terça-feira, 19 de maio de 2015


DAVID   Essa tua incapacidade de ultrapassar o campo de 'reacção normal', é qualquer coisa de comovente. Por mais que apertes o cu, por mais que sues da testa, não consegues!


Lars Norén. A noite é Mãe do Dia. Teatro. Tradução de Luiza Neto Jorge e Solveig Nordlund. Cotovia, Lisboa., p. 26

Butterfly Boy, Nova Iorque, 1949


''des-nu-dáste-me''


(...)

«Não fujo de mim, só fujo
do diabo que em mim nasce
como se fosse ilusão.
E trago comigo a carne
repartida pelos ócios:
outros caminhos do mundo.»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 200

O TÉDIO RECOMPENSADO

(1968)

«A saudade escreve, e eu traslado.»

CAMÕES

«Na amurada,
as nossas mãos desuniram-se...»



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 193

«A perna dela tremeu
quando lhe toquei num seio.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 192

«Eu senti a inocência
dos olhos dela nos meus.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 191

«Eu cá não sou mau rapaz,
mas as mulheres deixam-me tonto
tal como a um cão de caça
quando lhe cheira a raposa...»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 191


(...)

«Volto cabisbaixo, 
triste,
de não ser eu.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 187

segunda-feira, 18 de maio de 2015

«A culpa de quem nem sempre tem culpa?»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 172

(...)

«Bracinhos-gravetos
que tão-pouco servem
para acender o lume.
E olhos enormes sem fundo na febre
e os dedos roídos que enganam a fome.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 171

«Mas à noite há uma cabra
que se transforma em mulher
e conversamos baixinho.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 170

«a negação do resgate.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 168

(...)

«magoava o seu coração, o seu
delicado
pensamento.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 167

Persona Non Grata

sexta-feira, 15 de maio de 2015


«Coveiro de ti mesmo. Engenheiro
de profissão; nas horas vagas
o que faz conchas e fabrica neve
com o suor do rosto.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 154

A SEGUNDA LANÇA

Dizem os Azandes, tribo do Sudão, não ser
a lança de ferro, mas a segunda lança, (isto é,
a intenção que vai na lança de ferro) a causa
da morte do elefante.


(...)

«Mãe, desculpa!
Não passo de um eufemismo.
Mas sou muito malcriado,
injusto,
indelicado.
Mas é verdade, ó Mãe.
Ou meia verdade, meia
mentira.

O sim ou não, já não sei.
São coisas, Mãe, são coisas...

Não é, também é verdade.
Não explico.

Ó Mãe, que chatice, Mãe!
Não sentir o coração.»



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 150

Últimos paroxismos


agonia antes da morte

''neve orvalhada''


«Não me quero ver.
Quero ser somente.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 145

«Quem se ama a si
odeia a dor.»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 143

«Quem nos fez loucos,
carrega com os nossos corpos, com a dor.»

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 143

II


Sofrer sozinho é terra morta
pelo vento e pelo sol:
braseiro vivo. Flores
cobrem apenas o corpo
triste, negado aos que sofrem.
Caminho e não pergunto
quem és, quem fostes ou quem
quiseste ser. A dor mudou
o teu nome, mascarou
o rosto íntimo. Passado,
presente contraditório ou signo
marcado pelo sofrimento,
é o baptismo
do tempo.



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 143

V


O bem e o mal, não sei. Tenho de ti
toda a obediência. Triunfo
que me apazigua
males havidos por culpa ou já sem culpa
formada. Insatisfeito,
recupero a paz das nuvens
ou a tempestade...Sigo 
o ciclo da lua.
O sol domina!


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 140

(...)

«Entre os projectos, um só, 
tácito, se afirmou garantido
pelos anos de promessas
ou de plano consentido.
Inundámo-nos de sol
cintilante e poesia.»


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 139

Herberto Helder - Poemas Canhotos


I


Cresci demais. Toco
a raíz dos cabelos
quando o vento encana pela rua
ou, incerto, procuro
resolver um problema.
Este problema do crescimento
desacompanhado
a torcer as voltas que dou ao mundo
em busca de paraísos.
Trago pequenas estátuas
e olhos que me consomem
e confecciono um problema.
O crescimento aumenta, mas desliza.
Os cabelos diminuem
na raíz.



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 139

VII


Tudo se acaba. É mentira.
Há parcelas que se juntam,
se adicionam,
como a ideia e o sentimento,
o tempo
perdido
e o momento de acção
iluminado.

Ninguém se convença
que acaba.
Há o céu que nos espera,
a sua ilusão
remordida até ao paroxismo.
Ou há passado 
sem destino.

A dolorosa mensagem
da nossa vida
é esta: caminhar sempre;
atar as vides da vinha
vindimada.

Saber esperar.
Andar, andar,
nem que seja de rastos.»



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 138
«O dedo à beira da ferida 
infectada »

(...)

Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 137

inaptência

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Crazy Cat Lovers



«Comigo vais amar quem quiseres, vais ser tu a apresentar a factura.»


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 109

«É a escrava que não posso libertar, o cão que não posso abater.»


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 105
«É a cadela que segura o homem pela trela, o escravo que ridiculariza o amo, o pássaro que fecha a criança na gaiola. Nunca mais quero falar-lhe, nem ouvi-la, nem ceder às suas lágrimas; quero por minha vez ser mau e duro, e pôr-lhe o açaimo como a um cão mal treinado, bater-me contra ela até se deitar quando eu lhe disser para se deitar e se meter onde eu disser para se meter, até acabarmos por ver quem obedece a quem.
Bati-lhe com um pau para lhe ensinar o respeito, mas não fiz mais do que endurecê-la e torná-la insolente; mergulhei-a em água gelada, mas só consegui excitar a sua curiosidade; piquei-a com espinhos para que, ao verter o seu sangue, vertesse também a maldade e o sofrimento que me infligia. mas o que fiz foi dar-lhe o gosto do sofrimento.»


Bernard-Marie Koltès. Cais Oeste. Tradução de Ernesto Sampaio. Centro de Dramaturgias Contemporâneas - Porto. Livros Cotovia., p. 105

«Mordido pelo desespero, »


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 126
(...)
«Vê o teatro de Deus.

Morre de olhos abertos.»



Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 125

« lê, treslê »

«Quem é aquele que obscurece assim a minha Providência com discursos ininteligíveis?»

JOB, 42.3

Ser ou não ser é pão que não discuto


Ruy Cinatti. Obra Poética. Organização e prefácio de Fernando Pinto do Amaral. Imprensa  Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1992., p. 116
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