segunda-feira, 17 de maio de 2021
An Evening With Judy
domingo, 16 de maio de 2021
POEMA «RUA DO OIRO» por António Ferro. Rua do Oiro, rua dos metais! | Mazantini de luz, o sol, ao alto… Bailes russos deslizam no asfalto… | Cantam em coro os vidros e os cristais!
Onde os pés das mulheres, muita vez | São reis, rainhas, torres e cavalos…
Dizem sonetos graves, muito certos, | Na sua voz sinistra de profetas…
Degoladas… O' frívolas condessas, | Vós não tendes miolos, tendes plumas…
As éticas gravatas … Em caudal, | O sangue corre aos metros, pelas fitas…
O' mão morta a bater àquela porta, | Em poentes de chuva e ventania…
Que eu grito ao ver passar certa mundana: | São taças de cristal as tuas pernas!...
Rolos de telas, blocos de papel: | Roupa branca da alma dos artistas…
As bonecas de cera, nos barbeiros, | Dão à luz cabeleiras, como filhos…
Pelas confeitarias, os pudins, | Desfalecem, anémicos, nos pratos…
São cipreste, são sombras, são mistérios, | Almas dum outro mundo em noites frias…
Ruidosos, barulhentos, filarmónicos, | Passam na Tarde em risos amarelos…
Bebés, balões, senhoras e varinas, | Militares, cocotes, alvalade…
Pelos passeios desta rua fora… | Rua do Oiro – humano Carnaval… |
Fim
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Mário de Sá-Carneiro. Mistério. Edição Alma Azul. Coimbra, Maio 2007., p. 45
''O Rei-lua postiço''
Mário de Sá-Carneiro. Mistério. Edição Alma Azul. Coimbra, Maio 2007., p. 44
''dissera-lhe um adeus sem carícia''
Mário de Sá-Carneiro. Mistério. Edição Alma Azul. Coimbra, Maio 2007., p. 16
''(...) até hoje a sua vida fora passada aos tombos e aos gritos.''
Mário de Sá-Carneiro. Mistério. Edição Alma Azul. Coimbra, Maio 2007., p. 11
« (...) Que tristeza!...E via-se alguém que atravessasse uma ponte transportando um fardo precioso e que, por não ter mais forças para o carregar, fosse obrigado a lançá-lo ao rio, no último desânimo, perto já do seu destino.»
Mário de Sá-Carneiro. Mistério. Edição Alma Azul. Coimbra, Maio 2007., p. 10''Todo o meu sofrimento provém disto: sou um barco sem amarras que vai bêbado ao sabor das correntes. Se conseguisse lançar âncoras...Mas aonde...aonde?...''
Mário de Sá-Carneiro. Mistério. Edição Alma Azul. Coimbra, Maio 2007., p. 9
A sua vida era como se não existisse.
«Porque era a sua vida desolação tamanha? Precisamente porque a sua vida era uma existência parada de corpo e alma e corpo - uma existência onde nunca sucedera coisa alguma. A sua vida era como se não existisse.»
Mário de Sá-Carneiro. Mistério. Edição Alma Azul. Coimbra, Maio 2007., p. 5
«A sua alma era toda vidros partidos e sucata leprosa.»
Mário de Sá-Carneiro. Mistério. Edição Alma Azul. Coimbra, Maio 2007., p. 3
um acto de loucura
Numa obsessão, no seu cérebro imaginoso,
o seu cérebro literário, logo começou a tra-
Mário de Sá-Carneiro. Mistério. Edição Alma Azul. Coimbra, Maio 2007
Jardim do Luxemburgo
Os blocos de apartamentos parisienses não temem nem o
[vento nem a imaginação
– são pisa-papéis pesados,
a antítese dos sonhos.
Barcos brancos vão pelo rio, cheios de pessoas
que exigem saudações àqueles que estão na margem;
o seu alvoroço aniquila o passado.
Um casal de turistas ricos emerge de um táxi
com roupas cintilantes; servem-nos empregados
vestidos de fraques que a moda não altera.
