POEMA «RUA DO OIRO» por António Ferro. Rua do Oiro, rua dos metais! | Mazantini de luz, o sol, ao alto… Bailes russos deslizam no asfalto… | Cantam em coro os vidros e os cristais!
Onde os pés das mulheres, muita vez | São reis, rainhas, torres e cavalos…
Dizem sonetos graves, muito certos, | Na sua voz sinistra de profetas…
Degoladas… O' frívolas condessas, | Vós não tendes miolos, tendes plumas…
As éticas gravatas … Em caudal, | O sangue corre aos metros, pelas fitas…
O' mão morta a bater àquela porta, | Em poentes de chuva e ventania…
Que eu grito ao ver passar certa mundana: | São taças de cristal as tuas pernas!...
Rolos de telas, blocos de papel: | Roupa branca da alma dos artistas…
As bonecas de cera, nos barbeiros, | Dão à luz cabeleiras, como filhos…
Pelas confeitarias, os pudins, | Desfalecem, anémicos, nos pratos…
São cipreste, são sombras, são mistérios, | Almas dum outro mundo em noites frias…
Ruidosos, barulhentos, filarmónicos, | Passam na Tarde em risos amarelos…
Bebés, balões, senhoras e varinas, | Militares, cocotes, alvalade…
Pelos passeios desta rua fora… | Rua do Oiro – humano Carnaval… |
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