NOCTURNO DE LA ESTATUA
A Agustín Lazo
Soñar, soñar la noche, la calle, la escalera
y el grito de la estatua desdoblando la esquina.
Correr hacia la estatua y encontrar sólo el grito,
querer tocar el grito y sólo hallar el eco,
querer asir el eco y encontrar sólo el muro
y correr hacia el muro y tocar un espejo.
Hallar en el espejo la estatua asesinada,
sacarla de la sangre de su sombra,
vestirla en un cerrar de ojos,
acariciarla como a una hermana imprevista
y jugar con las fichas de sus dedos
y contar a su oreja cien veces cien cien veces
hasta oírla decir: « estoy muerta de sueño ».
Xavier Villaurrutia, 1938.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Nocturne: the Statue
To Agustín Lazo
To dream, to dream the night, the street, the stairway
and the scream of the statue unfolding in the corner.
To run toward the statue and find only the scream,
to want to touch the scream and find only the echo,
to want to seize the echo and find only the wall
and to run toward the wall and to touch a mirror.
To find in the mirror the murdered statue,
to obtain the blood from her shadow,
to dress her in closed eyes,
to caress her like an unforeseen sister
and to play the tokens of her fingers
and to count into her ear a hundred times a hundred hundred times
until I hear her say: « I am dead from dreaming ».
Xavier Villaurrutia, 1938.
[traducción inglesa por Raymond E. André III, 2009]
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
domingo, 29 de janeiro de 2012
''Para quê tantas reflexões?''
«Para quê tantas reflexões?... Para que havemos de deixar, nos momentos de jovial despreocupação, a tristeza insinuar-se em nós? Logo que o riso se congela em nossos lábios, tornamo-nos sombrios, e eis-nos diferentes de todos os que nos cercam...»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 57
Etiquetas:
autores russos,
excerto,
Nikolai Gógol,
psykhé
« - Valha-me Deus, tantas blasfémias! - exclamou a velha, horrorizada.
- O que quer que lhe diga? Para falar com franqueza, a senhora parece, salvo o devido respeito, um cão de guarda deitado numa manjedoura: não come o feno, mas não deixa ninguém comê-lo. No entanto, eu tencionava mais tarde comprar-lhe também alguns produtos agrícolas, pois sou fornecedor da coroa.»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 57
Etiquetas:
autores russos,
excerto,
Nikolai Gogol
''Um Prometeu, um verdadeiro Prometeu! Que ar majestoso! Que andar imponente! Parece uma águia! Mal sai dali, com a papelada debaixo do braço, e entra no gabinete do director, a águia transforma-se em perdiz...''
«À noite, em sociedade, se os presentes lhe são inferiores, Prometeu continua a ser Prometeu, mas se encontra alguém duma categoria ligeiramente superior, o nosso Prometeu sofre uma metamorfose tão completa como o próprio Ovídio não seria capaz de imaginar: transforma-se em mosca, ou em menos do que mosca, num grão de areia...''Este não é Ivan Petrovich!'', dirá quem o vir. ''Ivan Petrovich é alto e este é um João-ninguém; Ivan Petrovich nunca ri, tem voz forte, um ar imponente e este ri por tudo e por nada e pipila como um passarinho...'' Mas se se aproximar um pouco mais, acabam-se as dúvidas, e exclamará então: ''Afinal, sempre é Ivan Petrovich! Quem haveria de dizer!''»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p. 51
Etiquetas:
autores russos,
excerto,
Nikolai Gógol
«E foi com a alma desolada que me ajoelhei aos pés do leito onde a minha amada Annie repousava sob uma cruz de rosas, muda, branca, e com as pálidas violetas da morte sobre as faces.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 190/1
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 190/1
Etiquetas:
anatole france,
autores franceses,
contos,
excerto
«(...) senti a boca amarga e o coração enlutado.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 190