Mas o Jardim do Luxemburgo está a esvaziar-se
e fica um gigante herbário mudo;
Esqueceu todos aqueles que um dia
passearam pelos seus caminhos e não notaram que já
[não estão vivos.
Mickiewicz viveu aqui e além August Strinberg
trabalhou sobre a pedra filosofal
que nunca encontrou.
Entardece. Noite solene, taciturna e preocupada,
chega de leste.
A noite vem da Ásia e não faz perguntas.
Ser estrangeiro é óptimo, uma alegria fria.
Luzes amarelas iluminam as janelas para o Sena
(uma coisa mesmo enigmática: as vidas dos outros).
Eu sei – não há mistério aqui agora.
Mas há plátanos, praças, cafés, ruas acolhedoras
e o olhar luminoso das nuvens que vai esmorecendo.
(com base na versão inglesa de Clare Cavanagh)
Auto-estrada
Tinha doze anos talvez.
No ferro-velho por baixo do viaduto construído
por Hitler eu buscava relíquias daquela guerra, relíquias
da idade do ferro, baionetas e capacetes de um exército
qualquer, não ligava, sonhava com grandes achados –
tal como Heinrich Schliemann em tempos
andou à procura de Heitor e Aquiles na Ásia Menor,
mas não encontrei nem ouro
nem baionetas, apenas ferrugem por todo o lado,
o ódio castanho da ferrugem; receava
que pudesse penetrar o meu coração.
Lápis
Os anjos já não têm tempo para nós;
trabalham agora para as gerações futuras,
inclinados sobre cadernos escolares
escrevem e apagam, corrigem
complicados esquemas
da felicidade futura
com um lápis grosso,
amarelo, na boca,
tal e qual as crianças no primeiro dia de escola
sob os olhos da professora
que sorri bondosamente.
(Auto-estrada e Lápis foram traduzidos com base em versões espanholas de Xavier Farré)
(Adam Zagajewski morreu a 21 de Março de 2021, altura em que este pequeno perfil já estava organizado.)
Francisco José Craveiro de Carvalho (poeta e tradutor)
O aprendiz
O meu livro de ensinamentos sobre poesia,
comprado numa banca ao ar livre junto ao rio,
apresenta muitas regras
sobre o que escrever e não escrever.
Mais do que duas pessoas num poema
é uma multidão, é uma.
Falar na roupa que se tem vestida
quando se escreve, é outra.
Fugir de palavras como vórtice,
aveludado e cigarra.
Quando não souber como acabar,
ponha umas galinhas castanhas à chuva.
Nunca admita que faz correcções.
e – mantenha sempre o poema numa só estação.
Procuro tê-las presentes,
mas nestes últimos dias de verão,
sempre que ergo os olhos da minha página
e vejo uma mancha seca numa folha amarela,
penso nos ventos gélidos
que em breve golpearão o meu casaco.
Billy Collins, é um poeta americano, nascido em 1941. Entre outras honras, foi Poet Laureate of the United States, 2001 to 2003.
Francisco José Craveiro de Carvalho - poeta e tradutor
O poeta que fez companhia a Virginia Woolf
Francisco CarvalhoEste poema pertence a um livro de poesia do poeta inglês Neil Curry. O livro chama-se On keeping company with Mrs Woolf e trata-se de um ciclo de poemas que são um diálogo com a escritora Virginia Woolf.
Quando lhe pergunto como lhe surgiu a ideia de escrever o livro diz-me:
Leia o poema da página 15.
*“como adormecer…” São palavras minhas postas na sua boca. Lembro-me de onde e quando. Durante um retiro em Buckfast Abbey, sentado junto ao açude, vi o pica-peixe e escrevi, na terceira pessoa, o que viria a ser o poema final do livro. Pensei no suicídio mas não tencionava escrever um poema sobre o suicídio. Tive a ideia de uma sequência imediatamente. Ocupou-me durante 18 meses.
