sábado, 10 de fevereiro de 2018
« Ao artista deve dar-se liberdade de escolha do seu estilo e da sua forma e, no campo da expressão, todos os processos apontados por nós são igualmente válidos.
Certos críticos deixaram-se cercar pelas camadas do entusiasmo provocado pelo «campo em profundidade ». Chamas brilhantes e suficientes para estontear os espíritos e obscurecer o brilho, mais afastado no tempo, da obra de Eisenstein. Construía-se, sem se dar conta da natureza dos alicerces, e não só dos alicerces, do próprio esqueleto metálico sobre o qual se formava todo o edifício. Apesar deste esquecimento, a montagem melódica - essa estrutura férrea de suporte - continuava a estar presente em tudo.»
F. Gonçalves Lavrador .Estudos sobre Cinema. Eisenstein, Montagem Clássica e Complexo-Arte-Linguagem (Breves notas para um Ensaio) in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 109
Sobre noção de Montagem ( no Cinema)
« Na minha opinião, a montagem não consiste na reunião de fragmentos múltiplos numa só película. A montagem é antes de tudo, para mim, um processo de expressão e de explicação do sentido profundo que comporta o filme e de que usa para traduzir no écran as manifestações da vida real»
Pudóvkine
Pudóvkine
Montagem fílmica
« esse papel que toda a obra de arte se impõe a si mesma, a necessidade da exposição coordenada do tema, conteúdo, trama, acção, o movimento dentro da série fílmica e a sua acção dramática como um todo»
Eisenstein
Eisenstein
terça-feira, 6 de fevereiro de 2018
«Eisenstein sofreu a amargura de não ver muitos dos seus sonhos artísticos realizados. Com isso, apenas perdeu a Humanidade.
Mal com Deus e com o Diabo, tantas vezes incompreendido, tantas vezes vítima da sua ânsia de perfeição e de harmonia, tem direito absoluto à justiça dos vindouros e à nossa própria justiça.»
F. Gonçalves Lavrador .Estudos sobre Cinema. Eisenstein, Montagem Clássica e Complexo-Arte-Linguagem (Breves notas para um Ensaio) in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 100
Mal com Deus e com o Diabo, tantas vezes incompreendido, tantas vezes vítima da sua ânsia de perfeição e de harmonia, tem direito absoluto à justiça dos vindouros e à nossa própria justiça.»
F. Gonçalves Lavrador .Estudos sobre Cinema. Eisenstein, Montagem Clássica e Complexo-Arte-Linguagem (Breves notas para um Ensaio) in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 100
domingo, 4 de fevereiro de 2018
casa desabitada
«(...)
o mundo não deterá por isso seu destino inadiável
quando os pés do homem se encheram de terra nova
e transladam seu coração sem nostalgia
ali onde tu, casa desabitada,
não és ninguém.»
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 299
o mundo não deterá por isso seu destino inadiável
quando os pés do homem se encheram de terra nova
e transladam seu coração sem nostalgia
ali onde tu, casa desabitada,
não és ninguém.»
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 299
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« casa guardada num estojo de heras!»
Juan-Gil Albert. Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea. Selecção e Tradução de José Bento. Assírio&Alvim, Lisboa, 1985., p. 298
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verso solto
''(...) procurava destruir pelo ridículo as razões alheias''
J.Sousa Mendes. A Polémica entre Camilo e Alexandre da Conceição. in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 98
«(...) num caminhar acelerado para a cegueira »
J.Sousa Mendes. A Polémica entre Camilo e Alexandre da Conceição. in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 95
forragear
for.ra.ge.ar
fuʀɐˈʒjar
verbo transitivo e intransitivo
colher forragem (em); segar erva (em)
verbo transitivo
1.
procurar; buscar
2.
devastar (um campo)
3.
figurado apanhar aqui e além; colher; respigar
4.
figurado plagiar
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significados
«Antes de ser escrito, um romance tem de ser concebido e estudado em seus pormenores; e isso importa tanto, ou mais, para o que venha a significar quando concluído, como o processo literário que o romancista adoptou para o realizar.»
J.Sousa Mendes. A Polémica entre Camilo e Alexandre da Conceição. in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 90
J.Sousa Mendes. A Polémica entre Camilo e Alexandre da Conceição. in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 90
molosso
mo.los.so
muˈlosu
nome masculino
1.
grande cão de fila
2.
pé de verso, latino ou grego, de três sílabas longas
3.
figurado guarda-costas
4.
figurado valentão
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«(...) com a república a ferir-lhe os miolos,»
J.Sousa Mendes. A Polémica entre Camilo e Alexandre da Conceição. in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 91
«Apesar disso, Camilo teimava em ler-lhes os livros, semi-cerrando as pálpebras de míope, e sempre de nariz torcido à espera do que considerava tropeções de gramática; bastava a sobreposição de dois adjectivos à maneira de Eça para ele sentir que o estômago, habituado aos condimentos simples e muito à portuguesa de Bernardes e Vieiras, se lhe nauseava numa ânsia.»
