ajoelhes, não estendas as mãos para me abraçar os joelhos. Eu não tenho joelhos! Não comeces os teus lamentos para me tentares comover! Eu não tenho coração! Sou um bloco de granito negro, não há mão nenhuma que possa imprimir-se em mim. Tomei a minha decisão: Vou incendiar Sodoma e Gomorra!»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 239/240

«Sodoma e Gomorra estendiam-se à beira do rio como duas prostitutas e beijavam-se. »

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 238
«Peguei na caneta e pus-me a escrever para me acalmar, para criar.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 228

«Nunca lhe ouvi sair da boca uma palavra alegre.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 225

«O meu coração jamais se abriu para que Deus entrasse;»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 215

O Ofício


Escrevo para sentir nas veias
o voo da pedra.

Antecipação da paz
neste país de granadas
moldadas
no silêncio dos frutos.

Escrevo como quem escava
no bojo da sombra
um mar de claridade.

Pedras vivas de possibilidade
as palavras levantam
o crime, os pássaros do pântano

Escrevo
no grande espaço obscuro
que somos e nos inunda.

Casimiro de Brito, in "Jardins de Guerra" 

domingo, 13 de setembro de 2015


«Fez em seguida e por três vezes o sinal da cruz e cuspiu para o ar:
  - Para trás, Satanás! - repetiu. A sua voz era agora firme.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 213

«Não tínhamos dito ainda uma palavra, mas sentíamos o coração angustiado.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 203

« - Que é que vocês vêm cá fazer, seus palermas? - perguntou.
-Vimos rezar, meu velho.
-Rezar, porquê? E a quem? Estão doentes?»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 203

"Uma rapariga loura está inclinada sobre um poema. Com o bisturi de um lápis afiado transfere as palavras para uma folha branca e converte-a em acentos, cadências, cesuras. O lamento de um poeta caído assemelha-se agora a uma salamandra devorada por formigas.

Quando o levámos sob o fogo das metralhadoras eu pensei que o seu corpo ainda quente ressuscitaria nas palavras. Agora que vejo a morte das palavras, sei que não há limites para o declínio. Tudo o que deixaremos atrás de nós sobre a terra escura serão sílabas dispersas.
Acentos sobre o pó e o nada."

-"Uisses Já Não Mora Aqui"
- José Miguel Silva 

«Puxou uma longa fumaça do cigarro e o fumo saiu-lhe pelas narinas.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 199

«Pecado confessado é pecado perdoado.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 199
«Percorríamos o monte Athos e à medida que respirávamos o nosso coração enchia-se de fogo e dilatava-se, pleno de alegria.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 195

«Sentia-me diluído na felicidade.»


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 192

riscas de Fraunhöfer

''estado de cepticismo crónico''

''o jardim é um estremecimento''

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 265
O DEUS NU(LO)

1988

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 255

sábado, 12 de setembro de 2015

« O poema é um arbusto que não cessa de tremer.»

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 231

Cara Delevingne, channeling Edie Sedgwick photographed by Patrick Demarchelier, for Vogue China | June 2013.


A mão

                    prolonga

                                              o pulso

quando

                                   a água ondula


António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 182
O ar                              passa

a t r a v  é  s     d a s    p a l  a v  r  a  s

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 181

«afundo-me como um osso no silêncio dos ossos»

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 152

despautério


«Não te construo, constróis-me, construo-te,»

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 84
«uma respiração feliz ombro a ombro
um caminhar sem solidão na noite.»

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 78

«São restos de tabaco e de ternura rápida.»

António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 43

«A fadiga substitui-lhe o coração
as cores da inércia giram-lhe nos olhos.»


António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 37
(...)

«O tempo das palavras
numa circulação sombria como um poço
de ecos incontrolados
de timbres inesperados
como moedas de sangue cunhadas numa noite
demasiado curta e com luar de mais »



António Ramos Rosa. Antologia poética. Selecção, Prefácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001., 33

adivinhava o cérebro por detrás do belo rosto

«Eu era áspero, avaro de palavras, na minha dura carapaça popular; cheio de interrogações, angústias metafísicas, o brilho da fachada nunca me enganava, eu adivinhava o cérebro por detrás do belo rosto;»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 179

«Possuía asas, não tinha um espírito sólido; via longe e confuso.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 179
«Os homens sentiam que eu não tinha necessidade deles, que podia viver sem as suas conversas e nunca me puderam perdoar. Existem muito poucos homens com quem eu poderia viver bastante tempo sem me sentir mal.»

Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 178

''perigoso ninho de vespas literário''


Nikos Kazantzakis. Carta a Greco. Trad. Armando Pereira da Silva e Armando da Silva Carvalho. Editora Ulisseia, Lisboa, p. 177
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