Os poemas focam muitos aspectos da vida de Virginia Woolf: a família, o Bloomsbury group, as suas opiniões sobre livrarias, criados, coisas que esquecemos, cartas…
Durante meses li cartas, diários, ensaios e romances. Deixei que o seu trabalho me absorvesse inteiramente, mantive uma fotografia na minha secretária e usei outra como marcador. Uma obsessão. Encontrei uma gravação num website e ouvi a sua voz.
Escrevendo sobre Virginia Woolf, Neil Curry escreve também sobre si próprio, não dando apenas opiniões. Há alusões a um livro sobre Horace Walpole que está a escrever, a um exemplar especial de The death of the moth,a um tesouro, à sua incapacidade para em certa altura ler The waves. No poema Sobre andar a pé, “quando atravessei a Espanha a pé” é uma referência à sua experiência no Caminho de Santiago.
Francisco José Craveiro de Carvalho (poeta e tradutor; é professor jubilado de matemática)
Não tem lugar
o homem de corpo e alma
nessa inexpugnável
selva digital
Cada ser deixou de ter
coração e linguagem
e perdeu-se nessa
imensa teia
devorado pela escuridão do não-ser.
Insular geografia,
Fábrica de tantos exílios.
Ronaldo Cagiano
Natural do Brasil. Residente em Portugal
(in Antologia Poética da Imigração Lusófona)
HOMEM DE CÔR
Sou balanta, sou kimbundo
Sou badio, marronga ou angular
Continental ou insular
Há quem me chame homem de côr
Tenho nome e apelido
Sou do norte, sou do sul
E como tu, gerado no centro
Bendito esse teu ventre Mamãe
Sou exótico p’ra a folia
Sou selvagem quando incomodo
Sou dos teus quando convém
Sou o tal homem de côr
Dizem que sou do terceiro mundo
E, segundo bocas infames
Neste universo sem primeiro
Nem civilizado sou
Sou maconde, sou forro
Sampadjudo, mandjáku, kinkôngo
Operário e intelecto
Mas só me chamam homem de côr
Sou de lá já sou de cá
Vou, não sei p’ra onde
Com o vento que já sopra
Ora p’ra lá, ora p’ra cá
Sou filho disto
Sou filho daquilo…
Sou filho do vento
Sou filho deste mundo.
Costa Neto
Natural de Moçambique. Residente em Portugal
(in Volta Pra Tua Terra)
« sA — Que palavra, que verso, que frase gostaria de nos deixar para que depois possa vir a chuva? “Lançai-me uma palavra, como alguns / atiram côdeas aos cães”, sim?
HC — Epea Pteroenta, as palavras aladas cantadas por Homero, continuam a dar-me emoções gratas. Ele, que a lenda tem por cego, via-as sair das bocas como pássaros e lançar-se num voo com o som, com o brilho, com o volume, a cor e a leveza de um pequeno animal canoro e emplumado. Eu tomo muitas vezes as palavras por pássaros e os pássaros por palavras. É tão reconfortante ver como uma invenção recente, o helicóptero, tomou o nome das palavras gregas, hélix, espiral e pteron, asa. E há aqueles que lhe chamam «língua morta»!…»
Entrevista aqui.
1.
Para quê, perguntou ele, para que servem
Os poetas em tempo de indigência?
Dois séculos corridos sobre a hora
Em que foi escrita esta meia linha,
Não a hora do anjo, não: a hora
Em que o luar, no monte emudecido,
Fulgurou tão desesperadamente
Que uma antiga substância, essa beleza
Que podia tocar-se num recesso
Da poeirenta estrada, no terror
Das cadelas nocturnas, na contínua
Perturbação, morada da alegria;
7.
Nós, os ateus, nós, os monoteístas,
Nós, os que reduzimos a beleza
A pequenas tarefas, nós, os pobres
Adornados, os pobres confortáveis,
Os que a si mesmos se vigarizavam
Olhando para cima, para as torres,
Supondo que as podiam habitar,
Glória das águias que nem águias tem,
Sofremos, sim, de idêntica indigência,
Da ruína da Grécia.