Etiquetas:
anatole france,
autores franceses,
contos,
excerto
espineta
nome feminino
MÚSICA antigo instrumento musical, que é uma espécie de cravo
(Do italiano spinetta, «idem», do nome do seu fabricante, o veneziano Spinetti, que morreu em 1550)
MÚSICA antigo instrumento musical, que é uma espécie de cravo
(Do italiano spinetta, «idem», do nome do seu fabricante, o veneziano Spinetti, que morreu em 1550)
Etiquetas:
1503,
Cordofones,
Giovanni Spinetti,
instrumentos de teclas,
significados
«A minha bem-amada é como um jardim fechado.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 104
Etiquetas:
anatole france,
autores franceses,
excerto
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
«Creio sinceramente na virtude e na felicidade. São duas coisas inseparáveis, mas raras; escondem-se. Descobri-las-emos sob os humildes tectos ocultos no coração dos campos.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 87
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 87
Etiquetas:
anatole france,
autores franceses,
contos,
excerto
«Nado em plena alegria, encontro-me magnificamente embriagado. Pronuncio em completa consciência e na sublime plenitude do seu significado esta palavra de todas as bebedeiras, de todos os entusiasmos e de todos os encantamentos: «Não sei quem sou!»
Anatole France. Contos
Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora
do Minho, 1967., p. 77
Etiquetas:
anatole france,
contos,
excerto
«SE A FELICIDADE CONSISTE EM JÁ NÃO SENTIR»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução
e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 76
Etiquetas:
anatole france,
autores franceses,
contos,
excerto
«O pavor de morrer aterrava-a e ao mesmo tempo o suicídio atraía-a.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 74
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 74
Etiquetas:
anatole france,
contos,
excerto
«Aconteceu-me como a qualquer outro ter sido amado: isso é a felicidade, Saint-Sylvain;»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 71
Etiquetas:
anatole france,
contos,
excerto
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
«Até o facto de eu próprio pertencer à espécie humana faz-me morrer de vergonha e desgosto.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 62
Etiquetas:
anatole france,
contos,
excerto
«A Deusa parecia ainda encontrar-se molhada pela onda marinha.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 58
Etiquetas:
anatole france,
contos,
excerto
domingo, 22 de janeiro de 2012
Turn thou away thy false dark eyes
Nor gaze upon my face;
Great love I bore the: now great hate
Sits firmly in its place.
Elizabeth Siddal
(I saw her smile.) But soon their path
Was vague in distant spheres:
And then she cast her arms along
The golden barriers,
And wept. (I heard her tears.)
Dante Gabriel Rossetti.
Nor gaze upon my face;
Great love I bore the: now great hate
Sits firmly in its place.
Elizabeth Siddal
(I saw her smile.) But soon their path
Was vague in distant spheres:
And then she cast her arms along
The golden barriers,
And wept. (I heard her tears.)
Dante Gabriel Rossetti.
Etiquetas:
Dante Gabriel Rossetti,
Elizabeth Siddal
Chichikov poucas vezes falava de si próprio
«Chichikov poucas vezes falava de si próprio e, quando o fazia, era em termos vagos e com grande modéstia, dando às frases um estilo livresco. Dizia, por exemplo, que um insignificante verme da terra como ele não era digno de muita atenção;»
Nikolai Gógol. Almas Mortas. Círculo de Leitores, 1ª Edição, 1977, p.12
Etiquetas:
escritor russo,
excerto,
Nikolai Gógol
Biblioteca Real
«Depois de os ter convidado a sentarem-se, o bibliotecário indicou com um gesto aos visitantes a enorme quantidade de livros que cobriam, as quatro paredes, desde o soalho até ao tecto.
