domingo, 13 de setembro de 2015


"Uma rapariga loura está inclinada sobre um poema. Com o bisturi de um lápis afiado transfere as palavras para uma folha branca e converte-a em acentos, cadências, cesuras. O lamento de um poeta caído assemelha-se agora a uma salamandra devorada por formigas.

Quando o levámos sob o fogo das metralhadoras eu pensei que o seu corpo ainda quente ressuscitaria nas palavras. Agora que vejo a morte das palavras, sei que não há limites para o declínio. Tudo o que deixaremos atrás de nós sobre a terra escura serão sílabas dispersas.
Acentos sobre o pó e o nada."

-"Uisses Já Não Mora Aqui"
- José Miguel Silva 

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