23.
A terceira miséria é esta, a de hoje.
A de quem já não ouve nem pergunta.
A de quem não recorda. E, ao contrário
Do orgulhoso Péricles, se torna
Num entre os mais, num entre os que se entregam,
Nos que vão misturar-se como um líquido
Num líquido maior, perdida a forma,
Desfeita em pó a estátua.
Hélia Correia in A Terceira Miséria, Relógio d’Água, 2012
ESMOLA
I
Lançai me
uma palavra, como alguns
atiram côdea aos cães.
Uma palavra
que, embrulhada nesse cuspo
que vos escorre pelos queixos,
brilha
e desconcerta a própria
repugnância.
Sacudi a
de vós, tal como alguém
sacode a lama seca do sapato
sem perceber sequer que lama é
porque não tira os pés
do alcatrão.
Essa palavra abandonada à porta,
eu a recolherei, como se houvesse
nela um pedido,
a súplica de um órfão,
de uma cria deixada para
morrer.
Eu pegarei nessa palavra ao colo
e, não sabendo onde encontrar abrigo
nem alimento,
dormirei com ela,
ouvindo a
murmurar,
enquanto os bosques
vão crepitando e a cinza
nos recobre.
II
Mas entregai uma qualquer palavra,
dessas que tanto desprezais,
ao meu cuidado.
Uma palavra, por exemplo,
sobre a qual
ninguém se incline já
porque a confunde
com uma pedra do caminho
ou um excremento,
tão insignificante
se tornou.
Oh, que estranho é pensar que elas tiveram,
até, reis como servos, as palavras.
Pensar que elas passavam pelos séculos
com o seu corpo musical, tão frágil
e tão convocador de tempestades.
Essas pequenas criaturas transparentes,
sem peso, com alguma vocação
para a malignidade, pois não têm
nem sombra nem reflexo,
e dos seus dedos
desce a grande beleza do terrível
e a grande redenção
que há no poema.
III
Pequenas, misteriosas criaturas
que não nascem do mundo natural,
que são obra dos homens,
sendo os homens a obra delas,
vejo as
hoje mais do que escorraçadas:
submetidas.
Elas que eram solenes e risonhas,
tanto mais necessárias quanto inúteis,
e tanto mais inúteis quanto pura
exaltação do texto, essas palavras
rolam humildemente pelo chão.
Deixai, deixai cair uma palavra,
e outra, e outra,
os ossos do banquete,
para que me roje e as apanhe com a boca,
sendo eu menos
do que mendiga,
menos do que cadela,
sendo eu menos do que um bicho
com fome:
sendo a fome.
Hélia Correia, in Acidentes, Relógio d’Água, 2020
“Estamos doentes de abundância”
''sA — A Hélia afirmou numa entrevista: “Estamos doentes de abundância”. Refere-se à Europa pós-Auschwitz e ao mundo Ocidental em geral? E estamos doentes, porque na verdade essa abundância é de certa forma oca ou falsa faz algumas décadas?
HC — A abundância é isso mesmo: o excesso. O furor de adquirir e deitar fora, o vício dos objetos, a compulsão do gasto, a ânsia das viagens em que não se conhece senão hotéis e lojas, tudo é doença do insaciável, tudo é dependência e entorpecimento. Quem pára? Poucos param. O sonho de uma vida é tomar um cocktail dentro de uma piscina. Não há maior pobreza.''
Entrevista aqui.
'' sA — O que é que nunca aprendemos de verdade, ou pelo contrário, aprendemos demasiado bem, no que concerne aos valores da Pólis? Com essa predestinação dos Gregos e da cultura helénica, com a qual tem mantido, mais do que um diálogo íntimo e continuado, um autêntico enamoramento?