- Os senhores não ouvem? Os senhores não ouvem o barulho que eles fazem? Tenho os tímpanos furados. Estão sempre a falar ao mesmo tempo e em todas as línguas. Discutem acerca de tudo: Deus, a natureza, o homem, o tempo, o número e o espaço, o inteligível e o ininteligível, o bem e o mal, e examinam tudo, contestam tudo, afirmam tudo, negam tudo. Raciocinam acertada e desacertadamente. Uns são leves, outros pesados; uns alegres, outros tristes; uns são profundos, outros superficiais; alguns deles falam muito para nada dizer; acumulam sílabas e juntam os sons segundo as leis que eles próprios ignoram a origem e o espírito; são os mais satisfeitos de todos. Existem os de uma espécie austera e melancólica, que apenas especulam acerca de noções isentas de qualquer qualidade e se colocam cautelosamente ao abrigo das contigências naturais; debatem-se no vazio e agitam-se entre as invisíveis categorias do nada, e estes são encarniçados disputadores que utilizam para sustentar as suas entidades e os seus símbolos um furor sanguinário. »
(...)
«Não sabem, a maioria das vezes, nem aquilo que dizem nem aquilo que os outros disseram.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 45/6
Etiquetas:
anatole france,
autores franceses,
contos,
excerto
«Para me aliviar dos males que suporto durante o dia, escrevo-os durante a noite e vomito assim o fel de que me alimento.»
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 33
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 33
Etiquetas:
anatole france,
autores franceses,
contos,
excerto
falaz
1. | enganador |
2. | ardiloso |
3. | falso |
(Do latim fallāce-,
«enganador»)
Etiquetas:
língua portuguesa,
significados
«Não era nem muito amado nem muito estimado pelo seu povo, o que lhe proporcionava a magnífica vantagem de nunca decepcionar ninguém. »
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 16
Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p. 16
Etiquetas:
anatole france,
autores franceses,
contos,
excerto
A CAMISA
Estava um jovem pastor pre-
guiçosamente deitado na erva do
campo, a entreter a solidão tocando
a flauta...Tinham-no despido à
força, mas...
(Grand Dictionnaire de Pierre Larousse, artigo CAMIS; t. IV, p. 5, col.4.)
in Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p.
guiçosamente deitado na erva do
campo, a entreter a solidão tocando
a flauta...Tinham-no despido à
força, mas...
(Grand Dictionnaire de Pierre Larousse, artigo CAMIS; t. IV, p. 5, col.4.)
in Anatole France. Contos Escolhidos. Selecção, Tradução e Prefácio de Mário Braga. Companhia Editora do Minho, 1967., p.
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
“O que me atrai é o ser humano. Carrascos ou vítimas, nós nunca somos só uma coisa. A natureza humana é complexa e, como artista, tenho a impressão que a minha função é iluminá-la. Filmo para conhecer o outro e a mim mesmo”
Realizador e argumentista Lee Chang-dong
Realizador e argumentista Lee Chang-dong
Etiquetas:
Realizador e argumentista Lee Chang-dong
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
''Em busca de Odradek''
''Depois do desaparecimento das mães o trauma do segundo nascimento/ E o que eu vi era mais do que eu podia suportar.''
Heiner Müller. O Anjo do Desespero (Poemas). Tradução e Posfácio de João Barrento. Relógio D' Água, Lisboa, 1997,
«Durante vinte anos Clitemnestra sonha o mesmo sonho: uma serpente vem beber leite e sangue no seu peito.»
Heiner Müller. O Anjo do Desespero (Poemas). Tradução e Posfácio de João Barrento. Relógio D' Água, Lisboa, 1997, p. 43
Heiner Müller. O Anjo do Desespero (Poemas). Tradução e Posfácio de João Barrento. Relógio D' Água, Lisboa, 1997, p. 43
Etiquetas:
dramaturgo e escritor alemão,
excerto,
Heiner Müller,
Mitologia
«Diz que o homem tem «uma grande vantagem sobre o resto do universo: sabe que morre, ao passo que o universo ignora-o absolutamente». Vês? Logo, o homem que disputa o osso a um cão tem sobre este a grande vantagem de saber que tem fome; e é isto que torna grandiosa a luta, como eu dizia. «Sabe que morre» é uma expressão profunda; creio todavia que é mais profunda a minha expressão: sabe que tem fome.»
Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 235
algoz
nome masculino
1. | executor da pena de morte; carrasco; verdugo |
2. | figurado pessoa cruel |
(Do turco gozz, pelo árabe al-gozz,
nome de uma tribo onde se iam geralmente buscar os carrascos)
Etiquetas:
língua portuguesa,
significados
«Ai dor! era-me preciso enterrar magnificamente os meus amores.»
«Eles lá iam, mar em fora, no espaço e no tempo, e eu ficava-me ali numa ponta da mesa, com os meus quarenta e tantos anos, tão vadios e tão vazios; ficava-me para os não ver nunca mais, porque ela poderia tornar e tornou, mas o eflúvio da manhã quem é que o pediu ao crepúsculo da tarde?»
Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 203
O PAI
1
Um pai morto talvez tivesse
Sido um pai melhor. Melhor ainda
É um pai nado-morto.
Volta sempre a crescer erva sobre a fronteira.
Tem de ser arrancada a erva
Sempre sempre a erva que cresce sobre a fronteira.
2
Gostava que o meu pai tivesse sido um tubarão
E despedaçado quarenta pescadores de baleias
(E eu aprendido a nadar no seu sangue)
A minha mãe uma baleia azul o meu nome Lautréamont
Falecido em Paris
Incógnito em 1871
Heiner Müller. O Anjo do Desespero (Poemas). Tradução e Posfácio de João Barrento. Relógio D' Água, Lisboa, 1997, p. 23
Um pai morto talvez tivesse
Sido um pai melhor. Melhor ainda
É um pai nado-morto.
Volta sempre a crescer erva sobre a fronteira.
Tem de ser arrancada a erva
Sempre sempre a erva que cresce sobre a fronteira.
2
Gostava que o meu pai tivesse sido um tubarão
E despedaçado quarenta pescadores de baleias
(E eu aprendido a nadar no seu sangue)
A minha mãe uma baleia azul o meu nome Lautréamont
Falecido em Paris
Incógnito em 1871
Heiner Müller. O Anjo do Desespero (Poemas). Tradução e Posfácio de João Barrento. Relógio D' Água, Lisboa, 1997, p. 23
Etiquetas:
dramaturgo e escritor alemão,
Heiner Müller,
poesia
«As lágrimas que me traíram e as humilhações que sofri
são-me agora brisas e aves eternas: »
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 91
Etiquetas:
excerto,
Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poetas gregos
«Nas noites em que choram * os tormentos do homem.»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 89
Etiquetas:
Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poetas gregos
«E a primeira palavra que o último dos homens há-de dizer será para que as ervas se ergam e a mulher a seu lado saia como raio do sol. E de novo adorará a mulher e a deitará na erva como está determinado.»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 88
Etiquetas:
excerto,
Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poetas gregos
XVI
«CEDO acordei as volúpias
cedo acendi o meu choupo-branco
de mão na frente dirigi-me ao mar
e aí o erigi sozinho:
Sopraste e cercaram-me as procelas
uma a uma tiraste-me as aves -
Meu Deus chamaste-me e como fugir-te?
Fitei no futuro os meses e os anos
que hão-de regressar sem mim
e mordi-me tão fundo
que senti o meu sangue devagar a pulsar para o alto
e a gotejar do meu futuro.
Escavei a terra no momento em que era o culpado
e a tremer ergui a vítima na minha mão
e falei-lhe tão suavemente
que devagar os seus olhos se abriram e verteram orvalho
sobre o chão onde eu era culpado.
Derramei o negrume no leito do amor
com as coisas do mundo nuas no meu espírito
e o meu esperma lancei tão longe
que devagar as mulheres regressaram ao sol e sofreram
e voltaram a parir as coisas visíveis.