J.Sousa Mendes. A Polémica entre Camilo e Alexandre da Conceição. in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 90
J.Sousa Mendes. A Polémica entre Camilo e Alexandre da Conceição. in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 90
Abastardar
verbo transitivo
1.
mudar para pior
2.
fazer degenerar
3.
adulterar; corromper
4.
falsificar
verbo pronominal
alterar-se; corromper-se; degenerar
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significados
''entender, primeiro; valorizar, depois; compreender, primeiro; julgar, depois''
Joel Serrão. Reflexões sobre a compreensão histórica do séc. XIX Português. in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 88
''palavrinha anódina''
Joel Serrão. Reflexões sobre a compreensão histórica do séc. XIX Português. in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 88
Significado de Compreender
«1) Alcançar com inteligência; conhecer a razão de; penetrar o sentido de alguma coisa, entender, perceber »
«(...), flores amarelas...mais flores amarelas...Desaparecera o salgueiro!
- Aqui havia um salgueiro.
- Não sei, disse com indiferença a mulher, - quando aqui entrei já não havia salgueiro nenhum. E ainda bem. É uma árvore triste. Eu, por mim, não gosto nada.»
Ilse Losa. Visita ao Passado in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 80
- Aqui havia um salgueiro.
- Não sei, disse com indiferença a mulher, - quando aqui entrei já não havia salgueiro nenhum. E ainda bem. É uma árvore triste. Eu, por mim, não gosto nada.»
Ilse Losa. Visita ao Passado in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 80
« - Livros! Era do que ele gostava. Mas da vida não sabia nada, mesmo nada. Eu governava-lhe a vida. Olha para os meus calos - ela virou as mãos e mostrou-me as palmas, duras e calosas. - Ler livros não faz calos...»
Ilse Losa. Visita ao Passado in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 79
Ilse Losa. Visita ao Passado in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 79
Conseguiste, alguma vez, ver o meu coração?
« - Trabalhavas muito...Perdeste três filhos. E não choravas.
- Não choravas! papagueou num tom cínico.
Depois dum momento de silêncio hostil, perguntou:
-Conseguiste, alguma vez, ver o meu coração?
Abanei a cabeça num gesto negativo.
-Então nada sabes de mim. Mas como podias saber? Eras uma criança...»
Ilse Losa. Visita ao Passado in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103., p. 79
sábado, 3 de fevereiro de 2018
segunda-feira, 29 de janeiro de 2018
Pessoa recusava essencialmente o espírito partidário ou sectário na
literatura e na intelectualidade. “O papel da inteligência é estar au dessus de
la mêlée”,4
escreveu em 1934, repetindo uma frase de Romain Rolland em
1914. Outro texto seu era encimado por esta afirmação: “A função da inteligência
é renegar as paixões”,5
exactamente como Julien Benda defendera
em La trahison des clercs, de 1927, ser o dever dos intelectuais.
«Todo o artista que dá à sua arte um fim extra-artístico é um
infame. É, além disso, um degenerado no pior dos sentidos
que a palavra não tem. É, além disso e por isso, um anti-social.
A maneira de a arte ser social é ser anti-social. A maneira
de o artista colaborar utilmente na vida da sociedade
a que pertence é não colaborar nela. Assim lhe ordenou a
Natureza que fizesse, quando o criou artista e não político
ou comerciante. [...] Quanto mais instintivamente se fizer
essa divisão do trabalho social, mais perfeito será o funcionamento
da sociedade [...] É perfeitamente lógico que um
artista pregue a Decadência na sua arte, e, se for político,
pregue a Vida e Força na sua política. É, mesmo, assim que
deve ser. Não se admite que um artista escreva poemas patrióticos,
como não se admite que um político escreva artigos
antipatrióticos. »
Fernando Pessoa
domingo, 28 de janeiro de 2018
AS CIDADES PROCURAM-SE
As cidades procuram-se as cidades
Hão-de encontrar-se num tempo mais puro
Agora beijam-se através dum muro
Crivado de balas de obscenidades
De lágrimas de sangue de verdades
Escritas depressa e onde é mais escuro
E por enquanto do amor futuro
Conhecemos os gestos das cidades
Nas mãos que se levantam desesperadas
Nos olhos cansados de não ver
E nas bocas fechadas e amargas
Há outros gestos prontos a romper
Palavras em silêncio acumuladas
Cidades e cidades por nascer.