HC — A grande perda com o fim da Grécia foi essa perda da diversidade de onde provinham o horror e a alegria, a dança e o flagelo, a liberdade e a superstição, a arrogância e o controlo da arrogância, a música e a fala, o espaço inteiro cheio de narrativas num constante devir. Perdeu-se, está perdido. E, no entanto, ainda amo essa Grécia, sem luto e sem distância. Ainda a tenho como Conselheira e Mestre. Vou lá todos os dias tal como os emigrantes voltam, no Verão, a casa.''
Entrevista aqui.
Otherwise
«Tanzt, tanzt sonst sind wir verloren»
(Dance, dance, otherwise we’re lost)
– Pina Bausch –
I
Se a dança nos salvasse, mesmo assim
dançaríamos mal e deus algum
receberia o nosso movimento.
Pois nem se a terra nos prendesse pelas mãos
como se prende um filho, de maneira
a fazê-lo voar em rotação,
com um pouco de perigo, o que subtrai
ainda mais o corpo à gravidade,
confiávamos nela.
Já perdemos
a ligação?
Podia algum de nós,
os politicamente corrigidos,
tornar-se outra vez fera,
estar na fera,
cravar na jugular da fera os dentes
em corpo a corpo, ventas contra ventas,
cheiro dentro de cheiro, exactamente
como na fúria da reprodução, apenas
indo mais longe nela,
devorando?
A dança:
o pé batia contra o solo
e, de algum modo, enraizava ali
e, de algum outro modo, se elevava
no ar sonoro, tendo de comum
isso com as aves,
como dizem que Nijinsky
tinha delas a arcada plantar.
A pele dos animais esventrados, isso
que, de sensíveis, não podemos
conceber,
colava-se nos ombros
das mulheres, colava-se a poder
de sangue seco,
parecendo, com elas, respirar.
Sacudindo a cabeça para trás,
sacudindo a cabeça, estranha coisa,
perdendo as bailarinas
o equilíbrio
que fazia o orgulho das donzelas.
Perdendo o equilíbrio indesejável.
II
«Tudo o que a dança grega nos ensina
é a nudez
nas posições terrenas,
é quebrarmos
pelo plexo solar
onde o vigor
de toda a criatura
permanece».
Isadora não disse tudo isto
mas disse parte.
Eu vejo-a a subir
com Raymond, o irmão, pelo monte Himeto,
a carregarem água e instrumentos
para a construção da casa,
que eles queriam
semelhante ao palácio de Micenas.
Raymond e Isadora, tão esmagados
pela subida, o calor e até mesmo
pelo canto das cigarras
que era dança o que deles saía
e os outros confundiam com suor.
Era essa dança de deixar bater
o joelho no chão,
de resvalar
nos torrões ressequidos, no tomilho
que feria e perfumava.
Raymond Duncan,
cunhado de Angelos Sikelianos,
por sua vez marido de Eva Palmer,
gente de consequência todos eles,
gente capaz de recriar, em Delfos,
não apenas os ritos teatrais
mas inclusivamente a confecção
do vestuário duro e vegetal
que usavam sem pudor.
Eva, Penélope,
mulheres com um tal excesso de beleza
que isso as tornava intransigentes e as punha
a salvo de ternuras comezinhas,
atacando o trabalho de tear
não por fidelidade, como a outra,
mas numa guerra à Belle Époque e ao século
que estava a começar.
Um pouco menos de dinheiro na família
e tê-los-iam internado a todos.
III
Eu, que amei Pina Bausch muito antes
do português comum,
e ouvi depois
os novos-ricos a gritarem «bravo»
contra o seu rosto onde passava tudo
o que eles não entendiam,
gostava de pedir em alemão
«Tanzt», como ela pediu.
Estive uma vez
com uma rapariga da Holanda
que fez uma audição em Wuppertal.
«Make me laugh», eis o que Pina disse.
A rapariga,
é claro,
não entrou.
Mas não falava disso com despeito.
Brilhava, tarde fora, e não devido
à chuva que caía em Amsterdão.
Brilhava e eu não sei se, como os outros,
se esqueceu, entretanto,
de dançar.
Hélia Correia, in revista Telhados de Vidro nº 18, Maio de 2013