Meu Deus chamaste-me e como fugir-te?
Cedo acordei as volúpias
cedo acendi o meu choupo-branco
de mão na frente dirigi-me ao mar
e aí o erigi sozinho:
Sopraste e as minhas entranhas estremeceram
uma a uma voltaram-me as aves!»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 82/3
cedo acendi o meu choupo-branco
de mão na frente dirigi-me ao mar
e aí o erigi sozinho:
Sopraste e cercaram-me as procelas
uma a uma tiraste-me as aves -
Meu Deus chamaste-me e como fugir-te?
Fitei no futuro os meses e os anos
que hão-de regressar sem mim
e mordi-me tão fundo
que senti o meu sangue devagar a pulsar para o alto
e a gotejar do meu futuro.
Escavei a terra no momento em que era o culpado
e a tremer ergui a vítima na minha mão
e falei-lhe tão suavemente
que devagar os seus olhos se abriram e verteram orvalho
sobre o chão onde eu era culpado.
Derramei o negrume no leito do amor
com as coisas do mundo nuas no meu espírito
e o meu esperma lancei tão longe
que devagar as mulheres regressaram ao sol e sofreram
e voltaram a parir as coisas visíveis.
Meu Deus chamaste-me e como fugir-te?
Cedo acordei as volúpias
cedo acendi o meu choupo-branco
de mão na frente dirigi-me ao mar
e aí o erigi sozinho:
Sopraste e as minhas entranhas estremeceram
uma a uma voltaram-me as aves!»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 82/3
Etiquetas:
Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poesia,
poetas gregos
procela
nome feminino
1. | tempestade no mar; tormenta; temporal |
2. | figurado grande agitação; exaltação de espírito |
(Do latim procĕlla-, «idem»)
Etiquetas:
língua portuguesa,
significados
imarcescível
1. | que não murcha; sempre viçoso |
2. | que não se extingue |
3. | figurado imperecível;
incorruptível |
(Do latim immarcescibĭle-,
«idem»)
Etiquetas:
língua portuguesa,
significados
patíbulo
nome masculino
lugar onde os condenados sofrem a pena capital (por guilhotina, forca, garrote, etc.) |
(Do latim patibŭlu-, «idem»)
Etiquetas:
língua portuguesa,
significados
domingo, 15 de janeiro de 2012
«Mas Zalmóxis, dizia ele, nosso mestre, que é um deus, afirma que, tal como não se pode tentar curar os olhos separadamente da cabeça, também se não pode curar a cabeça separadamente do corpo, nem, do mesmo modo, o corpo separadamente da alma.» Seria essa a razão pela qual, entre os Gregos, a maioria das doenças escapava aos médicos: é que eles negligenciavam o todo, a cujo tratamento seria preciso proceder, pois, não estando ele bom, impossível seria que a parte ficasse boa»
«Dizia ainda, meu caro amigo, que a alma se trata com estas encantações, encantações essas que consistem em belas conversas.»
Platão. Cármides. Textos clássicos - 12. Introdução, versão do grego e notas de Francisco de Oliveira. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, 1981., p.48
«De igual modo, julgar, enfim, que a cabeça se cura em si mesma, separadamente de todo o corpo, é uma grande insensatez. Partindo deste princípio, debruçando-se sobre todo o corpo, as suas prescrições procuram, através do todo, tratar e curar a parte.»
Platão. Cármides. Textos clássicos - 12. Introdução, versão do grego e notas de Francisco de Oliveira. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, 1981., p. 47
«Mas aí se verifica também a diferença essencial entre ambos. Enquanto Sócrates confessa abertamente a sua incapacidade, Crítias,
...como pessoa habituada a ficar bem vista em todas as ocasiões,
tinha vergonha dos presentes e não queria concordar comigo
que era incapaz de defender o argumento para o qual eu o
desafiara. Assim, nada dizia com clareza, para disfarçar
as suas dificuldades (169c).»