Fevereiro de 1952
Hão-de encontrar-se num tempo mais puro
Agora beijam-se através dum muro
Crivado de balas de obscenidades
De lágrimas de sangue de verdades
Escritas depressa e onde é mais escuro
E por enquanto do amor futuro
Conhecemos os gestos das cidades
Nas mãos que se levantam desesperadas
Nos olhos cansados de não ver
E nas bocas fechadas e amargas
Há outros gestos prontos a romper
Palavras em silêncio acumuladas
Cidades e cidades por nascer.
Fevereiro de 1952
Alexandre O' Neill
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HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca
(...)
Alexandre O ' Neill
Como se tivessem boca
(...)
Alexandre O ' Neill
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«Às dores inventadas
Prefere as reais
Doem muito menos
Ou então muito mais »
Alexandre O' Neill
Prefere as reais
Doem muito menos
Ou então muito mais »
Alexandre O' Neill
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«Mas torna-se necessário, antes de mais nada, que o público conheça o que critica e que não exija, se me permitem uma metáfora impertinente que um quadro sirva para ensinar a ler ou para fazer andar os que não têm pernas. Um quadro é um reflexo do mundo, mas não reflecte o mundo como um espelho, pois esta é a função dos espelhos e não dos quadros.Um quadro age sobre o mundo, mas não como uma escola ou um exército, pois esta é a função das escolas e dos exércitos - e não a dos quadros.»
''são a verdades mais evidentes que geralmente esquecemos''
Mário Dionísio in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103
«Na realidade, um público inculto e indiferente acabará , cedo ou tarde, por levar muitos e muitos artistas a criar uma arte superficial e medíocre; um público atento, culto e exigente acabará por provocar o aparecimento de uma arte séria, profunda, ousada e eficiente, uma arte à altura dele. Mas evitemos cuidadosamente um público exigente que seja, ao mesmo tempo, inculto e superficial.»
Mário Dionísio in VÉRTICE Revista de Cultura e Arte, Março 1952, Vol. XII. 103
«Vivendo entre trabalhadores, vi claramente que o produto do trabalho é função da qualidade do chefe tanto quanto do esforço dos homens. (...) Quando a guerra me arrancou à fábrica, reencontrei nos exércitos o mesmo problema. (...) Um milhão de homens mal comandados era apenas uma multidão ineficaz; se um verdadeiro chefe a tomava nas mãos, esta multidão torna-se temível.»
André Maurois
terça-feira, 23 de janeiro de 2018
domingo, 21 de janeiro de 2018
País progressivo
«(...) só o será se a grande massa da população possuir uma cultura eficiente, estiver apetrechada para compreender e usar os meios próprios da transformação da sociedade.»
VÉRTICE. Revista de Cultura e Arte, Fevereiro de 1946, Fascículo 5., p. 2
VÉRTICE. Revista de Cultura e Arte, Fevereiro de 1946, Fascículo 5., p. 2
GITANJALI
(FRAGMENTO)
Lá onde o espírito nada teme e se vive de cabeça erguida;
Lá onde o conhecimento é livre;
Lá onde o mundo não foi dividido por estreitas paredes
intermédias;
Lá onde as palavras emanam da profunda sinceridade;
Lá onde o esforço infatigável estende os braços para a
perfeição;
Lá onde a clara corrente da razão não morre no árido
e morno deserto do costume;
Lá onde o espírito por ti guiado avança no alarga-
mento contínuo do pensamento e da acção;
Nesse paraíso de liberdade, meu pai, permite que a minha
pátria se levante.
Rabindranath Tagore
Lá onde o espírito nada teme e se vive de cabeça erguida;
Lá onde o conhecimento é livre;
Lá onde o mundo não foi dividido por estreitas paredes
intermédias;
Lá onde as palavras emanam da profunda sinceridade;
Lá onde o esforço infatigável estende os braços para a
perfeição;
Lá onde a clara corrente da razão não morre no árido
e morno deserto do costume;
Lá onde o espírito por ti guiado avança no alarga-
mento contínuo do pensamento e da acção;
Nesse paraíso de liberdade, meu pai, permite que a minha
pátria se levante.
Rabindranath Tagore
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''Não há nada que faça mais sucesso do que o próprio sucesso.''
Cientista político Jan-Werner Müller
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