Platão. Cármides. Textos clássicos - 12. Introdução, versão do grego e notas de Francisco de Oliveira. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, 1981., p.28
...como pessoa habituada a ficar bem vista em todas as ocasiões,
tinha vergonha dos presentes e não queria concordar comigo
que era incapaz de defender o argumento para o qual eu o
desafiara. Assim, nada dizia com clareza, para disfarçar
as suas dificuldades (169c).»
Platão. Cármides. Textos clássicos - 12. Introdução, versão do grego e notas de Francisco de Oliveira. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, 1981., p.28
«(...), na opinião do médico trácio autor do remédio, também não é possível tratar o corpo sem primeiro tratar o corpo sem primeiro tratar. com belas conversas, a alma.»
Platão. Cármides. Textos clássicos - 12. Introdução, versão do grego e notas de Francisco de Oliveira. Instituto Nacional de Investigação Científica. Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, 1981., p.15
Etiquetas:
excerto,
na introdução,
Platão
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
«E caem! - Folhas misérrimas do meu cipestre, heis-de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar...Heis-de cair.»
Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 144
Etiquetas:
excerto,
machado de assis,
Memórias Póstumas de Brás Cubas
«Tu tens pressa em envelhecer, e o livro anda devagar;»
Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 143
Etiquetas:
excerto,
machado de assis,
Memórias Póstumas de Brás Cubas
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
«Calou-se, profundamente abatido, com os olhos no ar, parecendo não ouvir coisa nenhuma, a não ser o eco de seus próprios pensamentos.»
Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 121
Etiquetas:
excerto,
machado de assis,
Memórias Póstumas de Brás Cubas
porque a dor que se dissimula dói mais
«Lá dentro, ela padecia, e não pouco - ou fosse a mágoa pura, ou só despeito; e porque a dor que se dissimula dói mais, é muito provável que Virgília padecesse em dobro do que realmente devia padecer. Creio que isto é metafísica.»
Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 98
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
IV
«ADICIONEI os meus dias e não te encontrei
nunca, em sítio nenhum, para me tomares a mão
no clamor dos abismos e na minha barafunda de estrelas!
Tomaram uns o Saber e outros o Poder
a escuridão rasgando as duras penas
e pequenas máscaras, de alegria e tristeza,
ajustando à face arruinada.
Eu é que não, não ajustei máscaras,
deitei para trás de mim alegria e tristeza
pródigo deitei para trás de mim
o Poder e o Saber.
Adicionei os meus dias e fiquei sozinho.
Disseram uns: porquê? Este também há-de viver
na casa com vasos e a branca noiva.
Cavalos de pêlo fulvo e negro acenderam-me
a obstinação por outras mais brancas Helenas!
Almejei outra mais secreta bravura
e aí me impediam, invisível, fui a galope
restituir as chuvas aos campos
e recuperar o sangue dos meus mortos insepultos!
Disseram outros: porquê? Este também há-de conhecer,
até ele, a vida nos olhos do outro.
Não vi olhos de outrem, não encontrei nada
senão lágrimas no vazio que abraçava
senão borrasca na serenidade que suportava.
Adicionei os meus dias e não te encontrei
e enverguei as armas e saí sozinho
para o clamor dos abismos e a minha barafunda de estrelas!»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 39/40
nunca, em sítio nenhum, para me tomares a mão
no clamor dos abismos e na minha barafunda de estrelas!
Tomaram uns o Saber e outros o Poder
a escuridão rasgando as duras penas
e pequenas máscaras, de alegria e tristeza,
ajustando à face arruinada.
Eu é que não, não ajustei máscaras,
deitei para trás de mim alegria e tristeza
pródigo deitei para trás de mim
o Poder e o Saber.
Adicionei os meus dias e fiquei sozinho.
Disseram uns: porquê? Este também há-de viver
na casa com vasos e a branca noiva.
Cavalos de pêlo fulvo e negro acenderam-me
a obstinação por outras mais brancas Helenas!
Almejei outra mais secreta bravura
e aí me impediam, invisível, fui a galope
restituir as chuvas aos campos
e recuperar o sangue dos meus mortos insepultos!
Disseram outros: porquê? Este também há-de conhecer,
até ele, a vida nos olhos do outro.
Não vi olhos de outrem, não encontrei nada
senão lágrimas no vazio que abraçava
senão borrasca na serenidade que suportava.
Adicionei os meus dias e não te encontrei
e enverguei as armas e saí sozinho
para o clamor dos abismos e a minha barafunda de estrelas!»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 39/40
Etiquetas:
Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poesia,
poetas gregos
«E à medida que o tempo come a matéria, vai saindo mais puro o oráculo da minha face:
TEMEI A IRA DOS MORTOS»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 38
TEMEI A IRA DOS MORTOS»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 38
Etiquetas:
excerto,
Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poetas gregos
« da gota de água na barba por cortar, nada senti,
mas depus a face dura no mais duro da pedra
por séculos e séculos.»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 37
mas depus a face dura no mais duro da pedra
por séculos e séculos.»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 37
Etiquetas:
excerto,
Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poesia,
poetas gregos
(...)
«Porque chuviscava amiúde nos caminhos lá fora, como nas nossas almas. E as raras vezes em que parávamos para descansar, nem sequer trocávamos palavra, tão só, sérios e mudos, à luz duma pequena tocha, repartíamos as passas uma a uma. Outras vezes, se nos era possível, soltávamos rapidamente as roupas e coçávamo-nos com raiva durante horas, até formarmos sangue. Estávamos cheios de piolhos até ao pescoço, e isso era mais insuportável do que o cansaço. »
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 33
Etiquetas:
excerto,
Odysséas Elýtis,
poetas gregos
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
«procurei o branco até à tensão extrema
do negro A esperança até às lágrimas
a alegria até aos confins do desespero»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 20
Etiquetas:
excerto,
Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poesia,
poetas gregos
«As sílabas ocultas com que lutei para soletrar a minha identidade»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 17
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 17
Etiquetas:
excerto,
Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poetas gregos,
verso solto
«Cada palavra com sua andorinha
para te trazer a Primavera no Verão» disse
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004., p. 15
Etiquetas:
excerto,
Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poetas gregos
(...)
«Ali sozinho enfrentei
o mundo
chorando amargamente»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004
«Ali sozinho enfrentei
o mundo
chorando amargamente»
Odysséas Elytis. Louvada Seja (Áxion Estí). Tradução e posfácio Manuel Resende. Assírio&Alvim, 2004
Etiquetas:
excerto,
Nobel de Literatura 1979,
Odysséas Elýtis,
poetas gregos
domingo, 1 de janeiro de 2012
Time's a wastin
Etiquetas:
film,
Joaquin Phoenix,
Johnny Cash,
June Carter,
Reese Witherspoon,
Walk The Line
Virgília
«(...) Virgília deixou-se estar de pé; durante algum tempo ficámos a olhar um para o outro, sem articular palavra. Quem diria? De dois grandes namorados, de duas paixões sem freio, nada mais havia ali, vinte anos depois; havia apenas dois corações murchos, devastados pela vida e saciados dela, não sei se em igual dose, mas enfim saciados. Virgília tinha agora a beleza da velhice, um ar austero e maternal; estava menos magra do que quando a vi, pela última vez, numa festa de S. João, na Tijuca; e porque era das que resistem muito, só agora começavam os cabelos escuros a intercalar-se de alguns fios de prata.»
Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Livraria Chardron de Lello&Irmão - Editores, Porto, 1985., p. 20
Subscrever:
Mensagens (Atom)